Produção da agricultura familiar para o biodiesel ainda é limitada por infraestrutura
Dificuldades para a inserção de pequenos produtores na cadeia do biodiesel estão ligadas às fragilidades de infraestrutura das cooperativas, especialmente as más condições das estradas
Por Antonio Biondi
De Santa Isabel e Bonópolis (GO), e Nova Ubiratã (MT) – Uma das maiores dificuldades para a inserção da agricultura familiar na cadeia do biodiesel tem a ver com as fragilidades de infraestrutura das cooperativas. Cada pequena ou média cooperativa visitada pela Repórter Brasil para a produção deste especial sobre os dez anos do Programa Nacional de Uso e Produção de Biodiesel (PNPB) tem nesse ponto uma de suas questões-chave na atualidade. Uma questão, aliás, que pode representar o impulso que faltava para o sucesso (ou o fracasso) definitivo de determinada cooperativa.
Em Santa Isabel, município do centro-goiano, o assentamento a partir do qual a Cooperativa Mista dos Agricultores Familiares do Assentamento Nova Aurora (Coopafana) se organizou é surpreendentemente atravessada pela ferrovia Norte-Sul. Os trilhos, famosos nacionalmente pelos mais diversos motivos (nem sempre positivos), cortaram ao meio alguns dos lotes dos assentados. Ou separou alguns lotes dos demais. Prejuízo imediato e certeiro. Contudo, no médio e longo prazo, os assentados “esperam que a ferrovia tenha resultado”, conforme explica José Pereira Vinhal, o presidente da cooperativa. Ele explica que no projeto original a ferrovia ia contar com um porto seco no assentamento, mas que “não vai ter mais”. O motivo? A cidade de Goianésia, mais forte que Santa Isabel politicamente, conseguiu levar o porto seco para lá.
Para se chegar a Bonópolis (GO), cidade-base das atividades da Cooperativa Mista dos Agricultores Familiares de Amaralina (Coomafa), o trajeto não é dos mais simples. Bonópolis fica um tanto ao norte de Goiás, e um quanto a oeste do Estado. É quase Tocantins, quase Mato Grosso. Para se chegar a Bonópolis, o caminho é saindo da goiana Alto Horizonte (de onde se chegou vindo de Campinorte). Anda-se um primeiro trecho de 14 km de terra. Depois, são 50 km de asfalto perfeito, um verdadeiro tapete na BR-080. E depois são mais 42 km de terra.
Rodovia que ‘termina no mato’Há poucas, ou quase nenhuma placa no caminho. Nenhum posto de gasolina ou lanchonete. E pouquíssimas almas vivas. Uma placa pintada em uma lata de “Suvinil 18 litros” indica que para se chegar a Bonópolis é necessário virar à direita ao final da BR-080. Apesar dos problemas visíveis, a atual situação da infraestrutura local já deixa a população mais animada. “Melhorou muito”, assegura Anasor Ferreira, presidente da Coomafa. Mas ele afirma que a obra na BR na região “parou há quase três anos”, sendo necessário “terminar o trecho de Mara Rosa até São Miguel do Araguaia”.
O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do governo federal prevê investimentos de R$ 251,9 milhões até 2014 para o trecho goiano da BR-080, de Uruaçu a São Miguel, passando por Mara Rosa, Amaralina e Bonópolis. Outros R$ 77,5 milhões estão previstos para depois de 2014. No site do PAC, o estágio desse trecho da rodovia era apontado como “em obras”. No trecho percorrido de Alto Horizonte a Bonópolis, boa parte da estrutura mais pesada, como terraplenagem, galerias para escoamento da água, além dos dutos para passagem dos córregos, rios e veredas sob a rodovia, já havia sido feita. E encontrava-se então abandonada em meio à bela vegetação da região, um pouco Pantanal, um pouco Amazônia, com um quê de Cerrado único.
De acordo com a assessoria de comunicação do Ministério dos Transportes, no trecho percorrido pela reportagem “há obras remanescentes do convênio que existia entre o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e a Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop). Como o convênio não foi prorrogado, esse remanescente de obras seria licitado pelo Regime Diferenciado de Contratação – Contratação Integrada.
Conforme registrado pela dona Romana, dona da única e principal pousada de Bonópolis, “a rodovia termina no mato”. E começa inusitadamente após uma fazenda. Seu início brusco parece até atender a algum interesse específico – e seu término repentino também.
Escoamento da produção
Voltando às cooperativas, é evidente que “sem a estrutura, fica problema para comercializar e escoar o produto. Já melhorou bastante, mas ainda é problema”, conclui Anasor Ferreira. “Quando a gente plantou soja, a gente dizia que comprava mais caro e vendia mais barato”, pois o frete comia boa parte da produção, em cada etapa dela.
Voltando às cooperativas, é evidente que “sem a estrutura, fica problema para comercializar e escoar o produto. Já melhorou bastante, mas ainda é problema”, conclui Anasor Ferreira. “Quando a gente plantou soja, a gente dizia que comprava mais caro e vendia mais barato”, pois o frete comia boa parte da produção, em cada etapa dela.
Em Nova Ubiratã (MT), as dificuldades relacionadas à infraestrutura também afetam a produção e a comercialização dos assentados locais. Dilson Pedro Goi, presidente da Cooperativa Agrícola Mista de Mini, Pequenos e Médios Produtores Rurais do Município de Nova Ubiratã (Coopertã), explica que, no caso dos agricultores dos assentamentos que cultivam a soja na região, a maioria está plantando quase a área toda com o grão.
“No assentamento Cedro Rosa, cada um planta 37 hectares, 35 hectares do lote de 40 hectares. No Entrerios, com lotes de 70 hectares, plantam na faixa dos 50 hectares”. De todo modo, conta ele, começaram há pouco tempo no cultivo, sendo ainda poucos os assentados plantando, o que dá um total de aproximadamente 1.300 hectares.
“Além disso, não tem estrada para eles trazerem a soja aqui para Nova Ubiratã”, explica Dilson. Na realidade, existem “só 20 km de asfalto, mais 130 km de terra. Levam então para Feliz Natal, que fica a apenas 70 km de estrada de chão”. Mas o percurso continua. “Depois, é preciso levar a soja para Vera, de onde volta para Sorriso” – que originalmente está a pouco mais de 80 km de Nova Ubiratã. “O frete fica mais caro, e esses assentados também não participam do Selo Social [do PNPB] conosco”. Ou seja, “perdem três ou quatro reais por saca no frete, e mais cerca de três reais por não fazer parte do Selo”, estima Dilson.
Fonte : Repórter Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário