Infraestrutura verde: um caminho para a sustentabilidade hídrica
Infraestrutura verde é um instrumento que permite obter benefícios ecológicos, econômicos e sociais através de soluções baseadas na natureza, podendo assegurar múltiplas funções e benefícios num mesmo espaço.
Por Antonio Souza
Na gestão dos recursos hídricos, por exemplo, as florestas são capazes de filtrar sedimentos, nutrientes e resíduos sólidos, impedindo que cheguem aos cursos d’água. A incorporação da infraestrutura natural — ou infraestrutura verde — nos planos de gestão hídrica pode potencializar a eficiência, o desempenho e a resiliência das estruturas convencionais, reabilitando a paisagem a ofertar água de melhor qualidade às próprias estações de tratamento. Um estudo realizado pela WRI Brasil em parceria com a TNC e a Fundação O Boticário, concluiu que o estado do Rio de Janeiro pode economizar R$ 156 milhões em 30 anos no tratamento de água, se investir em infraestrutura verde, realizando a restauração de três mil hectares de áreas com alto potencial de erosão.
Sabendo dos benefícios dessa ferramenta o Comitê Guandu é pioneiro na implementação de projetos que são fundamentados na insfraestrutura verde, buscando serviços hidrológicos e impactos ambientais e sociais. Para fomentar essa iniciativa o Comitê conta hoje com o Grupo de Trabalho de Infraestrutura Verde (GTIV). Segundo o Engenheiro Agrônomo Hendrik Mansur (TNC), Coordenador do Grupo, o objetivo do GTIV é contribuir para elaboração e implantação de soluções baseadas na natureza, visando restaurar o ambiente rural da bacias e assim contribuir para a melhoria da qualidade e quantidade de água, bem como preservar a biodiversidade.
Um programa do Comitê Guandu-RJ, baseado em soluções na natureza, que é exemplo e alvo de estudos dentro e fora do país, é o Produtores de Água e Floresta (PAF). O PAF é desenvolvido há 10 anos pelo Colegiado, com coordenação técnica da AGEVAP e parceria com prefeituras municipais e instituições como a TNC. Atualmente com execução da ONG Crescente Fértil e do Consórcio Técnico Água e Solo/ABG, o programa já resultou, em uma década, na conservação e restauração de mais de 5 mil hectares de mata atlântica, além de beneficiar produtores locais com retribuições financeiras, através do pagamento por serviços ambientais (PSA), ou seja, gerando benefícios ambientais, econômicos e sociais.
O PAF já beneficiou mais de cem produtores que contribuiram de forma direta para os seus resultados.“Além do benefício social, o projeto incentiva os produtores na adoção de boas práticas em suas propriedades, o que, aliado às atividades de conservação e restauração florestal desenvolvidas, contribuem para melhoria da qualidade e garantia da disponibilidade dos recursos hídricos. As florestas desempenham um papel fundamental no ciclo hidrológico. Durante o processo de fotossíntese, a vegetação retira água do solo através de suas raízes e a libera para atmosfera na forma de vapor. Esse processo, denominado evapotranspiração, é responsável por mais da metade do aporte de umidade atmosférica derivada da terra.
Estudos recentes mostram que 65% da precipitação que ocorre na superfície terrestre é oriunda da evapotranspiração ocorrida no próprio ambiente terrestre, destacando a importância das florestas para o ciclo hidrológico global. Adicionalmente, a presença de cobertura florestal aumenta o aporte de matéria orgânica no solo, o que, aliado a outros fatores, aumenta sua taxar de infiltração, contribuindo para o abastecimento de nossos mananciais. São inúmeros os benefícios hidrológicos promovidos pelas florestas“, explicou Gabriela Teixeira, Engenheira Florestal e Especialista em Recursos Hídricos da AGEVAP, delegatária do Comitê Guandu-RJ.
Hoje, o Produtores de Água e Floresta é desenvolvido nos municípios de Rio Claro, Mendes, Engenheiro Paulo de Frontin e Vassouras, conservando e restaurando os biomas de nascentes e sub bacias contribuintes à bacia do Guandu, que abastece cerca de 9 milhões de pessoas na Baixada Fluminense.
Outra iniciativa do GTIV é a elaboração dos Planos Municipais de Mata Atlântica (PMMA) para os municípios da bacia. Trata-se de um instrumento de gestão territorial, no qual são indicadas as estratégias prioritárias tanto para Conservação como para Recuperação da Mata Atlântica local. O PMMA é um instrumento legal de planejamento importante para o município, que contribuirá para elaboração/aperfeiçoamento de políticas publicas para a área rural do município. Em um processo participativo o PMMA deve conter, pelo menos:
- Diagnóstico da vegetação nativa;
- Indicação dos principais vetores de desmatamento;
- Áreas prioritárias para conservação e recuperação da vegetão nativa;
- Indicação de ações preventivas ao desmatamento e de conservação; e
- Utilização sustentável da Mata Atlântica no município.
“Os PMMA serão elaborados por uma empresa contratada pelo Comitê Guandu, através da AGEVAP. Por meio de um acordo de cooperação, os municípios participarão de todas as etapas da elaboração do plano, o que permitirá integração de Políticas Públicas de Meio Ambiente e de Recursos Hídricos. Com base nas informações dos PMMA será elaborado o Plano Diretor Florestal da Região Hidrográfica do Guandu, com base nas informações levantadas nos municípios’, explicou Hendrick Mansur (TNC).
Com as recomendações de distanciamento social da OMS, e os decretos do Estado do Rio de Janeiro, em enfrentamento a pandemia do COVID-19, o grupos seguem seus trabalhos de forma remota, para que o avanços nos projetos baseados em infraestrutura verde continuem, e é claro, seus benefícios ambientais e sociais.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/04/2020
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