terça-feira, 28 de outubro de 2025
segunda-feira, 20 de outubro de 2025
sábado, 18 de outubro de 2025
O calor extremo que ameaça as salas de aula .

Europa já debate adaptação climática escolar enquanto Brasil mantém inércia perigosa
Ondas de calor afetaram 242 milhões de estudantes globalmente em 2024, mas escolas brasileiras seguem sem infraestrutura adequada para enfrentar temperaturas extremas que podem ultrapassar 40°C
Por Henrique Cortez
Enquanto a Europa desperta para a necessidade urgente de adaptar suas escolas às ondas de calor cada vez mais intensas, o Brasil permanece em um silêncio perigoso diante de um desafio que já bate à nossa porta.
A questão não é mais se as mudanças climáticas afetarão nossas crianças e professores nas salas de aula, mas quanto tempo ainda levaremos para agir.
Na Itália, onde apenas 6% das escolas possuem ar-condicionado, o debate sobre adaptação climática escolar ganhou contornos de política pública. A Sardenha convocou discussões nacionais sobre o tema, reconhecendo que “o clima mudou e não podemos continuar com a infraestrutura escolar de 50 anos atrás”. França, Espanha e Inglaterra seguem caminhos similares, repensando não apenas a infraestrutura física, mas também calendários e horários escolares.
O cenário brasileiro, contudo, revela uma inércia preocupante. Apesar de enfrentarmos ondas de calor de severidade crescente e temperaturas que frequentemente ultrapassam os 40°C em várias regiões, a discussão sobre adaptação escolar às mudanças climáticas é praticamente inexistente.
Nossas prefeituras, historicamente omissas no combate ao aumento das temperaturas urbanas e à formação de ilhas de calor, estendem essa negligência às instituições de ensino.
As consequências dessa inação são alarmantes. A exposição prolongada ao calor extremo pode causar desde desconforto térmico e desidratação até doenças cardiovasculares e respiratórias mais graves. Em casos extremos, pode levar à exaustão térmica, insolação e morte.
Crianças e idosos – grupo no qual se enquadram muitos de nossos professores – são particularmente vulneráveis a esses efeitos.
As ondas de calor já matam mais de 150 mil pessoas anualmente no mundo. No Brasil, a inadequação de nossa infraestrutura urbana intensifica esses efeitos, comprometendo não apenas a saúde pública, mas também a qualidade da educação. Como esperar que estudantes e professores mantenham o rendimento em salas abafadas, com temperaturas que podem ultrapassar os 35°C?
A urbanização desordenada, a falta de planejamento urbano sustentável e a escassez de áreas verdes em nossas cidades agravam exponencialmente o problema. O resultado é um sistema educacional cada vez mais pressionado por condições ambientais adversas, enquanto o sistema de saúde enfrenta sobrecarga crescente devido ao aumento de internações relacionadas ao calor.
A adaptação climática das escolas não é apenas uma questão de conforto, mas de direitos fundamentais: à educação, à saúde e à vida. Envolve desde a instalação de sistemas de refrigeração adequados até o redesenho de espaços escolares com mais ventilação natural, áreas verdes e materiais construtivos apropriados. Inclui também a revisão de calendários escolares e a criação de protocolos de emergência para dias de calor extremo.
O momento de agir é agora. Não podemos esperar que tragédias nos forcem a despertar para uma realidade que a ciência já comprovou e que nossos termômetros confirmam diariamente. A Europa nos mostra que é possível e necessário repensar a educação em tempos de mudanças climáticas.
A pergunta que fica é simples, mas urgente: quando o Brasil começará a proteger verdadeiramente suas crianças e professores dos efeitos do aquecimento global?
Nossas escolas – e nossas futuras gerações – não podem mais esperar por uma resposta.
Henrique Cortez, jornalista e ambientalista, é editor do EcoDebate.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
Moringa: Água Limpa e Vida na Amazônia .

Estudos indicam que 1 grama de Moringa em água turva pode remover até 90% das impurezas e bactérias
Artigo de Adriana Ribeiro
A Moringa é uma aliada poderosa na transformação social e na garantia de direitos fundamentais. Originária da Índia, essa planta chegou ao Brasil em 1839 e, além de ser nutritiva, possui uma propriedade pouco conhecida: sua capacidade de tratamento de água.
Em regiões da Amazônia onde mais de 1,2 milhão de pessoas ainda sofrem com a falta de acesso à água potável, a Moringa atua como um recurso natural e acessível para garantir saúde, segurança alimentar e qualidade de vida.
Na campanha da água da REPAM, mais de 500 famílias já foram beneficiadas com treinamentos sobre cultivo, colheita e uso correto da Moringa para tratamento da água. As sementes no preparo da solução líquida tornam-se um passo concreto para que famílias tenham acesso a um dos direitos mais essenciais: água limpa.
Estudos indicam que 1 grama de Moringa em água turva pode remover até 90% das impurezas e bactérias, tornando a água segura para consumo, e dependendo da água a ser tratada esses resultados podem ser ainda mais favoráveis quando combinados a processos de tratamentos como a filtração e a desinfecção (por cloro ou solar);
Essa iniciativa vai além da educação; é um empoderamento social. Ao aprenderem a utilizar a Moringa, as famílias conquistam autonomia e proteção para seus filhos, prevenindo doenças e fortalecendo a saúde coletiva.
A Moringa, portanto, é mais do que um superalimento: é vida, autonomia e esperança. Ela conecta ciência, tradição e ação social, mostrando que soluções simples e naturais podem transformar realidades complexas. Como sociedade, devemos apoiar e replicar iniciativas que levem conhecimento e água limpa para quem mais precisa.
Garantir água potável é um direito humano. Com a Moringa, esse direito se torna realidade em comunidades amazônicas.
Cada ação, cada ensinamento, cada gesto de cuidado é um passo para um futuro mais justo, saudável e sustentável.
* Adriana Ribeiro – engenheira Ambiental e Sanitária, e Pós Doutora em Engenharia Agrícola
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
Nanopartículas de plástico contaminam partes comestíveis de vegetais .

Estudo fornece a primeira evidência científica de que microplásticos são absorvidos pelas raízes de plantas e se acumulam em tecidos que são consumidos pelos seres humanos.
Um estudo alarmante da University of Plymouth, no Reino Unido, trouxe à tona uma nova dimensão da crise global da poluição por plásticos: a contaminação direta da nossa cadeia alimentar. Pela primeira vez, cientistas comprovaram que nanopartículas de plástico são capazes de penetrar nas raízes de vegetais e se acumular em suas partes comestíveis, chegando diretamente ao prato do consumidor.
A pesquisa, publicada recentemente, focou em dois tipos de culturas de grande importância global: a alface (Lactuca sativa) e a couve-flor (Brassica oleracea). Os cientistas expuseram as plantas, desde a semente até a maturidade, a água contaminada com nanopartículas de plástico fluorescentes, pequenas o suficiente para serem medidas em bilionésimos de um metro.
Utilizando técnicas de imagem de alta precisão, os pesquisadores rastrearam o caminho dessas partículas minúsculas. Os resultados foram inequívocos: as nanopartículas foram absorvidas pelas raízes das plantas e, através de seu sistema vascular, se translocaram e se acumularam nos tecidos das folhas, caules e, no caso da couve-flor, na própria “cabeça” que é consumida – conhecida como curdo.
Implicações para a saúde e o meio ambiente
A descoberta levanta preocupações urgentes sobre a segurança alimentar e os impactos na saúde humana a longo prazo. A contaminação por microplásticos já foi detectada em água potável, frutos do mar e até no sal de cozinha.
No entanto, esta é a prova mais direta de que os plásticos podem ingressar e se bioacumular em plantas terrestres, que são a base da alimentação de bilhões de pessoas.
“Essas descobertas são significativas porque comprovam que partículas plásticas em escala nanométrica não apenas aderem à superfície externa de uma planta, mas são internalizadas por ela. Isso abre uma nova frente de investigação sobre os potenciais efeitos toxicológicos dessa contaminação para a saúde humana quando consumimos esses vegetais”, analisa Henrique Cortez, ambientalista e editor do EcoDebate.
Como a contaminação acontece?
A principal via de contaminação identificada pelo estudo é a irrigação com água contaminada. Isso inclui o uso de águas residuais (esgoto) tratadas ou não, e águas superficiais poluídas, uma prática comum na agricultura em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil.
A degradação natural de resíduos plásticos maiores no solo também pode liberar essas nanopartículas, que são então absorvidas pelas plantações.
Um alerta para a agricultura e políticas públicas
O estudo da University of Plymouth serve como um alerta crítico para agências reguladoras, agricultores e governos. Ele evidencia a necessidade urgente de:
Melhorar os sistemas de tratamento de água: Garantir que a água usada na irrigação seja livre de contaminantes microplásticos.
Avançar na pesquisa: Investigar os níveis reais de contaminação em plantações comerciais e os efeitos específicos na saúde humana.
Repensar a gestão de resíduos: Combater a poluição plástica na fonte é a medida mais eficaz para prevenir que esses materiais cheguem ao solo e aos cursos d’água.
A pesquisa não quantifica os riscos imediatos, mas deixa claro que a presença de plásticos dentro de nossos alimentos não é mais uma hipótese distante, mas uma realidade que demanda atenção e ação imediatas.
Fonte: University of Plymouth. “First evidence that plastic nanoparticles can accumulate in the edible parts of vegetables”. Plymouth.ac.uk. Disponível em: https://www.plymouth.ac.uk/news/first-evidence-that-plastic-nanoparticles-can-accumulate-in-the-edible-parts-of-vegetables.
Referência: Clark et al: Determining the accumulation potential of nanoplastics in crops: An investigation of 14C-labelled polystyrene nanoplastic into radishes – Environmental Research, DOI: 10.1016/j.envres.2025.122687
Nota da Redação: Sobre o tema de “Plásticos nos alimentos” sugerimos que leia, também:
Microplásticos contaminam o solo agrícola e chegam aos alimentos
in EcoDebate, ISSN 2446-9394