sábado, 28 de abril de 2018

MAIS DA METADE DOS MIGRANTES VENEZUELANOS NÃO QUER FICAR NO BRASIL.

Mais da metade dos migrantes venezuelanos não quer ficar no Brasil, diz OIM

A maioria dos venezuelanos que cruzam a fronteira com o Brasil é homem e tem entre 25 e 49 anos. Mais da metade diz que espera seguir para o sul do continente, especialmente para Argentina e Chile. Cerca de dois terços citam razões econômicas ou laborais como principais razões para a viagem; cerca de um quinto afirma que sua motivação foi a falta de alimentos e de serviços médicos.
Essas são algumas das conclusões de estudo divulgado nesta sexta-feira (27) pela Organização Internacional para as Migrações (OIM) com informações sobre o fluxo de venezuelanos a Roraima. A pesquisa mostrou também que 28% dos venezuelanos entrevistados sofreram violência verbal, física ou sexual no Brasil.
Venezuelanos caminham pela estrada de Pacaraima até Boa Vista, capital de Roraima. Aqueles que não podem pagar o transporte público fazem a viagem de mais de 200 quilômetros a pé. Foto: ACNUR/Reynesson Damasceno
Venezuelanos caminham pela estrada de Pacaraima até Boa Vista, capital de Roraima. Aqueles que não podem pagar o transporte público fazem a viagem de mais de 200 quilômetros a pé. Foto: ACNUR/Reynesson Damasceno
A maioria dos venezuelanos que cruzam a fronteira com o Brasil é homem e tem entre 25 e 49 anos. Mais da metade diz que espera seguir para o sul do continente, especialmente para Argentina e Chile. Cerca de dois terços citam razões econômicas ou laborais como principais razões para a viagem; cerca de um quinto afirma que sua motivação foi a falta de alimentos e de serviços médicos.
Essas são algumas das conclusões de estudo divulgado nesta sexta-feira (27) pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), denominado Matriz de Acompanhamento de Deslocados (DTM, na sigla em inglês), que traz informações sobre o fluxo de venezuelanos a Roraima.
A primeira rodada da pesquisa foi feita em estreita coordenação com o governo brasileiro, por meio do Ministério de Direitos Humanos, e teve como objetivo reunir, analisar e gerar evidências baseadas em dados para fornecer uma melhor compreensão dos fluxos de venezuelanos no estado.
Os resultados da pesquisa incluem informação demográfica, sobre mobilidade, situação laboral, acesso a serviços e proteção. A equipe da OIM compilou informações entre 25 de janeiro e 8 de março por meio de mais de 3,5 mil entrevistas nos municípios de Boa Vista e Pacaraima, na fronteira com a Venezuela.
Os dados compilados mostram que a maior parte dos venezuelanos entrevistados (71%) tem entre 25 e 49 anos, 40% deles migraram com sua família e outros 40% sozinhos. A pesquisa mostrou ainda que 58% dos venezuelanos entrevistados são homens e 41%, mulheres. Setenta e cinco por cento vêm dos estados de Anzoategui, Monagas e Bolívar e 52% desejam seguir viagem para outros países, principalmente Argentina e Chile, enquanto 48% desejam permanecer no Brasil, principalmente nos estados Amazonas e Roraima.
De acordo com a informação recolhida, 67% dos venezuelanos entrevistados deixaram seu país devido a razões econômicas ou laborais, e 22% devido às limitações para acessar alimentos e serviços médicos.
Os resultados da pesquisa indicam ainda que 57% dos venezuelanos entrevistados não têm emprego no Brasil. Entre os que têm, 82% estão no mercado informal e 76% enviam remessas para suas famílias na Venezuela.
A maior parte dos venezuelanos entrevistados informou que tem acesso a serviços básicos, com exceção da educação. Entre os que manifestaram dificuldades quanto ao acesso à educação, a principal razão citada foi a falta de documentação.
O estudo mostrou também que 28% dos venezuelanos entrevistados sofreram violência verbal, física ou sexual no Brasil.
“Esses resultados proporcionam aos tomadores de decisão dados confiáveis sobre os nacionais da Venezuela e suas necessidades em mudança no estado de Roraima”, explicou o chefe de missão da OIM no Brasil, Stéphane Rostiaux.
“A pesquisa é também um instrumento-chave para a elaboração de políticas migratórias baseadas em evidências acerca dos fluxos migratórios de venezuelanos no Brasil”, completou Rostiaux. “Com a implementação regular da pesquisa poderemos ter informação oportuna e confiável”.
Os dados da pesquisa mostram que, dos venezuelanos entrevistados, 65% estão interessados em participar da estratégia de interiorização atualmente em implantação pelo governo brasileiro. Manifestaram seu interesse em se mudar para outras cidades dentro do Brasil, especialmente no estado de Amazonas. Como parte da estratégia, a OIM recentemente deu seu apoio à interiorização de 265 venezuelanos, de Roraima a São Paulo e Cuiabá, em coordenação com outras agências da ONU. Um segundo processo de interiorização ocorrerá nas próximas semanas.
Fonte : ONUBR

NÚMERO DE IDOSOS CRESCE 18% EM CINCO ANOS E ULTRAPASSA 30 MILHÕES EM 2017

IBGE/PNAD Contínua: Número de idosos cresce 18% em 5 anos e ultrapassa 30 milhões em 2017


IBGE
A população brasileira manteve a tendência de envelhecimento dos últimos anos e ganhou 4,8 milhões de idosos desde 2012, superando a marca dos 30,2 milhões em 2017, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Características dos Moradores e Domicílios, divulgada hoje pelo IBGE.
Em 2012, a população com 60 anos ou mais era de 25,4 milhões. Os 4,8 milhões de novos idosos em cinco anos correspondem a um crescimento de 18% desse grupo etário, que tem se tornado cada vez mais representativo no Brasil. As mulheres são maioria expressiva nesse grupo, com 16,9 milhões (56% dos idosos), enquanto os homens idosos são 13,3 milhões (44% do grupo).
“Não só no Brasil, mas no mundo todo vem se observando essa tendência de envelhecimento da população nos últimos anos. Ela decorre tanto do aumento da expectativa de vida pela melhoria nas condições de saúde quanto pela questão da taxa de fecundidade, pois o número médio de filhos por mulher vem caindo. Esse é um fenômeno mundial, não só no Brasil. Aqui demorou até mais que no resto do mundo para acontecer”, explica a gerente da PNAD Contínua, Maria Lúcia Vieira.
Entre 2012 e 2017, a quantidade de idosos cresceu em todas as unidades da federação, sendo os estados com maior proporção de idosos o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul, ambas com 18,6% de suas populações dentro do grupo de 60 anos ou mais. O Amapá, por sua vez, é o estado com menor percentual de idosos, com apenas 7,2% da população.
#praCegoVer Infográfico da distribuição da população por sexo, grupo de idade, cor ou raça
Autodeclaração de pretos e pardos aumenta
Outro fenômeno recente é o aumento na autodeclaração de pretos e pardos nos últimos anos. De 2012 a 2017, os dois grupos cresceram consistentemente: os pretos foram de 7,4% da população para 8,6%, enquanto os pardos saíram de 45,3% para 46,8%. Os que se dizem brancos, por outro lado, caíram de 46,6% para 43,6%.
Como são os próprios entrevistados que definem sua cor ou raça, esse fenômeno pode ser explicado em grande parte por uma mudança cultural nos últimos anos.
“Podemos explicar isso por duas hipóteses. A primeira é a miscigenação da população. A população vai casando e se reproduzindo fora de sua etnia. A segunda hipótese é a questão das políticas de afirmação, das pessoas entenderem a importância de se dizer de determinada cor e não mais dizer que é de outra. É entender a importância de sua própria origem, de sua cor ou raça”, conclui Maria Lúcia.
O estado com maior percentual de população parda é o Amazonas, com 76,7%, enquanto a Bahia é a unidade da federação com maior proporção de pretos (20,9%) e Santa Catarina é a que tem mais brancos (82,8%).
Repórter: Rodrigo Paradella
Imagem: Governo da Bahia
Arte: Marcelo Barroso

Do IBGE, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/04/2018

VENEZUELA NO RUMO DE SER O PAÍS MAIS POBRE DA AMÉRICA DO SUL.

Venezuela no rumo de ser o país mais pobre da América do Sul, artigo de José Eustáquio Diniz Alves


renda per capita da Venezuela, Brasil, Chile e Bolívia: 1980-2023
[EcoDebate] A Venezuela era o país mais rico da América do Sul até o final do século XX e a Bolívia sempre foi o país mais pobre do continente. Mas, surpreendentemente, a renda per capita venezuelana pode ficar abaixo da renda per capita boliviana em 2023.
O gráfico acima, com dados do FMI, atualizados em abril de 2018, mostra que a renda per capita da Venezuela (em poder de paridade de compra – ppp, US$ constante) está sendo reduzida em mais da metade entre 2014 e 2023, num verdadeiro terremoto econômico.
Em 1980, a Venezuela tinha uma renda per capita de US$ 18,2 mil, o Brasil de US$ 11,1 mil, o Chile US$ 8 mil e a Bolívia de US$ 4,9 mil. Portanto, o venezuelano médio ganhava quase 5 vezes mais do que o boliviano médio, 80% mais que o brasileiro e mais de duas vezes o chileno.
Mas na atual década a renda da Bolívia tem crescido, enquanto a renda da Venezuela entrou em colapso. Para 2023, as estimativas do FMI, apontam uma renda de US$ 25,3 mil no Chile (o país mais rico do continente atualmente), de US$ 15,6 mil no Brasil, de US$ 7,8 na Bolívia e de US$ 7,7 mil na Venezuela.
Nota-se, desta forma, que o Chile ultrapassou o Brasil na década de 1990 e aumentou a diferença ao longo dos anos, deixando para trás, inclusive, o Uruguai e a Argentina que são respectivamente, o segundo e o terceiro país com renda mais elevada do continente. A renda per capita do Chile, que era a metade, já é cerca de 3 vezes a renda per capita da Venezuela. Com o fim da ditadura de Augusto Pinochet, o Chile consolidou o regime democrático e encontrou a rota para o crescimento e o bem-estar.
Já o desastre venezuelano não tem paralelo na história latino-americana. Nunca a renda de um país caiu tanto em tão pouco tempo. Em parte, o início da queda começou com a abruta redução do preço do barril de petróleo que estava em torno de US$ 100 em 2013 e caiu para US$ 40 em 2016. Junto com a queda do preço internacional do petróleo houve uma redução no volume de óleo produzido pela PDVSA (Petróleos de Venezuela) e uma desestruturação de todo o setor produtivo do país.
A Venezuela vive a chamada “maldição do petróleo”. O país ficou altamente dependente da produção de commodities e não conseguir diversificar sua economia. Nem o setor agrícola avançou e o abastecimento alimentar depende da importação de comida. A insegurança alimentar cresce de forma exponencial e a pobreza e a fome se tornaram um fantasma presente que assusta a maior parte da população. Nem a subida do preço do barril do petróleo, para cerca de US$ 68, tem ajudado a aliviar as contas.
Segundo matéria do Jornal da USP, “O número de refugiados venezuelanos tem aumentado a cada dia. Enfrentando a maior crise política e econômica de sua história, apenas em 2017 a Venezuela viu 52 mil de seus mais de 30 milhões de habitantes pedir refúgio em outras nações. Destes, 12.960 fugiram da grave situação de miséria e perseguição política buscando abrigo no Brasil e estima-se que quase 30 mil estão em situação irregular no nosso país, segundo dados publicados na semana passada pela Acnur, Agência da ONU para Refugiados” (Crevilari, 2017).
Também Eliane Rocha, no site do Projeto Colabora (19/02/2018) descreve o dia a dia de cerca de 40 mil pessoas que, fugindo da fome na Venezuela, estavam em Boa Vista, com falta de abrigos e tendo que morar nas ruas.
A crise econômica e a crise política fez a Venezuela perder espaço até na Cúpula das Américas que se reuniu em 13 de abril de 2018 no Peru. A impopularidade do governo Maduro e o isolamento político do país dificultam a saída da crise. A metade dos países pertencentes à UNASUL – Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Peru e Paraguai – decidiu suspender sua participação do bloco criado em 2008 pelo presidente venezuelano Hugo Chávez para contrapor o domínio dos Estados Unidos na América Latina.
As eleições presidenciais marcadas para o mês que vem (maio de 2018) são uma incógnita e não devem trazer alívio para a situação econômica e o sofrimento do povo venezuelano. Podem até agravar as divisões internas e aprofundar o isolamento internacional. O sonho de Simon Bolívar de independência, prosperidade e de união de toda a América Latina está cada vez mais distante.
Referências:
ALVES, JED. O colapso da Venezuela e a maldição do petróleo, Ecodebate,18/07/2016
https://www.ecodebate.com.br/2016/07/18/o-colapso-da-venezuela-e-a-maldicao-do-petroleo-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. ‘Qualquer lugar é melhor que a Venezuela’, Ecodebate,17/07/2017
https://www.ecodebate.com.br/2017/07/17/qualquer-lugar-e-melhor-que-venezuela-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ROCHA, Eliane. Venezuelanos chegam ao Brasil fugindo da fome, Projeto Colabora, 19/02/2018
https://projetocolabora.com.br/inclusao-social/venezuelanos-chegam-ao-brasil-fugindo-da-fome/
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/04/2018

PESQUISADORES MEDEM UMA CONCENTRAÇÃO RECORDE DE MICROPLÁSTICO NO GELO MARINHO DO ÁRTICO.

Pesquisadores medem uma concentração recorde de microplástico no gelo marinho do Ártico

A composição e camadas de partículas de plástico encontradas no gelo do mar revelam suas regiões de origem
Alfred-Wegener-Institut*
Ártico
Foto: Stefan Hendricks
Especialistas do Instituto Alfred Wegener, do Centro Helmholtz de Pesquisa Polar e Marinha (AWI), encontraram recentemente quantidades maiores de microplástico no gelo marinho ártico do que nunca. No entanto, a maioria das partículas era microscopicamente pequena. As amostras de gelo de cinco regiões do Oceano Ártico continham até 12.000 partículas microplásticas por litro de gelo marinho. Além disso, os diferentes tipos de plástico mostraram uma pegada única no gelo, permitindo aos pesquisadores rastreá-los até possíveis fontes. Isso envolve a imensa mancha de lixo no Oceano Pacífico, enquanto, por sua vez, a alta porcentagem de tinta e partículas de náilon apontavam para a intensificação das atividades de transporte e pesca em algumas partes do Oceano Ártico. O novo estudo acaba de ser lançado na revista Nature Communications.
A equipe de pesquisadores da AWI reuniu as amostras de gelo durante três expedições ao Oceano Ártico a bordo do quebra-gelo de pesquisa Polarstern na primavera de 2014 e no verão de 2015. Elas provêm de cinco regiões ao longo do Transpolar Drift e do Estreito de Fram, que transporta gelo marinho do Ártico Central para o Atlântico Norte.
Espectrômetro infravermelho revela contaminação pesada com micropartículas
O termo microplástico refere-se a partículas de plástico, fibras, pellets e outros fragmentos com um comprimento, largura ou diâmetro variando de apenas alguns micrômetros – milésimos de milímetro – até menos de cinco milímetros. Uma quantidade considerável de microplástico é liberada diretamente no oceano pela deterioração gradual de pedaços maiores de plástico. Mas microplástico também pode ser criado em terra – por exemplo, lavando tecidos sintéticos ou abrasão de pneus de carros, que inicialmente flutuam no ar como poeira, e são soprados para o oceano pelo vento, ou encontram seu caminho através de redes de esgoto.
Para determinar a quantidade e distribuição exata de microplástico no gelo marinho, os pesquisadores da AWI foram os primeiros a analisar os núcleos de gelo camada por camada usando um espectrômetro infravermelho com transformada de Fourier (FTIR), um dispositivo que bombardeia micropartículas com luz infravermelha e usa um método matemático especial para analisar a radiação que eles refletem de volta. Dependendo de sua composição, as partículas absorvem e refletem diferentes comprimentos de onda, permitindo que toda substância seja identificada por sua impressão digital óptica.
A deriva do gelo e a impressão digital química oferecem pistas sobre as regiões de origem dos poluentes
A densidade e composição das partículas variaram significativamente de amostra para amostra. Ao mesmo tempo, os pesquisadores determinaram que as partículas de plástico não estavam uniformemente distribuídas pelo núcleo de gelo.
A equipe de pesquisadores também aprendeu, por exemplo, que os blocos de gelo, que são conduzidos nas massas de água do Pacífico da Bacia do Canadá, contêm concentrações particularmente altas de partículas de polietileno. O polietileno é, acima de tudo, usado em material de embalagem. Como os especialistas escrevem em seu estudo, “Assim, supomos que esses fragmentos representam restos do chamado Great Pacific Garbage Patch e são empurrados ao longo do Estreito de Bering e no Oceano Ártico pelo influxo do Pacífico”.
Em contraste, os cientistas encontraram predominantemente partículas de tinta da tinta do navio e resíduos de nylon das redes de pesca no gelo dos mares marginais da Sibéria. “Essas descobertas sugerem que tanto a expansão das atividades de navegação quanto as de pesca no Ártico estão deixando sua marca. As altas concentrações de microplásticos no gelo do mar podem, portanto, ser atribuídas não apenas a fontes fora do Oceano Ártico. Em vez disso, eles também apontam para a poluição local no Ártico ”, diz Ilka Peeken.
Os pesquisadores descobriram um total de 17 tipos diferentes de plástico no gelo do mar, incluindo materiais de embalagem como polietileno e polipropileno, mas também tintas, nylon, poliéster e acetato de celulose, este último é usado principalmente na fabricação de filtros de cigarro. Em conjunto, estes seis materiais representaram aproximadamente metade de todas as partículas de microplástico detectadas.
Os pesquisadores ainda não sabem se as partículas de plástico liberadas subsequentemente permanecem no Ártico ou se são transportadas mais para o sul; na verdade, parece provável que a areia plástica comece a afundar em águas mais profundas com relativa rapidez. “Partículas microplásticas flutuantes são frequentemente colonizadas por bactérias e algas, o que as torna mais pesadas e pesadas. Às vezes eles se juntam com algas, o que os faz cair para o fundo do mar muito mais rápido ”, explica a bióloga e coautora da AWI, Dra. Melanie Bergmann.
As observações feitas por pesquisadores da rede de águas profundas da AWI HAUSGARTEN no Estreito de Fram dão um peso adicional a essa tese. Como Melanie Bergmann relata, “Recentemente registramos concentrações de microplásticos de até 6500 partículas por quilograma de fundo do mar; esses são valores extremamente altos ”.
Referência:
Ilka Peeken, Sebastian Primpke , Birte Beyer, Julia Guetermann, Christian Katlein, Thomas Krumpen, Melanie Bergmann, Laura Hehemann, Gunnar Gerdts: Arctic sea ice is an important temporal sink and means of transport for microplastic, Nature Communications, DOI: 10.1038/s41467-018-03825-5
https://www.nature.com/articles/s41467-018-03825-5
* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/04/2018

SÉCULO XXI : A CARTOGRAFIA DA VIOLÊNCIA NO CAMPO

Século XXI: a cartografia da violência no campo, por Sucena Shkrada Resk


O mapeamento do processo de violência no campo revela um Brasil com janelas de oportunidades perdidas sob um modelo perverso, que tem no centro a disputa da terra. Os estados do Pará (21), Rondônia (17), Bahia (10), Mato Grosso (9), Amazonas (3), Minas Gerais (2) e Alagoas (01) figuraram em 2017, como os locais de assassinatos de 70 pessoas. Quilombolas, sem-terra, indígenas, lideranças locais, assentados, posseiros, pescador e aliados tiveram suas vidas abreviadas. Essas informações integram o relatório anual produzido pelo Centro de Documentação Dom Tomás Balduíno, divulgado recentemente pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) Nacional. A escalada de baixas tem crescido anualmente e causa apreensão a organizações e movimentos de direitos humanos nacionais e internacionais. É o retrato de um faroeste tropicalizado.
assassinatos no campo: 2003-2017
O quadro de vulnerabilidade se acentua à medida que os mecanismos legais de proteção não são executados e o acirramento das pressões não é combatido na gênese pelas autoridades. Por outro lado, a não resolução de casos é mais um aspecto que causa perplexidade e vem se repetindo há décadas, de acordo com pesquisadores. Um ciclo que, de certa forma, torna parte da população refém de um sistema que expõe a desigualdade econômica e interesses de mercado como pano de fundo. Há 32 anos, a CPT realiza o levantamento, e nesse período, somente 8% dos assassinatos no campo foram julgados, que correspondem a 113 casos. As regiões Norte e Nordeste predominam nessas estatísticas.
Talvez seja necessário recobrar o que diz a Constituição de 1988, em seus artigos 3º e 5º:
Artigo 3: Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo 5:  Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.
Desde julho de 1999, também existe a Lei federal 9.807, regulamentada pelo Decreto 3.518, do ano 2000, que estabelece: 
normas para a organização e a manutenção de programas especiais de proteção a vítimas e a testemunhas ameaçadas, institui o Programa Federal de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas…”.
Nesta retomada histórica, existem temas que são protagonistas neste contexto, que estão longe de um equilíbrio: reforma agrária, demarcação de terras, trabalho análogo ao escravo, conservação socioambiental e predominância de modelo de práticas de agricultura e negócios, entre outros.
O fato é que o Brasil se tornou um país perigoso para os ativistas de direitos humanos, ligados a conflitos de terras e socioambientais. Em relatório de 2017, a Anistia Internacional, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e da ONG Front Line expuseram que o país figura entre as quatro nações que registram maior número de homicídios de ativistas. As outras três são Colômbia, Filipinas e México. No ranking da organização Global Witness, responsável pelo relatório Defenders of the Earth (Defensores da Terra, em português), o Brasil é o primeiro nos assassinatos (dados de 2017). Relatores da Organização das Nações Unidas (ONU) alertaram que o Brasil tem hoje o maior número de assassinatos de ativistas ambientais do mundo, com uma morte por semana.
O que se observa é que existe um estado velado de uma “guerra” interna que requer mudanças de padrão de desenvolvimento e a retomada da práxis das leis vigentes. No papel, tudo tem retaguarda, mas no dia a dia, a realidade é bem outra.
* Sucena Shkrada Resk é jornalista, formada há 26 anos, pela PUC-SP, com especializações lato sensu em Meio Ambiente e Sociedade e em Política Internacional, pela FESPSP, e autora do Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk (http://www.cidadaosdomundo.webnode.com), desde 2007, voltado às áreas de cidadania, socioambientalismo e sustentabilidade.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/04/2018

BENEFÍCIOS DA ALIMENTAÇÃO ORGÂNICA

Benefícios da alimentação orgânica, artigo de Roberto Naime


feira orgânica
Foto: EBC
[EcoDebate] A produção de orgânicos otimiza recursos naturais e socioeconômicos, além de respeitar a cultura das comunidades rurais e melhorar a saúde
Alimentos orgânicos são produzidos através de técnicas específicas, buscando otimizar recursos naturais e socioeconômicos, respeitar a cultura das comunidades rurais, objetivando a sustentabilidade econômica e ecológica e a minimização do uso de energias não-renováveis. Sem nunca empregar materiais sintéticos, organismos modificados geneticamente ou radiações ionizantes.
Nas últimas décadas houve um crescimento muito grande com relação à preocupação com a saúde e por isto as pessoas começaram a se mobilizar em busca de dietas alimentares mais saudáveis. Esta mudança de comportamento fez crescer o número de produtores de alimentos orgânicos.
Ao contrário dos alimentos convencionais, os produtos orgânicos utilizam técnicas específicas, que respeitam o meio ambiente durante todo o seu processo de produção e objetivam maximizar os resultados obtidos com as interações sinérgicas dos elementos bióticos e abióticos constituintes dos ecossistemas utilizados.
São alimentos obtidos de maneira mais natural, e por isso são mais saudáveis e até mais saborosos e nutritivos. Além das frutas, verduras, legumes, grãos e ovos, vem sofrendo incremento também o mercado de carnes orgânicas.
Na produção de ovos e carnes, o cuidado com o rebanho ou a granja é grande, já que os animais não sofrem maus-tratos e não passam por estresse. A alimentação deles é feita com grãos, cereais, sementes, verduras e legumes orgânicos e os animais são criados sem a aplicação de hormônios, anabolizantes e antibióticos. Assim, os ovos e as carnes orgânicas são mais saudáveis.
Nos grandes centros urbanos, por exemplo, os alimentos orgânicos são encontrados à venda em “Feiras Orgânicas” ou “Feiras Verdes”, que vendem exclusivamente produtos orgânicos. Já nas “feiras livres”, as barracas de orgânicos ainda são em menor número.
Vale ressaltar que apesar de serem alimentos orgânicos, o cuidado com a higiene deve ser o mesmo que os alimentos convencionais. Os alimentos orgânicos crus, também devem ser bem lavados e em água corrente, pois da mesma forma, há o risco de contaminação por bactérias, fungos e coliformes fecais.
No Brasil, existe produção orgânica ou natural de cana-de-açúcar e açúcar; e de grãos como soja, cacau, arroz, café e gengibre, e frutas como guaraná, manga, morango, uva, pêssego, banana, frutas cítricas. São produzidos ainda rapadura orgânica e hortifrutigranjeiros como tomate orgânico e legumes. Também néctares e sucos de frutas, geleias e cosméticos.
Os orgânicos evitam problemas de saúde causados pela ingestão de substâncias químicas tóxicas. Pesquisas e investigações tem demonstrado que os agrotóxicos são prejudiciais ao nosso organismo e os resíduos que permanecem nos alimentos podem provocar reações alérgicas, respiratórias, distúrbios hormonais, problemas neurológicos e até câncer.
Alimentos orgânicos são mais nutritivos. Solos ricos e balanceados com adubos naturais produzem alimentos com maior valor nutritivo. Alimentos orgânicos também são mais saborosos. Seu sabor e aroma são mais intensos e em sua produção não há agrotóxicos ou produtos químicos que possam produzir alterações e modificações.
Protege as presentes e futuras gerações de contaminação química. A intensa utilização de produtos químicos na produção de alimentos afeta o ar, o solo, a água, os animais e as pessoas. A agricultura orgânica exclui o uso de fertilizantes, agrotóxicos ou qualquer produto químico; e tem como base de seu trabalho a preservação dos recursos naturais.
A agricultura orgânica evita a erosão do solo. Através das técnicas orgânicas tais como rotação de culturas, plantio consorciado, compostagem e outras, os solos se mantém férteis e permanecem produtivos de forma permanente.
A agricultura e a pecuária orgânicos, protegem a qualidade da água. Os agrotóxicos, ou hormônios, antibióticos e anabolizantes utilizados nas plantações e criações, não contaminam os solos e os recursos hídricos, não poluindo rios e lagos.
A agricultura e a criação orgânicos, restauram a biodiversidade, protegendo a vida animal e vegetal. A agricultura orgânica respeita o equilíbrio da natureza, criando ecossistemas saudáveis dos quais sinergicamente também se beneficia. A vida silvestre, parte essencial do estabelecimento agrícola é preservada e áreas naturais são conservadas.
Em sua maior parte, a produção orgânica provém de pequenos núcleos familiares que tem na terra a sua única forma de sustento. Mantendo o solo fértil por muitos anos, o cultivo orgânico prende o homem à terra e revitaliza as comunidades rurais.
O cultivo orgânico economiza energia, dispensa os agrotóxicos e adubos químicos, utilizando intensamente a cobertura morta, a incorporação de matéria orgânica ao solo e o trato manual dos canteiros. É o procedimento contrário da agricultura convencional que se apoia no petróleo como insumo de agrotóxicos e fertilizantes e é a base para a intensa mecanização que a caracteriza.
Por fim, o produto orgânico é certificado. A qualidade do produto orgânico é assegurada por um Selo de Certificação. Este Selo é fornecido pelas associações de agricultura orgânica ou por órgãos certificadores independentes, que verificam e fiscalizam a produção de alimentos orgânicos desde a sua produção até a comercialização.
O Selo de Certificação é a garantia do consumidor de adquirir produtos mais saudáveis e isentos de qualquer resíduo tóxico. São com gestos pequenos, concretos e persistentes que se determinam mudanças de paradigmas realmente relevantes.
Referência:
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/04/2018

quinta-feira, 26 de abril de 2018

MAIS RENDA MENOS FILHOS E MENOS FILHOS MAIS RENDA.

Mais renda menos filhos e menos filhos mais renda, artigo de José Eustáquio Diniz Alves


a relação inversa entre renda e fecundidade
[EcoDebate] A transição demográfica é um fenômeno sincrônico com o desenvolvimento econômico. Depois da Revolução Industrial e Energética que teve início no final do século XVIII, houve um grande aumento do padrão de vida médio da população mundial (a despeito das desigualdades) e um grande avanço no sistema de saúde, na higiene e no saneamento básico (os avanços foram maiores no acesso à água tratada e menores na canalização e no tratamento do esgoto).
Ou seja, o desenvolvimento econômico propiciou aumento da renda e do padrão de consumo e, também, nas conquistas da medicina e na saúde pública. Isto provocou uma grande redução das taxas de mortalidade. A esperança de vida ao nascer da população mundial estava abaixo de 30 anos no final do século XIX e chegou a 66 anos no ano 2000. A mortalidade na infância global estava pr volta de 400 por mil no século XIX e chegou a 40 por mil no final do século XX. O tempo médio de vida mais que duplicou em 100 anos. Isto nunca havia acontecido antes (nos 200 mil anos do Homo sapiens) e, provavelmente, nunca acontecerá novamente.
Os seres humanos pararam de morrer como “mariposas” e passaram a viver mais tempo nas idades produtivas, contribuindo para o crescimento da renda individual, familiar e nacional. Há uma relação de retroalimentação neste processo, pois o aumento da renda per capita reduz as taxas de mortalidade e, potencialmente, aumenta o retorno das pessoas para a economia. Enfim, os ganhos macroeconômicos e microeconômicos se somam para aumentar o padrão de vida da população e aumentar a riqueza das nações.
Algo semelhante ocorre com o desenvolvimento econômico e a transição da fecundidade. O primeiro efeito do aumento da renda é abaixar a taxa de mortalidade infantil e elevar a proporção de filhos sobreviventes. Desta forma, as mulheres (e os casais) atingem o número desejado de filhos muito antes do fim do período fértil. Assim, após um certo lapso de tempo decorrido para reduzir consistentemente as taxas de mortalidade infantil, inicia-se a transição (de altos para baixos níveis) da taxa de fecundidade total – TFT.
O desenvolvimento econômico contribui para a redução das taxas de fecundidade por meio dos seguintes mecanismos: 1) redução da mortalidade infantil e aumento da proporção de filhos sobreviventes para satisfazer o tamanho ideal de família em menos tempo; 2) aumento dos níveis educacionais dos pais, permitindo que eles tenham acesso às informações sobre a melhor maneira de garantir a autodeterminação reprodutiva; 3) aumento das oportunidades de emprego assalariado, especialmente para as mulheres, criando projetos de carreira e sucesso profissional em vez de manter a mulher segregada nas infinitas tarefas da maternidade e do espaço doméstico; 4) aumento do padrão de consumo e diversificação da cesta de bens e serviços o que eleva o custo de oportunidades de ter filhos; 5) alteração da relação custo/benefício dos filhos, o que modifica os investimentos na prole, possibilitando o “trade-off” da quantidade para a qualidade dos filhos; 6) aumento do grau de cobertura da previdência social (pública e privada), o que diminui a dependência dos idosos em relação aos filhos; etc.
Por tudo isto, não é de se estranhar que os países mais ricos são aqueles com menores taxas de fecundidade. Aliás, atualmente, não existe nenhum país rico (com IDH acima de 0,850) em que a TFT esteja acima do nível de reposição (2,1 filhos por mulher). A queda da fecundidade é um pré-requisito para o enriquecimento das nações. O gráfico acima mostra a estreita relação entre o nível de renda (medido pelo PIB per capita) e a taxa de fecundidade total. O gráfico mostra não só as médias de cada país, mas as desigualdades dentro dos países. O resultado é claro: existe uma relação inversa entre renda e fecundidade: quando a renda sobe diminui o número médio de filhos e quando a fecundidade cai a renda per capita sobe.
Outro fenômeno importante mostrado no gráfico é que alguns países conseguiram reduzir a fecundidade mesmo em um quadro de baixa renda per capita. Ou seja, a redução da TFT pode ocorrer mesmo diante de um cenário nacional de baixo desenvolvimento. Como a queda da fecundidade abre uma janela de oportunidade demográfica (bônus), se esta for bem aproveitada, ela pode impulsionar o crescimento da renda per capita e do bem-estar.
A Tailândia é um exemplo de país que conseguiu reduzir as taxas de fecundidade antes do desenvolvimento econômico. O gráfico abaixo mostra que a TFT tailandesa estava acima de 6 filhos por mulher em 1960 e caiu para um patamar abaixo do nível de reposição (2,1 filhos por mulher) em 1990. Na atual década 2010-20 a TFT da Tailândia está em torno de 1,4 filho por mulher.
A transição da fecundidade na Tailândia começou quando o país era fundamentalmente rural e de baixa renda. Não temos dados da renda per capita nas décadas de 1960 e 1970, mas observa-se que em 1980 a renda per capita da tailandesa era de somente US$ 1,6 mil, segundo dados do FMI em poder de paridade de compra (ppp, na sigla em inglês).
Mesmo sendo um país de baixa renda e rural, a Tailândia apresentou um rápido crescimento econômico nas últimas 4 décadas e deve apresentar uma renda per capita acima de US$ 20 mil no ano 2020. Aliás, em 2017, a Tailândia já tinha uma renda per capita maior do que a renda brasileira, apesar da renda per capita brasileira ter sido três vezes maior do que a tailandesa, em 1980. A Tailândia soube aproveitar o bônus demográfico e pode se tornar um país de renda alta.
taxa de fecundidade total e renda per capita, Tailândia: 1960-2020
O que todos estes dados mostram é que a transição da fecundidade é um fenômeno essencial para a elevação da renda per capita e para o aumento do bem-estar geral de uma nação. Infelizmente ainda existem muitas “escoras culturais pronatalistas” que dificultam a queda da TFT em muitos países.
Os setores antineomalthusianos se vangloriam de propagar a resistência aos métodos contraceptivos modernos e de combater a autodeterminação sexual e reprodutiva, mas a única coisa que conseguem é uma vitória pírrica, pois evitar a transição demográfica é o mesmo que condenar uma nação a um eterno estado de pobreza.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 25/04/2018

ESTUDO INDICA QUE O AQUECIMENTO GLOBAL INTENSIFICARÁ AS SECAS NA EUROPA

Estudo indica que o aquecimento global intensificará as secas na Europa


Helmholtz Centre for Environmental Research – UFZ*
O aquecimento global exacerbará as secas na Europa – as secas durarão mais, afetarão áreas maiores e terão impacto sobre mais pessoas. Se a Terra se aquecer em três graus Celsius, os eventos extremos – como a seca que atingiu grande parte da Europa em 2003 – poderão se tornar o estado normal no futuro.
Este cenário foi descrito na revista científica Nature Climate Change por uma equipe internacional de autores composta por cientistas coordenados pelo Centro de Pesquisa Ambiental de Helmholtz (UFZ). Pela primeira vez, os pesquisadores explicaram como um aumento de temperatura global de um a três graus Celsius pode ter um impacto significativo na distribuição das secas em toda a Europa.
De acordo com os resultados da modelagem da equipe de autores – que envolveu cientistas dos EUA, Holanda e Reino Unido, além da UFZ – se o aquecimento global subir três graus, as regiões secas da Europa se expandirão de 13% para 26%. da área total em comparação com o período de referência de 1971 a 2000. Se os esforços forem bem sucedidos em limitar o aquecimento a 1,5 grau Celsius, conforme estipulado no Acordo de Proteção Climática de Paris, as regiões da seca na Europa podem ser limitadas a 19% da área total . Com exceção da Escandinávia, a duração das maiores secas na Europa também durará três a quatro vezes mais do que no passado. Até 400 milhões de pessoas poderiam ser afetadas.
Conseqüências negativas podem ser esperadas para a região do Mediterrâneo, onde as regiões secas podem se expandir de 28% da área no período de referência para 49% da área nos casos mais extremos. O número de meses de seca por ano também aumentará significativamente no Sul da Europa: “No caso de um aquecimento de três graus, presumimos que haverá 5,6 meses de seca por ano; até agora, o número foi de 2,1 meses. Em partes da Península Ibérica, projetamos que a seca poderia durar mais de sete meses “, diz o hidrólogo da UFZ, Dr. Luis Samaniego, um dos dois principais autores do estudo.
Se o cenário de três graus ocorrer, os eventos de seca dessa intensidade e extensão podem, portanto, ocorrer duas vezes mais em anos à frente e se tornar o estado normal em muitas partes da Europa. No futuro, as secas até excedem em muito esse estado normal; o impacto sobre a sociedade civil e a economia seria severo. Isso corresponde aproximadamente ao déficit hídrico experimentado durante o período de seca que prevaleceu no verão de 2003 em grande parte da Europa.
Se, por outro lado, o aquecimento global aumentar apenas 1,5 graus Celsius, apenas 3,2 meses de seca poderiam ser esperados anualmente na região do Mediterrâneo e haveria um declínio no teor de água no solo de cerca de oito milímetros.
Segundo os cientistas da UFZ, outras regiões da Europa não seriam afetadas tão severamente quanto a região do Mediterrâneo – mesmo se a temperatura subir três graus Celsius. “Nas regiões Atlântica, Continental e Alpina, as áreas secas vão aumentar menos de dez por cento da área total”, explica o matemático Stephan Thober.
Por outro lado, nos estados bálticos e na Escandinávia, os aumentos projetados na precipitação desencadeada pelo aquecimento global poderiam até mesmo fazer com que a área afetada pela seca diminuísse cerca de 3%. Também para a Alemanha, o aquecimento teria apenas consequências relativamente menores – com uma restrição: “Aqui também os verões ficariam mais secos no futuro do que até agora”, diz Thober.
Os pesquisadores da UFZ também enfatizam que a humanidade pode reagir à esperada disseminação de secas. A maneira mais certa seria implementar os objetivos de proteção climática do Acordo de Paris e, assim, reduzir os efeitos negativos sobre as secas terrestres na Europa.
O teor de água no solo, com uma profundidade de dois metros, diminuiria em 35 milímetros se a temperatura global aumentasse em 3 graus Celcius. Isso corresponde a um déficit hídrico de 35.000 metros cúbicos de água por quilômetro quadrado. Ilustrando simbolicamente essa mudança na paisagem, corresponde a um depósito de água com uma altura de 3,5 me comprimento e largura de 100 m em cada quilômetro quadrado. Foto: Peisker, fotolia; montagem: Martin Schrön, UFZ
O teor de água no solo, com uma profundidade de dois metros, diminuiria em 35 milímetros se a temperatura global aumentasse em 3 graus Celsius. Isso corresponde a um déficit hídrico de 35.000 metros cúbicos de água por quilômetro quadrado. Ilustrando simbolicamente essa mudança na paisagem, corresponde a um depósito de água com uma altura de 3,5 me comprimento e largura de 100 m em cada quilômetro quadrado. Foto: Peisker, fotolia; montagem: Martin Schrön, UFZ

Referência:
L. Samaniego, S. Thober, R. Kumar, N. Wanders, O. Rakovec, M. Pan, M. Zink, J. Shef?eld, E. F. Wood, and A. Marx (2018): Anthropogenic warming exacerbates European soil moisture droughts. Nature Climate Change http://dx.doi.org/10.1038/s41558-018-0138-5
* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 25/04/2018