Cai a fecundidade nos EUA durante a pandemia, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
A taxa de fecundidade dos Estados Unidos (EUA) vem caindo desde a crise econômica de 2008, que teve início com a quebra do banco Lehman Brothers. O número total de nascimentos por 1.000 mulheres de 15 a 44 anos estava em torno de 70 em 2007, caiu para 60,1 no primeiro trimestre de 2018 e atingiu o nível mais baixo no quarto trimestre de 2020 com 55,8 nascimentos para 1.000 mulheres de 15 a 44 anos.
A maior queda da fecundidade ocorreu em 2020 por conta da pandemia do SARS-CoV-2 que fez muitas mulheres e casais adiarem suas decisões reprodutivas. Provavelmente, a queda deve continuar em 2021, pois o número de casos e de mortes da covid-19 se manteve elevado em todo o território americano, no primeiro quadrimestre do ano. Portanto, alguma recuperação deve ocorrer, se for o caso, apenas em 2022.
Os grupos etários mais jovens tiveram as maiores quedas, o grupo 35-39 teve uma pequena diminuição e os grupos acima de 40 anos mantiveram os níveis (que normalmente são muito baixos), conforme mostra o gráfico a seguir.
O número de crianças nascidas vivas nos EUA bateu o recorde em 2007 e já apresentava tendência de redução. Dados do Center for Disease Control and Prevention (CDC) mostram que o número de nascidos vivos atingiu um pico em 1990, com 4,16 milhões de nascimentos, teve um declínio nos anos 1990 e voltou a subir na primeira década do século XXI, quando chegou a 4,06 milhões em 2000 e atingiu o cume de 4,32 milhões de nascimentos em 2007. O gráfico abaixo mostra que o número de nascimentos ficou abaixo de 4 milhões a partir de 2010, atingindo 3,75 milhões em 2019 e chegando no menor valor em 2020 com 3,6 milhões de nascimentos.
A redução da natalidade e o aumento da mortalidade em decorrência da pandemia da covid-19 fez a população dos EUA crescer na menor taxa em pelo menos 120 anos.
O crescimento populacional nos EUA já estava estagnado nos últimos anos devido às restrições de imigração e uma queda na fertilidade, mas as mortes relacionadas ao coronavírus. A população dos EUA cresceu 0,35% de julho de 2019 a julho de 2020, um aumento de 1,1 milhão de pessoas em uma nação cuja população estimada em julho de 2019 era de mais de 329 milhões de residentes. No auge da gripe espanhola, a taxa de crescimento de 1918 a 1919 foi de 0,49% – mesmo com tropas americanas no exterior durante a Primeira Guerra Mundial.
Provavelmente, haverá recuperação da natalidade e da esperança de vida ao longo da atual década. Se o número de nascimentos anuais aumentar para cerca de 4 milhões e a esperança de vida ao nascer recuperar o nível de 80 anos, então a população dos EUA tenderia a ficar em torno de 320 milhões de habitantes (4 milhões vezes 80 = 320 milhões). Mas o número real dependeria das tendências da imigração. Se o fluxo de imigrantes ficar acima de 1 milhão por ano, então é possível que a população dos EUA chegue a 400 milhões até o final do século XXI. Mas uma queda mais substancial da fecundidade geraria uma população menor.
O censo demográfico de 2020 mostrou que os EUA alcançaram uma população de 331 milhões de habitantes. Nas tendências atuais este número pode cair ao longo do século. É óbvio que os conservadores, os nacionalistas e os desenvolvimentistas acharão péssimo a redução da população americana. Mas para o meio ambiente seria ótimo. Como disse o grande naturalista David Attenborough: “Todos os nossos problemas ambientais se tornam mais fáceis de resolver com menos pessoas e mais difíceis e, em última instância, impossíveis de resolver com cada vez mais pessoas”.
Os EUA são o segundo maior poluidor do Planeta e um decrescimento demoeconômico no país seria uma ótima notícia para o mundo todo. A queda da fecundidade também ocorreu na Europa e na China (que vai começar o decrescimento populacional no máximo em 2023). A queda da fecundidade também ocorreu no Brasil e na América Latina (embora ainda não haja dados definitivos). O adiamento do censo demográfico no Brasil tem prejudicado o conhecimento da realidade do país. Mas não há dúvidas que a pandemia tem sido um fator de redução do crescimento populacional.
O mundo está percebendo que o vício e a obsessão com o crescimento demoeconômico não se sustenta num Planeta finito. Com menos gente, os EUA, a China e a Europa poderiam plantar mais árvores e diminuir o consumo, contribuindo na mitigação da crise climática e ambiental.
O central do século XXI é a regeneração do meio ambiente para evitar o ecocídio que também seria um suicídio que poderia levar à extinção da civilização humana.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. Cai a natalidade e a fecundidade nos EUA depois da pandemia da covid-19, Ecodebate, 07/12/2020 https://www.ecodebate.com.br/2020/12/07/cai-a-natalidade-e-a-fecundidade-nos-eua-depois-da-pandemia-da-covid-19/
ALVES, JED. Baixa fecundidade nos EUA assusta os pronatalistas e conservadores, Ecodebate, 18/02/2021
https://www.ecodebate.com.br/2021/02/18/baixa-fecundidade-nos-eua-assusta-os-pronatalistas-e-conservadores/
ALVES, JED. Dia da Terra: regeneração ecológica ou extinção, Ecodebate, 26/04/2021
https://www.ecodebate.com.br/2021/04/26/dia-da-terra-regeneracao-ecologica-ou-extincao/
Hamilton, B.E. et. al. NVSS/CDC. Births: Provisional data for 2020, may 2021
https://www.cdc.gov/nchs/data/vsrr/vsrr012-508.pdf
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 10/05/2021
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