segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

EDUCAÇÃO NO BRASIL: HABILIDADES BÁSICAS E A FALTA NO SEU DOMÍNIO.

A universidade é para todos? artigo de José Aparecido da Silva

Publicado em dezembro 15, 2014 

Levantamentos frequentemente divulgados revelam que mais de um terço dos nossos estudantes de ensino superior não dominam as habilidades básicas de leitura e escrita, isto é, não conseguem entender o que leem e tampouco conseguem fazer relações com as informações que recebem. Vejam, estou falando de estudantes universitários, integrantes de ambientes nos quais tais etapas do aprendizado já deveriam estar, há muito, consolidadas.
Esse dado nos leva a fazer dois questionamentos: “Quais as razões para isso estar acontecendo?” e “Seria a universidade para todos?”. Em relação à primeira questão, nada quero aqui comentar, uma vez que a mídia impressa o vem fazendo constantemente, sempre enfatizando a baixa qualidade do ensino universitário, especialmente do oferecido por instituições ávidas para explorar um público de baixa escolaridade que, não conseguindo adentrar nas universidades prestigiosas do País, por aquelas procuram.
Por outro lado, discutir que a universidade não é para todos implica abordar, no mínimo, cinco tópicos, a saber: (1°) o quão brilhante um indivíduo precisa ser para lidar com o conteúdo programático ministrado na universidade; (2°) qual é a competência da universidade em fornecer um conhecimento básico e comum a todo cidadão?; (3°) as universidades estão se tornando obsoletas no cenário educacional contemporâneo?; (4°) qual é a superioridade real do ensino superior? e (5°) até que ponto um grau universitário identifica cidadãos de “primeira” classe no mercado de trabalho?
No primeiro tópico, a questão central é discutir quantos indivíduos podem, de fato, via habilidade ou competência cognitiva, lidar, efetivamente, com o conteúdo programático das disciplinas de artes e ciências, oferecidas em boas instituições. Em décadas não muito distantes, o conteúdo programático, ministrado em muitas instituições, requeria alta capacidade intelectual dos universitários, compatível, esta, ao alto padrão no qual tais universidades estavam inseridas. Entretanto, hoje, essas instituições são raras, o que permite que as disciplinas oferecidas por muitas delas se emparelhem à baixa competência cognitiva do egresso, possibilitando, a todos, obter o nível superior, independente da habilidade cognitiva que, até pouco tempo, era requerida pelas mesmas.
Em relação ao segundo tópico, grande número de instituições perde parte considerável do tempo, que deveria ser dedicado ao ensino dos conteúdos ditos “superiores” ensinando aos egressos o que estes já deveriam ter aprendido no ensino médio, o que recai, novamente, em: “todos os egressos têm a habilidade acadêmica básica necessária para absorver os conteúdos propostos nesse núcleo-duro?”. A resposta é não, pois muitos destes têm sérias limitações cognitivas para apreender história, literatura, filosofia, artes e ciências.
Por sua vez, sobre o terceiro tópico, a obsolescência das universidades necessita a discussão da premissa de que a maioria dos egressos busca a instituição superior para adquirir conhecimento prático e vocacional. Mas, para inúmeras outras ocupações, tal conhecimento pode ser aprendido mais rapidamente, melhor atendendo às necessidades reais da empregabilidade atual.
Em relação ao quarto tópico, há uma concepção generalizada de que obter uma graduação superior os ajudará a obter empregos melhor remunerados. Não obstante, no mercado atual de trabalho, a remuneração média, em muitas áreas graduadas, é menor que a de muitos que, embora sem graduação, são extremamente competentes em seus domínios. Isso porque a distribuição de renda, em qualquer profissão, varia, substancialmente, de acordo com a competência cognitiva daqueles que a exercem.
No quinto tópico, que questiona até que ponto um grau universitário divide cidadãos no mercado de trabalho, ou seja, estratifica a população em vários segmentos sociais, sabe-se que empregadores, cientes da formação diferenciada que instituições públicas e privadas geralmente conferem aos seus formandos, optam pelos grupos de formandos que saem das públicas, em detrimento das privadas. Entretanto, isso pode ser enganoso: muitos egressos competentes são formados em instituições privadas e a distância. Talvez a funcionalidade do grau superior como um “sinal” de competência para o empregador deva ser substituída pelo desempenho “real” do egresso, que poderia ser aferido por exames, tipo os requeridos pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e Toefel, que realmente avaliam o que, exatamente, uma pessoa conhece, e não a instituição que lhe conferiu o grau superior. Portanto, tais exames devem medir, genuinamente, o “que” os egressos realmente conhecem, e são hábeis a “fazer”, e não “onde” eles aprenderam ou “quanto” tempo eles demoraram para aprender. Nós necessitamos aferir o “conhecimento” e não “graus” e “instituições”.
A mim, o fundamental é não negligenciar o papel da inteligência no cenário educacional, pois foi negligenciando-a que chegamos a um quadro desolador como este.
José Aparecido da Silva é professor do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP
Artigo socializado pelo Jornal da USP e reproduzido pelo Portal EcoDebate, 15/12/2014

domingo, 21 de dezembro de 2014

SUPERBACTÉRIA É ENCONTRADA NO RIO CARIOCA, NO RIO DE JANEIRO.

Superbactéria é encontrada no rio Carioca, que deságua na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro

Publicado em dezembro 16, 2014 
Cientistas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) encontraram bactérias resistentes a antibióticos nas águas do Rio Carioca, que atravessa diversos bairros da capital fluminense. Mais comumente detectadas no ambiente hospitalar, as bactérias produtoras da enzima KPC foram identificadas em amostras de água coletadas em três pontos na Zona Sul da cidade: no Largo do Boticário, no Cosme Velho; no Aterro do Flamengo, antes da estação de tratamento do rio; e na foz do Rio Carioca, no ponto onde ele deságua na Praia do Flamengo. Segundo a pesquisadora do Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do IOC Ana Paula D’Alincourt Carvalho Assef, coordenadora do trabalho, é preciso ter atenção para a possibilidade de disseminação deste tipo de resistência aos antibióticos, o que pode dificultar o controle de algumas infecções. “Até o momento, não houve registro de contaminação entre frequentadores dos ambientes estudados. Ainda assim, os resultados da pesquisa foram enviados para as autoridades competentes, que podem avaliar as medidas a serem adotadas”, declara a microbiologista, lembrando que a Praia do Flamengo é frequentada por banhistas e fica perto da Marina da Glória, que será palco de competições de vela nas Olimpíadas de 2016.
Análises realizadas no Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do IOC revelaram a presença das superbactérias no Rio Carioca (Foto: Gutemberg Brito)
 

As bactérias encontradas produzem uma enzima chamada KPC, característica que as torna resistentes aos principais antibióticos utilizados no combate a estas infecções. De acordo com Ana Paula, as doenças causadas por estes micro-organismos são iguais àquelas provocadas por bactérias comuns, mas os tratamentos exigem antibióticos mais potentes. Uma vez que as superbactérias são resistentes aos medicamentos mais modernos, os médicos precisam recorrer a drogas que estavam em desuso por serem tóxicas para o organismo – como a polimixina. “Mergulhar num rio onde há bactérias produtoras de KPC é como mergulhar em qualquer rio poluído. Existe o risco de contrair doenças, que não são mais graves do que as causadas por outros micro-organismos. O problema é que, no caso de uma eventual infecção, é possível que o tratamento exija uma abordagem de internação hospitalar”, afirma a pesquisadora.
Além do risco para a população, os cientistas consideram que a principal ameaça é a disseminação da resistência, que ocorre na medida em que as bactérias são capazes de transmitir genes umas para as outras. “Os genes que estão associados à resistência aos antibióticos podem estar localizados em elementos móveis dentro das bactérias, que podem ser multiplicados e transferidos para outros micro-organismos. Fazendo uma analogia, é como se as bactérias trocassem figurinhas de mecanismos de resistência. Assim, a água pode se tornar uma biblioteca destes genes”, explica Carlos Felipe Machado de Araujo, aluno do programa de mestrado em Biologia Celular e Molecular do IOC é também autor da pesquisa.
Arte: Jefferson Mendes

As bactérias produtoras de KPC identificadas no Rio Carioca são classificadas como enterobactérias, uma família que reúne micro-organismos encontrados frequentemente colonizando o corpo humano – ou seja, vivendo normalmente no intestino e transitoriamente sobre a pele e mucosas. Porém, em alguns indivíduos, estes micro-organismos também podem ser agentes de doenças comuns, como infecções urinárias, gastrointestinais e pneumonias. Segundo Ana Paula, esta interação das bactérias com o homem e o ambiente aumenta o risco de propagação da resistência. “Ao entrar na água onde há bactérias produtoras de KPC, o banhista pode ser colonizado por estes micro-organismos. Mesmo que não fique doente naquele momento, eventualmente, ele pode carrear estas bactérias resistentes para o ambiente e para outras pessoas, estabelecendo um ciclo de disseminação”, explica a microbiologista.
Sobre as bactérias hospitalares
Assim como outras superbactérias, as produtoras de KPC foram inicialmente identificadas dentro dos hospitais. Nestes ambientes, o uso intensivo de antibióticos costuma exterminar as bactérias sensíveis às drogas e selecionar os micro-organismos que possuem alguma característica que os torna resistentes. O primeiro registro da enzima KPC foi feito nos Estados Unidos, em 2001, e esta forma de resistência se espalhou para unidades de saúde em todo o mundo. Até hoje, não há registro de infecções causadas por estas bactérias fora dos hospitais. No entanto, os cientistas temem rever um filme assistido mais de 20 anos atrás.
“Nos anos 1980, surgiram nos hospitais bactérias produtoras de enzimas chamadas ESBLs, que as tornavam resistentes a diversos antibióticos. Após se disseminar em unidades de saúde, micro-organismos carreando este mecanismo de resistência chegaram à população em geral, causando infecções comunitárias, e hoje são encontrados até mesmo em animais silvestres. Para combater as bactérias produtoras de ESBL, tivemos que usar antibióticos da classe dos carbapenemas. Então, surgiram as bactérias produtoras de KPC, que são resistentes a estas drogas. O receio é que essa forma de resistência também saia dos hospitais para a comunidade”, alerta Ana Paula.
Dos hospitais para o ambiente
A possibilidade de disseminação das bactérias produtoras de KPC para o ambiente já preocupa os cientistas há alguns anos. Em 2010, o Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do IOC publicou um artigo científico apontando a presença destas superbactérias no esgoto hospitalar carioca mesmo após o tratamento. Já no final do ano passado, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) comunicou, no Congresso Brasileiro de Microbiologia, que havia identificado a presença destes micro-organismos nas praias do Flamengo e de Botafogo. Agora, o novo estudo do IOC indica um dos prováveis caminhos percorridos pelas superbactérias, que são carreadas pelo Rio Carioca até o deságue na praia. “O Rio Carioca corta diversos bairros e reconhecidamente recebe lançamento de esgoto. Nós não encontramos estes micro-organismos no alto da Floresta da Tijuca, perto da nascente do rio. O primeiro ponto em que detectamos a sua presença foi no Largo do Boticário, após o rio atravessar áreas com moradias e hospitais”, afirma Ana Paula.
Os pesquisadores ressaltam ainda que a chegada das superbactérias até a foz do rio pode ter duas explicações. “É possível que as bactérias tenham sido encontradas na chegada do rio à Praia do Flamengo porque conseguiram sobreviver ao tratamento realizado ou porque não houve tratamento da água naquele determinado momento”, explica Carlos.
Fonte: Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz)
Publicado no Portal EcoDebate, 16/12/2014

CONFERÊNCIA EM LIMA - POUCOS AVANÇOS OU QUASE NENHUM.

Todos estão a bordo, certo, mas será um milagre se este barco chegar bem a Paris

Com dois dias de atraso, a Conferência de Lima pariu um rato. Espera-se agora o quase impossível: que o roedor aprenda a rugir em um ano e o faça com tanta força em Paris que consiga afugentar o espectro de uma mudança perigosa do clima.
A reportagem é de Marcelo Leite, publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 15-12-2014.
Especialistas predizem que, para evitar um cenário de eventos extremos "secas, enchentes, furacões", o aquecimento global não pode ultrapassar 2°C neste século. Os compromissos nacionais de cortes nas emissões de CO2 (principal gás do efeito estufa) apresentados até aqui não representam mais que a metade do que seria necessário.
Como ocorre desde que se adotou a Convenção da ONU sobre Mudança do Clima no Rio, em 1992, Lima tropeçou na vala que separa países ricos e pobres. O maior avanço da conferência na capital peruana, contudo, se deu precisamente aí: agora, todas as nações ficam obrigadas a se comprometer com ações para conter o aquecimento.
É verdade que sobreviveu o princípio das "responsabilidades comuns, mas diferenciadas", de que sempre se valeram os menos desenvolvidos para escapar de assumir metas. Todos têm de comparecer, daqui em diante, ainda que "à luz das diferentes circunstâncias nacionais".
Traduzindo: China (maior emissor de CO2), Índia (terceiro, depois dos EUA) e Brasil (sexto) também estão obrigados a publicar planos para reduzir carbono. Uma vitória das nações desenvolvidas.
A União Europeia tem as metas mais ambiciosas: cortar 30% das emissões até 2020 e 40% até 2030, ante 1990. Os EUA prometem redução de 26% a 28% até 2025, mas na comparação com 2005.
O Brasil mantém que até 2020 reduzirá 36% a 39% do nível de suas emissões em 1990, graças à queda no desmatamento (nossa maior fonte de carbono). A China só fala em reduzir o ritmo de aumento da poluição, para zerá-lo em 2030. A Índia até aqui se fez de muda.
Há expectativa de que esses e outros países melhorem suas propostas nos próximos seis meses, de modo que se possa calcular, antes do encontro de Paris, a distância até a meta de 2°C. O problema é que, em Lima, não se chegou a um consenso sobre metodologia e anos-base --1990 ou 2005?
Assim fica difícil fazer a conta. Para piorar, se obteve um grau insuficiente de transparência nas comunicações que cada país ficou de fazer.
Por considerar qualquer tipo de monitoramento externo uma ameaça a sua soberania, a China vetou a obrigatoriedade de mecanismos para tornar as informações nacionais claras e verificáveis. Eles aparecem no acordo apenas como facultativos.
Não houve progresso, por fim, na eterna questão do dinheiro. Países pobres, que contribuíram menos historicamente para o aquecimento, mas sofrerão os piores impactos, exigem fundos dos ricos para prevenir catástrofes e adotar tecnologias limpas.
Com meros US$ 10 bilhões anuais comprometidos, nunca se esteve tão longe do objetivo anterior de levantar US$ 100 bilhões ao ano. O máximo que as nações menos desenvolvidas conseguiram foi cravar no texto as noções de fundos para adaptação e para "perdas e danos".
Essa noção foi comemorada como vitória por países insulares como Tuvalu e Kiribati. Com territórios ameaçados de submergir com a elevação dos oceanos, precisam desesperadamente salvar o que for possível e, se inescapável, relocar sua população.
Na iminência de um naufrágio, Lima contentou-se com pouco, como sempre acontece nas reuniões do clima. Todos agora estão a bordo, mas com uma rota ainda por traçar e sem bons instrumentos para verificar o trajeto. Será um milagre se chegarem a bom porto em Paris. 
Fonte : Instituto Humanitas Unisinos

PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS.

Clima provoca nova geografia dos alimentos

A grande frequência e a magnitude da variabilidade climática com o aumento da temperatura global e sua consequente alteração do regime de chuvas estão modificando a geografia dos cultivos e da produção de alimentos nos trópicos, conforme foi alertado durante a cúpula climática na capital peruana.
A reportagem é de Fabíola Ortiz, publicada por Terramérica e reproduzida pelo portal Envolverde, 15-12-2014.
Essa foi a grande preocupação em que coincidiram especialistas em segurança alimentar presentes na 20ª Conferência das Partes (COP 20) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (CMNUCC), realizada em Lima entre 1º e 12 deste mês. Eles temem notáveis altas dos preços dos alimentos se os países tropicais não adotarem rapidamente técnicas para se adaptarem.
Instituto Internacional de Pesquisas sobre Políticas Alimentares (IFPRI) estima que a mudança climática vai gerar altas de preços dos alimentos de até 30%.
O campo é o primeiro setor diretamente afetado pela alteração do clima, alertou Andy Jarvis, pesquisador do Centro Internacional de Agricultura Tropical (Ciat) e especialista em agricultura de baixo carbono do Programa de Pesquisa de Mudanças Climáticas, Agricultura e Segurança Alimentar.
Clima e agricultura seguem de mãos dadas e é o clima que define se um cultivo vai bem ou não. A geografia de onde estão os cultivos se moverá e os impactos poderão ser extremamente negativos se nada for feito”, alertou Jarvis ao Terramérica durante o Global Landscapes Fortum, o maior evento paralelo à COP 20 realizado em Lima.
Cultivos como os de café, cacau e feijão nos trópicos são especialmente vulneráveis a temperaturas drásticas e a escassez de chuvas e podem sofrer enormes perdas devido a um calendário climático em vias de transformação.
Um exemplo: no Vale Sagrado dos Incas no Peru, uma região que abriga a maior diversidade de batatas, as altas temperaturas e a incidência de pragas estão forçando os indígenas a cultivá-las em altitudes muito elevadas. Os produtores de batata poderiam enfrentar uma redução de chuvas de 15% a 30% até 2030, segundo o site Climate Wire.
Outro exemplo: em países centro-americanos – como Costa RicaGuatemala e Honduras – há uma emergência por causa da ferrugem do café, que dizima seus cultivos. A praga já causou US$ 1 bilhão em perdas na América Central nos dois últimos anos e agora ameaça infectar 53% das plantações de café na área, segundo a Organização Internacional do Café.
América Latina produz 13% do cacau mundial e será feito um esforço internacional para conservar a diversidade do cacau nas Américas. Os produtores buscam características para proteger a produção de doenças devastadoras, como a “vassoura de bruxa”, que pode se agravar pelas condições climáticas extremas. O cacau também pode servir de estratégia para os produtores de café, como forma de alternar o cultivo quando as temperaturas não forem favoráveis para produzir café, segundo o Consórcio de Centros Internacionais de Pesquisa Agrícola.
Na COP se manejou manter o aquecimento global dentro de um teto de dois graus como a meta mais otimista”, recordou Jarvis ao Terramérica. Mas “isso praticamente implica um deslocamento total da zona cafeeira. Dois graus será muito quente. As dinâmicas dos preços indicam que aumentará muito. Na medida em que cai a produção e a oferta diminui, o preço sobe. Será um grande impacto sobre a pobreza”, alertou o especialista.
Somente na Nicarágua, onde o setor cafeeiro tem peso econômico importante, o aumento de dois graus levara à perda de 80% da atual área dos cultivos de café, detalhou Jarvis. Até 2050, as áreas de café nicaraguenses se moverão cerca de 300 metros para áreas mais altas, além de pressionarem sobre os recursos naturais e as florestas e colocarem em perigo os atores da cadeia de fornecimento de café, segundo estudo do Ciat.
Na medida em que o clima esquenta, os cultivos que até agora têm seu teto de altitude de 1.600 metros deverão ir para cotas mais altas, o que afetaria a subsistência de meio milhão de pequenos produtores e trabalhadores agrícolas, segundo a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional.
O subdiretor-geral para a área florestal da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura(FAO)Eduardo Rojas, assegurou na COP 20 que a mudança climática já coloca em risco a segurança alimentar, os recursos e os meios de vida das pessoas mais vulneráveis.
Uma agricultura resiliente é mais ambiental porque não utiliza fertilizantes nitrogenados. Mas, por mais que façamos, há limites sistêmicos. Podemos chegar ao limite do que pode ser a adaptação da agricultura”, opinou Rojas aoTerramérica. Ele também insistiu no enfoque integral de paisagens no contexto da mudança climática para enfrentar o desafio de garantir uma nutrição adequada para os 805 milhões de pessoas que sofrem desnutrição crônica. Porém, a produção agrícola terá que aumentar em 60% para atender a demanda.
O diretor-executivo do norte-americano Earth Innovation InstituteDaniel Nepstad, lembrou que a maior quantidade de terra disponível para a produção de alimentos está nos trópicos. “O crescimento de demanda por comida, em especial, nas economias emergentes será mais rápido do que o aumento da produção. Os países no mundo que têm mais potencial estão na América Latina”, ressaltou. Para ele, as inovações para mitigar o impacto do clima na alimentação estão ocorrendo fora da CMNUCC.
Para o diretor-geral do Centro para Pesquisa Florestal InternacionalPeter Holmgren, o agroflorestamento é um enfoque para conciliar a agricultura, a conservação de florestas e produzir alimentos sem gerar essas emissões. “O grande motivo para o desmatamento na região é a expansão da fronteira agrícola. Hoje em dia já há muitas pesquisas que buscam variedades de cultivos e sementes mais resilientes. Há também possibilidade para desenvolver uma agricultura mais inteligente”, pontuou ao Terramérica. Mas ele lamenta que o tema dos impactos da variabilidade climática na agricultura tenha se mantido fora das negociações das COP 20.
Além de técnicas agroflorestais, os serviços de informação agroclimáticos com previsões de quatro a seis meses são formas para contribuir com a adaptação para um novo calendário climático. Jarvis argumentou que a diversificação de cultivos e o aumento de apoio com políticas de fomento ao campo são necessários. Atualmente, não mais do que 20% dos produtores da região têm acesso a terras extensas.

PRAIAS: DEFESA NATURAL EM DESTRUIÇÃO.

Praias do Rio e de outras partes do mundo correm risco de serem 'varridas' do mapa

As praias do Rio e de diversas outras cidades do planeta correm o risco de serem “varridas do mapa”. O alerta vem de dois importantes nomes da geologia marinha mundial que assinam o livro recém-lançado "The last beach" ("A última praia"), ainda sem previsão para chegar ao Brasil.
A reportagem foi publicada pelo jornal O Globo, 15-12-2014.
Os especialistas Andrew Cooper, professor de Estudos Costeiros da Universidade de Ulster, no Reino Unido, e Orrin Pilkey, professor de ciências da terra e dos oceanos na Universidade de Duke, nos EUA, defendem a teoria de que as intervenções humanas a beira-mar, junto com a elevação dos níveis de oceanos e as tempestades cada vez mais fortes por conta das mudanças climáticas, estão provocando vasta erosão de areia em direção ao fundo dos oceanos, num efeito de “varredura” do solo costeiro.
Na semana passada, tempestades nos oceanos Atlântico e do Pacífico geraram ondas de mais de 15 metros de altura que destruíram defesas marítimas de concreto em praias na EuropaAmérica do Norte e nas Filipinas.
"A sentença de morte já soou para grandes extensões de praias ao longo de costas densamente povoadas, como a da Florida, da Costa del Sol, na Espanha, a Golden Coast da Austrália e o litoral do Rio de Janeiro" disse Orrin Pilkey ao jornal britânico "The Guardian".
Em “The Last Beach”, os geólogos também afirmam que, ironicamente, as paredes de concreto erguidas pelo homem para proteção contra as tempestades e elevação das águas servem apenas para acelerar o processo de erosão da linha costeira.
Pilkey e Cooper também argumentam que o ideal seria preservar ao máximo as praias como ambiente natural, longe da intervenção humana. Segundo eles, dunas e longas faixas de areia das praias funcionam muito melhor na contenção de tempestades do que paredes de concreto.
"A praia é uma defesa natural maravilhosa contra as forças do oceano. Elas absorvem a energia das ondas do mar, reduzindo-as a um movimento oscilante suave ao longo no litoral. Tempestades não destroem praias; apenas mudam sua forma e localização, movendo-se em torno da areia para maximizar a absorção de energia das ondas e, em seguida, recuperar a linha costeira nos dias, meses e anos que se seguirem", garante Pilkey.
Como o aumento do nível do mar contribui para os danos causados pelas tempestades, cada vez mais freqüentes devido às mudanças climáticas, o recuo das habitações ao longo do litoral se tornaria um “imperativo, mas quase impossível”.
"Vamos ter de recuar [a partir da costa]. Não há escolha. Em termos puramente econômicos, será impossível defender tudo. A defesa de cidades como Londres ou Rotterdam na Europa indicam que não haverá dinheiro para todas as outras habitações menores", Cooper.
Fonte : Instituto Humanitas Unisinos

CONGRESSO NACIONAL: "BEM VINDOS, ESSA CASA TAMBÉM É SUA" SERÁ?

Que país é esse?

Soldados com escudos e artefatos contra motim fechavam a porta de entrada da Câmara dos Deputados. No Senado também já haviam sido barrados. Um forte esquema policial se espalhou pelos espaços dos três poderes. Parecia que estaria prestes a acontecer uma perigosa invasão de vândalos.
Na pauta das duas casas do Congresso estavam temas vitais para os povos indígenas. Uns 150 indígenas estavam em Brasília para participar desses espaços conforme lhes garante a Constituição e a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho.
O comentário é de Egon Heck, do secretariado nacional do Conselho Indigenista Missionário - CIMI, 17-12-2014.
Ao serem barrados, ficaram indignados e revoltados, com essa atitude ditatorial e absurda do Estado Brasileiro. “Isso é um crime...o que vocês soldados estão fazendo ao impedir esses brasileiros nativos entrar no congresso é um crime”, dizia um dos presentes ao ato. Ao tentarem forçar a entrada, foram recebidos com spray de pimenta e rechaçados. A grande mídia qualificou o ato como tentativa de invasão. Porém não registrou que os invasores estavam lá dentro tentando rasgar a Constituição e tirar direitos indígenas.
Que país é esse? Que recebe seus habitantes originários com bombas e baionetas? Exclamou a deputada Erika Kokai. Nessa mesma linha se manifestaram parlamentares e indígenas. Quando os parlamentares, inclusive o presidente da Comissão, deputado Afonso, vieram comunicar aos indígenas sua firme posição de inviabilizar a votação da Comissão Especial da PEC 215, afirmaram “essa PEC está enterrada”. Porém se manifestaram no sentido de que a mobilização indígena foi fundamental para se chegar a essa decisão.
Presos e agredidos
No decorrer do dia seis indígenas foram presos numa clara atitude de prepotência e intimidação do movimento de resistência e afirmação da dignidade de homens, mulheres, guerreiros e guerreiras indígenas. “Queremos ser respeitados”. Essa foi o grito mais ouvido em dezenas de falas dos povos indígenas.
Ao serem barrados de entrar no Congresso os indígenas apontaram para um cartaz que se encontrava na entrada “Bem Vindos, essa casa também é sua”. Que ironia. Os indígenas exigiam seu mais elementar direito de cidadãos e habitantes primeiros dessa terra “Amanhã viremos em mais. Não vamos aceitar ser barrados em nossos direitos. Nos querem massacrar aqui fora e lá dentro. Isso nós não vamos aceitar” dizia uma das lideranças de mais de duas dezenas de povos ali presentes.
Quando a noite já ia encobrindo o cenário da batalha, os indígenas, sentindo mais uma injustiça e brutal negação de seus direitos, estavam inconformados com a prisão dos seis integrantes de sua delegação. Queriam dizer ao Brasil e ao mundo, de que não desistirão de seus direitos “que prendam a todos nós. Mostrem o que de fato estão fazendo ao rasgar a constituição e roubar nossos direitos”.
Porém nada os demove a continuar a batalha por seus direitos. Hoje novamente estão em Brasília, apesar de toda a violência, ameaças e prisões.
Ultima esperança: nós mesmos
Diante de um quadro tão brutal e criminosamente adverso os indígenas presentes nas manifestações em Brasília, pelos seus direitos, dignidade e vida, se mostraram su crença e convicção de que vencerão, com a força de seus guerreiros, do espírito  secular de resistência, sabedoria e espiritualidade. “O índio brasileiro se revolta. E com razão. Querem jogar a gente na beira das estradas ou debaixo de pontes. Mas nós vamos enfrentar a luta com coragem. Eles tem que respeitar nossos direitos. O que deixa a gente revoltado é a prisão e assassinato de nossas lideranças”. E diante de um mundo tão fechado a eles, onde muitas vezes não tem a que recorrer, afirmam convictos “a última esperança somos nós mesmos”
Virá um novo dia.
Fonte : Instituto Humanitas Unisinos

CUBA E ESTADOS UNIDOS : PLANO PARA REAPROXIMAÇÃO.

No que consiste o plano para a reaproximação entre EUA e Cuba

Os presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e de Cuba, Raúl Castro, deram início a um processo de reaproximação entre os dois países após mais de 50 anos de relações cortadas.
A reportagem é do portal da BBC Brasil, 17-12-2014.
"O isolamento fracassou. É hora de uma nova abordagem", disse Obama em um discurso na Casa Branca. "Estou ansioso para engajar o Congresso em um debate sério e honesto (sobre o fim do embargo). Um comércio intensificado é bom para os americanos e para os cubanos." "Através dessas mudanças, queremos criar mais oportunidades para americanos e cubanos e começar um novo capítulo nas Américas", acrescentou o presidente americano.
Raúl Castro, por sua vez, disse, em Havana, que "os progressos alcançados demonstram que é possível encontrar solução para muitos problemas...devemos aprender a arte de conviver de forma civilizada com nossas diferenças". "Isso não quer dizer que o principal foi resolvido. O bloqueio econômico, comercial e financeiro que provoca enormes danos humanos e econômicos tem que acabar".
O anúncio dos mandatários veio poucas horas após a libertação, em Cuba, do americano Alan Gross, preso há cinco anos no país. Os Estados Unidos disseram que libertarão três cubanos condenados por espionagem, e estudam a abertura de uma embaixada em Havana nos próximos meses.
Antes dos discursos, Obama e Castro conversaram durante mais de 45 minutos pelo telefone - a primeira conversação substancial entre líderes dos dois países desde 1961.
Os principais elementos
A Casa Branca divulgou uma lista em que apresenta "os principais elementos do novo enfoque do presidente para o estabelecimento de relações diplomáticas com Cuba".
Estes incluem:
- Início imediato de discussões para o restabelecimento de relações diplomáticas, suspensas em janeiro de 1961.
- Restabelecimento de uma embaixada em Havana e de intercâmbios e visitas de alto nível entre os dois governos.
- Fomentar trabalho em conjunto em áreas de "interesse mútuo", como migração, combate ao tráfico de drogas, proteção ambiental e tráfico de pessoas entre outros.
- Incrementar o contato entre as populações e melhorar o livre fluxo de informação "para, desde e entre a população cubana".
- Facilitar a expansão das viagens com emissão de licenças para pessoas autorizadas.
- Estabelecer intercâmbios que permitam que americanos ofereçam treinamento empresarial a empresas privadas cubanas e pequenos agricultores.
- Facilitar o envio de remessas dos EUA para Cuba; o montante máximo que pode ser enviado por trimestre subirá de US$ 500 para US$ 2.000 - e não será mais necessária uma licença especial para o envio de remessas para fundos dedicados ao desenvolvimento de iniciativa privada em Cuba.
- Ampliação nas licenças comerciais para vendas e exportação de certos produtos e serviços dos Estados Unidos, como material de construção e equipamento agrícola para pequenos agricultores.
- Autorização para que cidadãos americanos importem produtos de Cuba, como derivados de fumo e bebidas alcoólicas, até o valor limite de US$ 400.
- Facilitar as transações autorizadas entre EUA e Cuba, como o processamento de transações financeiras e o uso de cartões de crédito para viajantes em Cuba.
- Dar início a esforços para facilitar acesso dos cubanos a meios de comunicação como internet, tanto dentro de Cuba como de Cuba para os EUA e resto do mundo; para isso, será permitida a exportação comercial de certos dispositivos de comunicação, software, aplicações e hardware.
- Revisar a forma como se aplicam sanções contra Cuba a países terceiros; outorgar licenças para que possam ser oferecidos serviços e transações financeiras a indivíduos cubanos em outros países e permitir que embarcações estrangeiras entrem nos EUA depois de cooperar com determinados tipos de intercâmbio humanitário em Cuba.
- Iniciar uma revisão da designação dada a Cuba, em 1982, de "Estado patrocinador de terrorismo"; uma revisão "imediata" será entregue a Obama em seis meses.
- Participação de Obama na Cúpula das Américas no Panamá em 2015, em que direitos humanos e democracia serão assuntos-chave e onde será permitida a participação da sociedade civil cubana - assim como a de outros países.
- Um compromisso maior dos EUA por uma melhora nas condições de direitos humanos e reformas democráticas em Cuba.
Fonte : Instituto Humanitas Unisinos

CUBA E ESTADOS UNIDOS.

Americano Alan Gross foi solto após 5 anos preso em Cuba. “O Vaticano desempenhou um papel-chave nas negociações”

Alan Gross, prestador de serviços americano que foi mantido preso numa penitenciária cubana durante 5 anos, foi solto e já voltou aos EUA, disse um porta-voz do governo Obama nesta quarta-feira.
Gross foi solto com base em razões humanitárias pelo governo cubano a pedido dos EUA”, afirmou o porta-voz.
Autoridades governamentais disseram que esta prisão impedia toda e qualquer modificação nas relações entre EUA e Cuba, de forma que a libertação desta quarta-feira pode abrir caminhos para discussões visando um acordo mais amplo. O presidente Barack Obama deve fazer um pronunciamento sobre Cuba nesta quarta-feira à tarde, na Casa Branca.
A informação é publicada por Wall Street Journal, 17-12-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Gross viajou para os Estados Unidos num avião do governo na quarta-feira pela manhã, informou um porta-voz do governo.
Um outro representante americano disse que os EUA espera começar as discussões com Cuba a respeito da normalização das relações, e que os EUA planeja abrandar muitas de suas restrições referentes a viagens e transferência de dinheiro que afetam o país caribenho.
Como parte do acordo para a libertação de Gross, os EUA irá devolver três pessoas a Cuba. Elas haviam sido condenadas sob acusação de espionagem. O Vaticano desempenhou um papel-chave nas negociações para a libertação do prestador de serviços americano, afirmou o porta-voz.
Com o acordo, Cuba vai libertar 53 prisioneiros políticos, e os EUA deverá rever, em sua lista dos países patrocinadores do terrorismo internacional, o status de Cuba.
Os cartões americanos de débito e crédito poderão ser usados em Cuba, segundo o porta-voz da Casa Branca, e os EUA irão permitir a exportação de equipamentos de telecomunicações para Cuba, enquanto Cuba concordou em expandir, grandemente, o acesso à internet por parte de seus cidadãos.
Fonte : Instituto Humanitas Unisinos

POPULAÇÃO MUNDIAL: DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA

A geodemografia e a concentração da população mundial no leste da Ásia, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Publicado em dezembro 19, 2014
distribuição da população mundial

[EcoDebate] A população mundial em 2010 era de 6,916 bilhões de habitantes, sendo de 36 milhões na Oceania, 740 milhões na Europa, 940 milhões nas Américas, 1 bilhão na África e 4,2 bilhões na Ásia, segundo a Divisão de População da ONU.
Para Livi-Bacci (2014), a distribuição geo-demografica da população mundial flutuou acentuadamente na história. Porém, um pequeno círculo da Ásia concentra mais da metade da população mundial.
Nove países dominam este círculo, sendo China (1,360 bilhão de habitantes), Índia (1,205 bilhão), Indonésia (240 milhões), Paquistão (173 milhões), Bangladesh (151 milhões), Japão (127 milhões), Filipinas (93 milhões), Vietnã (89 milhões) e Tailândia (66 milhões). Estes nove países tinham uma população de 3,504 bilhões de habitantes em 2010.
O crescimento populacional desta região tem raízes históricas distantes. Mas, atualmente, estes nove países apresentam baixo crescimento populacional, sendo que o Japão já tem uma população em declínio. A China vai entrar em uma fase de decrescimento demográfico por volta de 2030 e deve perder, no mínimo, 400 milhões de habitantes até 2100.
A Tailândia e o Vietnã devem entrar na fase de declínio populacional em 2024 e 2044, respectivamente. A Índia vai continuar crescendo em ritmo lento até o ano de 2064, quando entrará para o clube dos países decrescentistas.
Indonésia, Bangladesh e Paquistão também vão apresentar declínio da população na segunda metade do século XXI. Somente as Filipinas deve manter o crescimento demográfico até 2100, mas em ritmo cada vez mais lento.
Ou seja, atualmente a maior parte da população mundial vive dentro de um círculo que tem como destaque nove países com alta densidade demográfica. Mas ao longo do século XXI o crescimento populacional vai ocorrer com maior intensidade fora deste círculo, especialmente na África subsaariana. A Ásia vai continuar sendo o continente mais populoso do mundo, mas deve perder posição relativa no total de habitantes do globo.
Referencia:
Massimo Livi Bacci. Fine della Demografia? Neodemos, Itália, 07/05/2014
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Publicado no Portal EcoDebate, 19/12/2014

domingo, 14 de dezembro de 2014

MUDANÇAS CLIMÁTICAS : GRANDE DESAFIO PARA O BRASIL.

COP20: o desafio é a mudança sistêmica e não a climática. Entrevista com Luciano Frontelle

Publicado em dezembro 12, 2014 

“Ainda temos de ver, para além de Lima e antes de Paris, quais serão as posições dos países tanto em relação às ações para mitigação quanto para adaptação, ou seja, qual será a contribuição nacional de cada um nas negociações do clima”, diz o representante da Agência Jovem de Notícias Internacional na COP-20.
Na última semana da 20ª Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – COP-20, que acontece em Lima, no Peru, as delegações dos 190 países participantes do encontro conseguiram cumprir parte dos desafios propostos ao dar início ao rascunho do texto que será discutido em Paris, no próximo ano.
Na manhã de ontem, a IHU On-Line conversou, por Skype, com Luciano Frontelle, que participa da Conferência representando a Agência Jovem de Notícias Internacional e o coletivo de jovens Clímax Brasil, que busca “tirar as mudanças climáticas do armário”. Segundo ele, “nesta semana saiu um texto rascunho tanto do conjunto das posições dos países para Lima, quanto um rascunho de negociação para Paris. Isso já dá um novo ar para as negociações e ajuda a entender que caminho os países estão tomando”. Entretanto, pontua, “ainda é preciso esperar mais um pouco para saber que aspectos do texto vão ficar e quais serão excluídos e, nesse sentido, não dá para fazer uma avaliação agora, porque na próxima rodada de negociações, parte do que já foi acordado pode cair, e novos pontos podem ser incluídos no acordo. Mas ao menos já temos um texto que está sendo elaborado, embora em relação às metas e definições ele ainda esteja fraco”.
Frontelle informa ainda que as negociações tiveram poucos avanços, mas os países já chegaram ao consenso acerca de estabelecer 2050 como meta para neutralizar as emissões de gás carbônico, e ainda estão negociando metas de early action (ação antecipada), que devem ser postas em prática até 2020 e 2030. Sobre esse aspecto, ele chama atenção para pressões realizadas por um conjunto de cidades de governos locais que “tem pressionado para que os países assumam compromissos já para 2015, porque eles têm uma preocupação com as trocas de governo e, assim, as cidades podem conduzir as metas independentemente de quem for o prefeito”.
Luciano Frontelle esclarece ainda que o grupo reiterou a necessidade de reconhecer “o papel das cidades” na discussão sobre mudanças climáticas, porque não há como “garantir financiamentos para ações que estão além dos recursos das cidades, ou seja, não tem como cobrar compromissos de governos nacionais de ajuda às cidades para, por exemplo, melhorarem os esforços em relação à mobilidade urbana, porque grande parte das ambições das cidades é melhorar o transporte público. E boa parte das soluções para mitigar os efeitos das mudanças climáticas está nas cidades”.
Frontelle comenta também a Marcha dos Povos, realizada na última quarta-feira, e a pressão das comunidades indígenas, que propõem não somente uma discussão acerca das mudanças climáticas, mas uma “mudança sistêmica”, ao criticarem os mecanismos de financiamento que são tidos como uma alternativa ao enfrentamento das mudanças climáticas. “Isso significa que eles são contrários ao REDD, porque o mecanismo tem funcionado numa lógica em que os direitos das comunidades e dos povos tradicionais não estão sendo respeitados, porque se permite desmatar, por exemplo, e depois se compensa tal dano ambiental com um valor monetário, criando assim um precedente para que os países possam desrespeitar os direitos das comunidades. Eles estão preocupados com que as negociações entrem somente na lógica do capital e os direitos das comunidades não sejam preservados”, conclui.
Luciano Frontelle é empreendedor social e faz parte do coletivo de jovens Clímax Brasil.
Confira a entrevista.
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Foto: https://br.linkedin.com
IHU On-Line – Que avaliação faz da COP-20 até este momento? Já é possível fazer uma avaliação final da Conferência em Lima?
Luciano Frontelle – Por enquanto dá para dizer que a COP-20 tinha um desafio muito grande, que era o fato de que ainda não se tinha nenhum sinal de um texto negociador para Paris, e isso era preocupante. Mas nesta semana saiu um texto rascunho tanto do conjunto das posições dos países para Lima, quanto um rascunho de negociação para Paris. Isso já dá um novo ar para as negociações e ajuda a entender que caminho os países estão tomando. De todo modo, ainda é preciso esperar mais um pouco para saber que aspectos do texto vão ficar e quais serão excluídos e, nesse sentido, não dá para fazer uma avaliação agora, porque na próxima rodada de negociações, parte do que já foi acordado pode cair, e novos pontos podem ser incluídos no acordo. Mas ao menos já temos um texto que está sendo elaborado, embora em relação às metas e definições ele ainda esteja fraco.
IHU On-Line – Quais são alguns dos consensos entre as delegações já presentes no texto que será discutido no próximo ano, em Paris?
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“O Brasil ganhou o Fóssil do dia por ter tentando dar um “jeitinho” nas negociações, ou seja, por tentar contar duas vezes a redução de emissões”


Luciano Frontelle – Por enquanto o texto trata da eliminação de emissões de carbono para a transição de energia limpa até 2050. Isso significa eliminar fontes de resíduos fósseis ou  entrar numa linha negativa de emissões em relação aos anos anteriores, até 2100. Essa questão já tem uma timeline de longo prazo, mas o texto ainda está sintético e não está definido como isso vai funcionar. Hoje o texto diz que a mitigação consiste em neutralizar as emissões de carbono até 2050 e ter uma completa descarbonização até essa data, ou emissões negativas até 2100. Algumas organizações sugerem que a meta deveria ser mais clara.
IHU On-Line – E quais são as metas assumidas para  períodos mais próximos, como 2020, 2030?
Luciano Frontelle – Essa meta de 2050 diz respeito à neutralização de emissões, mas há metas para 2030 e 2025 em relação a financiamentos, por exemplo. Essas duas semanas foram de intenções acerca dos financiamentos, e até agora já passamos os 10% da meta de 100 bilhões anuais até 2020, inclusive com a Austrália fazendo um acordo conjunto com a Bélgica nesta semana. Esperamos que o texto tenha mais conteúdo de early action (ação antecipada), que são metas até 2020. As metas definidas até agora não estão muito claras nesse aspecto, mas o conjunto de cidades de governos locais tem pressionado para que os países assumam compromissos já para 2015, porque eles têm uma preocupação com as trocas de governo e, assim, as cidades podem conduzir as metas independentemente de quem for o prefeito.
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“Os indígenas do Brasil estão reclamando bastante por conta da falta de negociação e da truculência por causa da construção das hidrelétricas, mas aqui a delegação brasileira tem feito um discurso de que há um processo grande de consulta e de diálogo com os movimentos sociais e os indígenas”

Eles defendem ainda que se reconheça o papel das cidades na discussão sobre as mudanças climáticas, porque se não se reconhece o direito das cidades, não há como garantir financiamentos para ações que estão além dos recursos das cidades, ou seja, não tem como cobrar compromissos de governos nacionais de ajuda às cidades para, por exemplo, melhorarem os esforços em relação à mobilidade urbana, porque grande parte das ambições das cidades é melhorar o transporte público. E boa parte das soluções para mitigar os efeitos das mudanças climáticas está nas cidades.
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Foto: http://www.biologiatotal.com.br
IHU On-Line – Pode dar alguns exemplos de ações anunciadas pelos países como metas internas, as quais eles irão cumprir a fim de reduzir as emissões de CO²?
Luciano Frontelle – Os principais anúncios são em relação ao que blocos de países estão pensando em fazer. Ontem foi divulgado o compromisso dos países do bloco do Pacífico (Peru, Chile, Colômbia e México), que trata de reduções de emissões e ações em relação às florestas e oceanos. Essa é uma boa notícia para a nossa região. Mas, por outro lado, o Peru ganhou o Fóssil do dia (a mais baixa honraria possível a ser recebida no encontro), na segunda-feira, por causa de uma lei nacional de descompatibilização do desenvolvimento com o meio ambiente.
Então, ao mesmo tempo que se têm acordos globais, há países andando na contramão.
O Brasil também foi bastante criticado no início das negociações, na semana passada, por conta do desmatamento e das emissões em alta, e ganhou o Fóssil do dia por ter tentado dar um “jeitinho” nas negociações, ou seja, por tentar contar duas vezes a redução de emissões, tanto a redução nacional quanto a redução do que vendeu como crédito; o Brasil contou as duas reduções como sendo reduções nacionais, o que está errado. Embora esse seja o momento de tentar fazer negociações internacionais, esse exemplo do Brasil mostra que os países, em suas ações nacionais, nem sempre estão contribuindo.
Os indígenas do Brasil estão reclamando bastante por conta da falta de negociação e da truculência por causa da construção das hidrelétricas, mas aqui a delegação brasileira tem feito um discurso de que há um processo grande de consulta e de diálogo com os movimentos sociais e os indígenas.
IHU On-Line – A exemplo da Alemanha, outros países se comprometeram com a transição energética para os próximos anos?
Luciano Frontelle – Não existem anúncios oficiais, mas Seul anunciou que tem feito um esforço gigante em conseguir fontes alternativas de energia para não usar energia nuclear. Eles lançaram um projeto aqui na COP-20 no sentido de desenvolver uma série de ações para que, a partir da participação das pessoas, se consiga ter energia suficiente para deixar de usar energia nuclear.
Tenho acompanhado ainda a importância da educação no processo de formação das pessoas para discutir as questões climáticas, e essa questão está relacionada com o artigo 6º da  Plataforma de Doha, sobre a participação das pessoas; ou seja, como as pessoas se envolvem no processo tanto de comunicar as ações de mudanças climáticas, como podem se envolver para o desenvolvimento concreto de ações. Temos o incentivo da Polônia e de outros países para que se possa elaborar também um texto nesse sentido no acordo final da COP-20. Por outro lado, no texto elaborado até então em relação às INDC (posições nacionais), não está claro como se dará a participação da sociedade civil nas ações que os governos nacionais irão adotar em relação às suas metas, às emissões, planos de ação, planos de mitigação. Essas questões devem ser definidas pelos países do Anexo I no início do ano que vem e pelos demais países no começo do primeiro semestre do ano que vem.
Também não está claro no texto atual quais devem ser os padrões dessas posições, porque até o momento a regra é que cada país anuncia sua contribuição nacional, mas tem de ser feito um acordo para que essas contribuições nacionais tenham um padrão para que se possa fazer uma comparação entre as nações para medir quanto cada país tem avançado em relação aos demais. Portanto, ainda temos de ver, para além de Lima e antes de Paris, quais serão as posições dos países tanto em relação às ações para mitigação quanto para adaptação, ou seja, qual será a contribuição nacional de cada um. Por isso, estamos alertas a como será abordada essa questão no texto da COP-20, ou seja, se vai haver ou não um padrão de comparação entre os países.
IHU On-Line – Qual foi o discurso do Brasil durante a COP-20 em relação às medidas que vai adotar nos próximos anos para enfrentar as mudanças climáticas e transição energética?
Luciano Frontelle – Por enquanto o Brasil focou bastante na proposta que havia feito antes da COP-20, acerca das responsabilidades iguais, porém diferenciadas, que está estabelecida nos círculos concêntricos. Ontem ocorreu uma reunião de delegação a qual não pude acompanhar, mas, pelo que pude ver, mais anunciaram as reduções que foram alcançadas de 2004 para cá, do que fizeram novos compromissos e acordos. Na reunião de delegação antes da COP-20, o Ministério do Meio Ambiente se limitou a dizer que o Brasil está dentro das metas acordadas no Protocolo de Kyoto, citando o caso do desmatamento, por exemplo, e as demais reuniões foram para discutir o que o país quer dizer com a diferenciação de responsabilidades ou o que isso quer dizer em questão de compromissos e posições. Além disso, o Brasil não fez nenhum novo posicionamento em relação a metas.
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“A mensagem principal da Marcha foi dada pelos indígenas, que têm se posicionado contra o mecanismo REDD plus. O discurso deles é em torno de uma mudança sistêmica e não somente climática”

IHU On-Line – Como o acordo entre China e EUA repercutiu na COP-20?
Luciano Frontelle – Fizemos essa pergunta para a delegação brasileira e a resposta foi de que o Brasil vê esse acordo como positivo, como um caminhar para o enfrentamento das mudanças climáticas, porém, desde que isso também reflita em ações dos dois países dentro dos compromissos que envolvem as negociações, porque uma coisa é eles fazerem um acordo bilateral, fora das negociações, e outra coisa é a posição oficial dentro das negociações. Então, desde que o acordo reflita e não influa no enfraquecimento do processo da Convenção, pode ser positivo, porque se começam a surgir acordos fora da Convenção, pode gerar um descrédito em relação a todo o processo que está sendo feito até aqui.
IHU On-Line – Como foi a Marcha dos Povos realizada em Lima na quarta-feira? Qual foi o discurso dos indígenas e movimentos sociais que participaram?
Luciano Frontelle – A mensagem principal da marcha foi dada pelos indígenas, que têm se posicionado contra o mecanismo REDD plus. O discurso deles é em torno de uma mudança sistêmica e não somente climática. Isso significa que eles são contrários ao REDD por que o mecanismo tem funcionado numa lógica em que os direitos das comunidades e dos povos tradicionais não estão sendo respeitados, porque se permite desmatar, por exemplo, e depois se compensa tal dano ambiental com um valor monetário, criando assim um precedente para que os países possam desrespeitar os direitos das comunidades. Eles estão preocupados com que as negociações entrem somente na lógica do capital e os direitos das comunidades não sejam preservados.
A marcha teve a presença das comunidades indígenas da Amazônia brasileira e do Peru, além de ONGs ambientais. Foi uma marcha plural, mas a mídia reclamou do trânsito ao invés de noticiar o conteúdo da marcha; noticiou os incômodos que a manifestação gerou, embora a marcha estivesse anunciada há mais de seis meses. De todo modo, a marcha foi pacífica, com mais de 10 mil pessoas, certamente; as pessoas manifestaram que esperam mais ambições nas negociações e querem que se preservem os direitos das pessoas que não são ouvidas, além de criticarem a mercantilização das negociações, tendo em vista que participam da COP-20 as grandes corporações do petróleo.
IHU On-Line – Diante das negociações feitas até agora, qual a expectativa para o encontro de Paris, que vai discutir o texto que substituirá Kyoto em 2020?
Luciano Frontelle – Houve um processo de ratificação da emenda referente ao segundo termo de Kyoto e como isso se relaciona com as negociações, mas espera-se que Paris seja o marco de acordos mais ambiciosos tanto em relação às reduções como em relação a soluções de uma transição justa para energias renováveis e limpas. Para Paris, entre as várias coisas que se esperam, esperamos compromissos claros e transparentes para saber como a sociedade civil de cada país poderá participar tanto da implementação quanto da participação da tomada de decisão de como esse caminho será iniciado.
(Por Patricia Fachin)
(EcoDebate, 12/12/2014) publicado pela IHU On-line, parceira editorial do EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]