segunda-feira, 29 de maio de 2017

CLIMAS DO BRASIL.

TIPOS CLIMÁTICOS DO BRASIL

SISTEMA DA CIRCULAÇÃO ATMOSFÉRICA

CIRCULAÇÃO ATMOSFÉRICA

sexta-feira, 26 de maio de 2017

AQUECIMENTO GLOBAL E O FIM DAS ILHAS MALDIVAS.

Aquecimento Global e o fim das ilhas Maldivas, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Ilhas Maldivas
[EcoDebate] A República das Maldivas é um país insular situado no Oceano Índico ao sudoeste da Índia, constituído por 1.196 ilhas, agrupadas em 26 atóis e com uma população de cerca de 330 mil habitantes. A capital, Malé, tem cerca de 100 mil habitantes. A colonização das Maldivas é antiga e ocorreu a partir de Sri Lanka. No século XVI, os portugueses estabeleceram uma pequena feitoria nas Maldivas, que administraram a partir da colônia principal portuguesa de Goa. Mas após 15 anos, foram expulsos por uma revolta popular. A religião predominante no passado era o budismo, mas houve uma conversão ao islamismo que permanece a religião hegemônica.
Mas as Maldivas, e os diversos países ilhas representados pela AOSIS (Aliança dos Pequenos Estados Insulares), correm o perigo de desaparecerem em função do aquecimento global e do aumento do nível do mar. Foi a AOSIS que pressionou a COP-21, em dezembro de 2015, para colocar a meta do limite de 1,5º C. de aumento da temperatura no Acordo de Paris. Mas tudo indica que esta meta será ultrapassada e as Maldivas correm o risco de naufragar e desaparecer do mapa.
Pela primeira vez, desde o início da série de medições que começou em 1880, houve um aumento de temperatura por seis anos seguidos, com recordes sucessivos nos últimos 3 anos. As temperaturas ficaram, acima da média do século XX, em 0,58º C em 2011, 0,62º C em 2012 e 0,67º C em 2013. Mas, mas nestes 3 anos, as temperaturas ficaram abaixo do que em 2010 que marcou 0,70º C acima da média do século XX. Nos anos seguintes, pela primeira vez a temperatura bate recordes seguidos, 2014 com 0,74º C, 2015 com 0,90º C e 2016 com 0,94º C.
O ano de 2016 foi também o ano em que a concentração de CO2 bateu o recorde e ficou acima de 400 partes por milhão em todas as semanas e dias (menos um) do ano. Os estudos e as evidências indicam que o degelo do polo norte, da Groenlândia, da Antártica e dos glaciares tem se acelerado, o que eleva o nível dos oceanos. Milhões de pessoas que vivem nas áreas costeiras estão sob risco crescente. Mas o risco mais iminente ocorre nesses pequenos países insulares (Nauru, Tuvalu, Fiji, Kiribati ilhas Marshall, etc.) que perigam desaparecer totalmente em função da elevação do nível dos oceanos. O futuro das ilhas Maldivas é desaparecer como ocorreu com a cidade de Atlântida, na antiguidade. 
Ilhas Maldivas
Mas existem outros perigos que são também atuais. As Maldivas são um destino internacional para o turismo de mergulho, em busca dos jardins de corais coloridos e uma vida marinha espetacular. Contudo, a riqueza e a beleza dos ecossistemas marinhos está ameaçada.
Em decorrência do aquecimento global e a consequente acidificação dos oceanos, os corais estão morrendo. O branqueamento (bleaching), retira a cor dos recifes deixando-lhes apenas um branco fantasmagórico. Este fenômeno ocorre quando os corais entram em stress devido às altas temperaturas. Estudos recentes mostram que mais de 60% das colônias de corais estão sofrendo com o branqueamento.
Ilhas Maldivas
O governo da República das Maldivas criou um fundo de poupança para comprar terras no exterior onde a população possa migrar e viver em função da possibilidade das águas engolirem o paradisíaco arquipélago. Nas Maldivas o aquecimento global não é apenas uma ameaça. É uma sentença de morte.
 José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
 in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/05/2017

REDUÇÃO DE ÁREAS PROTEGIDAS NA AMAZÔNIA .

Senado segue Câmara e aprova MPs 756 e 758, que reduzem áreas protegidas na Amazônia

desmatamento

O coordenador de Políticas Públicas do WWF-Brasil, Michel Santos, alerta que estão abrindo um precedente perigoso que vai estimular a invasão e o desmatamento nas Unidades de Conservação de todo o país, colocando em risco o maior programa de áreas protegidas do mundo, o Arpa, e os compromissos de clima e biodiversidade assumidos pelo Brasil
Aproveitando da enorme crise política que assola o país, o Plenário do Senado aprovou nesta terça-feira (23) duas medidas provisórias (MPs) que reduzem a proteção de cerca de 600 mil de hectares de florestas na Amazônia – uma área maior que o Distrito Federal. O texto segue para sanção ou veto do eventual presidente em exercício.
Com a aprovação das MPs 756 e 758, ficam desprotegidos 486 mil hectares da Floresta Nacional do Floresta Nacional (Flona) do Jamanxim (37% do total) e mais de 101 mil hectares do Parque Nacional de Jamanxim, no oeste do Pará, para abrir espaço às obras da ferrovia Ferrogrão, paralela à BR-163.
As medidas foram ratificadas pelo Senado com aplausos de lobistas do setor agropecuário da região que estavam no plenário a convite do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), que presidiu a Comissão Especial da MP 756, composta por deputados e senadores.
Os projetos foram aprovados exatamente como vieram da Câmara dos Deputados, sem qualquer modificação. Os parlamentares mantiveram, inclusive, uma das emendas “jabuti”, que prevê a redução de 10,4 mil hectares do Parque Nacional de São Joaquim, em Santa Catarina (saiba mais).
Poucos senadores manifestaram-se contrários às medidas, entre eles João Capiberibe (PSB-AP), e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que tentaram obstruir a votação e pedir verificação de quórum. No entanto, a maioria – somando forças à base aliada do governo – aprovou as duas matérias a toque de caixa. O PT, por exemplo, retirou os destaques no último instante. E, supreendentemente, a MP 758 foi votada em menos de 5 minutos.
Ambas as medidas venciam no próximo dia 29 e corriam o risco de caducarem, caso o Senado não aprovasse até esta quinta-feira (25). E esse foi um dos argumentos da liderança do PT para apoiarem a votação.
Na opinião de Randolfe, a aprovação das MPs pelo Congresso é uma das maiores ofensas à região amazônica, às unidades de conservação e ao meio ambiente. “A nossa posição é contrária a qualquer medida provisória, por não reconhecer que isto é normal, principalmente, em um momento em que o presidente da República está sob investigação”, destacou o senador Randolfe.
A MP original deixava cerca de 300 mil hectares desprotegidos, principalmente para viabilizar o licenciamento da ferrovia Ferrogrão, que visa o escoamento da produção de grãos do Mato Grosso pelo porto de Miritituba, no Pará. O governo propôs apenas a desafetação de 860 hectares do Parna Jamanxim, por onde passaria a ferrovia. Mas após passar pelo Legislativo, esse número dobrou. A Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) viu nisso uma oportunidade de condicionar essa alteração de UC à redução de proteção da parte ocupada da Flona Jamanxim.
Em seu discurso, o senador Capiberibe citou o dossiê do WWF-Brasil que denuncia o processo de redução de áreas protegidas no país. “Esse governo está desmembrando áreas de reservas e de unidades de conservação que é um compromisso com as gerações presentes e futuras. Não podemos permitir”.
O senador destacou que nos últimos dias áreas da Flona de Jamanxim estão sendo invadidas, principalmente, após a aprovação das medidas na Câmara dos Deputados. “Isso tem acontecido mesmo antes da votação das MPs pelo Senado. É um sinal que é a grilagem será legalizada. E nós precisamos separar aqueles que ocuparam anteriormente áreas de boa-fé daqueles que avançam sob a floresta”.
Redução de danos
Os projetos de lei de conversão (PLVs 4 e 5) que vieram das comissões mistas, compostas por deputados e senadores, colocavam em risco cerca de 1,2 milhão de hectares de florestas protegidas na Amazônia. Na Câmara, após intensa articulação de deputados da oposição, com apoio de organizações da área socioambiental, entre elas o WWF-Brasil, o dano foi reduzido pela metade.
Foi possível retirar das medidas algumas emendas jabutis que colocavam no pacote alterações de limites de unidades de proteção integral, como a Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo (na MP 756). Outro dispositivo previa a criação da Área de Proteção Ambiental Trairão (MP 758), em município de mesmo nome no Pará, com 169 mil hectares retirados da Floresta Nacional Itaituba II. Nesta APA havia uma sobreposição, em 16 mil hectares, com a reserva indígena Munduruku.
O coordenador de Políticas Públicas do WWF-Brasil, Michel Santos, alerta que agora a maior parte do território na região de Jamanxim perderá seu status de proteção integral para tornar-se APA, que é uma categoria de unidade de conservação mais permissiva. “Tudo isso para abrir caminho à construção de hidrelétricas e à exploração mineral, como para beneficiar posseiros e grileiros da região”, destacou.
Para Santos, a ofensiva contra as unidades de conservação vem ganhando força desde o ano passado com a edição pelo governo das medidas provisórias para reduzir áreas protegidas no oeste do Pará. “Estão abrindo um precedente perigoso que vai estimular a invasão e o desmatamento nas Unidades de Conservação de todo o país, colocando em risco o maior programa de áreas protegidas do mundo, o Arpa, e os compromissos de clima e biodiversidade assumidos pelo Brasil”.
Vetos
O Ministério do Meio Ambiente, com base em estudos e pareceres técnicos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), já se manifestou contrário às alterações das MPs 756 e 758. Em nota publicada em abril, o MMA informou que recomendaria o veto da presidência, com base no levantamento do ICMBio. Para a pasta, o texto não colabora com a implantação das políticas de governo.
Outra nota, produzida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), afirmava que a Câmara excluiu do texto as ampliações do Parque Nacional do Rio Novo e do Parque Nacional do Jamanxim, ambos no Pará. De acordo com o ICMBio, o novo texto “descaracteriza por completo” limites das áreas estabelecidas inicialmente pelo governo.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 23/05/2017

FRACKING OU FRATURAMENTO HIDRÁULICO.

Contaminação, escassez da água e terremotos minam ‘credibilidade’ do fraturamento hidráulico (fracking)

Da 350.org Brasil e América Latina e COESUS
Novo estudo qualitativo mostra que as pessoas estão preocupadas com os impactos ambientais e sociais e tendem a apoiar investimentos em energias renováveis
Berço do fraturamento hidráulico, ou fracking, os Estados Unidos vivem o que parecer ser o ocaso da tecnologia usada há décadas para extrair o petróleo e gás de xisto do subsolo. São incontáveis os sinais de que a fatura da produção de ‘energia barata’ que libertou os americanos da dependência do petróleo do Oriente Médio começa a ser cobrada. A primeira delas é a perda do apoio da população e a desconfiança nas instituições que sempre defenderam a tecnologia e omitiram seus riscos e perigos. 
Este é o cenário de destruição no campo de petróleo da Chevorn em Sierra Nevada, na Califórnia. Foto: Newsweek/Percy Feinstein Corbis
Este é o cenário de destruição no campo de petróleo da Chevorn em Sierra Nevada, na Califórnia. Foto: Newsweek/Percy Feinstein Corbis
Basta dar um Google para constatar, quase que diariamente, o surgimento de novos estudos e pesquisas e notícias que comprovam o que desde o princípio já se sabia: O alto custo ambiental e social da utilização dessa tecnologia definitivamente não compensa seus riscos e impactos. Atualmente, o fracking já está relacionado à contaminação de reservas subterrâneas e de superfície de água, à ocorrência de terremotos, à fragmentação dos ecossistemas, ao agravamento da saúde das pessoas e animais e, para piorar, ao agravamento do aquecimento global pela emissão sistemática do metano e outros gases de efeito estufa.
Num recente estudo de pesquisadores da UC Santa Barbara foram incluídas questões-chave como o risco de contaminação da água, bem como preferências para as fontes de energia renováveis sobre os combustíveis fósseis para atender às necessidades energéticas nacionais. A pesquisa contou com a participação do Reino Unido, onde o fracking é tido pelo governo como uma ‘solução’ para alcançar a eficiência energética, o que é contestado pela maior parte da população.
Com base em mais de uma década de pesquisas desenvolvidas pelo Centro de Nanotecnologia na Sociedade da UCSB (CNS) e pela Universidade de Cardiff no País de Gales, o estudo demonstrou como os métodos deliberativos de engajamento público podem ser aplicados a esses objetivos. Este é o primeiro estudo qualitativo, interdisciplinar, transnacional de percepções públicas dos EUA e da U.K sobre a extração de xisto. Os resultados foram publicados na Revista Nature Energy.
“Este estudo encontrou surpreendentemente altos níveis de preocupação ambiental e social sobre fraturamento hidráulico em áreas sem experiência direta com a tecnologia”, disse a co-autora Barbara Harthorn, diretora do CNS e professora do Departamento de Antropologia da UCSB. “Esse método fornece fortes evidências de que diversos membros do público são capazes de pesar de forma crítica e refletir sobre as decisões locais e coletivas do sistema de energia e seus impactos”.
Metodologia
Os pesquisadores dos EUA e Reino Unido realizaram uma série de oficinas de deliberações cuidadosamente planejadas, com vários membros do público em quatro cidades: Los Angeles, Santa Barbara, Londres e Cardiff. Essas discussões aprofundadas permitiram aos pesquisadores olhar além das evidências existentes sobre opiniões públicas a respeito do fraturamento hidráulico baseadas principalmente em áreas já impactadas.
Os resultados mostraram que o desenvolvimento de xisto foi amplamente visto como uma correção de curto prazo, levando a uma dependência indesejada de combustíveis fósseis finitos em detrimento do desenvolvimento de energias renováveis. Os participantes em ambos os países observaram que a maioria dos benefícios propostos seria relativamente de curto prazo (empregos especializados de duração limitada), ao passo que os riscos seriam quase certamente de longo prazo (degradação ambiental).
Os impactos da exploração do petróleo e gás de xisto por fracking são irreversíveis. Fotos: InternetOs impactos da exploração do petróleo e gás de xisto por fracking são irreversíveis. Fotos: Internet
O estudo concluiu que os entrevistados consideravam os impactos potenciais distribuídos de forma desigual, argumentando que os benefícios econômicos e de emprego atribuídos ao desenvolvimento do xisto não eram exclusivos e se aplicariam igualmente a investimentos significativos e a ampliação de tecnologias renováveis.
Ou seja, os participantes do estudo questionaram por que investir numa tecnologia altamente poluente, que pode causar danos permanentes e irreversíveis, ao invés de priorizar o desenvolvimento de uma matriz a partir de energias renováveis? Todos os olhares recaem sobre os gestores públicos.
Diferentes preocupações nos dois países refletiram diferentes modelos de governança das indústrias extrativas. Nos EUA, alguns participantes queriam mais diretrizes federais padronizadas e responsabilidade de longo prazo. Por outro lado, no Reino Unido, onde a regulamentação é predominantemente a nível nacional, houve pedidos de maior controle local. Independentemente da localização, os participantes expressaram profunda desconfiança do governo e das instituições.
Risco iminente
“Na Califórnia, experiências passadas e atuais com a indústria petrolífera regional minimizaram a preocupação com alguns sobre o futuro desenvolvimento do xisto”, disse o coautor Tristan Partridge, um pós-doutorado do CNS e do Departamento de Antropologia da UCSB. “No entanto, para outros, as experiências pessoais de escassez de água e terremotos amplificaram esse senso de risco”.
Na Inglaterra, onde a extração de petróleo e gás em terra é menos comum, os participantes se basearam em experiências tangenciais do carvão e das indústrias pesadas ao fazer sentido do que o desenvolvimento de xisto pode significar para eles no futuro.
“Isto – e outras pesquisas que temos realizado – mostra que o público em ambos os países claramente quer um movimento em direção a um sistema de energia mais limpo e mais sustentável no futuro”, disse o autor correspondente Nick Pidgeon, professor de psicologia ambiental na Universidade de Cardiff. “Os resultados confirmam que o desenvolvimento do xisto não é compatível com essa visão”.
O financiamento principal desta investigação foi fornecido pela National Science Foundation com apoio suplementar do programa de investigação e inovação Horizon 2020 da União Europeia.
Brasil contra o fracking
“Muito interessante essa percepção, pois no Brasil vivenciamos exatamente essa desconfiança da população em relação ao fracking, seja pelos impactos ambientais, econômicos e sociais omitidos por governantes e empresas, seja pela certeza de que essa indústria fóssil irá reproduzir aqui a mesma dinâmica perversa e devastadora de outros países”, diz Nicole Figueiredo de Oliveira, diretora da 350.org Brasil e América Latina e coordenadora nacional da COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida.
Campanha Não Fracking Brasil avança em todo o Brasil com centenas de cidades provando legislação proibindo operações para exploração do gás de xisto. Foto: COESUS/350BrasilCampanha Não Fracking Brasil avança em todo o Brasil com centenas de cidades provando legislação proibindo operações para exploração do gás de xisto. Foto: COESUS/350Brasil
Desde 2013, a COESUS, 350.org Brasil e centenas de parceiros desenvolvem a campanha Não Fracking Brasil com o objetivo de impedir que o fraturamento hidráulico chegue ao país. Aproximadamente 300 cidades já aprovaram leis municipais para banir operações de fraturamento hidráulico para exploração de gás de xisto. O Estado do Paraná aprovou em dezembro da Lei 18.947/2016 que suspende por 10 anos o licenciamento para essa exploração, inclusive com a proibição dos testes sísmicos nesse período.
“As justificativas são os riscos que a tecnologia traz para a agricultura, para a saúde e para as reservas de água, a falta de transparência dos governantes e o simples fato de que a indústria do fracking mente sobre os impactos, especialmente para o clima, e está intimamente ligada aos casos de corrupção”, completa Nicole.
Para a diretora da 350.org Brasil e América Latina, “vivemos a insegurança das mudanças climáticas que já fazem milhões de vítimas no mundo e nos colocam como imperativo o desinvestimento em novos projetos fósseis e o cancelamento dos atuais. A única alternativa para garantirmos as condições necessárias para a existência humana e de todas as formas de vida neste planeta é investirmos em energias renováveis”.
O objetivo é alertar as pessoas e os líderes mundiais sobre os efeitos destruidores das mudanças climáticas e a urgência do rompimento com a indústria dos combustíveis fósseis.
 Por Silvia Calciolari
 Fontes:
 in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 23/05/2017

DEZ POSSEIROS MORTOS NO PARÁ.

Chacina no Pará deixa 10 trabalhadores rurais mortos, durante uma ação policial de reintegração de posse

Dez posseiros – nove homens e uma mulher – foram assassinados na manhã de ontem (24) durante uma ação policial de reintegração de posse em um acampamento na Fazenda Santa Lúcia, no município de Pau d’Arco, no Pará, segundo informações da Comissão Pastoral da Terra (CPT). A reintegração foi realizada pelas Polícias Civil e Militar do estado.
“O magistrado [juiz da Vara Agrária de Redenção] determinou que essa ordem [de reintegração] fosse cumprida por policiais militares e civis. O juiz não se atentou para as orientações que constam na Cartilha da Ouvidoria Agrária Nacional e nas diretrizes do Tribunal de Justiça que determinam que esse tipo de ação seja realizada por Batalhão da Polícia Militar especializado nestas situações”, disse a CPT.
Os corpos das vítimas foram levados inicialmente para o necrotério do Hospital Municipal de Redenção e depois serão transferidos para o Instituto Médico Legal (IML) do município de Marabá.
A coordenadora da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Estado do Pará (Fetraf), Viviane Pereira, disse, em nota, que o número de mortos em Pau D’Arco pode aumentar, pois não há precisão sobre a quantidade de feridos e o estado de saúde dos envolvidos. Segundo a Fetraf, a chacina na Fazenda Santa Lúcia só perde em número de mortos para o episódio que ficou conhecido como Massacre de Eldorado de Carajás, em 17 de abril de 1996, quando 19 trabalhadores sem terra foram assassinados.
A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), do Ministério Público Federal, informou que, assim que tomou conhecimento da chacina, entrou em contato com o procurador da República na localidade, Igor Spíndola, e com a promotora agrária do estado, Eliane Moreira, para auxiliar a articulação de ações.
A procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Deborah Duprat, informou que irá à região junto com o presidente do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), Darci Frigo; o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, deputado Paulão (PT-AL); e o procurador-geral de Justiça do Estado do Pará, Gilberto Martins.
Governo do Pará
Procurada pela Agência Brasil, a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup) respondeu, em nota, que a operação cumpriu 16 mandados judiciais (prisão preventiva, temporária e buscas e apreensões) e que “os policiais foram recebidos a tiros por um grupo fortemente armado e que já vinha sendo investigado por diversas ocorrências”. Segundo a secretaria, houve confronto, e as 10 pessoas acabaram mortas. O órgão não informou os nomes das vítimas.
O secretário adjunto de inteligência da Segup, Rogério Moraes, alegou que a polícia havia recebido denúncia de que, no dia 23 de abril, um funcionário da fazenda e familiares do proprietário teriam sido vítimas de “tentativa de homicídio em ações atribuídas ao referido grupo, conforme consta em investigação”.
“Os mandados de prisão foram emitidos justamente por conta de investigação sobre homicídio que vitimou um segurança da empresa Elmo, que fazia a segurança da propriedade, ocorrido no dia 30 de abril”, acrescentou Moraes.
O inquérito sobre a ocorrência de hoje será presidido pelo Departamento de Investigações Especiais da Polícia Civil. O governo estadual enviou para o município de Pau d’Arco uma equipe especial para intensificar as investigações e reforçar a segurança na região da Fazenda Santa Lúcia, segundo a secretaria.
Segundo o delegado João Bosco, diretor de Polícia do Interior, foram apreendidas onze armas de grosso calibre no local, incluindo um fuzil 762 e uma pistola Glock modelo G25.
Violência agrária
De acordo com a CPT, em 2016 foram registrados 61 assassinatos em conflitos no campo, o maior número desde o início do monitoramento da entidade, em 2003. Em 2017, o total de mortes no campo já chega a 26, sem contar os casos de hoje.
Em abril, nove trabalhadores rurais foram brutalmente assassinados por um grupo de homens encapuzados em uma chacina em Colniza, em Mato Grosso.
Por Camila Boehm, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 23/05/2017

quarta-feira, 24 de maio de 2017

RECICLAGEM : VOCÊ CONHECE, MAS VOCÊ PRATICA ?

Reciclagem: você conhece, mas você pratica? artigo de Fabrício Previatto Gimenes

[EcoDebate] A reciclagem é uma das práticas sustentáveis mais conhecidas pelas pessoas. Em algum momento de sua vida todos já tiveram contato com o termo: na escola, nas embalagens dos seus produtos, no jornal… Mas será que quem conhece também pratica? O Brasil é líder mundial em reciclagem de alumínio, passando de 98%, mas não recicla nem 10% do total dos resíduos que gera. Nós já temos o potencial para alcançar sucesso nessa prática, mas como transformar em realidade?
O que é reciclagem?
Todo produto é feito de algum tipo de material, ou uma combinação de materiais. Nos processos de fabricação os materiais são extraídos e transformados até que o produto chegue a sua forma final, que é utilizada por nós. Quando esses produtos chegam ao final de sua vida útil é preciso encontrar um jeito de destinar os resíduos. A reciclagem faz com que os materiais presentes em um produto sejam retransformados até poderem ser reutilizados na fabricação de novos produtos.
Além de diminuir o impacto ambiental de empresas, instituições e casas, a reciclagem também reduz os gastos com extração das matérias-primas e o impacto ambiental associado. Ela abre oportunidades para que o volume de lixo gerado por nós seja reduzido, diminui a pegada de carbono de nossas atividades e gera renda e trabalho para milhares de pessoas. Se não bastassem os benefícios ambientais, econômicos e sociais que a reciclagem oferece, ela também é simples de ser apoiada.
Conhecer e praticar
As possibilidades da reciclagem cresceram muito nas duas últimas décadas e dependem principalmente da nossa responsabilidade na hora de descartar. Vários são os materiais que podem ser reciclados: metais (alumínio, cobre, aço, níquel, etc), plásticos, papelão, isopor, etc. Quase todos os materiais do cotidiano empresarial e doméstico podem ser reciclados hoje em dia, mas então por que os índices de reciclagem são baixos?
Caminho da reciclagem
O sucesso da reciclagem depende de um conjunto de esforços que envolve todos nós ao longo do processo e um dos principais é separação. Quando jogamos fora algum material, a chance dele ser reciclado depende da capacidade de fazer com que ele chegue até o local certo. Os sistemas de coleta de resíduos sólidos urbanos de diversos municípios brasileiros já possuem serviço de coleta seletiva. Estes sistemas não possuem capacidade suficiente para abranger todas as localidades, por isso também existem as cooperativas de catadores. Mas o lixo reciclável só atinge o resultado desejado se todas as partes envolvidas trabalharem corretamente:
O caminho da reciclagem
O caminho da reciclagem 
O papel da indústria e empresas
No conjunto de esforços que faz com que a reciclagem torne-se uma realidade a indústria tem um papel muito importante. Ela é responsável por selecionar quais materiais serão utilizados na produção dos produtos que consumimos. A escolha dos materiais e produtos recicláveis diminui o impacto ambiental das empresas e da sociedade. Mas vai além disso, a indústria também é responsável por abrir portas para a reentrada dos materiais depois de reciclados.
O papel do consumidor
Quando você escolhe um produto na prateleira do supermercado, você pensa em como ele vai ser jogado fora depois do uso? Você olha a embalagem do produto e procura informação sobre se é possível reciclar? Quando nós descartamos nosso lixo todo misturado ele vai parar num aterro sanitário, onde o lixo é simplesmente enterrado sem reaproveitamento. É função de cada pessoa ter consciência de como é importante separar os materiais antes do descarte, somente assim a reciclagem pode funcionar. Você já parou para pensar no futuro que seus filhos terão que enfrentar se o lixo não receber o tratamento correto? Não feche o caminho da reciclagem, pelo contrário, abra espaço para que ele possa ir mais longe.
O papel dos governos
A legislação brasileira atribui responsabilidade compartilhada em relação aos resíduos gerados: governo, consumidor, produtor, vendedor… Porém é de responsabilidade específica dos governos municipais, estaduais e federal dar condições para que a gestão de resíduos funcione. Uma das partes mais importante da gestão de resíduos é a coleta seletiva e a reciclagem. As comunidades, as cooperativas, as empresas e todos os cidadãos devem cobrar de seus municípios a organização dessa estrutura.
O papel dos recicladores
O perfil dos recicladores é variado. Existem cooperativas, empresas pequenas, empresas de médio porte e até mesmo empresas internacionais. Cada um dos perfis de reciclador terá necessidades específicas para garantir o funcionamento do negócio e gerar o impacto positivo que a reciclagem oferece. O desafio é criar condições para que o negócio seja realmente viável em vários níveis. Gerar valor positivo dentro da cadeia de suprimentos. Criar processos que melhorem a qualidade do material reciclado e o volume produzido. Aumentar a capacidade de recebimento da coleta seletiva. Esses e outros desafios precisam ser vencidos para que a reciclagem torne-se uma realidade mais abrangente do que é hoje. As últimas pesquisas do Governo Federal apontam que o Brasil não passa de 10% de reciclagem do total de lixo produzido.
A reciclagem em números
Para compreender bem o panorama brasileiro é preciso comparar nossos números com o panorama internacional. Além disso, é preciso que a reciclagem seja capaz de gerar benefícios de curto e longo prazo para a sociedade. Sem esses benefícios ela perde força e empresas e pessoas não investem no processo. Veja a seguir alguns números interessantes sobre a reciclagem no Brasil e no mundo.
Estatísticas de reciclagem no Brasil e no mundo
Estatísticas de reciclagem no Brasil e no mundo
Buscar o horizonte desejado
O Brasil ainda tem um percurso longo para percorrer em busca dos níveis internacionais de reciclagem do total de lixo, mas existe muito potencial positivo. A Política Nacional de Resíduos Sólidos foi uma conquista significativa para assinalar nosso compromisso com a sustentabilidade como nação. Agora é hora de transformar as diretrizes da lei em realidade. Existem empresas brasileiras trabalhando e investindo para que a reciclagem alcance os níveis que precisamos. Faça sua parte e comece dentro da sua empresa, dentro da sua escola, dentro da sua casa. O trabalho depende do esforço coletivo e organizado de todos, pois é uma necessidade de todos.
Fabrício Previatto Gimenes cursa o 5º ano da graduação em Engenharia de Produção, Faculdade de Engenharia de Bauru (FEB – UNESP).
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/05/2017

AS CONSEQUÊNCIAS CAUSADAS PELA REDUÇÃO DE ÁREAS NATURAIS NO BRASIL.

10 impactos causados pela redução de áreas naturais no Brasil, por Carlos Nobre, Carlos Eduardo Young, Fábio Olmos e Marcelo Dantas


Brasnorte, MT, Brasil: Árvore em meio a plantação de soja. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Recentemente, o governo federal propôs a redução de mais de 1 milhão de hectares da área de unidades de conservação (UCs), que inclui áreas do Pará, na Amazônia, e de outras regiões do Brasil.
A mudança, que já foi aprovada por uma comissão mista de deputados e senadores, acontece por meio de uma ferramenta ágil e destinada apenas a assuntos urgentes: as medidas provisórias. No último dia 16 de maio, a MP 756 foi aprovada pela Câmara dos Deputados, que autoriza a mudança de categoria de parques nacionais e de florestas nacionais e os transforma em áreas de preservação ambiental (APAs), cujas restrições para exploração são menores.
A proposta atinge uma região que sofre com o desmatamento há anos. Apesar da redução do índice histórico de desmatamentos na Amazônia, em 2016 ainda foram registrados 8 mil km² pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) – área equivalente a quase uma vez e meia o Distrito Federal, que tem 5,7 mil km². As consequências dessas ações não afetam somente quem vive perto das florestas, mas abrange todo o País, de Norte a Sul, sem contar o impacto causado na fauna, na flora e nos serviços ambientais daquelas áreas reduzidas pela proposta.
Confira dez fatos e impactos que a redução de florestas causa para o meio ambiente e para a população:
1. A falta ou excesso de chuva no Brasil é influenciada pela Amazônia
É na Amazônia que são formados os rios aéreos ou voadores, que são massas de ar carregadas de vapor d’água. A floresta amazônica atrai a umidade evaporada pelo oceano e cria correntes de ar que transportam essa umidade em direção ao Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. De acordo com o biólogo e diretor da Permian Brasil, Fábio Olmos, existem diversos estudos que mostram que a segurança hídrica nacional depende da Amazônia. “Tanto os centros urbanos como o campo, a região mais povoada do País ou a mais remota, dependem dos serviços ambientais fornecidos pela floresta e outros ecossistemas naturais. Isso sem nem mencionar a questão das emissões de gases de efeito estufa associadas ao desmatamento, que intensificam a mudança global do clima”, afirma ele, que também é membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.
2. Conservação da natureza não está na lista da maioria dos governantes
Parece ser uma triste verdade. As recentes mudanças anunciadas pelo governo brasileiro demonstram que as regras atendem aos interesses de poucos e não a vontade de muitos. No Pará, os limites do Parque Nacional do Rio Novo, Parque Nacional do Jamanxim e da Área de Proteção Ambiental do Tapajós correm sérios riscos de serem alterados. Essas últimas mudanças aconteceram por meio das Medidas Provisórias 756 (aprovada pela Câmara dos Deputados na terça, 16 de maio) e 758, que, além do Pará, também propõe alteração na área do Parque Nacional de São Joaquim, em Santa Catarina.
3. Não estamos reduzindo o desmatamento
Por cerca de 10 anos, até a celebração do Acordo de Paris na Conferência de dezembro de 2015 (COP21), a redução de desmatamentos na Amazônia era destaque global ano após ano: a taxa anual foi reduzida em 83% e oscilou entre 5 a 6 mil km²/ano até 2015. Em 2016, no entanto, os desmatamentos medidos pelo sistema PRODES do INPE registraram quase 8 mil km² na região. Entre as causas, pode-se apontar tanto as reduções orçamentárias dos órgãos ambientais reguladores, como mudanças do Código Florestal Brasileiro, em 2012, que anistiaram desmatamentos ilegais do passado, encorajando o descumprimento da lei.
4. O Brasil é um país que não cumpre acordos internacionais
O Acordo de Paris foi assinado em 2015 por dezenas de países que se comprometeram a parar e reduzir o aquecimento global e suas consequências. O ideal é que as nações signatárias promovam mudanças para que o aumento não supere 1,5°C. O Brasil foi protagonista nas negociações que concretizaram o pacto e se comprometeu a reduzir em 37% as emissões de gases de efeito estufa até 2025, 43% até 2030 em relação às emissões de 2005, e zerar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030. Ou seja, até lá, o Brasil está dizendo que continuará tendo desmatamento ilegal na Amazônia; e, quanto aos demais Biomas, o compromisso brasileiro não traz metas específicas. De acordo com o climatologista Carlos Nobre, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, com as constantes reduções de áreas protegidas e o aumento do desmatamento, dificilmente chegaremos à meta de desmatamento zero, que já era desafiadora. “A relação entre o desmatamento, a floresta e o clima é real e nos afeta diariamente. Não podemos perder o trem da história, pois o custo será o futuro de nossa e das próximas gerações”, analisa Nobre.
5. O clima do planeta está esquentando
A temperatura média do planeta está aumentando e isso é perigoso! Dados divulgados pela Nasa, agência espacial americana, e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), em janeiro deste ano, confirmam que a temperatura do planeta bateu recordes pelo terceiro ano consecutivo. Em 2016, o planeta estava 0,99 grau Celsius mais quente que a média do século XX. Há grande consenso científico de que a maior parte do aquecimento observado nos últimos 60 anos é devido ao aumento da concentração de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2), decorrente da emissão de combustíveis fósseis, do desmatamento, entre outros. Quanto menos áreas naturais tivermos, pior ficará a situação.
6. Quando uma floresta é derrubada, as outras regiões também são afetadas
Além do impacto no regime de chuvas, as florestas também atuam como reguladores do clima, proteção de rios e das espécies que vivem nelas, entre muitos outros fatores. O recente surto de febre amarela que alarmou o Brasil é consequência do desmatamento da Mata Atlântica, por exemplo.
7. Pecuária é uma das atividades mais poluentes
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) lançou o relatório Estado das Florestas do Mundo 2016 e concluiu que, no Brasil, mais de 80% do desmatamento está ligado à conversão de terras em terrenos de pasto. Além disso, o relatório analítico do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa) do Observatório do Clima mostra que as emissões diretas e indiretas do agronegócio representam dois terços das emissões brasileiras de gases de efeito estufa.
8. Medidas provisórias deveriam ser usadas com mais cautela
Na hora de mudar ou propor normas, o governo tem três caminhos possíveis: as medidas provisórias (MPs), os decretos e os projetos de lei. Os decretos podem ser feitos apenas pelo presidente, governadores e prefeitos para determinadas leis. Os projetos de lei são a maneira mais tradicional e “certa” de se propor uma mudança, mas também são mais lentas e burocráticas. É aí que surgem as MPs, que devem ser usadas apenas em casos relevantes e urgentes e quem define isso é o presidente da República. Uma medida precisa ser aprovada em no máximo 120 dias e tem força de lei imediata. Usar uma MP para alterar a área de uma unidade de conservação, por exemplo, é uma distorção grave da lei, de acordo com o advogado especializado em causas ambientais, Marcelo Dantas, que é membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza. “Se as alterações sugeridas na Amazônia são urgentes a ponto de pedir uma medida provisória, certamente elas atendem a interesses específicos e que divergem da opinião da população. Essa manobra foi feita para driblar a burocracia e reduzir a resistência na aprovação”, explica.
9. Florestas e áreas de preservação podem gerar emprego e renda
Acreditar que desmatamento e danos ambientais estão ligados ao desenvolvimento é um pensamento, no mínimo, atrasado. Carlos Eduardo Young, economista e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, defende o conceito de economia verde: uma prática que estimula atividades associadas à preservação ambiental, uso eficiente de recursos e inclusão social. “As atividades ‘verdes’ tendem a ser mais intensivas em mão de obra e em produtos manufaturados com maior conteúdo de inovação”, explica.
10. O desmatamento das áreas naturais induz a mais violência no campo
Há no Brasil uma tradição de que, se for estabelecido um uso produtivo da terra, é possível ter direito à sua posse. Nesse ponto de vista, a taxa de desmatamento tende a aumentar e dar a oportunidade para que grileiros reclamem para si o direito à posse; e o resultado: violência. De acordo com o artigo “Direitos de Propriedade, Desmatamento e Violência: Problemas para o Desenvolvimento da Amazônia”, publicado em 2014, nos municípios onde há mais desmatamento, a taxa de homicídios também é maior. Para o pesquisador Carlos Eduardo Young, que é membro da Rede de Especialistas e um dos autores do artigo, “há inúmeros estudos que apontam como o processo de desmatamento é acompanhado por atos de violência, que vão do conflito entre posseiros e grileiros, até a expulsão dos antigos moradores da floresta. Casos, ainda, que podem resultar em homicídio”, explica.
*Carlos Nobre, Carlos Eduardo Young, Fábio Olmos e Marcelo Dantas fazem parte da Rede de Especialistas de Conservação da Natureza, uma reunião de profissionais, de referência nacional e internacional, que atuam em áreas relacionadas à proteção da biodiversidade e assuntos correlatos, com o objetivo de estimular a divulgação de posicionamentos em defesa da conservação da natureza brasileira. A Rede foi constituída em 2014, por iniciativa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 23/05/2017

ILHA DE PÁSCOA AMEAÇADA.

O segundo colapso da ilha de Páscoa, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

“A Ilha de Páscoa é o exemplo mais claro de uma sociedade que se autodestruiu
ao explorar demais os próprios recursos. É um exemplo de ecocídio”
Jared Diamond
as estátuas da ilha da Páscoa
[EcoDebate] A Ilha de Páscoa, ou Rapa Nui, é uma ilha da Polinésia oriental, localizada no sul do Oceano Pacífico e está situada a 3.700 km de distância da costa do Chile e, atualmente, constitui a província chilena de Ilha de Páscoa. A colonização da Ilha de Páscoa ocorreu em função das viagens dos povos vindos do continente asiático e das ilhas da Polinésia Ocidental.
Na modernidade, a Ilha de Páscoa foi (re)descoberta num domingo de Páscoa de 1722, pelo navegador holandês Jacob Roggeveen que ficou impressionado com as gigantescas estátuas de pedra (chamadas Moais), espalhadas pela ilha e pela total falta de vegetação. Segundo os exploradores europeus, as estátuas e a desertificação da ilha pareciam testemunhas de uma sociedade em colapso.
De acordo com a histografia, no passado, os primeiros habitantes da ilha de Rapa Nui formavam uma sociedade rica e próspera que entrou em colapso em consequência da degradação ambiental. Segundo essa teoria, um pequeno grupo de colonizadores da Polinésia teria chegado entre os séculos IX e X. Trezentos anos depois, o aumento populacional acelerado e a obsessão em construir moais levaram a uma pressão cada vez maior no ambiente. No final do século XVII, os rapanui haviam desmatado a ilha, o que resultou em guerras, fome e colapso cultural.
Essa versão é defendida pelo geógrafo Jared Diamond que usou os rapanui como parábola sobre os perigos da destruição ambiental. Para Diamond, em apenas alguns séculos, os habitantes da Ilha de Páscoa liquidaram suas florestas, levaram suas plantas e animais à extinção, e viram sua complexa sociedade rumar para o caos e o canibalismo. No livro, Colapso, publicado em 2005, Diamond descreveu Rapa Nui como “o exemplo mais claro de uma sociedade que se autodestruiu ao explorar demais os próprios recursos”.
Entretanto, esta narrativa é contestada por outros estudiosos, Terry L. Hunt, que considera que o colapso Rapa Nui foi provocado ou acelerado pela chegada dos Europeus em 1722. Para ele, doenças trazidas de fora, conflitos com invasores europeus e escravidão seguiram-se durante os 150 anos seguintes, e essas foram as principais causas do colapso. No começo da década de 1860, mais de mil rapanui foram levados da ilha como escravos e, no final da década seguinte, o número de habitantes nativos chegava somente a cerca de 100. Em 1888, a ilha foi anexada ao Chile.
Qualquer que seja a explicação, o fato é que houve degradação ambiental da ilha e é impossível manter uma civilização (e suas obras de arte como os Moais) sem haver uma base ambiental que sustente a vida humana e a biodiversidade.
A Ilha de Páscoa é um micro exemplo de auto desastre. O Planeta pode repetir o mesmo desastre ao nível macro. Nos últimos 250 anos, o crescimento do industrialismo e da Pegada Ecológica atingiu níveis insustentáveis. Além da perda de biodiversidade e da degradação dos ecossistemas, a emissão de gases de efeito estufa (GEE) estão acelerando o aquecimento global e provocando o degelo dos polos e dos glaciares. Isto já está elevando o nível dos oceanos e a perspectiva que este aumento se acelere assim como os efeitos climáticos extremos.
De acordo com relatório elaborado por diversos cientistas e divulgado em junho de 2016 pela Organização das Nações Unidas (ONU), 31 patrimônios culturais da humanidade, em 29 países, estão ameaçados pelas mudanças climáticas e a elevação do nível do mar. O estudo mostra que obras icônicas, como os Moais da Ilha de Páscoa, podem ser destruídos devido a problemas causados pelas alterações no clima.
Isto se torna mais graves depois das novas descobertas. Reportagem de André Oliveira, na Revista Galileu (12/06/2015), retrata os achados de arqueólogos que desenterraram, em 2012, o torso de algumas estátuas, mostrando que os moais não apenas têm corpo, como também são tatuados. Os pesquisadores acreditam que padrões crescentes nas tatuagens podem representar canoas do povo Rapa Nui.
estátua da ilha da Páscoa
O risco do caos climático que ameaça patrimônios ambientais como a Grande Barreira de Corais, na Austrália, e o Atol das Rocas, no Brasil, já vinha sendo enfatizado há tempos por entidades ligadas ao assunto. Mas o novo relatório da ONU lista também monumentos criados pelo ser humano, de extrema importância cultural e, obviamente, turística. O perigo é que todo o Planeta se torne, em termos macro territoriais, uma grande Ilha de Páscoa.
No plano micro, a ilha de Páscoa sofre a erosão costeira causada por chuvas que se tornarão cada vez mais frequentes e o aumento do nível das águas no Oceano Pacífico podem fazer com que os moais se percam no mar. Seria o segundo colapso ambiental da cultura Rapa Nui. Um prenúncio de um colapso que pode ser global.
Referência:
Terry L. Hunt. O colapso dos rapanui, SCIAM, 2006
http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/o_colapso_dos_rapanui.html
Jared Diamond – Sociedades em Colapso – Legendado Português.
http://www.youtube.com/watch?v=szkKzVM93cQ
André Jorge Oliveira. Fotos revelam que moais da Ilha de Páscoa têm tatuagens. Revista Galileu, 12/06/2015
http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Arqueologia/noticia/2015/06/fotos-revelam-que-moais-da-ilha-de-pascoa-tem-tatuagens.html
 José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
 in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 23/05/2017