sexta-feira, 30 de outubro de 2020

PAÍSES ENFRENTAM A 2ª ONDA E A 3ª ONDA DA COVID-19.

 Países enfrentam a 2ª onda e a 3ª onda da Covid-19

Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

[EcoDebate] O mundo já ultrapassou 43 milhões de pessoas infectadas pela covid-19 e chegou a 1,2 milhão de mortes registradas. Mas provavelmente estes números sejam maiores pois há muita subnotificação. A pandemia avança pelo globo, mas de forma diferenciada.

Há países como o Camboja – que tem uma população de quase 17 milhões de habitantes – e que registrou apenas 287 casos da covid-19 e nenhuma morte. Há países como Taiwan, Vietnã e Nova Zelândia que conseguiram construir uma barreira sanitária para impedir a propagação comunitária do SARS-CoV-2 e tiveram poucos casos e poucas mortes.

Também há países que tiveram uma primeira onda pandêmica muito forte, mas conseguiram controlar a doença (por exemplo, China e Tailândia). Há os que experimentam uma segunda onda muito forte (como Espanha, França e boa parte dos países europeus) e há aqueles que passam por uma terceira onda (como EUA, Irã, Israel, etc.). Pode-se definir que um país tem apenas uma onda quando a curva epidemiológica é unimodal. Duas ondas quando a curva epidemiológica é bimodal. Três ondas quando a curva epidemiológica é trimodal.

O gráfico abaixo, do jornal Financial Times, apresenta a média móvel de 7 dias para o número de mortes, por milhão de habitantes. Nota-se que a China – o país mais populoso do mundo e epicentro inicial da pandemia – conseguiu controlar a mortandade da covid-19 e registrou apena 4.634 óbitos acumulados até 24 de outubro de 2020. A Noruega teve uma primeira onda de mortes e depois conseguiu manter números próximos de zero, a curva epidemiológica norueguesa é unimodal. A União Europeia teve uma onda muito forte de mortes nos meses de março e abril, conseguiu controlar a mortandade nos meses seguintes, mas apresentou um repique nos meses de setembro e outubro (tem uma curva epidemiológica bimodal). O Irã vive a terceira onda de mortes e tem uma curva trimodal e crescente.

Covid-19 - O gráfico abaixo, do jornal Financial Times, apresenta a média móvel de 7 dias para o número de mortes, por milhão de habitantes

O Brasil difere destes exemplos anteriores pelo fato de ter apenas uma onda de mortes, mas apresenta uma curva epidemiológica unimodal que ficou muito tempo estacionada em alto platô. A curva brasileira está caindo lentamente nos últimos 3 meses, mas assim como de outras nacionalidades pode passar, em breve, por um repique característico da segunda onda.

Todos os países europeus dos gráficos abaixo estão passando por uma segunda onda da covid-19. Na primeira onda a Espanha teve uma média móvel em torno de 10 mil casos e 860 óbitos diários e passou para 15 mil casos e 140 óbitos na segunda onda. A França tinha 4.280 casos e 1 mil mortes e passou para 31 mil casos e 140 mortes. Cabe registrar que nos últimos dias (22 a 25 de outubro) a França teve média de mais de 40 mil casos. No dia 25/10 a França teve 52 mil casos, superando inclusive os números da Índia e do Brasil. O Reino Unido tinha 5 mil casos e 1.000 mortes na 1ª onda e passou para 20 mil casos e 170 mortes na 2ª onda. A Itália tinha 5 mil casos e 750 mortes e passou para 15 mil casos e 110 mortes. Portugal tinha 750 casos e 30 mortes na 1ª onda e passou para 2.400 casos e 20 mortes na 2ª onda.

Todos os países europeus dos gráficos abaixo estão passando por uma segunda onda da covid-19

Os países dos gráficos abaixo estão passando por uma terceira onda da covid-19. Na primeira onda os EUA tiveram uma média móvel em torno de 32 mil casos e 2.250 óbitos diários e passou para 69 mil casos e 1.180 óbitos na segunda onda e, por enquanto, 68 mil casos e 830 óbitos na 3ª onda. No dia 23/10 os EUA bateram o recorde diário com quase 82 mil casos. O Irã teve 3 mil casos na 1ª e 2ª onda e 5 mil casos na 3ª onda, tendo também 140 mortes na 1ª onda, 210 na 2ª e média de 300 mortes diárias na 3ª onda. E os números iranianos continuam subindo. Israel teve média de 630 casos, 1.700 casos e 6.000 casos nas três ondas e 10, 20 e 40 óbitos respectivamente. Mas os números israelenses estão caindo atualmente depois da 3ª onda. A Turquia 4.600 casos e 120 mortes na 1ª onda, 1.500 casos e 70 mortes na 2ª onda e 2.000 casos e 80 mortes na 3ª onda. E os números turcos estão subindo neste final de outubro de 2020.

Os países dos gráficos abaixo estão passando por uma terceira onda da covid-19

Todas estas cifras mostram que a pandemia continua avançando no mundo e muitos países que pensavam ter controlado a pandemia agora vivem a 2ª ou 3ª onda.

O Brasil e a América Latina, provavelmente, devem passar pela 2ª onda, agravando a situação econômica e social da região que já é grave e não deve gerar grandes alívios em 2021. O aumento do desemprego, a queda da renda e a elevação da pobreza podem ser um barril de pólvora a ponto de explodir a qualquer momento.

José Eustáquio Diniz Alves
Colunista do EcoDebate.
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

ALVES, JED. A pandemia de Coronavírus e o pandemônio na economia internacional, Ecodebate, 09/03/2020 https://www.ecodebate.com.br/2020/03/09/a-pandemia-de-coronavirus-covid-19-e-o-pandemonio-na-economia-internacional-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

ALVES, JED. Presidente quinta-coluna não combate a pandemia e instala o Necroceno no Brasil, Ecodebate, 08/06/2020

https://www.ecodebate.com.br/2020/06/08/presidente-quinta-coluna-nao-combate-a-pandemia-e-instala-o-necroceno-no-brasil-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

ALVES, JED. A Argentina ultrapassa o Chile e ocupa o 10º lugar no ranking global dos casos da covid-19, Ecodebate, 31/08/2020 https://www.ecodebate.com.br/2020/08/31/a-argentina-ultrapassa-o-chile-e-ocupa-o-10-lugar-no-ranking-global-dos-casos-da-covid-19/

ALVES, JED. Minas Gerais possui os menores coeficientes de incidência e mortalidade do Brasil. Ecodebate, 19/10/2020

https://www.ecodebate.com.br/2020/10/19/covid-19-minas-gerais-possui-os-menores-coeficientes-de-incidencia-e-mortalidade-do-brasil/

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/10/2020

COMO DESCARTAR MEDICAMENTOS CORRETAMENTE.

medicamentos

Como descartar medicamentos corretamente

ABr

Após dez anos em discussão, o sistema de logística reversa de medicamentos domiciliares foi regulamentado no âmbito federal em junho deste ano, por meio do Decreto nº 10.388/2020. O descarte ambientalmente correto desses produtos está previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída em 2010, mas ainda dependia de acordo com o setor produtivo.Como descartar medicamentos corretamente, medicamentos, como descartar medicamentos, remédios vencidos, medicamentos vencidos, risco de medicamentos vencidosComo descartar medicamentos corretamente, medicamentos, como descartar medicamentos, remédios vencidos, medicamentos vencidos, risco de medicamentos vencidos

As medidas entrarão em vigor a partir de dezembro deste ano. A primeira fase é a de estruturação do grupo de acompanhamento do sistema, que contará com entidades representativas de fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de medicamentos domiciliares, em âmbito nacional. Já a implementação do sistema de logística reversa, propriamente dita, deve começar no segundo semestre do ano que vem.

A partir daí, será dever dos consumidores efetuar o descarte dos medicamentos domiciliares vencidos ou em desuso, incluindo as embalagens, nos pontos de coleta, sejam eles drogarias, farmácias ou outros pontos definidos pelos comerciantes. As drogarias e as farmácias terão de disponibilizar e manter em seus estabelecimentos pelo menos um ponto fixo de recebimento a cada 10 mil habitantes.

Esses recipientes serão padronizados e não poderão permitir a retirada dos produtos pelos consumidores, apenas a colocação. Estão previstas também campanhas educativas para informar o usuário sobre a implementação da política.

Pelo decreto, no prazo de dois anos, todas as capitais do Brasil e os municípios com população superior a 500 mil habitantes deverão contar com os pontos de coleta de medicamentos. Esse prazo será de até cinco anos para os municípios com população superior a 100 mil moradores.

E caberá às indústrias fabricantes e às empresas distribuidoras os processos de recolhimento e descarte final desses produtos. Os custos serão compartilhados por toda a cadeia farmacêutica. O destino deve ser um empreendimento licenciado por órgãos ambientais, seguindo a seguinte ordem de prioridade: incineradores, coprocessadores e, como última opção, aterros sanitários específicos para produtos perigosos.

O não cumprimento das regras de descarte, por qualquer ente da cadeira, pode ser considerado crime ambiental.

Algumas localidades, entretanto, já contam com legislações específicas em vigor, como é o caso do Distrito Federal. As leis distritais nº 5.092/2013 e nº 5.591/2015 tratam sobre a obrigatoriedade de hospitais e estabelecimentos de saúde, como farmácias e drogarias, receberem medicamentos vencidos ou em desuso, como medida de proteção ao meio ambiente e à saúde pública.

Os medicamentos liberam resíduos químicos que contaminam o solo, os rios, córregos e até mesmo a água que bebemos. Cada quilo de medicamento descartado incorretamente pode contaminar até 450 mil litros de água.

Como descartar

A gerente de Medicamentos e Correlatos da Diretoria de Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, Renata Moreira Ferreira, explicou à Agência Brasil como deve ser feito esse descarte pelos consumidores. As orientações são tanto para medicamentos vencidos quanto para aqueles que não serão mais utilizados pelo paciente, bem como suas embalagens vazias.

O consumidor não deve retirar o produto da embalagem primária, que é aquela que fica em contato direto com o medicamento. No caso de líquidos, a embalagem primária é o frasco de vidro ou plástico; no comprimido, é o blister de alumínio. “O consumidor deve levar os produtos aos estabelecimentos da forma que está, não deve descaracterizar o medicamento”, disse.

De acordo com Renata, o estabelecimento precisa saber qual é o medicamento para direcionar corretamente para o descarte. Algumas substâncias, segundo ela, precisam ser neutralizadas antes de serem incineradas.

As bulas e as embalagens secundárias, que são as caixas de papelão, também podem ser descartadas junto com os medicamentos nos pontos de coleta. Mas, segundo Renata, como não são materiais que tiveram contato direto com o medicamento, podem ainda ser encaminhadas para a reciclagem ou coleta seletiva, como outros produtos de papel.

No caso dos perfurocortantes, como seringas e agulhas, as legislações não preveem o recolhimento por farmácias e drogarias. Caso o paciente faça uso domiciliar desses produtos, eles devem ser entregues em hospitais ou postos de saúde. A sugestão é armazená-los em garrafas pet com tampa, para evitar acidentes.

A gerente ressalta ainda que não se deve descartar medicamentos em lixo comum, nem derramar em pias ou vasos sanitários, pois podem contaminar o solo e os rios ou ainda serem encontrados no lixo e utilizados de forma indevida.

Além disso, ela alerta que também não é recomendado fazer doações ou troca de medicamentos entre pessoas, pois isso é muito perigoso do ponto de vista sanitário. “Se quer fazer doação de medicamentos que ainda estão dentro da validade, a pessoa pode procurar um estabelecimento de saúde. Não recomendamos doar ou reutilizar em outras pessoas porque o que serviu para um não necessariamente vai servir para outros. O medicamento também pode gerar eventos adversos e efeitos colaterais”, explicou.

Números de descarte

O diretor executivo da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), Sergio Mena Barreto, explicou que o setor está adiantado à regulamentação e o grupo que vai acompanhar a implementação da logística reversa já está em funcionamento, reunindo 19 entidades do setor. Além disso, ao longo dos anos, diversos acordos e programas de recolhimento voluntários foram colocados em funcionamento, disse.

“O interessante do decreto é que ele estabelece uma regra nacional. Como temos mais de 5 mil municípios no Brasil, imagine o que seria seguir mais de 5 mil legislações diferentes e cada uma com suas regras. Isso no final fica impossível de ser cumprido”, disse. “Esse decreto foi muito bem pensado, foi discutido com todas partes, foram cobertos todos os pontos possíveis de questionamento. Nosso desafio agora é colocar em pé e que as pessoas respeitem essa legislação”, completou.

Estabelecimentos em diversos estados já participam, por exemplo, do programa Descarte Consciente, e recebem as embalagens de medicamentos vencidos ou em desuso. Agora, essas cadeias devem se adequar ao decreto. No DF, por exemplo, são 63 pontos de coleta em várias localidades. Para saber onde ficam, basta acessar o site do programa.

Em 2019, apenas nas redes da Abrafarma, que representam 43,7% do mercado total de medicamentos, foram recolhidos 130 toneladas de resíduos de medicamentos e embalagens. Desse total, 93% foram incinerados e 7% foram para aterros sanitários. Em 2012, quando a entidade iniciou a contabilização de recolhimentos voluntários, foram 11,3 toneladas recolhidos.

Para dimensionar esses números, Barreto citou dados de Portugal. Em 2000, quando o país implementou sua política de logística reversa, foram recolhidos 98 toneladas; atualmente, esse volume passa de 1,2 mil toneladas. “E estamos falando de um país pequeno, com apenas 10 milhões de habitantes com 2,9 mil farmácias. No Brasil temos 80 mil farmácias e 250 milhões de habitantes”, disse, sobre o volume que ainda pode ser destinado corretamente no Brasil.

Barreto alerta, entretanto, que na maioria dos municípios brasileiros não há incineradores ou aterros sanitários especiais, que são de responsabilidade do poder público. “Por isso o decreto começa abrangendo capitais e cidades acima de 500 mil habitantes. Teoricamente, é onde há estrutura adequada para fazer o descarte. Depois de 2023, vem as cidades menores, mas é uma grande incógnita o que vamos fazer com esses locais que não tem aterro sanitário adequado ou não tem incineração”, disse.

De acordo com o diretor executivo da Abrafarma, no Brasil a legislação não prevê reciclagem do que é recolhido, sendo a incineração a destinação prioritária. Citando novamente Portugal, Sergio disse que no país europeu é feito o reaproveitamento das embalagens secundárias, bulas e alguns tipos de blister, sendo 60% descartado e 40% reciclado.

Do ponto de vista de reutilização de materiais, no Brasil bulas e caixas podem ser destinadas diretamente pelos consumidores para a reciclagem. “E não tem nenhum risco, papel é papel”, disse Barreto, reforçando que blister, tubos e frascos deverão ser destinados no sistema que será montado ou naqueles que já existem.

Além da logística reversa estabelecida por acordos setoriais, entre poder público e setor empresarial, como é o caso de medicamentos, a Política Nacional de Resíduos Sólidos prevê os sistemas de recolhimento de agrotóxicos, pilhas e baterias; pneus; óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; e produtos eletroeletrônicos e seus componentes.

Por Andreia Verdélio, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/10/2020 

IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA ECONOMIA BRASILEIRA.

 Impactos das mudanças climáticas na economia brasileira

 

Especialistas explicam como as mudanças climáticas podem trazer prejuízos na agricultura, pecuária, geração de energia e, consequentemente, ao Produto Interno Bruto

 

aquecimento global

 

Reduzir a emissão de poluentes na atmosfera, diminuir os impactos à biodiversidade e ao clima e intensificar ações de preservação ambiental para garantir que a economia brasileira prospere nas próximas décadas. Esse é o caminho apontado por pesquisadores da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza. Sem essa preocupação estratégica, tudo indica que haverá impacto da produção agropecuária e industrial, com produtos ainda mais caros para a população. É possível, contudo, adotar medidas para que as consequências do aquecimento global não prejudiquem o setor econômico do país.

O climatologista Carlos Nobre, doutor pelo Massachusetts Institute of Technology e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, alerta que caso o Acordo de Paris, que visa frear as emissões de gases de efeito estufa no contexto do desenvolvimento sustentável, não seja cumprido, o Brasil deixaria em pouco tempo de ser a potência agrícola que é hoje.

“Se a temperatura subir entre 3°C e 4°C, o Brasil não terá mais condições de manter uma expressiva produção agrícola. Talvez apenas a Região Sul tenha alguma condição. A pecuária também vai cair muito”, afirma Nobre. O Brasil sofreria, portanto, impactos significativos na produção de alimentos e, por consequência, nas exportações.

O secretário-executivo do Observatório do Clima e membro da Rede de Especialistas, Carlos Rittl, ressalta que pode ocorrer uma mudança na geografia agrícola do país pela perda de aptidão de solos agrícolas a determinadas culturas devido às mudanças nos padrões de temperatura e pluviosidade a geográfica agrícola brasileira. “Algumas regiões terão perda de aptidão para diferentes culturas, gerando até a inviabilidade de produção. Há casos de produtores de café em Minas Gerais que já estão migrando para outros cultivos”, relata.

Com a agricultura e a pecuária sofrendo os impactos decorrentes do aquecimento global, o PIB brasileiro também será afetado. O agronegócio representa cerca de 23% do PIB nacional. Seria, portanto, um círculo vicioso que afetará toda a sociedade. Como consequência da escassez de produção agrícola, os preços das mercadorias em supermercados e feiras deverão se tornar mais caros para o consumidor final e perda de competitividade nos mercados internacionais.

A alteração climática gerará ainda outros impactos. Um deles é que terá maior tendência em aumentar o fluxo migratório de pessoas que deixarão o interior para morar em capitais. Afinal, com a produção agrícola em queda, as pessoas buscarão outras fontes de renda. “Este êxodo rural tem uma série de implicações, inclusive para a capacidade das cidades de oferecer serviços públicos adequados para aqueles que fogem das regiões cujo clima se tornou impróprio para a subsistência das famílias”, ressalta Rittl.

Ainda conforme Rittl, a possibilidade de escassez de água é outro efeito que merece atenção. “Além de afetar diretamente a população, a falta de água impacta setores econômicos importantes, como a produção de alimentos e a geração de energia. A agricultura brasileira consome cerca de 2/3 da água produzida no país. E as hidrelétricas dependem das chuvas que abastecem os rios que movem as turbinas. Em determinados cenários, há rios da Amazônia, onde se planeja a construção de grandes hidrelétricas que podem perder 30% ou mais da vazão pela perda de chuvas em suas bacias. Isto torna os empreendimentos inviáveis”, ressalta. Para compensar os baixos reservatórios, usinas termoelétricas serão mais acionadas, gerando mais poluentes e mais caras para operar. “Hoje, quando os reservatórios das hidrelétricas, estão em baixa, são acionadas termelétricas que emitem gases de efeito estufa, agravando o problema do aquecimento global, e que têm um custo elevado para as famílias e para a economia” completa o especialista.

Saúde

A saúde é outra área que terá impacto decorrente da mudança climática e ambiental. Quanto mais emissão de poluentes, mais pessoas ficarão doentes, especialmente crianças e idosos. “Temperaturas muito elevadas podem gerar graves problemas de saúde para a população, em especial os mais idosos e bebês, em especial doenças cardiorrespiratórias. Mas as doenças transmitidas por mosquitos, como zika, dengue, Chikungunya, febre amarela e malária, entre outras, podem ter sua área de ocorrência ampliada e levar a muito mais casos. Além disso, a falta ou o excesso de chuvas leva ao consumo de água impropria ou contaminada pela população, o que aumenta os riscos de outras doenças. Além do impacto para a saúde do ser humano, os custos para a saúde pública também irão aumentar”, afirma Rittl.

Adaptação

A mudança climática já é uma realidade. Para isso, é necessário que haja um processo de adaptação. Uma das estratégias, como explana Nobre, é a restauração florestal. “As árvores são essenciais para retirar o excesso de gás carbônico que produz o aquecimento global pelo efeito estufa da atmosfera”, afirma. Além disso, estudos recentes confirmam que a restauração florestal em bacias hidrográficas é uma estratégia para garantir a segurança hídrica e reduzir os custos com o tratamento da água. Nesse caminho, é fundamental o Brasil cessar o processo de desmatamento.

Outro ponto que Nobre ressalta é a necessidade de uma redução na emissão de poluentes na atmosfera. Para tanto, a matriz energética e o transporte devem ser revistos. “Para o transporte a saída é utilizar carros, caminhões e ônibus movidos à eletricidade. O Brasil está atrasado neste sentido. Mas isso irá acontecer no país”, afirma. Atualmente, a maioria dos meios de transporte no Brasil usa gasolina ou diesel, que emitem gás carbônico e vários poluentes que impactam a saúde.

Ele também acredita ser fundamental apostar em fontes de energia renováveis, como a solar e a eólica. “O Brasil tem potencial para isso. As usinas hidrelétricas existentes funcionariam como uma espécie de enorme bateria que seria acionada quando necessário. É preciso apostar nisso até chegar a condição que todas as pessoas tenham uma pequena usina em casa, gerando sua própria energia elétrica”, aponta Nobre. Isso já é realidade para cerca de 40 mil brasileiros, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

 

Da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/10/2020

AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS ESTÃO ACONTECENDO AGORA.

 Mudanças climáticas

As mudanças climáticas estão acontecendo agora

 

“Diálogos na USP” discute as mudanças climáticas e possíveis soluções – Especialistas garantem que a solução passaria por medidas de Estado

Por Andre Arias, Rádio USP

 

A Organização das Nações Unidas vem alertando que a meta do Acordo de Paris, assinado em 2015, de limitar o aumento da temperatura média global “abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais”, corre o sério risco de não ser alcançada. Isso porque as principais economias, incluindo os Estados Unidos e a União Europeia, estão aquém de suas promessas.

O planeta está agora quase um grau mais quente do que estava antes do processo de industrialização, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM). Os 20 anos mais quentes da história foram registrados nos últimos 22 anos, sendo que os anos de 2015 a 2018 ocupam os quatro primeiros lugares do ranking, diz a OMM. O ano passado, por exemplo, bateu todos os recordes. Se essa tendência continuar, as temperaturas poderão subir de 3 a 5 graus até 2100.

Mas, afinal, o quão quente o planeta ficou e o que podemos fazer em relação a isso?

Para falar sobre mudanças climáticas e as possíveis soluções, o Diálogos na USP recebeu os professores Emerson Galvani, do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, presidente da Associação Brasileira de Climatologia entre 2008 e 2010, e Marcelo Marini Pereira de Souza, titular da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo e presidente da Associação Brasileira de Avaliação de Impacto.

Marcelo Marini alerta para o fato de que as mudanças climáticas já estão ocorrendo, não é algo que ocorrerá no futuro. “Não é um clique para daqui a pouco, esse clique já aconteceu”, comenta. Segundo o professor, os problemas não têm apenas viés econômico, mas também um grande impacto ambiental, sendo que “o grande problema ambiental hoje é a perda de biodiversidade”, causada principalmente pela ação humana e por essas mudanças no clima. “O ser humano insiste em contribuir com esse processo e não atender às questões globais, atendendo apenas aos interesses econômicos”, afirma.

Emerson Galvani destaca que não há mais dúvidas de que o planeta está esquentando: “Hoje já é consenso que a temperatura está aumentando, tanto em áreas urbanizadas quanto não urbanizadas”. De acordo com o professor, a causa seria “uma força natural, associada aos ciclos geológicos, e uma força humana”. Ele cita como exemplo de força humana os veículos que utilizamos no dia a dia e que liberam gases estufa.

A solução passaria por medidas de Estado, não apenas de um governo, comenta Galvani. “Uma política pública, continuada, independentemente do partido que esteja no poder”, complementa. O professor destaca mudanças ocorridas no Brasil nos últimos governos, apontando para a mudança no Ministério do Meio Ambiente, “que perdeu grande parte das suas funções e está atrelado aos grandes latifúndios”. Isso tudo pode ser prejudicial para ambos os lados, “gerando uma desorganização das atividades do agronegócio e das atividades de preservação e conservação ambiental”.

Já Marini atenta para o fato de a sustentabilidade só ter entrado em pauta por ter se tornado algo importante para a economia mundial: “O mercado internacional passou a considerar o meio ambiente, porque senão o investidor perde reputação”. Porém, o professor acredita que “a questão ambiental não pode estar a reboque das questões econômicas, ela tem a sua roupagem”. Essa sobreposição dos interesses financeiros estaria contribuindo para a perda das questões da área ambiental.

Emerson Galvani e Marcelo Marini Pereira de Souza
Emerson Galvani e Marcelo Marini Pereira de Souza – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

 

 

 

Da Rádio USP, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/10/2020

AUMENTO DO CO2 ATMOSFÉRICO E O FUTURO INCERTO DOS OCEANOS.

Aumento do CO2 atmosférico e o futuro incerto dos oceanos

Estudo analisa a reação das comunidades de plâncton ao aumento do dióxido de carbono

Helmholtz Centre for Ocean Research Kiel*

As teias alimentares marinhas e os ciclos biogeoquímicos reagem de forma muito sensível ao aumento do dióxido de carbono (CO2) – mas os efeitos são muito mais complexos do que se pensava.

Isso é mostrado em um estudo publicado por uma equipe de pesquisadores do GEOMAR Helmholtz Center for Ocean Research Kiel na revista Nature Climate Change. Os dados foram combinados a partir de cinco experimentos de campo em grande escala, que investigaram como o ciclo do carbono nas comunidades de plâncton reage ao aumento de CO2.

O oceano desempenha um papel fundamental na atual mudança climática, pois absorve parte considerável do dióxido de carbono atmosférico emitido pelo homem. Por um lado, isso retarda o aquecimento do clima e, por outro, a dissolução do CO 2na água do mar leva à acidificação dos oceanos. Isso tem consequências de longo alcance para muitos organismos marinhos e, portanto, também para o ciclo do carbono oceânico.

Um dos mecanismos mais importantes neste ciclo é a chamada bomba biológica de carbono. Parte da biomassa que o fitoplâncton forma na superfície do oceano por meio da fotossíntese afunda nas profundezas na forma de pequenas partículas carbonáceas. Como resultado, o carbono é armazenado por muito tempo no fundo do mar. O oceano atua, portanto, como um sumidouro de carbono no sistema climático. A intensidade com que essa bomba biológica atua varia muito de região para região e depende da composição das espécies no ecossistema.

O estudo, que agora foi publicado na revista Nature Climate Change, é um dos estudos mais abrangentes até agora sobre os efeitos da acidificação dos oceanos nos ecossistemas marinhos. Cientistas do GEOMAR Helmholtz Center for Ocean Research em Kiel puderam agora mostrar pela primeira vez que a acidificação dos oceanos influencia o conteúdo de carbono do material orgânico que afunda e, portanto, a bomba biológica.

Surpreendentemente, as mudanças observadas foram altamente variáveis. O teor de carbono das partículas que afundam aumentou ou diminuiu significativamente com o aumento do CO 2, dependendo da composição das espécies e da estrutura da cadeia alimentar. Uma vez que os dados subjacentes cobrem uma ampla gama de regiões oceânicas, este parece ser um fenômeno global. Essas descobertas permitem uma avaliação completamente nova dos efeitos da acidificação dos oceanos.

Dr. Jan Taucher, biólogo marinho e principal autor do estudo, diz: “Curiosamente, descobrimos que o plâncton bacteriano e animal, como pequenos crustáceos, desempenha um papel fundamental em como o ciclo do carbono e a bomba biológica respondem à acidificação do oceano. Até agora, é amplamente sustentado que as mudanças biogeoquímicas são causadas principalmente por reações do fitoplâncton. Portanto, mesmo os modelos modernos do sistema terrestre não levam em consideração as interações que observamos entre a teia alimentar marinha e o ciclo do carbono. Assim, nossas descobertas ajudam a modelos climáticos mais realistas e melhoram as projeções climáticas ”.

Até agora, a maior parte do conhecimento sobre este tópico tem sido baseada em experimentos de laboratório idealizados, que representam apenas as interações ecológicas e a dinâmica da complexa teia alimentar marinha de uma forma altamente simplificada. Isso torna difícil transferir esses resultados para as condições oceânicas reais e projetá-los no futuro. Para obter uma visão mais realista, o estudo resume vários experimentos de campo que foram conduzidos com instalações de teste de grande volume, os chamados mesocosmos, em diferentes regiões do oceano, desde águas árticas até águas subtropicais.

Os mesocosmos são, por assim dizer, tubos de ensaio superdimensionados no oceano, nos quais as mudanças nas condições ambientais em um ecossistema fechado, mas natural, podem ser estudadas. Para o presente estudo, uma grande quantidade de dados de cinco experimentos de mesocosmo foi sintetizada para fornecer uma imagem mais precisa das comunidades de plâncton e processos biogeoquímicos dentro do ecossistema. Um total de mais de dez mil pontos de dados foram incluídos na análise.

O conhecimento recém-adquirido pode agora ser usado para implementar as complexas interações ecológicas em modelos do sistema terrestre, contribuindo assim para melhorar ainda mais as projeções climáticas.

Referência:

Taucher, J., T. Boxhammer, L.T. Bach, A. J. Paul, M. Schartau, P. Stange and U. Riebesell, 2020: Changing carbon-to-nitrogen ratios of organic-matter export under ocean acidification. Nat. Clim. Change, https://doi.org/10.1038/s41558-020-00915-5

 

* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/10/2020 

PRODUTOS INOVADORES SUSTENTÁVEIS.


artigo
Produtos Inovadores Sustentáveis

Artigo de José Austerliano Rodrigues

[EcoDebate] A introdução de novos produtos vem acelerando, e nos setores de varejo, bens de consumo eletrônico e automóveis, entre outros, o tempo para colocar um produto no mercado foi reduzido (HAMM, 2006; KOTLER; KELLER, 2018).

Em uma economia em rápida transformação, a inovação contínua é uma questão de necessidade. Empresas que deixam de desenvolver novos produtos ficam vulneráveis à variação das necessidades e preferências dos consumidores, aos ciclos de vida de produto mais curtos, a uma concorrência nacional e estrangeira e especialmente às novas tecnologia. Google, Dropbox e Box atualizaram seus softwares diariamente (BASS, 2013; KOTLER; KELLER, 2018).

Empresas altamente inovadoras são capazes de identificar e rapidamente agarrar novas oportunidades de mercado. Ao criar um atitude positiva em relação à inovação e à exposição ao risco, transformam o processo de inovação em algo rotineiro, praticam o trabalho em equipe e permitem que seu pessoal experimente e até falhe (KOTLER; KELLER, 2018).

Para o CEO da IDEO, Tim Brown (2009), inovação significa “criar novas opções”, às quais a concorrência não tenha acesso (BROWN, 2009; KOTLER; KELLER, 2018).

As empresas proativas estão inventando novas tecnologias verdes, novos modelos de negócios e novos designs verdes que têm chamado a atenção da mídia, atraindo novos consumidores e estabelecendo uma vantagem competitiva (OTTMAN, 2012).

Contudo, a inovação pela sustentabilidade traz consigo oportunidades interessantes para que as empresas sustentáveis aumentem as vendas e até desenvolver e transformar seus modelos de negócios, para competir melhor dentro das regras de um futuro mais sustentável. Desta forma, é inquestionável que isso representa uma oportunidade para os profissionais de marketing sustentável liderarem as ações (OTTMAN, 2012).

Rodrigues (2010), a tecnologia de informação enraizada na filosofia da inovação com o objetivo de melhorar soluções existentes e buscar novas formas de resolver problemas e/ou necessidades. É difícil verificar como a tecnologia pode ser inovada e usada de forma que venha contribuir para a agenda de sustentabilidade. Se focar unicamente no aspecto tecnológico pode levar a ineficiente e ineficaz utilização de recursos investidos para a adoção e avanço tecnológico. A literatura é rica de registros de inúmeros projetos de tecnologia de informação fracassados, principalmente nos países em desenvolvimento.

A tecnológica do Paradigma Social Dominante leva a crença de que o progresso tecnológico resolverá quaisquer dos problemas ambientais existentes e futuros. Esta suposição é denominada de forma técnica – ‘techno-fit’, vista como uma panaceia para todos os males ecológicos (NASH; LEWIS, 2006). Contudo, a dimensão de tecnologia de informação do modelo de sustentabilidade sugere que ela pode ser usada para comunicar e ensinar a agenda de sustentabilidade como um todo aos stakeholders e criar e co-criar novas alternativas ou soluções que sejam economicamente viáveis, reduzindo o impacto das atividades de consumo sobre a degradação ambiental (RODRIGUES, 2017; RODRIGUES, RODRIGUES FILHO, 2018).

Todavia, as tecnologias de informação e Comunicação (TICs) estão presentes em todos os campos da atividade humana, fazendo com que as palavras TI/TIC verde, eco-TI, computação verde, Software verde, Sistemas de Informação ou SI verde sejam usadas por muita gente, devendo merecer uma grande preocupação não apenas em termos dos produtores de hardware e software, mas também dos usuários (RODRIGUES; RODRIGUES FILHO, 2018).

A relação entre estas tecnologias e o meio-ambiente é uma área relativamente nova, sendo o debate sobre a efetividade da computação verde e da TI sustentável uma questão aberta.

Assim sendo, tanto a TI como os sistemas de informação (SI) podem ter impactos tanto negativos quanto positivos sobre o meio-ambiente. Os impactos ambientais negativos imediatos surgem da produção, utilização e descarte dos produtos de TI, enquanto os efeitos positivos podem surgir por conta de que os produtos e serviços de TI substituem outros produtos (RODRIGUES, 2017; RODRIGUES; RODRIGUES FILHO, 2018).

Os altos níveis crescentes do consumo de eletricidade na manufatura e operação dos produtos das TICs levam a um aumento das emissões de dióxido de carbono (CO2), visto que, internacionalmente, energia é predominantemente gerada pelo carbono emitido pela combustão de carvão (GARTNER, 2007; GREENPEACE, 2005). Portanto, a ubiquidade das TICs leva ao aumento do consumo de energia e emissões de CO2, com consideráveis efeitos negativos em termos de desperdício eletrônico (e-waste). Observa-se, assim, que a relação entre as TICs e o meio ambiente é complexo.

José Austerliano Rodrigues. Especialista Sênior em Sustentabilidade de Marketing e Doutor em Marketing Sustentável pela UFRJ, com ênfase em Sustentabilidade e Marketing, com interesse em pesquisa em Marketing Sustentável, Sustentabilidade de Marketing, Responsabilidade Social e Comportamento do Consumidor. E-mail: austerlianorodrigues@bol.com.br.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/10/2020