Os Três Pilares da Sustentabilidade e o Dilema Dentro da Área de Negócios, artigo de José Austerliano Rodrigues
[EcoDebate] Embora a palavra sustentabilidade signifique coisas diferentes para pessoas diferentes, aqui é utilizada com base na definição oferecida pelo Our Common Future, acima citada, que deu origem ao chamado Triple Bottom Line (TBL), conceito proposto pelo guru da sustentabilidade John Elkington, que adotou uma série de indicadores de gestão e ferramentas de responsabilidade social para explicar (num sentido da contábil) os custos e benefícios de prática sustentável.
O TBL ou os três “pilares” da sustentabilidade (ambiental, econômica e social) alcançou proeminência em muitos campos, mas o “social” (ou sustentabilidade social) tem sido negligenciado e subdesenvolvido ou usado de forma simplista e não teorizada. Afirma-se que até mesmo dentro da área de negócios e corporativa há dúvidas sobre a utilidade do 3TBL” (MELLES, et al 2011).
No passado, vários discursos foram promovidos e a marca de sustentabilidade, a exemplo da primeira onda do ‘verde’ na década de 80 e da segunda onda de ‘eco’ na década de 90, especialmente após a Reunião de Cúpula da Terra no Rio de Janeiro, Brasil, em 1992. Seguindo o relatório da Comissão Brundtland tentativas foram feitas para utilizar o esquema triple bottom line, como é feito pela Global Report Iniciative (GRI) e várias empresas de consultoria. Como resultado, a pressão está agora em todas as organizações (sejam elas privadas, públicas ou não-governamentais) para incorporar uma visão de sustentabilidade como parte de seu núcleo de negócio.
Apesar de atrair considerável atenção de empresas e acadêmicos de todo o mundo, há uma literatura mais recente que critica a abordagem TBL. Os críticos argumentam que a comunicação em um nível organizacional não faz sentido, visto que sustentabilidade é um conceito global. Além disso, afirma-se que a TBL implica que o importante é apenas o que pode ser medido e encoraja que o ambiente, economia e a sociedade sejam considerados como três contas separadas, em vez de uma.
Argumenta-se que é quase impossível conciliar a tensão entre os esforços para melhorar a sustentabilidade e a necessidade de manter uma linha de lucro no setor corporativo. Apesar de manter negócios como de costume, as corporações e o TBL tentam lidar com um objetivo puramente orientado para o mercado, em vez de questões sociais. “Nós também estamos questionando a eficácia de se engajar organizações nos esforços para aumentar a sustentabilidade, acreditando que os atuais esforços organizacionais para monitorar e reportar seu desempenho de sustentabilidade é improvável que resulte em mudança significativa” (MITCHELL et al, 2012).
Em suma, afirma-se que as interpretações sociais da sustentabilidade social são fracas, devido à “falta de um enquadramento adequado para que se operacionalize o conceito de sustentabilidade social” (PARTRIDGE, 2013). Como resultado disso, desde o seu início, “o debate sobre o desenvolvimento sustentável foi dominado por questões ambientais e econômicas” (PARTRIDGE, 2013), sem uma resposta às injustiças sociais e os desafios que devem ser abordados, a fim de alcançar o desenvolvimento sustentável (WCED, 1987).
José Austerliano Rodrigues, residente em Campina Grande – PB. Doutor em Marketing Sustentável pela UFRJ, especialista em sustentabilidade e marketing e professor, com interesse em pesquisa em sustentabilidade de marketing, marketing sustentável, comportamento do consumidor e responsabilidade social. E-mail: austerlianorodrigues@bol.com.br.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/04/2020
Nenhum comentário:
Postar um comentário