segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

CICLONES TROPICAIS CONSECUTIVOS CAUSAM DESTRUIÇÃO MASSIVA E IMPACTAM MILHÕES DE PESSOAS.

Ciclones tropicais consecutivos causam destruição massiva e impactam milhões de pessoas

WMO

Ciclones tropicais consecutivos causaram destruição massiva e impactaram milhões de pessoas na América Central e partes do Sudeste Asiático, enfatizando mais uma vez as ameaças representadas pelos ciclones tropicais à vida e propriedade e bem-estar socioeconômico e a necessidade de coordenação e cooperação a nível global sob a égide da OMM.

O furacão Iota atingiu a Nicarágua em 17 de novembro como uma poderosa categoria 4 na escala de Saffir Simpson. É o furacão mais forte do ano no Atlântico e atingiu exatamente a mesma área, que ainda está se recuperando da categoria 4 Eta, que atingiu há menos de duas semanas e causou centenas de vítimas.

Iota é o 30 recorde ª tempestade nomeada da temporada. Pela primeira vez na história, o Atlântico teve duas grandes formações de furacões em novembro, em uma época do ano em que a temporada normalmente está terminando. Houve quatro grandes furacões

(Categoria 3+) desde outubro: Delta, Epsilon, Eta e Iota – todos retirados do alfabeto grego porque a lista regular de nomes de tempestades se esgotou.

O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (UNOCHA) alertou sobre as consequências potencialmente catastróficas de tais furacões sem precedentes em rápida sucessão.  Apelos internacionais por assistência já foram lançados para Guatemala, Honduras e Nicarágua após a Eta.

Temporada de furacões no Atlântico

Temporada de furacões no Atlântico
(Fonte. Philip Klotzbach, Colorado State University)

Iota tocou o solo na Nicarágua com ventos máximos de 155 mph (250 km / h). É um furacão catastrófico, trazendo tempestades, ventos, inundações e deslizamentos de terra com risco de vida para a América Central, bem como até 30 polegadas (750 mm) de chuva em locais isolados, de acordo com o Centro Nacional de Furacões dos EUA, que atua como Centro Meteorológico Regional Especializado da OMM.

Inundações e deslizamentos de terra na Nicarágua e em Honduras podem ser agravados pelos impactos do furacão Eta, porque as duas tempestades atingiram o mesmo local geral.

De acordo com a previsão, Iota se moverá para o interior, no norte da Nicarágua em 17 de novembro, e se moverá no sul de Honduras. Iota enfraqueceu após a chegada à categoria 2 e um rápido enfraquecimento adicional é esperado conforme a tempestade se dissipar na América Central no final de 18 de novembro.

Espera-se que Iota produza os seguintes acúmulos de chuva até quinta-feira:

  • Honduras, norte da Nicarágua, sudeste e centro da Guatemala e sul de Belize: 10 a 20 polegadas (250 a 500 mm),
  • El Salvador e Panamá: 4 a 8 polegadas (100 a 200 mm), com totais máximos isolados de 12 polegadas (300 mm).

Esta chuva vai levar a inundações repentinas significativas com risco de vida e inundações de rios, juntamente com deslizamentos de terra em áreas de terreno elevado.

Mensagens principais para Iota

Pacífico Norte Ocidental

No Oceano Pacífico Norte Ocidental e no Mar da China Meridional , houve 22 tempestades nomeadas até agora nesta temporada, incluindo 10 tufões. Isso inclui três na categoria 3 de intensidade equivalente, três na categoria 4 e 1 na categoria 5 (Goni), de acordo com RSMC Tokyo (o Tokyo Typhoon Center).

Goni (conhecido como Rolly nas Filipinas) atingiu as Filipinas em 1º de novembro como o tufão mais poderoso em 2020 e um dos mais poderosos ciclones tropicais já registrados (estreitamente relacionado ao Haiyan (Yolanda) em 2013.

Cinco tempestades tropicais sem precedentes atingiram as Filipinas em um curto período de três semanas, começando em 25 de outubro com o tufão Molave ​​(nome local: Quinta) e continuando esta semana com a forte tempestade tropical Vamco (Ulysses). Vamco foi o 21º ciclone tropical a atingir as Filipinas este ano.

Dentro de um mês, de 11 de outubro a 15 de novembro, oito sistemas tropicais impactaram o Vietnã, que suportou o impacto de chuvas torrenciais, inundações e deslizamentos de terra, causando enormes perdas e danos

Desde o início de outubro, a série de ciclones tropicais afetou um total de 32,5 milhões de pessoas, com mais de 2,7 milhões de pessoas nas Filipinas, Vietnã e Camboja com necessidade urgente de assistência, de acordo com o OCHA. Casas foram danificadas ou destruídas por inundações, tempestades, ventos de alta velocidade, deslizamentos de terra e lama vulcânica, forçando a evacuação de milhões de pessoas, de acordo com o OCHA. Instalações de saúde, sistemas de água e saneamento e escolas foram danificados. Colheitas, gado, barcos de pesca e outras fontes de subsistência foram varridos.

 

ciclones tropicais na ásia

 

Da World Meteorological Organization (WMO), com tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/11/2020

ESTUDOS EXPANDEM O CONHECIMENTO SOBRE ÁRVORES E FLORESTAS TROPICAIS.

 floresta

Estudos expandem o conhecimento sobre árvores e florestas tropicais

Caros Colegas

Estou enviando detalhes para três artigos publicados recentemente que podem ser de interesse – sobre a ecologia e conservação de árvores tropicais e florestas tropicais megadiversas.

Todos são artigos intrigantes baseados em enormes conjuntos de dados. Você pode ler ou baixar PDFs gratuitos dos artigos usando os links abaixo.

Tudo de bom a todos(as),

Bill

Referências & Links

ter Steege, H. et al. (2020). Biased-corrected richness estimates for the Amazonian tree flora. Scientific Reports (https://www.nature.com/articles/s41598-020-66686-3)

Rozendaal, D. et al. (2020) Competition influences tree growth, but not mortality, across environmental gradients in Amazonia and tropical Africa. Ecology (https://esajournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/ecy.3052).

Esquivel-Muelbert, A. et al. (2020). Tree mode of death and mortality risk factors across Amazon forests. Nature Communications (https://doi.org/10.1038/s41467-020-18996-3).

William F. Laurance, PhD, FAA, FAAAS, FRSQ
Distinguished Research Professor
Australian Laureate & Prince Bernhard Chair in International Nature Conservation (Emeritus)
Director of the Centre for Tropical Environmental and Sustainability Science (TESS)
Director of ALERT (ALERT-conservation.org)

College of Science and Engineering
James Cook University
Cairns, Queensland 4878, Australia

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/11/2020

OS RIOS URBANOS E A INFRAESTRUTURA VERDE.

Os rios urbanos e a infraestrutura verde

O futuro das cidades: um olhar emergente para os rios urbanos e a infraestrutura verde

Por Amanda Carbone, pesquisadora do Instituto Siades e colaboradora do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, e outros autores*

[Jornal da USP] A infraestrutura verde e azul são temáticas contemporâneas da relação dos rios com as cidades, que promovem soluções no planejamento das cidades de forma econômica, e com benefícios para as pessoas e o meio ambiente, considerando aspectos ecológicos, prevenção de cheias e criação de espaços públicos saudáveis, inclusivos e sustentáveis à população. Uma das grandes preocupações atuais é a transformação da vida urbana, enfocando novos valores sociais, culturais e ambientais; trazendo uma ressignificação das cidades e uma reflexão: qual cidade queremos viver? Historicamente, as cidades têm sido planejadas e construídas em detrimento dos fluxos e processos naturais. O traçado geométrico das cidades antigas é usado até hoje em projetos urbanos, influenciado por um modelo cartesiano de apropriação da natureza e ocupação urbana de forma rápida e eficiente.

A forma de planejar cidades do século XIX, a partir de um modelo higienista onde a prioridade era garantir a ocupação urbana em condições adequadas de salubridade, culminou em obras de canalização de rios, drenagem urbana subterrânea para rápido escoamento da água, aterramentos, alargamento de vias, entre outros aspectos. Também o urbanismo modernista do século XX buscou organizar a cidade a partir de funções urbanas e separação funcional de usos do solo, e com foco prioritário no uso residencial e no transporte automotivo, gerando espraiamento urbano e construção de grandes vias expressas. Sob a influência desses modelos de urbanização pouco se levou em conta a funcionalidade ecológica e os fluxos da natureza no planejamento urbano.

O modelo de eficiência do urbanismo na fase industrial foi inspirado no modo de produção, com uma alusão à Carta de Atenas, 1933. Suas marcas reestruturantes levaram a uma setorização das cidades industriais de acordo com suas funções, o que inevitavelmente resultou numa clara distorção do ambiente urbano. Nas grandes cidades brasileiras, este modelo de urbanização sofreu transformações profundas a partir da década de 1970, com o advento de modelos mais flexíveis, de acordo com as mudanças na organização socioeconômica, e foco no consumo e serviços.

Atualmente, a população brasileira é majoritariamente urbana, com 84,4% vivendo em cidades (IBGE, 2010). À semelhança da população mundial, as cidades sofreram uma explosão de crescimento espacial e populacional principalmente após a Segunda Guerra Mundial. Hoje, somos 85% de pessoas vivendo em cidades e as tendências apontam para um aumento nessa porcentagem nos próximos anos. Aliado ao desafio de planejar cidades para uma demanda crescente de habitantes, e ao mesmo tempo para garantir o acesso da população a um ambiente saudável e equilibrado, é urgente alinhar o planejamento urbano brasileiro à atual agenda voltada para a construção de cidades resilientes e sustentáveis, seguindo acordos mundiais como a Agenda 2030 e o Acordo de Paris pelo clima de 2015.

Na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), por exemplo, enfrenta-se um cenário de planejamento urbano com diversas problemáticas, como a alta impermeabilização em áreas consolidadas, intensas desigualdades socioambientais e má distribuição de áreas verdes, além de uma ocupação desordenada que se espraia cada vez mais para as franjas da cidade. Este espraiamento gera pressões sobre os recursos naturais no Cinturão Verde, especialmente nas áreas de proteção aos mananciais da Região Metropolitana de São Paulo, e sobre os grandes remanescentes florestais com alta biodiversidade e prestadores de relevantes serviços ecossistêmicos (1) para a metrópole, caso do Parque Estadual da Cantareira.

Além disso, o planejamento e gestão de recursos hídricos na RMSP tem seguido uma lógica insustentável em que, para atender a demandas crescentes de consumo na metrópole, busca-se água em mananciais cada vez mais distantes, reforçando um paradigma baseado em obras de engenharia hidráulica convencionais que geram impactos e passivos ambientais em outras localidades da macrometrópole paulista. É o caso do Sistema Produtor do Alto Tietê, que já fez várias intervenções em rios, nas bordas da metrópole, a exemplo do último sistema implantado na RMSP, o Sistema São Lourenço, na região dos municípios de Ibiúna e Juquitiba, e agora avança em direção aos rios do litoral, como o Itapanhaú.

Neste contexto, os desafios para se planejar cidades mais resilientes e sustentáveis são muitos. Um deles é resolver problemas ambientais e sociais superpostos e estreitar a relação entre urbanidade e natureza, tanto nas áreas urbanas consolidadas quanto nas franjas da cidade.

Tem havido nas últimas décadas um movimento mundial de cidades aderindo ao “verde” como infraestrutura, com participações dos diferentes setores da sociedade, inclusive dos movimentos ativistas considerados chave neste processo de mudança, como é o caso de países como Alemanha, Espanha e Coreia do Sul. Nesse sentido, somos instigados a nos perguntar: como é a cidade que representa esses valores? Em que cidade queremos viver?

Experiências apontam que alternativas de intervenções voltadas a melhorar a permeabilidade na bacia, renaturalizar o canal fluvial emparedado ou devolver a planície de inundação ao rio, podem ser mais efetivas e menos custosas ambiental e financeiramente do que soluções de engenharia tradicionais. Nesse sentido, além do objetivo exclusivo de melhorar a qualidade da água, há, nessa abordagem emergente, a possibilidade de reinserir rios e córregos na paisagem urbana, recuperando a memória desses corpos hídricos, conectando espaços públicos, valorizando os serviços ambientais prestados à cidade pelos rios, estimulando a participação pública.

Embora o conceito de infraestrutura verde (2) em si seja recente, o campo do planejamento ecológico da paisagem tem sido moldado desde meados do século XIX e começo do século XX, por meio do trabalho inspirador de profissionais como Ebenezer Howard e Law Olmsted. Howard ficou conhecido pela obra Cidades-Jardins do Amanhã, de 1902, em que projetou um modelo urbano multicêntrico que inspirou o conceito de cidade-jardim amplamente conhecido. Frederick Law Olmsted (1822-1903) trouxe uma concepção sistêmica da natureza e, além de projetar o Central Park, fez um trabalho notório em Boston (EUA) no Colar de Esmeraldas, um sistema de parques multifuncional que recuperou uma extensa área degradada e proporcionou diversos benefícios, como purificação do ar, espaços de lazer e drenagem da água.

Outros exemplos internacionais mais atuais podem ser citados, dentre os quais as cidades de Essen e de Munique, na Alemanha, e a experiência da Holanda, mencionados pela arquiteta urbanista Carolina Nunes, da ONG Humanitat.

O Rio Emscher, na cidade de Essen, já foi um dos rios mais poluídos da Alemanha e sua história é um exemplo clássico de tentativa de controlar a natureza. Além de ter sido retificado, o rio tinha a função de transportar resíduos industriais e esgoto. Com o declínio da atividade de mineração, a região entrou em decadência. Adotou-se, então, uma estratégia, em curso, de recuperação das áreas industriais abandonadas, renaturalização do rio e criação de áreas de lazer e mobilidade, permeadas por intervenções culturais e educativas. Essen foi considerada, em 2017, a Capital Verde da Europa.

Em Munique, vários fatores diferenciam a cidade em termos de planejamento urbano e infraestrutura verde: os grandes parques lineares, os parques de bairro com contato com a água, moradia perto do trabalho, passagens exclusivas para pedestres e ciclistas, e a marcante presença do Rio Isar no centro da cidade, integrado à paisagem, com espaços de lazer, proteção contra cheias e melhores condições para a biodiversidade.

Na Holanda, país bastante conhecido pelas infraestruturas verde e azul, um exemplo marcante é o projeto Room for the River, que também visa a reduzir o risco de inundações, garantindo espaço para as águas e integrando o rio à paisagem, ao mesmo tempo em que propicia espaços agradáveis e seguros para deslocamento e lazer.

Experiências internacionais como estas podem inspirar ações no contexto brasileiro, mas é preciso considerar as particularidades da nossa realidade urbana. Em áreas totalmente consolidadas, como o espigão da Avenida Paulista, em São Paulo, onde não é possível transformar o uso do solo urbano a ponto de destamponar totalmente nascentes e rios, é possível, ao menos, buscar formas de ressignificar a relação dos habitantes com esses corpos d’água que, embora degradados e escondidos, continuam existindo no território.

A realidade brasileira pode se tornar ainda mais complexa quando se considera a vulnerabilidade social e ambiental, caracterizada pela ocupação irregular das áreas periféricas da cidade e uma vasta degradação ambiental sem a devida fiscalização. Nestes casos não basta se pensar em soluções inovadoras e criativas de infraestrutura verde. É necessário enxergar o problema a partir de um olhar intersetorial e reconhecer que existem múltiplas causas, cujas respostas exigem planejamento, inclusão social e vontade política para se pensar em soluções que não apenas desaceleram a degradação ambiental, mas geram mudanças sociais. Um caminho, por exemplo, é criar áreas de lazer e verde em lugares degradados e abandonados, a partir do engajamento comunitário. A cocriação das soluções envolvendo diferentes atores, inclusive a comunidade do entorno, é uma medida que visa ao estabelecimento de uma conexão íntima com as propostas de restauração dos ecossistemas, garantindo assim a própria sustentabilidade destas intervenções no futuro.

Como afirma Luciana Martins Schenk, professora do IAU/USP e ABAP, a paisagem é uma questão política que traz a ansiedade e o desejo do cidadão de construir a sua própria cidade. Nesse sentido, é necessário uma revolução cultural, além de maior comprometimento dos diferentes atores.

O exemplo da cidade de São Carlos, no interior paulista, inspira alguns passos para uma ação bottom-up, a partir dos interesses e ações coletivas. O diálogo durante a revisão do Plano Diretor da cidade resultou em uma alteração de diretrizes urbanísticas, com aumento da faixa de preservação ou non aedificandi na bacia do Rio Monjolinho.

Em Lages, o projeto Criaticidade, uma parceria entre a iniciativa pública e privada desenvolvido pela Glóbulo, empresa de Florianópolis, e com a Humanitat, no planejamento da aceleração criativa do território, visou ao desenvolvimento da cidade a partir da diminuição da desigualdade social e do aumento do potencial econômico por meio de soluções criativas; exemplo de estímulo ao engajamento comunitário na busca por soluções de planejamento urbano. O primeiro passo incluiu a realização de um diagnóstico socioeconômico da cidade e o mapeamento de potencialidades. A segunda fase envolveu a criação de metas, eixos e comitês para discutir e tratar de cada um dos temas prioritários elencados, como comenta a arquiteta Carolina Nunes, da Humanitat. Como parte desse processo, foi criado o movimento #NovosTropeiros.

Pensar em ações no território que fomentem uma cidade sustentável na qual a infraestrutura verde esteja integrada é um reconhecimento e valorização da natureza como espaço de patrimônio cultural, conforme defende Gabriel Gallarza, do Observatório de Interações no Ambiente (OIA) e Instituto de Documentação Socioambiental (Hügato). Ele traz esse enfoque em seu trabalho de inventários territoriais, em um processo de identificação e registro das características mais significativas das paisagens, vistas sob um enfoque cultural.

Outro exemplo desse tipo de abordagem é o projeto Retratos do Belém, feito em Curitiba (PR), na bacia do Rio Belém, um dos mais importantes da cidade. Foi feito um trabalho de resgate de material teórico e pesquisas de campo com varredura, percorrendo toda a extensão do rio (em 12 percursos que propiciaram a identificação de 120 elementos paisagísticos, incluindo manifestações culturais). Cada elemento foi inventariado em uma ficha com descrição e fotos. Com esse levantamento, é possível fazer uma interpretação da paisagem (com a identificação, por exemplo, da estrutura do leito do rio em cada trecho – natural, canalizado, submerso e retificado) e criar conjuntos paisagísticos que agrupam os elementos inventariados e propiciam material valioso para o planejamento urbano. O projeto resultou em vídeos e prêmios e o blog Retratos do Belém.

Nessa perspectiva de integração entre os espaços naturais e culturais e sua relação inerente com o espaço construído, o arquiteto e urbanista Newton Massafumi Yamato (Medialab/SP) apresenta um projeto inovador para o Parque do Bixiga, de autoria da equipe formada pelos arquitetos Bruno Rissardo, Carila Matzenbacher, Luiz Felipe Orlando, Marcelo X, Marília Gallmeister e Newton Massafumi Yamato, inspirado em ideias anteriores de Lina Bo Bardi e Edson Elito. A região, próxima ao centro de São Paulo e onde se localiza o Teatro Oficina, possui diversos bens materiais tombados, sendo composta de um conjunto de córregos, hoje tamponados, considerados pelo Código de Obras vigente como parte da galeria pluvial da cidade. Existe neste local uma disputa antiga entre o Grupo Silvio Santos, atual proprietário do terreno, e o Teatro Oficina, porta-voz dos movimentos e das demandas por mais espaços culturais e de lazer neste trecho da cidade, que apresenta carência de áreas verdes.

Assim, o projeto proposto visa a uma ressignificação dessa paisagem que inclui a reabertura de um pequeno trecho do Rio Bixiga, promovendo um contato inédito dos paulistanos com os rios urbanos, transformando-o num espaço público e valorizando sua centralidade ambiental e sociocultural (3).

O processo desse estudo envolveu uma integração com os artistas locais e o Teatro Oficina no reconhecimento da importância do sistema hídrico local, e contou com a participação dos idealizadores do projeto Rios e Ruas, o arquiteto José Bueno e o geógrafo Luiz de Campos.

Apesar de ser uma demanda defendida e apoiada por diversas entidades, universidades, conselhos e outros grupos como o Movimento Salve Saracura e o movimento Rede Social Bela Vista e ter seu projeto de Lei Nº 805/2017, de autoria do vereador Gilberto Natalini, aprovado em 2019 por duas vezes na Câmara Municipal com o apoio de parlamentares de variados partidos, a criação do Parque do Bixiga foi vetada pela Prefeitura de São Paulo.

A administração municipal alegou que o projeto não reúne condições de ser convertido em lei por “invadir” a competência do poder Executivo, já que é composto por terrenos particulares. E que a área não é definida como prioritária pelo Plano Diretor Estratégico, não havendo, no local, vegetação significativa nem remanescente de Mata Atlântica.

Apesar de existirem mecanismos como a Transferência do Potencial Construtivo – TPC no âmbito do Plano Diretor Estratégico para que o empreendedor possa ser ressarcido e aplique o potencial em outro local da cidade e do Bixiga ser um bairro carente de áreas verdes e que apresenta, de acordo com pesquisa recente do IEA, um ponto crítico da ilha de calor urbano, a questão permanece em aberto e na pauta dos movimentos pela ampliação dos espaços públicos e da infraestrutura verde e azul na cidade de São Paulo

Conclusão
As experiências nacionais e internacionais aqui citadas apontam propostas de compatibilização dos aspectos físicos da infraestrutura verde e os rios urbanos, com o envolvimento da sociedade, em diferentes contextos e etapas de sua implementação.

Na cidade global de São Paulo, além do caso do Parque Bixiga, outras movimentos da sociedade civil, como o do Coletivo Ocupe Abrace, na Praça das Nascentes, as iniciativas Rios e Ruas, Existe Água em São Paulo, Secura Humana e a ocupação Guarani pelo Centro Cultural Yari Ty, no Jaraguá, são evidências de que temos um vasto potencial para a construção de uma nova cultura de valorização dos rios urbanos.

No entanto, há grandes desafios a vencer para o fortalecimento das ações bottom-up que incorporem as propostas da sociedade civil e o engajamento comunitário na articulação de suas aspirações nas ações de planejamento urbano. Destaca-se a transformação cultural e o engajamento de todos os setores, e a gestão pública, numa governança integrada para florescer um paradigma inovador de valorização da paisagem urbana com seus rios e áreas verdes, respeitando os fluxos e processos naturais.

Notas:
(1) Os serviços ecossistêmicos compõem um conjunto de benefícios fornecidos pelo ambiente natural, ou seus elementos, para os seres humanos. Estes serviços podem ser divididos em quatro categorias: provisão, regulação, culturais e de suporte. Eles incluem a provisão de matérias-primas essenciais para as atividades humanas; promoção de regulação de funções dos ecossistemas como: sequestro de carbono; regulação climática; produção de água; redução da poluição do ar, água e solo, entre outros; além de todos os benefícios culturais advindos do contato das pessoas com elementos naturais. Hoje, são considerados elementos essenciais nas Soluções Baseadas na Natureza que incluem ações “inspiradas por, apoiadas por, ou copiadas da natureza” para propor iniciativas inovadoras para abordar questões sociais, ambientais e econômicas.
(2) O termo infraestrutura verde enfatiza a ideia de sistemas interconectados de áreas naturais, levando em conta múltiplas escalas que variam entre grandes áreas protegidas a pequenos jardins, a partir de uma perspectiva multifuncional. Também tem como premissas a interdisciplinaridade, a integração entre diferentes níveis de governo e o planejamento, desenho e implementação com envolvimento comunitário e participação social, pensando em diferentes estratégias que garantam infraestrutura verde e os serviços ecossistêmicos dela derivados.
(3) A renaturalização dos rios segue a mesma lógica da restauração dos ecossistemas, com o objetivo de trazer as condições naturais encontradas originalmente, antes da urbanização. A renaturalização dos rios prevê uma alteração na hidrologia local e regional com, por exemplo, áreas para represamento temporário das águas inspiradas nas várzeas, regulando principalmente a ocorrência de enchentes. O destamponamento dos rios ainda favorece os processos de umidificação e refrigeração do ambiente urbano aprimorando a habitabilidade das cidades. Por estimular também a restauração do traçado original, e da vegetação associada, os projetos de renaturalização ainda promovem a biodiversidade nas cidades ao criar nichos mais especializados para diferentes espécies animais e vegetais.

* Deize Sbarai Sanches Ximenes, Ivan Carlos Maglio e Victor Kinjo, pesquisadores do programa Cidades Globais do IEA, e Giuliano Locosselli, pesquisador do IEA e do Instituto de Botânica da USP.
Este artigo também contou com a colaboração dos palestrantes no evento Rios Urbanos e Infraestrutura Verde promovido pelo Centro de Síntese Cidades Globais do IEA: Carolina Nunes (ONG Humanitat), Luciana Martins Schenk (professora do IAU/USP), Gabriel Gallarza (Observatório de Interações no Ambiente/OIA e Hügato) e Newton Massafumi Yamato (Medialab/SP).

 

Infraestrutura verde

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/11/2020

DE TANTO A BOIADA PASSAR, DEVASTAÇÃO NA AMAZÔNIA ATINGE A MAIOR TAXA EM 12 ANOS.


desmatamento
Foto de arquivo

De tanto a boiada passar, devastação na Amazônia atinge a maior taxa em 12 anos

Plano de Bolsonaro funciona e desmatamento tem nova alta

De tanto a boiada passar, devastação na Amazônia atinge a maior taxa em 12 anos, valor 70% maior que a média vista na década anterior ao atual governo.

Saíram nesta segunda-feira (30) os aguardados dados preliminares do Inpe sobre o desmatamento na Amazônia: a taxa oficial de 2020, dada pelo sistema Prodes, é de 11.088 km2, a maior desde 2008. A alta é de 9,5% em relação ao ano passado.

Levando-se em conta a média dos dez anos anteriores à posse de Jair Bolsonaro, o desmatamento cresceu 70%: de 2009 a 2018, a média apurada pelo Inpe foi de 6.500 km2 por ano.

A publicação da taxa oficializa que o Brasil descumpriu a meta da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), a lei nacional que preconizava uma redução da taxa a um máximo de 3.925 km2 em 2020. O país está 180% acima da meta, o que o põe numa posição de desvantagem para cumprir seu compromisso no Acordo de Paris (a NDC) a partir do início do ano que vem. Devido ao aumento do desmatamento, o Brasil deve ser o único grande emissor de gases de efeito estufa a ter aumento em suas emissões no ano em que a economia global parou por conta da pandemia.

Nada disso é uma surpresa para quem acompanha o desmonte das políticas ambientais no Brasil desde janeiro de 2019. Os números do Prodes simplesmente mostram que o plano de Jair Bolsonaro deu certo. Eles refletem o resultado de um projeto bem-sucedido de aniquilação da capacidade do Estado Brasileiro e dos órgãos de fiscalização de cuidar de nossas florestas e combater o crime na Amazônia. É o preço da “passagem da boiada”.

Grileiros, garimpeiros, madeireiros ilegais e assassinos de índios praticando crimes na ponta sabem interpretar os sinais que vêm do Palácio do Planalto e, de forma inédita, do Ministério do Meio Ambiente. O desmatamento, embora tenha causas complexas, é antes de tudo movido a expectativas. Quando o Presidente da República diz que vai “tirar o Estado do cangote” dos predadores da floresta, a bandidagem avança em cima do patrimônio dos brasileiros. Quando ele e seus auxiliares vão além do discurso e começam a tomar medidas nesse sentido, o crime festeja.

E haja medidas.

Paralisação da cobrança de multas pelo Ibama, congelamento do Fundo Amazônia sob desculpas falsas, aparelhamento do Conselho Nacional do Meio Ambiente, mordaça no Ibama e no ICMBio, perseguição e exonerações de agentes ambientais por fazer seu trabalho, atropelo de pareceres técnicos pelo presidente do Ibama para satisfazer bandidos e liberar madeira ilegal, envio de propostas ao Congresso para abrir terras indígenas ao esbulho e legalizar a grilagem, tentativa de legalizar o roubo de terras indígenas não homologadas, omissão criminosa em não gastar o dinheiro que existe para a fiscalização e as políticas ambientais, difamação a quem produz conhecimento técnico e científico e uma tentativa improvisada de militarizar a floresta. Tudo isso foi visto nos últimos 22 meses.

Esse conjunto de fatores determinou também o inédito fracasso em 2020 de uma cara e estabanada operação militar na Amazônia.

Recrutando mais de 3.400 militares, a Operação Verde Brasil 2 falhou em conter tanto o desmatamento quanto as queimadas, que até novembro eram 20% mais numerosas na Amazônia do que o já escandaloso índice de 2019 (Leia aqui análise do OC sobre o plano do Conselho da Amazônia para a região).

“Desde sempre, quando o desmatamento sobe, a gente fica se perguntando o que deu errado nas tentativas de controle do crime ambiental. Desta vez, a gente sabe que a alta aconteceu porque deu tudo certo para o governo”, diz Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

“Esse projeto de destruição tão bem executado custará caro ao Brasil. Estamos perdendo acordos comerciais, transformando nosso soft power literalmente em fumaça e aumentando nosso isolamento internacional num momento em que o mundo entra num realinhamento crítico em relação ao combate à crise do clima”, prossegue. “Este governo funciona como uma máquina de produzir notícias vergonhosas para o país, especialmente na área ambiental. Bolsonaro é o maior sabotador da imagem do Brasil.”

Fonte: Observatório do Clima

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 01/12/2020

DEGELO NO HEMISFÉRIO NORTE IMPACTA A ANTÁRTIDA.

 degelo

Interconexão do clima global: Degelo no hemisfério norte impacta a Antártida

Por Juan Siliezar*
Escritor da equipe de Harvard

Para ver o quão profundamente interconectado o planeta realmente está, basta olhar para os enormes mantos de gelo no hemisfério norte e no pólo sul.

A milhares de quilômetros de distância, eles dificilmente são vizinhos, mas de acordo com uma nova pesquisa de uma equipe de cientistas internacionais – liderada por Natalya Gomez, Ph.D. 14, incluindo o professor de Harvard Jerry X. Mitrovica – o que acontece em uma região tem um efeito surpreendentemente direto e descomunal na outra, em termos de expansão ou derretimento do gelo.

A análise, publicada na Nature , mostra pela primeira vez que as mudanças na camada de gelo da Antártica foram causadas pelo derretimento das camadas de gelo no hemisfério norte.

A influência foi impulsionada por mudanças no nível do mar causadas pelo derretimento do gelo no norte durante os últimos 40.000 anos. Entender como isso funciona pode ajudar os cientistas do clima a compreender as mudanças futuras à medida que o aquecimento global aumenta o derretimento das principais camadas de gelo e calotas polares, disseram os pesquisadores.

O estudo mostra como esse efeito gangorra funciona. Os cientistas descobriram que quando o gelo no hemisfério norte permaneceu congelado durante o último pico da Idade do Gelo, cerca de 20.000 a 26.000 anos atrás, isso levou à redução do nível do mar na Antártica e ao crescimento da camada de gelo lá. Quando o clima esquentou depois desse pico, as camadas de gelo no norte começaram a derreter, fazendo com que o nível do mar no hemisfério sul subisse. A ascensão do oceano fez com que o gelo na Antártica recuasse para o tamanho que tem hoje ao longo de milhares de anos, uma resposta relativamente rápida em tempo geológico.

“O estudo estabelece uma conexão subestimada entre a estabilidade da camada de gelo da Antártica e períodos significativos de derretimento no Hemisfério Norte”.
– Jerry X. Mitrovica

A questão do que causou o derretimento tão rápido do manto de gelo da Antártida durante esse período de aquecimento era um enigma antigo.

“Essa é a parte realmente empolgante disso”, disse Mitrovica, o Frank B. Baird Jr. Professor de Ciências no Departamento de Ciências da Terra e Planetárias. “O que motivou esses eventos dramáticos em que a Antártica liberou enormes quantidades de massa de gelo? Esta pesquisa mostra que os eventos não foram motivados por nada local. Eles foram impulsionados pelo aumento do nível do mar localmente, mas em resposta ao derretimento das camadas de gelo muito distantes. O estudo estabelece uma conexão subestimada entre a estabilidade da camada de gelo da Antártica e períodos significativos de derretimento no Hemisfério Norte ”.

O recuo foi consistente com o padrão de mudança do nível do mar previsto por Gomez, agora professor assistente de ciências da Terra e planetárias na Universidade McGill, e colegas em trabalhos anteriores no continente Antártico. A próxima etapa é expandir o estudo para ver onde mais o recuo do gelo em um local leva ao recuo em outro. Isso pode fornecer informações sobre a estabilidade da camada de gelo em outras épocas da história e talvez no futuro.

“Olhar para o passado pode realmente nos ajudar a entender como funcionam os mantos de gelo e os níveis do mar”, disse Gomez. “Isso nos dá uma melhor avaliação de como todo o sistema terrestre funciona.”

Junto com Gomez e Mitrovica, a equipe de cientistas do projeto incluía pesquisadores da Oregon State University e da University of Bonn, na Alemanha. As rochas em que se concentraram, chamadas de destroços transportados por gelo, já foram incrustadas na camada de gelo da Antártica. Os icebergs caídos os carregaram para o Oceano Antártico. Os pesquisadores determinaram quando e onde eles foram liberados da camada de gelo. Eles combinaram a modelagem da camada de gelo e do nível do mar com amostras de sedimentos do fundo do oceano perto da Antártica para verificar suas descobertas. E os pesquisadores também observaram marcadores de linhas costeiras anteriores para ver como a borda da camada de gelo recuou.

Gomez tem pesquisado mantos de gelo desde que ela era uma estudante de graduação da Escola de Artes e Ciências no Grupo Mitrovica . Ela liderou um estudo em 2010 que mostrou que os efeitos gravitacionais dos mantos de gelo são tão fortes que, quando os mantos de gelo derretem, o aumento do nível do mar esperado por toda a água do degelo que entra nos oceanos seria contrabalançado nas áreas próximas. Gomez mostrou que se todo o gelo do manto de gelo oeste da Antártica derretesse, poderia realmente diminuir o nível do mar próximo ao gelo em até 300 pés, mas o nível do mar subiria significativamente mais do que o esperado no hemisfério norte.

Este artigo promoveu esse estudo perguntando como o derretimento das camadas de gelo em uma parte do sistema climático afetou outra. Nesse caso, os pesquisadores analisaram as camadas de gelo do hemisfério norte que antes cobriam a América do Norte e o norte da Europa.

Ao reunir dados de modelagem sobre o aumento do nível do mar e derretimento da camada de gelo com os destroços que sobraram dos icebergs que romperam a Antártica durante a Idade do Gelo, os pesquisadores simularam como os níveis do mar e a dinâmica do gelo mudaram em ambos os hemisférios nos últimos 40.000 anos.

Os pesquisadores foram capazes de explicar vários períodos de instabilidade durante os últimos 20.000 anos, quando a camada de gelo da Antártica passou por fases de derretimento rápido conhecidas como “pulsos de derretimento”. Na verdade, de acordo com seu modelo, se não fosse por esses períodos de recuo rápido, a camada de gelo da Antártica, que cobre quase 14 milhões de quilômetros quadrados e pesa cerca de 26 milhões de gigatoneladas, seria ainda mais gigantesca do que é agora.

Com os registros geológicos, que foram coletados principalmente por Michael Webster da Universidade de Bonn, os pesquisadores confirmaram a linha do tempo prevista por seu modelo e viram que essa mudança no nível do mar na Antártica e o derramamento de massa corresponderam a episódios de derretimento das camadas de gelo em o hemisfério norte.

Os dados pegaram Gomez de surpresa. Mais do que tudo, porém, aprofundou sua curiosidade sobre esses sistemas congelados.

“Essas camadas de gelo são partes realmente dinâmicas, emocionantes e intrigantes do sistema climático da Terra. É impressionante pensar em gelo com vários quilômetros de espessura, que cobre um continente inteiro e que está evoluindo em todas essas escalas de tempo diferentes, com consequências globais ”, disse Gomez. “É apenas uma motivação para tentar entender melhor esses sistemas realmente enormes que estão tão distantes de nós.”

Este trabalho foi parcialmente financiado pelo Conselho de Pesquisa em Ciências Naturais e Engenharia, o Canada Research Chair, a Canadian Foundation for Innovation, o Deutsche Forschungsgemeinschaft e a NASA.

Referência:

Gomez, N., Weber, M.E., Clark, P.U. et al. Antarctic ice dynamics amplified by Northern Hemisphere sea-level forcing. Nature 587, 600–604 (2020). https://doi.org/10.1038/s41586-020-2916-2

 

* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 30/11/2020

POTENCIAL DE GERAÇÃO DE BIOGÁS É DESPERDIÇADO NA AMAZÔNIA.

Potencial de geração de biogás é desperdiçado na Amazônia

Energia: 80% do potencial de geração de biogás é desperdiçado na Amazônia; 107 mil residências poderiam ser abastecidas em 4 estados

Dezembro é, tradicionalmente, um mês de aumento na conta de energia elétrica causada, em geral, pelo acionamento das térmicas para suprir o baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas. Buscando alternativas que completem a demanda de energia, evitem a temida bandeira vermelha e ainda incentivem atividades sustentáveis na Amazônia, o Instituto Escolhas, em parceria com o CIBiogás, divulga seu novo estudo “Biogás na Amazônia: energia para mover a bioeconomia”.

Lançado nesta terça-feira, 15 de dezembro, o estudo destaca o potencial de quatro estados amazônicos para a geração de biogás, um tipo de gás inflamável, produzido a partir de materiais orgânicos e que, além de gerar energia, contribui para a destinação correta de resíduos e pode servir de impulso para a economia local. A análise traz dados completos em relação ao material divulgado no início de novembro, que mostra como o biogás poderia ter amenizado o apagão elétrico ocorrido durante grande parte do mês no Amapá (veja o documento aqui).

A escolha da Amazônia para o estudo, segundo o diretor executivo do Escolhas, Sergio Leitão, busca dar subsídios para o desenvolvimento da bioeconomia na região, incentivando atividades econômicas com conservação do meio ambiente: “é muito interessante ver que a partir de elementos da natureza podemos mover, promover e fazer acontecer a bioeconomia para a região amazônica, fundamental para gerar renda e manter a floresta em pé”, diz Leitão acrescentando que em abril o Escolhas fará o lançamento de novo estudo, desta vez com o potencial de geração de biogás para todos os estados da Amazônia Legal.

Leonardo Souza Marques, diretor de desenvolvimento tecnológico do CIBiogás, também apontou a relevância da parceria, destacando que o modelo aborda as características de cada região: “É muito importante entender o território e a partir desse entendimento definir estratégias para ampliar a sustentabilidade das ações, ampliando a competitividade e que aproveitam a disponibilidade de resíduos e substratos”, disse Leonardo.

Conheça os resultados

A análise do Escolhas buscou analisar o potencial de geração de biogás a partir de resíduos sólidos urbanos (RSU) e restos da piscicultura em quatro estados da Amazônia: Amazonas, Amapá, Rondônia e Roraima e chegou a um potencial de 136 milhões de m3 de biogás por ano, o suficiente para gerar 283 GWh de eletricidade por ano, atendendo 107 mil residências e beneficiando 429 mil pessoas.

Entretanto, do potencial identificado nos resíduos sólidos urbanos nos 4 estados, menos de 20% é aproveitado, já que a maioria dos municípios ainda não tem uma política adequada de destinação de resíduos sólidos e a presença de lixões ou aterros sem recuperação de gases faz parte da maior realidade no país, conforme explicou Daiana Martinez, pesquisadora do estudo e Coordenadora de Transferência de Conhecimento do CIBiogás.

Isso mostra que há uma oportunidade imperdível para que sejam direcionados investimentos a essas unidades, que passariam a tratar os resíduos e a gerar energia”, diz Daiana.

A gerente de projetos e produtos do Escolhas Larissa Rodrigues, que coordena o estudo, destacou ainda a importância que o biogás pode ter para os municípios, especialmente os pequenos, servindo de atrativo para que eles se adequem ao marco legal de resíduos sólidos.

Com o biogás, o custo de conversão de lixões em aterros pode se tornar investimento, economizando na eletricidade de prédios públicos ou ainda permitindo a participação em leilões”, diz Larissa.

Veja os destaques por estado:

– Amapá: potencial para gerar o equivalente a 31 GWh/ano de eletricidade, o que significaria 12 mil residências atendidas e 50 mil pessoas beneficiadas

– Amazonas: potencial para gerar o equivalente a 160 GWh/ano de eletricidade, o que significaria 60 mil residências atendidas e 242 mil pessoas beneficiadas

– Rondônia: potencial para gerar o equivalente a 69 GWh/ano de eletricidade, o que significaria 26 mil residências atendidas e 104 mil pessoas beneficiadas

– Roraima: potencial para gerar o equivalente a 24 GWh/ano de eletricidade, o que significaria 9 mil residências atendidas e 36 mil pessoas beneficiadas

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 21/12/2020