Produção e consumo crescente de carne afetam desmatamento na Amazônia, dizem especialistas
O consumo crescente de proteína animal, principalmente carne bovina e de aves, é um dos fatores responsáveis pelo aumento do desmatamento na Amazônia e no Cerrado, biomas severamente impactados pela criação de gado e plantação de soja. O alerta é de especialistas, que participaram na quarta-feira (1º) de debate referente ao Dia da Sobrecarga da Terra, no Museu do Amanhã, no Rio.
A data marca o dia do ano em que a humanidade consumiu mais recursos do que a capacidade regenerativa do planeta. Este ano, o foco foi a produção de carne e os impactos no meio ambiente. A coordenadora de Programas e Projetos de Justiça Socioambiental da Fundação Heinrich Böll Brasil, Maureen Santos, destacou que existe uma responsabilidade pessoal, de cada um repensar seus hábitos de consumo, e também coletiva, que passa pela participação política.
Segundo ela, o aumento no consumo de carne no Brasil e em todo o mundo pressiona as áreas florestais, que acabam desmatadas e queimadas, para dar lugar a pastagens ou plantações de soja e milho, utilizados como ração na alimentação de bois, porcos e frangos.
“A cadeia da proteína animal se expandiu com o aumento da produção de commodities [grãos para exportação] no Cerrado. Foi empurrada para a Amazônia, com a criação de gado, em um volume gigantesco de hectares. A soja abrange 33 milhões de hectares e a pecuária, mais de 200 milhões de hectares. Não tem como resolver o problema do desmatamento sem olhar para a pecuária e o monocultivo [de soja]. É uma questão que tem de ser enfrentada”, disse Maureen.
Consumo de carnes
Os hábitos individuais também têm grande impacto sobre o meio ambiente, pois o consumo de carnes, processadas ou in natura, impulsiona o desflorestamento e a abertura de áreas para plantação de gramíneas, segundo a nutricionista Alessandra Luglio, coordenadora do Departamento de Medicina e Nutrição da Sociedade Vegetariana Brasileira.
“O seu bife é o principal devastador da floresta, principalmente pelo fato de que se precisa abrir campos para o gado e plantar alimentos como soja e milho para a pecuária, não só o gado, mas também para o frango, o porco e o peixe, animais de consumo que são criados de uma forma intensiva. Além disso, a produção de carne produz gases de efeito estufa, que estão gerando secas e mudanças climática, alteradoras do ecossistema”, disse Alessandra.
Documentário
O debate no Museu do Amanhã foi precedido pela exibição do documentário Sob a Pata do Boi, que aborda os impactos da produção pecuária e de grãos sobre o meio ambiente. A direção é de Márcio Isensee e Sá, produzido com apoio da organização O Eco e do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
De acordo com o documentário, a Amazônia tem hoje 85 milhões de cabeças de gado, três para cada habitante. Na década de 1970, quase não havia bois e a floresta estava intacta. Desde então, uma porção equivalente ao tamanho da França desapareceu, da qual 66% virou pastagem. Segundo o Atlas da Carne, publicado pela Fundação Heinrich Böll, o Brasil é o segundo maior produtor de soja, tendo saído de 66,5 milhões de toneladas em 2012, para 94,5 milhões de toneladas em 2015, atrás apenas dos Estados Unidos, que produziu 108 milhões de toneladas em 2015.
Em 2009, o atlas mostra que o Brasil já tinha 185 milhões de cabeças de gado, praticamente uma para cada habitante.
Por Vladimir Platonow, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 02/08/2018
Nenhum comentário:
Postar um comentário