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domingo, 13 de julho de 2025
sábado, 12 de julho de 2025
Aquecimento do oceano transforma o regime de chuvas no Brasil .
Estudo Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica aponta que desastres climáticos relacionados à chuva cresceram 320% nesta década
O Brasil vive um cenário de extremos. Enquanto o Nordeste e o Centro-Oeste enfrentam estiagens prolongadas, o Sul e o Sudeste sofrem com enchentes, deslizamentos e cidades inteiras paralisadas por temporais. O que está por trás desse desequilíbrio? A resposta está no aquecimento conjunto do oceano e da atmosfera — uma combinação que altera profundamente o ciclo das águas no país.
“O oceano é o grande motor climático do planeta”, afirma Ronaldo Christofoletti, coordenador da Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica e membro da Rede de Pesquisadores do INPO (Instituto Nacional de Pesquisas Oceânicas). “E, neste momento, esse motor está girando mais rápido e de forma desordenada.” Ele explica como o aumento das temperaturas do mar e do ar estão transformando os padrões de chuva no Brasil e ampliando o número de eventos extremos com impactos devastadores.
Segundo o recém-lançado relatório “Temporadas das Águas: O Aumento das Chuvas Extremas”, o país registrou 26.767 desastres climáticos relacionados a chuvas entre 1991 e 2023 — número que triplicou nas últimas décadas. As regiões mais afetadas são justamente aquelas sob influência direta do oceano Atlântico.
O elo entre o céu e o mar
Christofoletti explica que o aquecimento dos oceanos intensifica a evaporação e a liberação de umidade para a atmosfera. Esse aumento da umidade, combinado com o aquecimento atmosférico, contribui para o degelo na Antártica e o avanço mais frequente de frentes frias. Quando essas frentes chegam ao Brasil e encontram uma atmosfera já saturada de umidade, favorecem a ocorrência de chuvas mais intensas. Além disso, uma atmosfera mais quente e instável aumenta o risco de tempestades severas
O impacto se traduz em tragédias recorrentes. Em 2023, o litoral paulista registrou o maior volume de chuva em 24 horas da história do país. Já em 2024, o Rio Grande do Sul enfrentou um dos maiores desastres climáticos de sua história recente, com mais de 2 milhões de pessoas afetadas e prejuízos superiores a R$ 88 bilhões, como mostra o estudo.
Modelos desatualizados, riscos ampliados
Para Christofoletti, a fragilidade das previsões climáticas também é parte do problema. “Estamos usando modelos baseados em dados do passado, que não refletem a realidade atual de um oceano mais quente. É como tentar prever o presente olhando pelo retrovisor.” Essa defasagem reduz a capacidade de antecipar desastres e compromete a resposta das autoridades.
Ele defende o fortalecimento do monitoramento em tempo real do oceano e da atmosfera como medida urgente. “O INPO está empenhado em ampliar a pesquisa e monitoramento do oceano, o que é fundamental para entendermos o que está acontecendo no presente, para prevermos o futuro. Sem dados atualizados, ficamos à mercê do acaso climático”, alerta. E ressalta que existem muitas estações climáticas em terra para medir a atmosfera, mas muito pouco monitoramento no oceano.
O impacto na costa e os caminhos da adaptação
As mudanças no regime de chuvas também impactam diretamente os ecossistemas costeiros. No Nordeste, a menor vazão dos rios altera a salinidade dos estuários, comprometendo a pesca artesanal e os meios de subsistência locais. No Sudeste, o excesso de chuva leva poluentes e sedimentos ao mar, afetando a qualidade das águas e a biodiversidade marinha.
Para enfrentar esse cenário, o relatório destaca a importância das Soluções Baseadas na Natureza — como a restauração de manguezais, a ampliação de áreas verdes e a adaptação das cidades com infraestrutura resiliente. Mas, como reforça Christofoletti, nenhuma estratégia será eficaz sem diagnóstico preciso. “Não é possível agir no escuro. Investir em monitoramento é investir em segurança climática.”
A publicação “Temporadas das Águas: O Desafio Crescente das Chuvas Extremas” faz parte da série Brasil em Transformação, que busca alertar a sociedade sobre os impactos e consequências das mudanças climáticas no Brasil. O estudo é da Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica, coordenado pelo Programa Maré de Ciência da Universidade Federal de São Paulo, em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, a UNESCO e a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
Para acessar o estudo completo, acesse o link aqui.
Sobre o INPO
O Instituto Nacional de Pesquisas Oceânicas (INPO) é uma Organização Social vinculada ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
domingo, 6 de julho de 2025
sábado, 5 de julho de 2025
Novo bioplástico refrigerante reduz consumo de energia .
Metafilme sustentável reflete 99% da luz solar e mantém edifícios mais frios mesmo sob calor extremo
Pesquisadores desenvolvem material biodegradável que pode revolucionar o resfriamento passivo em construções e equipamentos, com eficiência comprovada em testes internacionais.
Os refrigeradores radiativos derivados do bioderivados oferecem uma alternativa sustentável aos materiais petroquímicos.
Uma equipe internacional de cientistas desenvolveu um material biodegradável que pode reduzir o consumo global de energia sem usar eletricidade, de acordo com um novo estudo publicado hoje.
O metafilme bioplástico – que pode ser aplicado em edifícios, equipamentos e outras superfícies – resfria passivamente as temperaturas em até 9,2°C durante o pico da luz solar e reflete quase 99% dos raios solares.
O novo filme é um material sustentável e duradouro que pode reduzir o consumo de energia em edifícios em até 20% ao ano em algumas das cidades mais quentes do mundo.
O material reflete quase toda a radiação solar, mas também permite que o calor interno do edifício escape diretamente para o espaço exterior. Isso permite que o edifício permaneça mais frio do que o ar ao redor, mesmo sob luz solar direta.
Notavelmente, o filme continua a ter um bom desempenho mesmo após exposição prolongada a condições ácidas e luz ultravioleta — duas grandes barreiras que historicamente dificultam materiais biodegradáveis semelhantes.
Feito de ácido polilático (PLA) – um bioplástico comum derivado de plantas – o metafilme é fabricado usando uma técnica de separação de baixa temperatura que reflete 98,7% da luz solar e minimiza o ganho de calor.
A maioria dos sistemas de resfriamento radiativo passivo existentes depende de polímeros ou cerâmicas de origem petroquímica, o que levanta preocupações ambientais. Ao utilizar PLA biodegradável, apresentamos uma alternativa verde que oferece alta refletância solar, alta emissão térmica, sustentabilidade e durabilidade.
Em aplicações reais, o metafilme apresentou uma queda média de temperatura de 4,9 °C durante o dia e 5,1 °C à noite. Testes de campo realizados na China e na Austrália confirmaram sua estabilidade e eficiência em condições ambientais adversas. Mesmo após 120 horas em ácido forte e o equivalente a oito meses de exposição externa à radiação UV, o metafilme manteve seu poder de resfriamento de até 6,5 °C.
Talvez o mais significativo seja que as simulações revelaram que o metafilme poderia reduzir o consumo anual de energia em até 20,3%, reduzindo a dependência do ar condicionado.
A descoberta aborda um grande desafio no campo: como conciliar o resfriamento de alto desempenho com a degradação ecológica.
Os pesquisadores agora estão explorando oportunidades de fabricação em larga escala e possíveis aplicações em construções, transporte, agricultura, eletrônica e na área biomédica, incluindo curativos refrescantes.
Referência:
‘A structural bioplastic metafilm for durable passive radiative cooling’
Yangzhe Hou, Yamin Pan, Xianhu Liu, Jun Ma, Chuntai Liu and Changyu Shen.
Cell Reports Physical Science
DOI: 10.1016/j.xcrp.2025.102664
https://doi.org/10.1016/j.xcrp.2025.102664
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
Aumento do nível do mar ameaça cidades costeiras e milhões de vidas no Brasil e no mundo .
Inundações, corrosão de infraestrutura e deslocamento de populações são previsões, com projeções piores que o esperado, atingindo em cheio o Brasil.
Projeções de elevação do nível do mar até 2100 para dois cenários com a quantidade de aumento em metros indicados (leite de 1m; extremo x 4m). Porcentagem e deslocamento total da população indicados no canto inferior direito.
O aquecimento global está impulsionando um aumento sem precedentes do nível do mar, e as consequências para as cidades costeiras e suas populações já são uma realidade preocupante, com projeções que indicam um cenário ainda mais drástico do que o esperado.
Este fenômeno complexo, resultante do aquecimento dos oceanos e do derretimento acelerado de geleiras e calotas polares, está redefinindo o futuro das regiões costeiras, impactando tanto a infraestrutura visível quanto a subterrânea, e ameaçando milhões de pessoas.
Ameaça Subterrânea: Corrosão e Falha da Infraestrutura Essencial
Uma das faces menos visíveis, mas igualmente devastadoras, do aumento do nível do mar é a sua interação com as águas subterrâneas costeiras.
Conforme o nível do mar sobe, o lençol freático costeiro é elevado e, simultaneamente, torna-se mais salgado e corrosivo. Essa intrusão de água salgada no subsolo exacerba a corrosão e a falha de redes complexas de infraestrutura enterrada e parcialmente enterrada em cidades.
Sistemas críticos como:
- Linhas de esgoto e drenagem podem ser comprometidos, levando à mobilização de contaminação urbana.
- Estradas e fundações de edifícios enfraquecem, comprometendo a segurança e a estabilidade das construções.
- Porões e sistemas de drenagem já estão experimentando inundações devido ao aumento dos níveis da água subterrânea.
Essa interação corrosiva ocorre muito antes dos efeitos visíveis das inundações superficiais, constituindo uma “ameaça oculta”. Globalmente, cerca de 1,42 bilhão de pessoas em 1.546 cidades e vilas costeiras baixas estão provavelmente já experimentando esses impactos.
Populações em Risco: O Cenário no Brasil e no Mundo
A ameaça direta de inundações costeiras para as áreas habitadas está crescendo drasticamente. Um estudo da Climate Central aponta que, até o fim deste século, terras que hoje abrigam quase 100 milhões de pessoas em todo o mundo estarão em risco de inundações anuais.
No Brasil, a situação é particularmente alarmante:
- A população em zona de risco de inundação costeira anual em 2030 deverá ser de 1,3 milhão de pessoas.
- Até 2100, esse número deverá aumentar 68%, atingindo 2,1 milhões de brasileiros convivendo com a ameaça de inundações anuais.
- Cidades como Rio de Janeiro, Santos, Recife e Fortaleza, com suas vastas áreas costeiras e de baixa altitude, seriam diretamente afetadas por inundações mais frequentes e severas, comprometendo bairros inteiros, infraestruturas críticas e residências.
Outros países também enfrentam desafios imensos: a China, por exemplo, terá cerca de 52 milhões de pessoas em zonas de risco anual de inundação costeira até 2030, com mais 29 milhões adicionais até 2100. Vietnã, Bangladesh, Índia, Indonésia e Japão também verão milhões de seus cidadãos expostos a ameaças cada vez maiores.
A necessidade de realocar populações de áreas de risco traria desafios sociais e econômicos imensos, demandando investimentos em moradias, infraestrutura e serviços públicos.
Projeções Mais Drásticas e a Urgência da Ação
Novos estudos estão elevando as projeções do aumento do nível do mar, acendendo um alerta ainda mais urgente. Uma pesquisa inovadora, utilizando uma nova abordagem de “fusão” que combina modelos climáticos existentes com a opinião de especialistas, projeta que em um cenário de altas emissões, o nível médio global do mar pode subir entre 0,5 e 1,9 metro até 2100. Este limite superior é 90 centímetros maior do que a projeção mais recente das Nações Unidas. Mesmo em um cenário de baixas emissões, um aumento entre 0,3 e 1,0 metro é considerado “muito provável”.
Além disso, modelos de elevação mais precisos, que utilizam dados de satélite lidar da NASA (superiores aos dados baseados em radar que superestimavam a elevação do solo), revelam que os piores impactos do aumento do nível do mar ocorrerão antes do esperado.
Esses novos dados indicam que os maiores aumentos na área inundada acontecerão após os primeiros 1 a 2 metros de elevação, cobrindo mais do que o dobro da terra do que os modelos antigos previam.
Isso significa que as comunidades costeiras têm menos tempo para se preparar, e a maior parte dos danos pode ser mitigada se as ações forem tomadas antes que o mar suba os primeiros metros.
Impactos Multifacetados para o Litoral Brasileiro
As implicações dessas novas projeções para o Brasil são significativas e exigem atenção urgente. Além das inundações diretas e danos à infraestrutura subterrânea, o aumento do nível do mar representa uma ameaça multifacetada:
- Erosão costeira acelerada: O avanço do mar intensificará a erosão de praias e falésias, ameaçando a estabilidade de construções e a existência de ecossistemas costeiros vitais, como mangues e restingas.
- Salinização de aquíferos e solos: A intrusão de água salgada em aquíferos costeiros comprometerá o abastecimento de água potável e impactará a agricultura em áreas próximas ao litoral. Um estudo da NASA sugere que 77% dos aquíferos costeiros serão afetados por intrusão salina até 2100.
- Prejuízos à economia e turismo: Setores vitais como o turismo serão severamente afetados pela degradação das praias e pela inviabilidade de infraestruturas. Atividades econômicas como a pesca e o transporte marítimo também sofrerão grandes impactos.
- Ameaça a ecossistemas e biodiversidade: Ecossistemas costeiros únicos e ricos em biodiversidade, como manguezais, recifes de coral e restingas, serão severamente impactados, com consequências irreversíveis para a fauna e flora locais.
Adaptação e Mitigação
Diante desse cenário, a implementação imediata de políticas de adaptação e mitigação robustas é crucial. Atualmente, a maioria das medidas de adaptação em cidades costeiras é considerada inadequada em termos de profundidade, abrangência e velocidade.
Embora regiões mais ricas tendam a implementar medidas técnicas como diques e planejamento urbano inovador, em regiões menos desenvolvidas, as medidas focam mais em mudanças de comportamento.
No entanto, construir barreiras físicas como diques é caro e leva décadas para ser implementado. É fundamental que as cidades costeiras priorizem o planejamento e a implementação de medidas de adaptação eficazes, que considerem tanto os impactos nas infraestruturas quanto nas comunidades.
Isso inclui desde o planejamento urbano sustentável e a construção de barreiras físicas até a proteção e restauração de ecossistemas costeiros, que atuam como defesas naturais, e, de forma mais ampla, uma drástica redução das emissões de gases de efeito estufa.
A ação coordenada entre cientistas e governos, informada por pesquisas contínuas, será crucial para desenvolver soluções integradas e sustentáveis e garantir um futuro resiliente para as cidades costeiras.
O futuro do planeta e de suas populações costeiras depende de uma resposta rápida e decisiva às evidências científicas que continuam a surgir.
Fontes:
Derretimento de gelo acelera e nível do mar ameaça cidades costeiras
Aumento do nível do mar deve afetar mais de 1 milhão de brasileiros em 2030
Infraestrutura costeira é vulnerável ao aumento do nível do mar
Piores impactos do aumento do nível do mar ocorrerão antes do esperado
in EcoDebate, ISSN 2446-9394