domingo, 24 de setembro de 2023

AGÊNCIAS DOS EUA ALERTAM PARA AUMENTO NO NÍVEL DO OCEANO ATÉ 2050 .

Agências dos EUA alertam para aumento no nível do oceano até 2050

Agências governamentais dos EUA projetam que o aumento da altura do oceano nos próximos 30 anos pode ser igual ao aumento total observado nos últimos 100 anos.

Por Jane Lee*, Laboratório de Propulsão a Jato da NASA

As inundações costeiras aumentarão significativamente nos próximos 30 anos devido ao aumento do nível do mar, de acordo com um novo relatório de uma força-tarefa interagências de aumento do nível do mar que inclui a NASA, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) e outras agências federais.

Intitulado Global and Regional Sea Level Rise Scenarios for the United States , o relatório de 15 de fevereiro conclui que o nível do mar ao longo das costas dos EUA aumentará entre 25 a 30 centímetros em média acima dos níveis atuais até 2050.

O relatório – uma atualização de um relatório de 2017 – prevê o nível do mar para o ano de 2150 e, pela primeira vez, oferece projeções de curto prazo para os próximos 30 anos. Agências nos níveis federal, estadual e local usam esses relatórios para informar seus planos de antecipar e lidar com os efeitos da elevação do nível do mar.

“Este relatório apoia estudos anteriores e confirma o que sabemos há muito tempo: o nível do mar continua a subir a um ritmo alarmante, colocando em risco comunidades em todo o mundo. A ciência é indiscutível e uma ação urgente é necessária para mitigar uma crise climática que está em andamento”, disse o administrador da NASA, Bill Nelson. “A NASA está firme em nosso compromisso de proteger nosso planeta natal, expandindo nossas capacidades de monitoramento e continuando a garantir que nossos dados climáticos sejam não apenas acessíveis, mas compreensíveis”.

A força-tarefa desenvolveu suas projeções de aumento do nível do mar a curto prazo , com base em uma melhor compreensão de como os processos que contribuem para o aumento dos mares – como o derretimento de geleiras e camadas de gelo , bem como interações complexas entre oceano, terra e gelo – afetarão altura do oceano. “Esse entendimento realmente avançou desde o relatório de 2017, o que nos deu mais certeza sobre quanto aumento do nível do mar teremos nas próximas décadas”, disse Ben Hamlington, pesquisador do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA no sul da Califórnia e um dos pesquisadores. autores principais da atualização.

A equipe de mudança do nível do mar da NASA, liderada por Hamlington, também desenvolveu uma ferramenta de mapeamento on -line para visualizar as projeções de elevação do nível do mar de última geração do relatório em um nível localizado nos EUA. a informação tão amplamente acessível quanto possível”, disse Hamlington.

A Força-Tarefa Interagências de Elevação do Nível do Mar projeta um aumento na frequência e intensidade das inundações costeiras de maré alta, também conhecidas como inundações incômodas, devido ao nível do mar mais alto. Ele também observa que, se as emissões de gases de efeito estufa continuarem a aumentar, as temperaturas globais se tornarão ainda maiores, levando a uma maior probabilidade de que o aumento do nível do mar até o final do século exceda as projeções da atualização de 2022.

“É preciso uma aldeia para fazer previsões climáticas. Quando você combina os cenários de aumento global do nível do mar da NASA com as estimativas da NOAA de níveis extremos de água e os estudos de impacto do US Geological Survey, você obtém uma estimativa nacional robusta do futuro projetado que aguarda as comunidades costeiras americanas e nossa infraestrutura econômica em 20, 30 ou daqui a 100 anos”, disse Nadya Vinogradova Shiffer, que dirige a equipe de mudança do nível do mar da NASA na sede da NASA em Washington.

“Este é um alerta global e dá aos americanos as informações necessárias para agir agora para melhor nos posicionarmos para o futuro”, disse o administrador da NOAA Rick Spinrad, Ph.D. “À medida que construímos uma nação preparada para o clima, esses dados atualizados podem informar as comunidades costeiras e outras sobre vulnerabilidades atuais e futuras diante das mudanças climáticas e ajudá-las a tomar decisões inteligentes para manter pessoas e propriedades seguras a longo prazo.”

Construindo um legado de pesquisa

O relatório Global and Regional Sea Level Rise incorpora projeções do nível do mar da última avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgada pelas Nações Unidas em agosto de 2021. Os relatórios do IPCC, emitidos a cada cinco a sete anos, fornecem avaliações globais da Terra clima e análises de uso baseadas em simulações computacionais, entre outros dados.

Um próximo relatório separado, conhecido como Fifth National Climate Assessment, produzido pelo US Global Change Research Program, é o mais recente de uma série que resume os impactos das mudanças climáticas nos EUA e, por sua vez, usará os resultados do Global and Regional Relatório de elevação do nível do mar em sua análise. A Avaliação Climática está programada para ser publicada em 2023.

Pesquisadores do nível do mar da NASA têm anos de experiência estudando como as mudanças climáticas da Terra afetarão o oceano. Seu trabalho inclui pesquisas que prevêem o quanto as comunidades costeiras dos EUA sofrerão em 10 anos, ajudando a visualizar os dados do IPCC sobre o aumento global do nível do mar usando uma ferramenta de visualização on -line e o lançamento de satélites que contribuem com dados para um registro de décadas da altura da superfície do mar global .

aumento do nível do mar
Taxa média nacional de pequenas inundações na maré alta e nível relativo do mar, em metros, de 98 marégrafos da NOAA

 

 

Henrique Cortez *, tradução e edição.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

ENTENDA AS CONSEQUÊNCIAS DA DEGREDAÇÃO DA FLORESTA AMAZÔNICA .

Entenda as consequências da degradação da floresta amazônica

Artigo aponta que cerca de 38% do que resta da área de floresta amazônica sofre com algum tipo de degradação, o que provoca tanto ou mais emissões de carbono quanto o desmatamento

Destaques:

  • Além de efeitos sobre clima, degradação pode ter grandes impactos socioeconômicos
  • Em projeção para 2050, fatores de degradação, como fogo e extração ilegal de madeira, continuarão entre as principais fontes de emissão de carbono
  • Uma das soluções pode ser a criação de um sistema de monitoramento integrado para a degradação da floresta

 

O processo de degradação da Amazônia é bem maior do que os cientistas acreditavam ser, segundo um estudo publicado nesta sexta-feira (27 de janeiro de 2023) na revista “Science” e assinado por 35 autores de instituições nacionais e internacionais, como Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (IPAM), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e Universidade de Lancaster no Reino Unido.

O artigo aponta que cerca de 38% do que resta da área de floresta sofre com algum tipo de degradação, o que provoca tanto ou mais emissões de carbono quanto o desmatamento. O trabalho é fruto do projeto AIMES (Analysis, Integration and Modelling of the Earth System), ligado à iniciativa internacional Future Earth, que reúne cientistas e pesquisadores que estudam a sustentabilidade.

As conclusões resultam de uma revisão analítica de dados científicos baseados em imagens de satélite e dados do chão já publicados anteriormente sobre mudanças na região amazônica entre 2001 e 2018. Os autores definem o conceito de degradação como sendo mudanças transitórias ou de longo prazo nas condições da floresta causadas por humanos.

A degradação difere do desmatamento na medida em que este envolve mudanças na cobertura do solo – ou seja, no desmatamento, a floresta deixa de ser floresta.

Foram considerados quatro fatores principais de degradação: fogo na floresta, efeito de borda (as mudanças que acontecem em áreas de floresta ao lado das áreas desmatadas), extração seletiva (como desmatamento ilegal) e secas extremas.

Diferentes áreas de florestas podem ser atingidas por um ou mais desses fatores, que têm diferentes origens. “Apesar da incerteza sobre o efeito total desses distúrbios, está claro que o efeito total pode ser tão importante como o efeito de desmatamento para emissões de carbono e a perda de biodiversidade”, diz Jos Barlow, pesquisador da Universidade de Lancaster, na Inglaterra, e coautor do estudo.

Além dos efeitos sobre o clima e das perdas de biodiversidade, os cientistas avaliam que a degradação da Amazônia tem impactos socioeconômicos significativos que devem ser investigados de forma mais profunda futuramente. “A degradação favorece poucos, mas leva fardos a muitos”, afirma David Lapola, pesquisador do CEPAGRI (Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura), da Unicamp e líder do estudo. “Poucas pessoas lucram com esse processo e muitas perdem em questões de saúde, de qualidade de vida, de se identificar com o lugar onde vivem”, completa Patricia Pinho, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e coautora do estudo.

Em uma projeção feita pela equipe para 2050, os quatro fatores de degradação continuarão sendo as principais fontes de emissão de carbono na atmosfera, independentemente do crescimento ou cessão do desmatamento da floresta. “Apesar de parecer óbvio, mesmo em um cenário otimista, quando não existe mais desmatamento, a degradação continua sendo fator de emissão de carbono, principalmente pelas mudanças climáticas”, diz Lapola. Para o cientista, impedir o avanço do desmatamento pode contribuir para que mais atenção seja direcionada a outros fatores de degradação da floresta.

Os autores do artigo propõem a criação de um sistema de monitoramento para a degradação, além de prevenção e coibição do corte ilegal de madeira e controle do uso do fogo. Uma das sugestões é o conceito de “smart forests” que, assim como na ideia de “smart cities” (cidades inteligentes), usaria diferentes tipos de tecnologias e de sensores para coletar dados úteis a fim de melhorar a qualidade do ambiente. “Ações e políticas públicas e privadas para coibir desmatamento não necessariamente vão resolver degradação também”, avalia Lapola. “É preciso apostar em estratégias inovadoras”, completa.

 

Causas e consequências da degradação da floresta amazônica
Uma visão geral dos processos de degradação das florestas na Amazônia.
Os drivers subjacentes (alguns dos quais são mostrados em cinza na parte inferior) estimulam distúrbios (extração de madeira, incêndio, efeitos de borda e seca extrema) que causam a degradação da floresta. Um satélite ilustra as tentativas de estimar a extensão espacial da degradação e as perdas de carbono associadas. Os impactos (em vermelho e detalhes) são locais – causando perdas de biodiversidade ou afetando os meios de subsistência dos habitantes da floresta – ou remotos, por exemplo, com a fumaça afetando a saúde das pessoas nas cidades ou causando o derretimento das geleiras andinas devido à deposição de carbono negro.Crédito: Alex Argozino/Studio Argozino

 

Referência:

The drivers and impacts of Amazon forest degradation de David M. Lapola e colaboradores
https://doi.org/10.1126/science.abp8622

 

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Fonte: IPAM

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

INFRAESTRUTURA VERDE SEQUESTRA CARBONO E REDUZ EMISSÕES .

 Árvores do Campus da USP Butantã

Árvores do Campus da USP Butantã, que possui uma floresta urbana dentro da universidade e é uma das áreas mais arborizadas de São Paulo – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Infraestrutura verde sequestra carbono e reduz emissões

Dezenas de cidades europeias poderão atingir zero emissões líquidas de carbono nos próximos 10 anos, incorporando a natureza nas suas infraestruturas, de acordo com um novo estudo.

Publicada recentemente na revista Nature Climate Change, a análise mostra as formas como as cidades podem orquestrar uma vasta gama de soluções verdes, como parques, paisagismo urbano e jardins em telhados, não só para capturar as emissões de carbono, mas também para ajudar a reduzi-las.

O estudo foi realizado por pesquisadores da Suécia, dos EUA e da China. Recomenda as abordagens mais eficazes para o sequestro natural de carbono em 54 cidades da UE. E mostra como a combinação destas medidas com outras ações climáticas pode permitir que as cidades alcancem emissões líquidas zero de carbono e reduzam efetivamente as emissões numa média de 17,4%.

Os resultados baseiam-se na integração de dados de estudos anteriores sobre os efeitos de soluções baseadas na natureza. Estas incluem a agricultura urbana, pavimentos permeáveis que permitem a absorção da água da chuva para o solo, estradas mais estreitas com mais vegetação e árvores, preservação do habitat da vida selvagem e criação de ambientes mais agradáveis para caminhadas e ciclismo.

Por exemplo, parques urbanos, espaços verdes e árvores promovem mais caminhadas, ciclismo e outros hábitos ambientalmente positivos que substituem a condução automóvel. Combinadas com outras soluções, como infraestruturas verdes, estas medidas podem melhorar ainda mais os microclimas urbanos, absorvendo o calor e o frio e, como resultado, reduzindo o consumo de energia nos edifícios.

Também fornece orientações sobre quais medidas devem ser priorizadas e onde localizá-las para obter o melhor efeito, diz ela. Por exemplo, em Berlim, o estudo recomenda dar prioridade a edifícios verdes e espaços verdes urbanos, o que poderia resultar numa taxa de redução de emissões de 6% para residências, 13% na indústria e 14% nos transportes.

Referência:

Pan, H., Page, J., Shi, R. et al. Contribution of prioritized urban nature-based solutions allocation to carbon neutrality. Nat. Clim. Chang. 13, 862–870 (2023). https://doi.org/10.1038/s41558-023-01737-x

 

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394

O CENSO 2022 E O 1º BÔNUS DEMOGRÁFICO .

O Censo 2022 e o 1º bônus demográfico, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Nos últimos 100 anos, o poder de compra do Brasil e do mundo avançou de um nível de renda baixo para a renda média, mas a renda per capita do Brasil estagnou

transição demográfica é uma das maiores conquistas sociais da história mundial e brasileira. Em primeiro lugar, a queda da taxa de mortalidade evitou a continuidade das mortes precoces e o baixo tempo de vida, fato absolutamente extraordinário e que é a base de todas as outras conquistas. A esperança de vida ao nascer no Brasil que estava abaixo de 30 anos no final do século XIX, ultrapassou 70 anos nos anos 2000.

Em segundo lugar, a queda da taxa de fecundidade foi acompanhada de uma mudança cultural fundamental, pois as mulheres e os casais trocaram o investimento na quantidade para o investimento na qualidade dos filhos. Houve uma mudança no fluxo intergeracional de riqueza que beneficiou toda a sociedade (Alves, 2022), pois as velhas gerações passaram a investir nas novas gerações, garantindo a mobilidade intergeracional ascendente. Houve grande redução das desigualdades de gênero.

A transição demográfica é sempre acompanhada por uma transição da estrutura etária que, por sua vez, gera uma janela de oportunidade demográfica que favorece o desenvolvimento humano e possibilita um salto na qualidade de vida da população.

O gráfico abaixo, com base nas projeções populacionais do IBGE (revisão 2018), mostra a população em idade ativa (PIA) de 15 a 64 nos, no Brasil, no período 2010 a 2060. Entre 2010 e 2020, a PIA crescia em ritmo mais rápido do que população total. Entre 2020 e 2037, a PIA continua crescendo, mas em ritmo cada vez mais lento.

O pico populacional da PIA estava estimado para 152,9 milhões de pessoas no ano de 2037. A partir de 2038, a PIA começaria a decrescer no restante do século XXI. Em termos percentuais, a PIA atingiu o máximo de 69% da população total no quinquênio 2015 a 2019, deve cair para 66,3% em 2037 e ficar pouco abaixo de 60% em 2060. Estes números vão mudar um pouco com os resultados do censo 2022.

população brasileira de 15 a 64 anos

 

Segundo a literatura demográfica internacional, o crescimento absoluto da PIA, somado ao aumento relativo da quantidade de pessoas em idade de trabalhar, gera uma grande oportunidade para o avanço econômico e social dos países. Esta fase é conhecida como janela de oportunidade ou 1º bônus demográfico, pois é um momento de ganhos na relação entre “produtores líquidos” potenciais e “consumidores líquidos”.

A fase áurea do 1º bônus demográfico é quando a PIA cresce mais rápido do que a população total (neste período a janela de oportunidade está se abrindo). Mas há um período em que a PIA continua aumentando em termos absolutos, mas cresce menos do que a população total em termos relativos. Nesta fase, a janela de oportunidade começa a se fechar, mas só se fecha completamente quando se atinge o pico populacional da PIA. Nesta segunda fase, mesmo com menor crescimento da PIA, pode haver aumento da população ocupada (PO). Ou seja, o 1º bônus demográfico termina completamente quando a PIA começa a encolher.

Os números apresentados acima são das projeções populacionais do IBGE, divulgados em 2018, antes, portanto, da pandemia da covid-19. Evidentemente, estas tendências vão apresentar algumas alterações quando forem divulgados os dados do censo demográfico de 2022 e forem feitas as novas projeções.

Contudo, os resultados já divulgados pelo IBGE – que relatam um menor ritmo de crescimento populacional – já indicam que o pico populacional da PIA deve ser um pouco antecipado, enquanto o envelhecimento populacional deve apresentar uma aceleração. Numa estimativa preliminar, podemos dizer que o pico da PIA deve ser antecipado em cerca de 3 ou 4 anos, isto é, a polução em idade ativa deve começar a decrescer em 2033 ou em 2034. Desta forma, restam cerca de 10 anos para o fim do 1º bônus.

Entre 2023 e 2033 ou 2034 a PIA brasileira vai crescer menos do que a população total, mas a População Ocupada (PO) pode crescer acima do ritmo demográfico do país. Isto ocorre porque o Brasil ainda tem uma grande quantidade de pessoas desocupadas (desemprego aberto), subutilizadas ou na economia informal. Deste modo, existe espaço para avançar com a bandeira “Pleno emprego e trabalho decente”.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do IBGE, divulgada 31 de agosto, a taxa de desocupação ficou em 7,9% no trimestre de maio a julho de 2023, representando 8,5 milhões de pessoas procurando emprego. A taxa composta de subutilização ficou em 17,8%, representando uma população subutilizada de 20,3 milhões de pessoas. Portanto, o Brasil teve no trimestre de maio a julho de 2023 cerca de 29 milhões de pessoas procurando emprego ou subutilizadas.

O número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado (exclusive trabalhadores domésticos) foi de 37 milhões. O número de empregados sem carteira assinada no setor privado ficou em 13,2 milhões. O número de trabalhadores por conta própria ficou em 25,2 milhões de pessoas. O número de trabalhadores domésticos ficou em 5,9 milhões de pessoas. A taxa de informalidade foi de 39,1% da população ocupada, representando 38,9 milhões de trabalhadores informais.

Portanto, a população ocupada no Brasil poderia ser acrescida de 29 milhões de indivíduos (os desempregados mais os subutilizados) e poderia transformar 39 milhões de trabalhadores ocupados informais em trabalhadores formais (com direitos trabalhistas) e mais produtivos (com mais intensidade de tecnologia e qualificação).

Para agravar a situação, o Brasil tem cerca de 7 milhões de jovens de 18 a 24 anos que nem trabalham e nem estudam (a geração nem-nem), segundo relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que indicou 35,9% de jovens nem-nem no Brasil em 2022, a segunda maior taxa de um total de 37 países analisados. O Brasil ficou atrás apenas da África do Sul. Trata-se de uma geração perdida, sem os direitos humanos básicos e que compromete o futuro do país. Sempre é bom lembrar que o trabalho é a fonte da riqueza das nações. E quanto mais produtivo for o trabalho, maior será a riqueza e o bem-estar nacionais.

Reconhecendo que há desperdício da força de trabalho no Brasil, os números mostram que existe espaço para o crescimento da população ocupada (PO), a despeito do menor crescimento da população em idade ativa (PIA). Por conseguinte, o Brasil tem cerca de 10 anos para aproveitar os últimos momentos do 1º bônus demográfico. Uma constatação inquestionável é que todo país que avançou nos indicadores de desenvolvimento humano aproveitou a sua janela de oportunidade.

Evidentemente, o 1º bônus tem prazo para começar e para terminar. No Brasil, começou em 1970 e terminará no primeiro quinquênio da década de 2030. Serão mais de 60 anos de oportunidades demográficas. Este é um fenômeno único e só acontece uma vez na história de cada país.

Mas o fim do 1º bônus demográfico, embora traga dificuldades, não é o fim das perspectivas futuras, pois existem dois outros bônus que podem garantir um maior bem-estar da população. A redução do volume de trabalhadores pode ser compensada por trabalhadores mais produtivos que produzem mais com menos.

O aumento do volume de idosos pode ser benéfico se contarmos com o envelhecimento saudável e ativo, pois o grande contingente de pessoas da terceira idade deve ser encarado como um ativo, e não com um passivo. Desta forma, antes mesmo do fim do 1º bônus, o Brasil pode aproveitar o 2º bônus demográfico (bônus da produtividade) e o 3º bônus demográfico (bônus da longevidade).

Em síntese, existe espaço para que a População Ocupada (PO) possa crescer em ritmo superior ao da População Total (PT), aproveitando os 10 anos finais do 1º bônus demográfico. Ao mesmo tempo, o país precisa investir na educação, na saúde, na ciência e tecnologia, na infraestrutura e nos setores com produção de maior valor agregado para produzir mais com menos (base do 2º bônus). Além disto, é preciso aproveitar o potencial produtivo dos idosos, garantindo o direito ao trabalho da população da terceira idade (base do 3º bônus demográfico).

A Coreia do Sul tem aproveitado plenamente os bônus demográficos

Quando um país aproveita plenamente os três bônus demográficos ele sai de uma situação de pobreza, para a renda média e, sendo bem-sucedido, dá o salto para a renda alta e para um elevado padrão de vida da população. Um dos melhores exemplos de aproveitamento dos três bônus é a Coreia do Sul, que sofreu a dominação da colonização japonesa até 1945, conseguiu a independência depois da Segunda Guerra, mas passou por uma guerra atroz com a Coreia do Norte entre 1950 e 1953.

A Coreia do Sul era um país pobre e sem muitos recursos naturais na década de 1950. Mas investiu em educação e saúde da população, avançou rapidamente com a transição demográfica (redução das taxas de mortalidade e natalidade), elevou as taxas de poupança e investimento e garantiu a renovação tecnológica da sua estrutura produtiva.

Desta forma aproveitou muito bem o 1º bônus demográfico (bônus da estrutura etária) pela via do pleno emprego e do trabalho decente. Ao mesmo tempo aproveitou o 2º bônus demográfico, investindo em infraestrutura e construindo grandes empresas inovadoras de penetração internacional, como: Sansung, LG, Kia, Hanwha, Hyundai,etc. Atualmente a Coreia do Sul investe no aproveitamento do potencial do terceiro bônus demográfico (bônus da longevidade).

Por conseguinte, a Coreia do Sul que era um país pobre, passou a ter renda média nas últimas décadas do século XX e deu um salto para país de renda alta e com alto padrão de vida no século XXI. Outros casos de grande sucesso ocorreram em Taiwan, Hong Kong e Singapura. Ou seja, os Tigres Asiáticos são exemplos de países de sucesso para o mundo, pois venceram a pobreza e construíram nações de alto Índice de Desenvolvimento Humano.

O gráfico abaixo, com dados do Maddison Project Database 2020, mostra a renda per capita, em preços constantes em poder de paridade de compra (ppp), para o mundo, o Brasil e a Coreia do Sul entre 1918 e 2018. Nota-se que o Brasil e a Coreia tinham renda per capita abaixo da renda per capita mundial. Entre 1918 (fim da 1ª Guerra Mundial) e 1942 a renda per capita mundial estava em torno de US$ 2,6 mil, enquanto a renda per capita do Brasil e da Coreia estava aproximadamente na metade, em torno de US$ 1,3 mil.

Entre 1940 e 1980, a renda per capita brasileira superou a renda per capita coreana e alcançou a renda per capita mundial. Em 1983 a renda per capita, em torno de US$ 7,3 mil, estava empatada no mundo, no Brasil e na Coreia do Sul. A partir dos anos de 1980 a renda per capita brasileira ficou acima da renda per capita mundial e a renda per capita da Coreia do Sul disparou. Depois da crise de 2015 e 2016, a renda per capita brasileira voltou a ficar abaixo da renda per capita mundial. Em 2018 (último dado disponível), a renda per capita brasileira estava em torno de US$ 14 mil, a renda per capita mundial em US$ 14,5 mil e a renda per capita coreana em US$ 38 mil.

230904b renda per capita brasil coreia do sul mundo

 

Nos últimos 100 anos, o poder de compra do Brasil e do mundo avançou de um nível de renda baixo para a renda média, mas a renda per capita do Brasil estagnou nos últimos 40 anos e não conseguiu dar o passo seguinte para a renda alta. O Brasil está longe de ter a qualidade de vida dos Tigres Asiáticos, pois não aproveitou bem os dois primeiros bônus (aproveitou parcialmente) e não está se preparando para aproveitar o 3º bônus.

O Brasil ficou no meio do caminho, conseguiu vencer a pobreza (venceu a baixa renda), mas tem ficado preso na armadilha da renda média. Evidentemente, ainda dá tempo para promover o salto para o clube dos países ricos, não no nível da Coreia do Sul, talvez no nível de Portugal e Espanha. Porém, o tempo é curto e o esforço precisa ser redobrado.

O IBGE divulgará os dados de sexo e idade do censo 2022 no dia 06 de setembro de 2023. Com certeza, os dados vão mostrar que o envelhecimento populacional veio acima do que indicado pelas projeções de 2018 (sabemos disto porque o total da população veio abaixo do esperado). A partir destes dados, o Instituto poderá realizar as novas projeções populacionais e indicar quando a PIA começará a diminuir.

Mas o fato alvissareiro é que a nação brasileira ainda tem tempo para aproveitar os últimos anos do 1º bônus e, desde já, pode capitalizar os benefícios dos outros dois bônus demográficos. O Brasil ainda é capaz de ser o “País do futuro”, mas precisa trabalhar muito e ter um grande senso de urgência.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI (com a colaboração de GALIZA, F), ENS, maio de 2022
https://ens.edu.br:81/arquivos/Livro%20Demografia%20e%20Economia_digital_2.pdf

ALVES, JED. As oportunidades e os desafios dos bônus demográficos com os novos números do Censo 2022, Folha de São Paulo, 28/06/2023 https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2023/06/as-oportunidades-e-os-desafios-dos-bonus-demograficos-com-os-novos-numeros-do-censo-2022.shtml

OECD (2022), Education at a Glance 2022: OECD Indicators, OECD Publishing, Paris,
https://doi.org/10.1787/3197152b-en.

 

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394