sexta-feira, 28 de maio de 2021

A ÍNDIA PERDE O CONTROLE DA PANDEMIA E É UM ALERTA GLOBAL.

 

A Índia perde o controle da pandemia e é um alerta global, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

[EcoDebate]

A Índia passa por uma situação assustadora, com pessoas morrendo sem oxigênio e com colapso do sistema hospitalar.

O número diário de pessoas infectadas está se aproximando de 400 mil casos e o número de mortes já ultrapassou de 3 mil vidas perdidas a cada 24 horas.

A Índia chegou a 18 milhões de casos e ultrapassou 200 mil mortes. A taxa de letalidade é baixa, de 1,1%, indicando que, provavelmente, o número de mortes deve ser muito maior do que o registrado.

A Índia começou o ano de 2021 com baixos montantes de casos e de mortes da covid-19 e tinha números menores do que EUA, Brasil e México (considerando os 4 países com maiores volumes de mortes da pandemia). No mês de janeiro, a Índia estava em 4º lugar em número de novas infecções, mesmo sendo o 2º país mais populoso do mundo (quase 1,4 bilhão de habitantes). Mas tudo mudou a partir do mês de março quando um verdadeiro tsunami covídico atingiu a Índia que chegou a uma média móvel de 7 dias de mais de 340 mil casos neste final de abril, conforme mostra o gráfico abaixo do Our World in Data, com as curvas para os 10 países mais populosos do Planeta. A média móvel dos EUA e do Brasil está em torno de 56 mil casos diários. A Rússia tem média de 8 mil, Paquistão, Bangladesh e México em torno de 4 mil e Nigéria e China com menos de 1 mil casos diários. Nenhum país do mundo tinha apresentado média acima de 300 mil casos diários.

210428a mortes por covid 19 para os 10 países mais populosos do planeta

Considerando o coeficiente de incidência, os EUA chegaram a registrar mais de 700 casos por milhão de habitantes e o Brasil tem atualmente pouco menos de 300 casos por milhão e a Índia chegou a 240 casos por milhão de habitantes no dia 26 de abril. Mas tudo indica que a Índia irá ultrapassar o Brasil no coeficiente de incidência ainda no mês de abril, conforme mostra o gráfico abaixo também do Our World in Data.

210428b casos diários de covid 19 por milhão para os 10 países mais populosos do mundo

O gráfico abaixo mostra a média móvel de 7 dias das vidas perdidas nos 10 maiores países do mundo, em termos demográficos. Nota-se que os EUA apresentaram média de mais de 3 mil óbitos da covid-19 por dia em janeiro, mas agora em abril apresentam cerca de 700 óbitos por dia. México e Rússia apresentam média de 370 óbitos por dia. Indonésia, Paquistão e Bangladesh apresentam média entre 100 e 200 óbitos por dia. China e Nigéria apresentam números próximos de zero.

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O gráfico abaixo, também do Our World in Data, mostra o coeficiente de mortalidade dos 10 países mais populosos e indica que, até o momento, o Brasil é o país que apresentou maiores coeficientes, acima de 12 óbitos diários por milhão de habitantes. EUA e México chegaram a apresentar 10 óbitos diários por milhão. Os outros países apresentaram coeficientes abaixo de 4 óbitos diários por milhão. Mas a Índia se deslocou deste grupo e já apresenta coeficiente de mortalidade de 2 óbitos diários por milhão de habitantes, e apresenta uma curva em ascensão.

210428d mortes diárias de covid 19 por milhão para os 10 países mais populosos

O fato é que o número de casos e de mortes está subindo no mundo, conforme mostra o gráfico abaixo da Organização Mundial de Saúde (OMS). Observa-se que o número de casos no mundo subiu durante todo o ano de 2020 e atingiu o pico na semana de 04 a 10 de janeiro de 2021, com mais de 5 milhões de casos em 7 dias. Em fevereiro e março os números caíram, mas voltaram a subir em abril e atingiram o pico na semana de 19 a 25 de abril, com 5,7 milhões de casos em 7 dias.

O número de mortes teve um primeiro pico em abril de 2021, depois uma queda até outubro e uma nova subida até o pico de quase 100 mil vidas perdidas na semana de 25 a 31 de janeiro de 2021. O número de vítimas fatais da pandemia diminuíram em fevereiro e março, mas voltaram a subir e chegaram a 87,7 mil óbitos na semana de 19 a 25 de abril de 2021.

O gráfico abaixo, do jornal Financial Times, mostra que o mundo teve o primeiro pico de 6.985 mortes em meados de abril de 2020, o segundo pico de 14.395 ocorreu em final de janeiro de 2021 e agora o mundo caminha para um novo pico de mortes com o epicentro ocorrendo na Índia e em outros países da Ásia, como Turquia, Irã, Paquistão, Bangladesh, Filipinas, etc. A Europa e as Américas continuam apresentando os maiores montantes de vidas perdidas.

210428e coronavísus no mundo

O gráfico abaixo, do Worldometers, mostra que o Irã está passando pela 4ª onda de óbitos e cada onda tem sido mais letal que a anterior. No dia 26/04 aconteceram 496 óbitos em 24 horas no Irã (recorde de toda a pandemia) e os números estão em alta. O exemplo do Irã serve de alerta para o Brasil que está na fase de declínio da 2ª onda, mas que ainda não controlou a pandemia.210428g mortes diárias por covid 19 no irã

 

O Brasil está em fase de redução do número de casos e de mortes, mas não está imune a uma 3ª onda da pandemia, em especial porque o inverno se aproxima e o pico de 2020 aconteceu exatamente nos meses de junho a agosto. O Brasil teve o mês de abril mais letal de toda a pandemia e já ocupa o 10º lugar no ranking global do coeficiente de mortalidade, ficando atrás apenas de países pequenos de clima frio e de estrutura etária envelhecida. Os primeiros 115 dias de abril (de 01/01 a 25/04/2021) já aconteceram mais mortes pela covid-19 do que em todo o ano de 2020.

Enquanto isto o ritmo da vacinação no Brasil continua lento quase parando. Diretores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) negaram, por unanimidade, pedidos de importação da vacina russa Sputnik V, contra a covid-19, em reunião no dia 26/04. Assim, impasses com a Pfizer e a Sputnik V, associados a problemas operacionais da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), poderão levar o Ministério da Saúde a reduzir drasticamente as estimativas para a campanha de imunização contra a covid-19 dos próximos meses e mais de 200 milhões de doses que seriam entregues até setembro podem ficar comprometidas.

Não resta dúvida que dezenas de milhares de vidas poderiam ter sido salvas no Brasil se houvesse uma política pública adequada, especialmente ações corretas implementadas pelo Ministério da Saúde e pelo Governo Federal. Para investigar os fatos e os erros do Poder Público, o Senado instalou na terça-feira (27/04) a Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI da Covid-19. Durante a sessão, o senador Omar Aziz (PSD-AM) foi eleito presidente, e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente. Em seguida, Omar Aziz indicou Renan Calheiros (MDB-AL) relator dos trabalhos. Aliados do governo tentaram impedir que Renan assumisse a relatoria. Mas a CPI começa de maneira autônoma e a sociedade brasileira espera que os culpados pela tragédia sanitária e humanitária do país sejam responsabilizados e que o país avance no controle do SARS-CoV-2 que já causou enormes danos em todo o território nacional.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

 

Referências:

ALVES, JED. Óbitos podem superar os nascimentos no Brasil pandêmico, Ecodebate, 05/04/2021
https://www.ecodebate.com.br/2021/04/05/obitos-podem-superar-os-nascimentos-no-brasil-pandemico/

Jornal da Globo. Brasil pode registrar mais mortes do que nascimentos em um mês. Rede Globo, 08/04/2021
https://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2021/04/08/pais-pode-registrar-mais-mortes-do-que-nascimentos-em-um-mes-dizem-pesquisadores.ghtml

ALVES, JED. Covid-19. Brasil regista pela primeira vez mais mortes que nascimentos, entrevista a Pedro Sá Guerra na Televisão Portuguesa (RTP), 15/04/2021
https://www.rtp.pt/noticias/mundo/covid-19-a-situacao-ao-minuto-do-novo-coronavirus-no-pais-e-no-mundo_e1313075

ALVES, JED. Sem censo: falta do estudo estatístico prejudica a manutenção de políticas públicas no país, Entrevista à Márcia Dutra, TV Record de Santa Catarina, 26/04/2021
https://www.youtube.com/watch?v=xwshtVZBNew

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 28/04/2021

MOLÉCULA PODE NEUTRALIZAR A PERDA DE MEMÓRIA POR ALZHEIMER.

 Molécula pode neutralizar a perda de memória por Alzheimer

Imagem: Nederlands Herseninstituut

Molécula pode neutralizar a perda de memória por Alzheimer

Pesquisadores do Instituto Holandês de Neurociência (NIN) identificaram uma pequena molécula que pode ser usada para rejuvenescer o cérebro e neutralizar a perda de memória.

A doença de Alzheimer é a principal causa da demência e as estratégias terapêuticas atuais não podem prevenir, retardar ou curar a patologia. A doença é caracterizada pela perda de memória, causada pela degeneração e morte de células neuronais em várias regiões do cérebro, incluindo o hipocampo, que é onde as memórias são inicialmente formadas.

NOVAS CÉLULAS EM CÉREBROS ANTIGOS
A presença de células nascidas em adultos no hipocampo de pessoas idosas foi recentemente demonstrada em estudos científicos. Isso sugere que, de modo geral, o chamado processo de neurogênese adulta é sustentado por toda a vida adulta. A neurogênese adulta está ligada a vários aspectos da cognição e da memória em modelos animais e humanos, e foi relatado que diminui drasticamente nos cérebros de pacientes com doença de Alzheimer.

Os pesquisadores também descobriram que níveis mais elevados de neurogênese adulta nesses pacientes parecem se correlacionar com melhor desempenho cognitivo antes da morte. “Isso pode sugerir que os neurônios nascidos em adultos em nosso cérebro podem contribuir para uma espécie de reserva cognitiva que pode mais tarde fornecer maior resiliência à perda de memória”, diz Evgenia Salta., líder do grupo no NIN.

Portanto, pesquisadores do NIN investigaram se dar um impulso à neurogênese adulta poderia ajudar a prevenir ou melhorar a demência na doença de Alzheimer.

UMA PEQUENA MOLÉCULA COM GRANDE POTENCIAL
Salta: “Sete anos atrás, enquanto estudávamos uma pequena molécula de RNA que é expressa em nosso cérebro, chamada microRNA-132, deparamos com uma observação bastante inesperada. Essa molécula, que antes tínhamos descoberto estar diminuída no cérebro de pacientes com Alzheimer, parecia regular a homeostase das células-tronco neurais no sistema nervoso central ”.

Naquela época, pensava-se que o Alzheimer era uma doença que afetava apenas as células neuronais maduras, portanto, à primeira vista, essa descoberta não parecia explicar um possível papel do microRNA-132 na progressão do Alzheimer.

Neste estudo, os pesquisadores decidiram se o microRNA-132 pode regular a neurogênese do hipocampo adulto em cérebros saudáveis e com Alzheimer. Usando modelos distintos de camundongos com Alzheimer, células-tronco neurais humanas em cultura e tecido cerebral humano post-mortem, eles descobriram que essa molécula de RNA é necessária para o processo neurogênico no hipocampo adulto.

“Diminuir os níveis de microRNA-132 no cérebro de camundongo adulto ou em células-tronco neurais humanas em um prato prejudica a geração de novos neurônios. Porém, restaurar os níveis de microRNA-132 em camundongos com Alzheimer resgata déficits neurogênicos e neutraliza o comprometimento da memória relacionado à neurogênese adulta ”, explica Sarah Snoeck , técnica do grupo de Salta.

Esses resultados fornecem uma prova de conceito sobre o potencial terapêutico putativo de provocar a neurogênese adulta na doença de Alzheimer. Salta: “Nosso próximo objetivo é avaliar sistematicamente a eficácia e segurança de direcionar o microRNA-132 como uma estratégia terapêutica na doença de Alzheimer”.

Referência:

Restoring miR-132 expression rescues adult hippocampal neurogenesis and memory deficits in Alzheimer’s disease
https://doi.org/10.1016/j.stem.2021.05.001
https://www.cell.com/cell-stem-cell/fulltext/S1934-5909(21)00219-8
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1934590921002198?via%3Dihub

 

Henrique Cortez, tradução e edição, a partir de original do Nederlands Herseninstituut

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/05/2021

CIENTISTAS ALERTAM SOBRE O ACÚMULO SEM PRECEDENTES DE MERCÚRIO NO OCEANO PACÍFICO.


pesquisa

Cientistas alertam sobre o acúmulo sem precedentes de mercúrio no Oceano Pacífico

Um artigo científico recém-lançado na Scientific Reports revelou que quantidades sem precedentes de mercúrio altamente tóxico são depositadas nas trincheiras mais profundas do Oceano Pacífico.

Uma equipe multinacional de cientistas descobriu quantidades de mercúrio nas trincheiras mais profundas do Oceano Pacífico que excedem qualquer valor já registrado em sedimentos marinhos remotos – até mais do que muitas áreas diretamente contaminadas por liberações industriais.

O estudo, um esforço multinacional envolvendo cientistas da Dinamarca, Canadá, Alemanha e Japão, relata as primeiras medições diretas da deposição de mercúrio em um dos ambientes logisticamente mais desafiadores de amostrar na Terra, e o mais profundo em oito a 10 quilômetros sob o mar.

O autor principal, Professor Hamed Sanei, Diretor do Laboratório de Carbono Orgânico Litosférico (LOC) do Departamento de Geociências da Universidade de Aarhus, afirmou que a quantidade de mercúrio descoberta nesta área excede qualquer valor já registrado em sedimentos marinhos remotos, e é ainda maior do que muitos áreas diretamente contaminadas por lançamentos industriais.

“A má notícia é que esses altos níveis de mercúrio podem ser representativos do aumento coletivo das emissões antropogênicas de Hg em nossos oceanos”, disse ele. “Mas a boa notícia é que as trincheiras oceânicas atuam como um depósito permanente e, portanto, podemos esperar que o mercúrio que vai parar lá ficará soterrado por muitos milhões de anos. As placas tectônicas levarão esses sedimentos para o manto superior da Terra”.

“Mas mesmo enquanto o mercúrio está sendo removido da biosfera, continua sendo bastante alarmante a quantidade de mercúrio que foi parar nas fossas oceânicas. Isso pode ser um indicador da saúde geral de nossos oceanos.”

O coautor Dr. Peter Outridge, um cientista pesquisador da Natural Resources Canada e principal autor da Avaliação Global de Mercúrio das Nações Unidas, disse: “Os resultados desta pesquisa ajudam a preencher uma lacuna de conhecimento fundamental no ciclo do mercúrio, ou seja, a taxa real da remoção de mercúrio do meio ambiente global para os sedimentos do fundo do oceano. ” Ele acrescentou: “Nós mostramos que os sedimentos nas fossas oceânicas são ‘hotspots’ de acumulação de mercúrio, com taxas de acumulação de mercúrio muitas vezes mais altas do que se acreditava estar presente anteriormente.”

O coautor Ronnie Glud, professor e diretor do Centro Hadal da Universidade do Sul da Dinamarca, que foi o líder científico desta expedição multinacional às fossas oceânicas, disse: “Este artigo exige uma amostragem adicional extensa do oceano profundo e, em particular, trincheiras de hadal para apoiar este trabalho preliminar. Em última análise, isso irá melhorar a precisão dos modelos ambientais de mercúrio e o gerenciamento da poluição global por mercúrio. ”

Referência:

Sanei, H., Outridge, P.M., Oguri, K. et al. High mercury accumulation in deep-ocean hadal sediments. Sci Rep 11, 10970 (2021). https://doi.org/10.1038/s41598-021-90459-1 

 

Henrique Cortez, tradução e edição, a partir de original da Aarhus University

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/05/2021

AS ILHAS DE CALOR URBANO AUMENTAM O ESTRESSE TÉRMICO NAS ÁRVORES.


aquecimento global

As ilhas de calor urbano aumentam o estresse térmico nas árvores

Superfícies duras como tijolo, asfalto ou concreto, o tipo de cobertura do solo e o número e tamanho dos corpos d’água próximos, chamados de espaços azuis, afetam as temperaturas da copa e a saúde das árvores em microclimas urbanos, concluiu a pesquisa.

Por Jim Steele *, University of Alabama in Huntsville

Os dosséis das árvores urbanas saudáveis fornecem sombra e a transpiração da água que pode mitigar os efeitos do aquecimento das ilhas de calor urbanas (UHIs), e uma nova pesquisa publicada recentemente no Scientific Reports sobre as temperaturas das copas das árvores na cidade de Nova York por um doutorado da Universidade do Alabama em Huntsville (UAH) aluno oferece novos insights para o manejo florestal urbano.

Trang Thuy Vo da cidade de Ho Chi Minh, Vietnã, está estudando os efeitos urbanos na climatologia e como mitigar o efeito da ilha de calor otimizando efetivamente a silvicultura urbana em megacidades para seu doutorado no Departamento de Ciências Atmosféricas e da Terra (ATS) na UAH, a parte do Sistema da Universidade do Alabama. Ela é aconselhada pelo Dr. Leiqiu Hu, um professor assistente de ciência atmosférica que é co-autor do artigo de pesquisa.

“Esta é sua primeira publicação em seu programa de Ph.D. em ATS, que demonstrou a capacidade crescente de sensores espaciais de nova geração para lidar com questões ambientais urbanas complexas em altas resoluções espaciais e temporais”, disse o Dr. Hu. “A pesquisa destaca interações espacialmente diversas e temporalmente diferentes entre as copas das árvores, a atmosfera e o ambiente construído em uma cidade.”

A pesquisa de Vo usou dados do instrumento ECOSTRESS montado na Estação Espacial Internacional (ISS). Foi parcialmente apoiado pelo projeto de Ciências Aplicadas de Saúde e Qualidade do Ar da NASA em infraestrutura de resfriamento urbano em colaboração com a Florida State University e o Programa de Pesquisa Interdisciplinar em Ciências da Terra da NASA sobre o ciclo hidrometeorológico urbano em colaboração com a Cornell University, a Texas A&M University e a Arizona State University.

Interpretar esses dados pode ajudar a identificar a saúde das árvores em ambientes urbanos complexos usando observações de sensoriamento remoto, diz Vo, e pode influenciar as espécies usadas e os padrões de plantio de árvores em paisagens urbanas.

“Nossa abordagem é primeiro reduzir o trabalho necessário para coletar manualmente a integridade dos dados da árvore”, diz ela. “Ao investigar como as árvores urbanas interagem com três fatores ambientais – quantidade de vegetação, distância aos corpos d’água e altura do edifício -, a colocação das árvores e os requisitos suplementares para suas condições de cultivo, como irrigação, podem ser melhorados no projeto urbano”.

Superfícies duras como tijolo, asfalto ou concreto, o tipo de cobertura do solo e o número e tamanho dos corpos d’água próximos, chamados de espaços azuis, afetam as temperaturas da copa das árvores e a saúde das árvores em microclimas urbanos, concluiu a pesquisa.

Isso, por sua vez, afeta a capacidade das árvores de combater o efeito UHI, um fenômeno bem conhecido no qual uma diferença significativa de temperatura ocorre entre as áreas urbanas e rurais circundantes.

“Descobrimos que a temperatura das árvores varia significativamente entre os bairros de Nova York. Por exemplo, as temperaturas das árvores em Staten Island – o bairro mais verde – são muito mais baixas e mais homogêneas em comparação com as de Manhattan, que tem a morfologia de construção mais complexa”, disse Vo . “Isso indica uma interação entre morfologia urbana e árvores urbanas.”

As descobertas oferecem novos insights para gestores de florestas urbanas sobre como reduzir o estresse térmico nas árvores para melhorar suas taxas de sobrevivência, diz seu conselheiro, Dr. Hu.

“Os resultados também são importantes para apoiar nossa pesquisa futura sobre a capacidade de resfriamento de árvores urbanas em cidades, já que a temperatura do dossel é uma variável chave que influencia o resfriamento evaporativo e transpirativo”, disse o Dr. Hu.

O estudo propõe algumas abordagens práticas para a mitigação do calor em áreas densamente povoadas, como reforma de edifícios com fachadas verdes e telhados verdes, e fornecimento de irrigação necessária para as condições mais secas presentes nas ilhas de calor.

“Para cidades do interior com falta de benefícios de resfriamento de espaços azuis, é melhor reunir as árvores em vez de isolá-las como pequenos fragmentos e fornecer irrigação suficiente. Quanto maior a cobertura do espaço verde, mais baixa a temperatura das árvores”. Vo diz.

“É interessante que a temperatura da superfície das árvores urbanas varie diurna e espacialmente na megacidade, o que enfatiza as influências dos efeitos urbanos neste componente vital da vegetação”, diz ela. “Ao compreender este comportamento dinâmico, acredito fortemente que a saúde das árvores urbanas pode ser melhorada.”

Um conjunto de dados disponível gratuitamente do ECOSTRESS, o instrumento sensor baseado em ISS, foi usado na pesquisa com imagens de temperatura da superfície terrestre (LST) de resolução espacial moderada de cerca de 70 metros. Doze imagens LST de céu claro foram escolhidas e reduzidas para construir um ciclo diurno completo da temperatura das árvores urbanas. Vo usou uma abordagem estatística para extrair a temperatura da árvore e então aplicou esse algoritmo a toda a cidade de Nova York.

Ela usou um procedimento de programação paralela para processamento e cálculo de imagens a fim de reduzir o tempo de processamento.

“Como resultado, poderíamos ter um mapa de temperatura das árvores para toda a cidade de Nova York em menos de uma hora”, disse Vo. “Espero que, no futuro, nosso esquema reduzido seja aplicado em uma escala muito maior, por exemplo, para os Estados Unidos contíguos, para que tenhamos uma imagem melhor de como as árvores são saudáveis em todo o país, dadas as diferentes regiões climáticas.

Referência:

Vo, T.T., Hu, L. Diurnal evolution of urban tree temperature at a city scale. Sci Rep 11, 10491 (2021). https://doi.org/10.1038/s41598-021-89972-0

 

Henrique Cortez *, tradutor e editor.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/05/2021

DEMANDA GLOBAL POR AREIA É INSUSTENTÁVEL.

Demanda global por areia é insustentável

Os cientistas pedem práticas mais sustentáveis porque o mundo está ficando sem areia.

A areia está incrustada no concreto de quase todos os edifícios e estradas do mundo. Os vidros das janelas, laptops e telas de telefones e agora os frascos da vacina COVID-19. Enquanto nadamos na areia, ironicamente, nosso consumo nos deixa com fome de mais.

Quatro anos atrás , um grupo internacional de cientistas, incluindo dois da Michigan State University, chamou a atenção para uma iminente crise global de areia. A superexploração da areia, ingrediente fundamental do concreto, asfalto e vidro, estava prejudicando o meio ambiente, colocando comunidades em risco e gerando conflitos sociais.

Agora, os cientistas liderados pela pesquisadora associada Aurora Torres trazem uma nova luz sobre as implicações de sustentabilidade da demanda mundial por areia. Na revista One Earth , publicada online em 21 de maio, a equipe propõe diversas soluções para enfrentar esses desafios.

“Com este documento, esperamos o que precisamos fazer como sociedade se quisermos promover um consumo sustentável dos recursos globais de areia”, disse Torres, que faz parte do Centro de Integração e Sustentabilidade de Sistemas da MSU, ou CSIS, e da Université Catholique de Louvain na Bélgica. “Um problema drástico exige soluções drásticas – realmente fazer isso de maneira diferente para colocar os problemas de lado e criar caminhos para a sustentabilidade.”

Os verdadeiros custos não examinados da areia – em geral, a produção de agregados para construção – estimularam os cientistas a pedir um foco mais forte na compreensão da dimensão física do uso e extração da areia. Eles também sugerem novas maneiras de alcançar justiça econômica e ambiental.

Os autores de “Sustainability of the global sand system in the Anthropocene” pedem uma nova maneira de olhar e compreender as interligações de oferta e demanda de areia para reduzir impactos negativos, como esgotamento de ambientes naturais e criação de conflito humano. A colaboração entre as disciplinas de pesquisa tornou possível encaixar as peças do quebra-cabeça em uma imagem completa. Em vez de se concentrar em locais únicos de extração de areia, como muitos estudos antes deles, eles examinam as dimensões físicas e socioambientais das redes de abastecimento de areia – vinculando extração, processamento, distribuição, economia, política – para obter uma compreensão aprofundada das tensões na natureza e nas pessoas.

Homens carregando areia de um poço em Sunkoshi, perto de Kathmandu, no Nepal
Homens carregando areia de um poço em Sunkoshi, perto de Kathmandu, no Nepal. Foto de Bibek Raj Shrestha.

 

A novidade da abordagem da rede de suprimento de areia é a integração da análise de fluxo de material com a estrutura de telecoplamento para fornecer uma perspectiva mais robusta e holística do sistema de areia em diferentes escalas espaço-temporais. Ele permite compreender e quantificar as interações socioeconômicas e ambientais de locais de mineração para locais de consumo – como cidades – e sistemas de transbordamento, como corredores de transporte ou aterros rurais onde os resíduos de mineração e construção se acumulam.

“Visualizações simples não podem resolver desafios complexos de sustentabilidade”, disse o coautor Jianguo “Jack” Liu, diretor da MSU-CSIS. “Novas formas, como a estrutura de telecoplamento, ajudam a desvendar e abraçar a complexidade dos desafios globais da areia e apontam o caminho para soluções eficazes.”

Além disso, os autores destacam que estratégias robustas para gerenciar recursos de areia dependem de um conhecimento sólido do ciclo de agregados de construção. Como disse Mark Simoni, do Geological Survey of Norway, “O sistema físico é a chave para ligar os impactos locais da extração de recursos naturais às tendências de desenvolvimento global – temos que mapear como a demanda e o fornecimento de materiais de construção evoluem no espaço e no tempo para informar as decisões das partes interessadas e formulação de políticas. ”

Isso requer a quantificação dos depósitos geológicos, fluxos e acúmulo de agregados de construção dentro de uma região, incluindo fontes de matérias-primas naturais e alternativas, e pode ser usado para avaliar quanto tempo os recursos irão durar e como todo o sistema de abastecimento pode ser otimizado para reduzir o negativo impactos da mineração de areia e uso de materiais substitutos.

Por exemplo, eles disseram, precisamos pensar sobre agregados de construção além de escavar depósitos de areia e cascalho. A detonação e esmagamento de rochas também produz areia “artificial” e cascalho de qualidade semelhante ou até superior, e é um importante produto de exportação, por exemplo, para a Noruega. De fato, a pedra britada já se tornou a principal fonte de agregados em países como os Estados Unidos, China ou Europa.

Com a previsão de que a demanda por agregados para construção dobrará nas próximas décadas, o desafio da sustentabilidade é assustador. Compreender como as redes de suprimento de areia funcionam é relevante não apenas para avaliar seus impactos totais, mas também para identificar pontos de alavancagem para a sustentabilidade.

“Tal como acontece com a mudança climática, não há uma solução única, mas vários pontos de entrada para um consumo mais sustentável.” Torres disse. Os caminhos possíveis incluem a redução da demanda de material per capita, a promoção do desenvolvimento urbano compacto para o uso mais eficiente de materiais, a redução da dependência de depósitos naturais desenvolvendo o mercado e as tecnologias de materiais secundários, como resíduos de construção e demolição e, quando a mineração de depósitos naturais for necessária, identificando o fontes de mineração e métodos de produção que minimizam os impactos para a natureza e as pessoas.

Além de Torres e Liu, o artigo foi escrito por Mark Simoni e Daniel B. Müller, da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia em Trondheim, Noruega; Jakob Keiding, do Serviço Geológico da Dinamarca e Groenlândia em København, Dinamarca; Sophus zu Ermgassen, da Universidade de Kent em Canterbury, Reino Unido; Jochen Jaeger da Concordia University em Montreal, Canadá; Marten Winter no Centro Alemão de Pesquisa Integrativa da Biodiversidade em Leipzig, Alemanha; e Eric F. Lambin da Stanford University em Stanford, CA.

O trabalho foi financiado pelo programa de pesquisa e inovação Horizon 2020 da União Europeia no âmbito do acordo de subvenção Marie Sklodowska-Curie (846474) por meio do projeto SANDLINKS .

Referência:

Aurora Torres, Mark U. Simoni, Jakob K. Keiding, Daniel B. Müller, Sophus O.S.E. zu Ermgassen, Jianguo Liu, Jochen A.G. Jaeger, Marten Winter, Eric F. Lambin,
Sustainability of the global sand system in the Anthropocene,
One Earth, Volume 4, Issue 5, 2021, Pages 639-650, ISSN 2590-3322,
https://doi.org/10.1016/j.oneear.2021.04.011

 

Henrique Cortez, tradução e edição, a partir de original da Michigan State University

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/05/2021

EVAPOTRANSPIRAÇÃO GLOBAL AUMENTOU 10% DE 2003 A 2019.

A evapotranspiração global aumentou 10% de 2003 a 2019

Aquecimento Global – Uma equipe de pesquisadores do Jet Propulsion Laboratory da NASA no California Institute of Technology descobriu que a evapotranspiração global aumentou 10% de 2003 a 2019.

Em seu artigo publicado na revista Nature , o grupo descreve a abordagem original que eles adotaram para medir a evapotranspiração global .

Por Bob Yirka* , Phys.org

Evapotranspiração é a transferência de água do solo para o ar, tanto da evaporação quanto da transpiração, água emitida pelas plantas. É um dos principais componentes do ciclo da água do planeta. Os cientistas vêm prevendo há vários anos que o ciclo da água da Terra ganhará energia à medida que o planeta se aquece devido ao aquecimento global – mas provando que tem sido difícil porque não há uma maneira confiável de medir as mudanças na evapotranspiração – até agora, a maioria dos esforços foi longe muito localizado.

Neste novo esforço, os pesquisadores encontraram uma maneira de calcular a evapotranspiração global ao longo de períodos de tempo usando informações de satélites.

Em vez de tentar medir a evapotranspiração diretamente, como foi feito em outros esforços, os pesquisadores usaram dados de satélite para medir outras partes do ciclo da água e então usaram esses dados para calcular o grau de evapotranspiração. E ao invés de usar imagens de satélite de nuvens e águas subterrâneas, os pesquisadores usaram dados coletados pelo Experimento de Recuperação de Gravidade e Clima e seu estudo de acompanhamento GRACE-FO.

Ambos estiveram envolvidos na medição das mudanças em grandes quantidades de água na superfície. Notavelmente, nenhum dos sistemas precisava ser capaz de ver o solo abaixo, o que significava que as medições não foram interrompidas pela cobertura de nuvens.

Os dados dos satélites estavam na forma de mudanças na gravidade que correspondem às mudanças em grandes quantidades de água – os satélites foram realmente puxados por essas mudanças. Em seguida, os pesquisadores obtiveram dados para as outras partes do ciclo da água .

Então, usando dados de ambas as fontes, eles foram capazes de calcular a taxa de evapotranspiração para os anos de 2003 a 2019. E ao fazerem isso, eles notaram que a taxa aumentava ligeiramente a cada ano e que, ao longo de todo o período de tempo, o a taxa aumentou cerca de 10 por cento.

Referência:

Pascolini-Campbell, M., Reager, J.T., Chandanpurkar, H.A. et al. A 10 per cent increase in global land evapotranspiration from 2003 to 2019Nature 593, 543–547 (2021). https://doi.org/10.1038/s41586-021-03503-5

 

Henrique Cortez *, tradução e edição

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/05/2021

terça-feira, 25 de maio de 2021

REBAIXAMENTO DO LENÇOL FREÁTICO : UMA GRAVÍSSIMA REALIDADE A SER DEFINITIVAMENTE ENFRENTADA.

 

artigo

Rebaixamento do lençol freático: uma gravíssima realidade a ser definitivamente enfrentada, artigo de Álvaro Rodrigues dos Santos

Todos os indicadores apontam para a urgente necessidade de adoção rígida de planos de gestão para a abertura e para a exploração de poços profundos em todo o território nacional

[EcoDebate] Não é de hoje que o fenômeno é conhecido e suas graves consequências são medidas e aquilatadas em suas variáveis econômica, social e geológica.

Nas áreas rurais o principal fator de rebaixamento do lençol está na total falta de controle da exploração de poços profundos para a irrigação de lavouras. Como exemplo, o sertão baiano da região de Irecê, tradicional produtora de feijão e cebola enfrenta crises agrícolas com o severo rebaixamento de seus níveis freáticos. Esse rebaixamento é decorrente da generalizada sobreexploração de seu aquífero cárstico. Mas Irecê é apenas um exemplo didático de um fenômeno hoje generalizado nas regiões agrícolas que se utilizam da água subterrânea. O motivo é sobejamente conhecido: total descontrole dos regimes de exploração dos aquíferos subterrâneos.

Nas áreas urbanas, seja pelo aumento do escoamento superficial promovido pela impermeabilização das áreas de recarga, seja também pela sobreexploração de poços profundos, expediente hoje largamente utilizado por vários empreendimentos como, indústrias, galpões logísticos, hotéis, motéis, médios e grandes edifícios, hospitais, condomínios, shoppings, etc., observa-se a mesma tendência de rebaixamento do lençol freático.

Especialmente nas áreas urbanas agrega-se ao problema geral de perda de reservas hídricas a potencialização de graves fenômenos de ordem geológico-geotécnica advindos da alteração do comportamento geotécnico de solos e de abatimentos de terrenos promovidos por desequilíbrios hidráulicos em regiões cársticas, como é o caso dos municípios de Cajamar – SP, Sete Lagoas – MG, Almirante Tamandaré PR, Bocaiúva do Sul – PR, Colombo – PR, Vazante – MG, Teresina – PI, Lapão – BA, e várias outras localidades.

O diagnóstico é sempre o mesmo: ausência de planos e regras de gestão e monitoramento da exploração dos poços profundos executados. Na cidade de São Paulo há regiões em que o lençol freático já observa rebaixamentos de cerca de 4 metros, o que em termos de perda de reservas hídricas implica em graves consequências, especialmente tendo em conta que a fonte subterrânea já compõe cerca de 10% do total do abastecimento hídrico da metrópole paulista. Mais grave se torna o fenômeno em municípios que tem na água subterrânea sua principal fonte de recursos hídricos para o abastecimento da população.

Enfim, todos os indicadores apontam para a urgente necessidade de adoção rígida de planos de gestão para a abertura e para a exploração de poços profundos em todo o território nacional. Esse já antigo alerta técnico deve finalmente sair de nossos limitados textos congressuais e acadêmicos para se tornar uma exigência política a ser colocada às autoridades competentes.

Geól. Álvaro Rodrigues dos Santos (santosalvaro@uol.com.br)

Ex-Diretor de Planejamento e Gestão do IPT e Ex-Diretor da Divisão de Geologia

Autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do Mar”, “Diálogos Geológicos”, “Cubatão”, “Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções”, “Manual Básico para Elaboração e Uso da Carta Geotécnica”, “Cidades e Geologia”

Consultor em Geologia de Engenharia, Geotecnia e Meio Ambiente

Colaborador e Articulista do EcoDebate

 

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/04/2021