Não perca a passagem do cometa Ison, que já pode ser visto a olho nu
Na semana que vem, o cometa vai atingir o ponto mais próximo do Sol. Se passar pela estrela sem se desintegrar, seu brilho ficará mais intenso
Depois de muita espera, o cometa Ison já pode ser observado sem a ajuda de equipamentos. No dia 13 deste mês, o cometa atingiu um brilho dez vezes mais intenso e, com isso, chegou ao limite mínimo para ser visível a olho nu, ainda que com pouca nitidez. Na próxima semana, o Ison deve atingir seu ponto máximo de proximidade com o Sol. Se passar pela estrela sem se desintegrar, apresentará um brilho mais forte – mas ainda abaixo da expectativa gerada na época de sua descoberta.
Com o passar dos meses, o cometa não apresentou a evolução esperada. Em julho deste ano, um estudo feito na Colômbia já afirmava que o Ison não seria o mais brilhante. Ignacio Ferrin, astrônomo e especialista em cometas da Universidade de Antioquia, declarou que o brilho está estável desde janeiro.
Previsões – O futuro do Ison ainda é incerto. Ele pode simplesmente se desintegrar a qualquer instante de sua trajetória. Caso sobreviva até a aproximação máxima com o Sol, prevista para o dia 28 de novembro, existe o risco de que o calor intenso e a força gravitacional façam o cometa se fragmentar e desaparecer. Em uma hipótese mais otimista, ele pode passar ileso perto do Sol e ganhar um brilho ainda mais intenso.
Segundo os especialistas ouvidos pelo site de VEJA, ainda não é possível dizer qual dessas hipóteses tem mais chances de se concretizar. "Alguns cometas já passaram mais longe do Sol do que o Ison deve passar e não sobreviveram, enquanto outros, mais próximos, sobreviveram", afirma Picazzio.
Para Gustavo Rojas, astrofísico da Universidade Federal de São Carlos, ainda que sobreviva à passagem pelo Sol, o Ison não deve ficar entre os cometas mais brilhantes já observados. "A evolução do brilho do cometa até agora não atendeu as expectativas projetadas inicialmente", diz Rojas.
Formação – Os cometas se tornam mais brilhantes depois da aproximação com o Sol porque o calor intenso transforma o gelo de sua composição em vapor de água de forma mais rápida. O cometa continua se movimentando, e esse material que fica para trás, ao refletir a luz do Sol, contribui para aumentar seu brilho e a extensão da cauda.
Esta é a primeira vez que a passagem desse cometa pelo Sistema Solar é registrada, e as estimativas são de que ele demore 1,2 milhão de anos para dar a volta completa. A órbita calculada do Ison indica que ele provém da nuvem de Oort, uma espécie de redoma com trilhões de rochas a quase um ano-luz do Sol. É de lá que costumam vir os cometas de longo período, que demoram mais de 200 anos para percorrer seu trajeto de ida e volta ao Sol.
Dicas para observar o cometa
• Quando procurar? O melhor momento para ver o Ison nessa semana é logo antes do nascer do Sol, entre 4h30 e 6h da manhã, sempre na direção Leste (nascente)
• Como? Locais com pouca iluminação são mais indicados. Binóculos, lunetas e telescópios facilitam a visualização, mas é preciso ter cuidado para jamais olhar diretamente para o Sol através desses instrumentos
• O que esperar ver? A olho nu, o Ison parece uma estrela borrada, em tom esverdeado. Com instrumentos amadores ele ganha um pouco de definição, mas ainda assim não é possível ver a cauda
• Até quando? Como o Ison está cada vez mais perto do Sol, quando ele aparece o céu já está clareando, de modo que ele fica visível apenas por um curto intervalo de tempo. Após o próximo fim de semana, a visualização deve ficar mais difícil. A partir do dia 27, quando o Ison chega ao ponto mais próximo do Sol, não será possível vê-lo. Se ele sobreviver à aproximação, deve voltar a ficar visível no início de dezembro, principalmente no Norte e Nordeste do Brasil. A partir de janeiro, a observação do cometa deve ficar restrita ao Hemisfério Norte
O Ison foi visto pela primeira vez no ano passado, por dois astrônomos amadores na Rússia. À época, os cientistas cogitaram tratar-se do cometa mais brilhante já registrado, visível até à luz do dia. "O Ison foi descoberto a uma distância grande e já tinha um brilho relativamente forte, o que levou os especialistas a acreditar que ficaria muito brilhante quando se aproximasse do Sol", explica Enos Picazzio, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo.
Os grandes cometas dos últimos 50 anos
Os astrônomos utilizam uma escala de magnitudes para indicar o brilho dos objetos celestes. Nessa escala, quanto menor o número, maior o brilho, sendo que valores negativos indicam corpos muito brilhantes. As imagens foram capturadas com exposições longas, o que realçou o brilho e a extensão da cauda dos cometas.
Ikeya-Seki (1965)
Maynard Pittendreigh
Foi o cometa mais brilhante do século 20, e, provavelmente, o mais brilhante em milênios. Em seu brilho máximo, atingiu magnitude -10, podendo ser visto até durante o dia. Após a passagem pelo Sol, se fragmentou em três pedaços.
West (1976)
P. Stättmayer/ESO
Descoberto em uma placa fotográfica pelo astrônomo dinamarquês Richard West em agosto de 1975, o cometa atingiu o periélio (ponto mais próximo do Sol) em fevereiro do ano seguinte. Sua magnitude máxima foi -3.
Hyakutake (1996)
George Shelton/AFP
Descoberto em no final de janeiro de 1996 pelo astrônomo amador japonês Yuji Hyakutake, o cometa passou próximo à Terra em março daquele ano. Por ter passado a menos de 15 milhões de quilômetros da Terra, apareceu enorme no céu e atingiu magnitude 0.
Hale-Bopp (1997)
E. Slawik/ESO
Foi talvez o cometa mais observado e estudado do século, descoberto independentemente por dois astrônomos amadores americanos, Alan Hale e Thomas Bopp. Após a passagem periélica, ele ficou tão brilhante (magnitude -2) que pôde ser visto até das grandes cidades do Hemisfério Norte. No total, pôde ser observado a olho nu durante 18 meses.
McNaught (2007)
S. Deiries/ESO
Descoberto no observatório de Siding Spring, na Australia, foi o cometa mais brilhante desde o Ikeya-Seki. Permaneceu invisível a olho nu até a passagem periélica (ponto mais próximo do Sol), quando começou a aumentar de brilho. Atingiu magnitude máxima de -5,5.
Lovejoy (2011)
Y. Beletski/ESO
Este cometa surpreendeu os astrônomos no final do ano passado. Assim como o Ikeya-Seki, o Lovejoy passou tão perto do Sol que chegou a atravessar a sua coroa, a camada solar mais externa e rarefeita. Esse rasante causou uma grande atividade no núcleo do cometa, aumentando consideravelmente seu brilho. A magnitude máxima atingida foi -4, o que o tornou o cometa mais brilhante desde o McNaught.
Fonte : Revista Veja.
Nenhum comentário:
Postar um comentário