Seja quem for o vencedor da votação deste domingo, dia 26, este terá de tomar decisões-chave sobre questões que afetam o seu bolso.
PT e PSDB podem divergir em muitos temas, mas a desaceleração do crescimento parece ter criado um certo consenso de que a economia está em uma encruzilhada.
A reportagem é de Ruth Costas, publicada por BBC Brasil, 23-10-2014.
Como os tucanos costumam enfatizar, a expectativa oficial é que o país cresça só 0,9% este ano e analistas do mercado são ainda mais pessimistas, estimando uma expansão de menos de 0,3%.
Por outro lado, como ressaltam os petistas, o desemprego tem se mantido em patamares historicamente baixos, o que tem evitado que a população seja duramente afetada - embora não esteja claro por quanto tempo esse cenário positivo no mercado de trabalho pode ser mantido sem uma retomada.
Economistas de diversas linhas teóricas concordam que impulsionar a economia depende tanto de uma agenda de curto prazo, que inclui o controle da inflação e ajuste das contas públicas, quanto de uma de longo prazo, ligada a reformas estruturais.
Confira abaixo os seis desafios que, na opinião deles, o novo governo deve enfrentar na área econômica:
1) Inflação
Boa parte dos brasileiros já sente o peso da alta de preços no bolso e caberá ao próximo governo evitar um descontrole nessa área.
Aécio Neves, do PSDB, diz que perseguirá uma meta de 3% de inflação e a presidente Dilma Rousseff, do PT, garante que será "duríssima" contra o problema.
Espera-se que a alta de preços deste ano fique próxima do teto da meta do Banco Central – de 4,5%, com margem de dois pontos percentuais para cima e para baixo.
Para muitos economistas, porém, a meta só será alcançada com o adiamento dos reajustes de preços administrados (definidos ou influenciados por órgãos públicos).
"Em 2015, será difícil evitar a recomposição de alguns desses preços, o que deve ser um desafio a mais no controle da inflação", diz o conselheiro senior e ex-vice presidente do Banco Mundial Otaviano Canuto.
Entre os que podem subir estão o preço da energia, as tarifas de ônibus e combustíveis.
Canuto explica que, em 2015, uma possível desvalorização do real também pode ter um impacto inflacionário adicional (em função da alta dos importados).
"Caberá a nova gestão achar uma solução para a questão da inflação, que até pode ser via política monetária. Mas, como os juros já estão relativamente elevados, o ideal seria que se tentasse uma política fiscal mais retraída", opina.
2) Investimentos
O consumo interno e o estímulo ao crédito estiveram entre os principais motores do crescimento brasileiro nos últimos anos.
Os investimentos, porém, não acompanharam essa expansão (e caíram do patamar de 20% para 17% do PIB), o que contribuiu para a freada.
Economistas veem diferentes razões para tal descompasso.
Alguns culpam a falta de reformas para amenizar problemas como a complexa burocracia do país, as deficiências de infraestrutura e gargalos de mão de obra – que inibiriam investimentos.
Outros criticam o governo por supostos erros de gestão que teriam atrasado projetos importantes (como o pré-sal) e afastado empresários de parcerias na área de infraestrutura.
Há certo consenso de que a falta de investimentos também estaria ligada a "expectativas negativas".
Para o governo, porém, esse "pessimismo" seria politicamente motivado e intensificado pela crise internacional. Já consultorias econômicas o atribuem a incertezas relacionadas à condução da política econômica.
Sem destravar os investimentos é difícil pensar que a economia possa voltar a crescer no patamar dos 4% da década passada.
"Por isso, impulsionar os investimentos privados na produção e em infraestrutura será um dos principais desafios do novo governo", diz o economista André Biancarelli, da Unicamp.
3) Contas públicas
Analistas calculam que as contas públicas fecharão 2014 com um "déficit nominal" superior a 4% do PIB – o pior resultado em mais de uma década.
O calculo de tal déficit contabiliza receitas e despesas do governo, além do pagamento dos juros da dívida pública.
O governo se comprometeu a poupar 1,9% do PIB para pagar esses juros, mas há dúvidas sobre se atingirá a meta.
Para Otto Nogami, do Insper, a expansão dos gastos e deterioração das contas públicas têm tido um impacto negativo na inflação, além de abalar a credibilidade do país frente a investidores.
Muitos economistas também vêm denunciando que, em uma tentativa de se aproximar da meta, o governo teria lançado mão de uma "contabilidade criativa" - manobras contábeis que fariam parecer que se estaria economizando recursos, quando isso não ocorreria.
"Para colocar as contas públicas em dia, o novo governo poderia adotar basicamente duas estratégias: aumento de impostos ou corte de gastos", explica Lourdes Sola, professora da USP especialista em economia política.
A primeira seria extremamente impopular. A segunda precisaria ser planejada com cautela - cortar em gastos sociais e investimentos, por exemplo, poderia ser um "tiro no pé".
"A questão das metas fiscais é uma discussão de curto prazo, mas não podemos perder de vista seu objetivo de longo prazo, que é tornar o Estado mais eficiente para investir no que interessa", diz Biancarelli.
4) Inclusão social
O aumento da renda dos trabalhadores, a formalização do trabalho e programas sociais ajudaram milhares de pessoas a cruzar a linha da pobreza nos últimos anos.
Mas se o país se mantiver com um nível de crescimento baixo, em algum momento o emprego pode ser afetado, colocando em risco esses ganhos.
A campanha do PT tem defendido que o partido seria o mais apto a impedir retrocessos - "protegendo o emprego" e investindo no social.
Já a campanha do PSDB acabou na defensiva, repetindo à exaustão que não pretende cortar gastos sociais ou fazer um ajuste drástico, ao custo de uma escalada do desemprego.
Nogami admite que de fato é possível que um ajuste, ainda que gradual, tenha algum efeito sobre o nível de emprego.
"A questão é que ele é inevitável e, ao adiar essas reformas, também podemos estar aumentando seus custos", opina.
"O grande desafio não é simplesmente crescer, mas sim crescer com estabilidade e emprego", resume Carlos Melo, cientista político do Insper.
5) Problemas estruturais
Há certo consenso de que, para garantir o crescimento da economia no médio e longo prazo, é preciso atacar os problemas estruturais que afetam a competitividade das empresas no país.
Entre eles estão a complexa burocracia e sistema tributário brasileiro e as deficiências de infraestrutura.
"Trata-se de uma agenda de médio e longo prazo, mas que precisa começar a ser colocada em prática o quanto antes", diz Canuto.
O objetivo seria ampliar o chamado PIB potencial do país, que leva em consideração a sua capacidade instalada para estimar quanto ele pode crescer sem que sejam criadas pressões inflacionárias (por falta de oferta).
"O próximo governo precisará fazer reformas estruturais para realmente mudar o ambiente de negócios no Brasil, porque só isso lançará as bases para um crescimento sustentado", diz Canuto.
Como os tucanos costumam enfatizar, a expectativa oficial é que o país cresça só 0,9% este ano e analistas do mercado são ainda mais pessimistas, estimando uma expansão de menos de 0,3%.
Por outro lado, como ressaltam os petistas, o desemprego tem se mantido em patamares historicamente baixos, o que tem evitado que a população seja duramente afetada - embora não esteja claro por quanto tempo esse cenário positivo no mercado de trabalho pode ser mantido sem uma retomada.
Economistas de diversas linhas teóricas concordam que impulsionar a economia depende tanto de uma agenda de curto prazo, que inclui o controle da inflação e ajuste das contas públicas, quanto de uma de longo prazo, ligada a reformas estruturais.
Confira abaixo os seis desafios que, na opinião deles, o novo governo deve enfrentar na área econômica:
1) Inflação
Boa parte dos brasileiros já sente o peso da alta de preços no bolso e caberá ao próximo governo evitar um descontrole nessa área.
Aécio Neves, do PSDB, diz que perseguirá uma meta de 3% de inflação e a presidente Dilma Rousseff, do PT, garante que será "duríssima" contra o problema.
Espera-se que a alta de preços deste ano fique próxima do teto da meta do Banco Central – de 4,5%, com margem de dois pontos percentuais para cima e para baixo.
Para muitos economistas, porém, a meta só será alcançada com o adiamento dos reajustes de preços administrados (definidos ou influenciados por órgãos públicos).
"Em 2015, será difícil evitar a recomposição de alguns desses preços, o que deve ser um desafio a mais no controle da inflação", diz o conselheiro senior e ex-vice presidente do Banco Mundial Otaviano Canuto.
Entre os que podem subir estão o preço da energia, as tarifas de ônibus e combustíveis.
Canuto explica que, em 2015, uma possível desvalorização do real também pode ter um impacto inflacionário adicional (em função da alta dos importados).
"Caberá a nova gestão achar uma solução para a questão da inflação, que até pode ser via política monetária. Mas, como os juros já estão relativamente elevados, o ideal seria que se tentasse uma política fiscal mais retraída", opina.
2) Investimentos
O consumo interno e o estímulo ao crédito estiveram entre os principais motores do crescimento brasileiro nos últimos anos.
Os investimentos, porém, não acompanharam essa expansão (e caíram do patamar de 20% para 17% do PIB), o que contribuiu para a freada.
Economistas veem diferentes razões para tal descompasso.
Alguns culpam a falta de reformas para amenizar problemas como a complexa burocracia do país, as deficiências de infraestrutura e gargalos de mão de obra – que inibiriam investimentos.
Outros criticam o governo por supostos erros de gestão que teriam atrasado projetos importantes (como o pré-sal) e afastado empresários de parcerias na área de infraestrutura.
Há certo consenso de que a falta de investimentos também estaria ligada a "expectativas negativas".
Para o governo, porém, esse "pessimismo" seria politicamente motivado e intensificado pela crise internacional. Já consultorias econômicas o atribuem a incertezas relacionadas à condução da política econômica.
Sem destravar os investimentos é difícil pensar que a economia possa voltar a crescer no patamar dos 4% da década passada.
"Por isso, impulsionar os investimentos privados na produção e em infraestrutura será um dos principais desafios do novo governo", diz o economista André Biancarelli, da Unicamp.
3) Contas públicas
Analistas calculam que as contas públicas fecharão 2014 com um "déficit nominal" superior a 4% do PIB – o pior resultado em mais de uma década.
O calculo de tal déficit contabiliza receitas e despesas do governo, além do pagamento dos juros da dívida pública.
O governo se comprometeu a poupar 1,9% do PIB para pagar esses juros, mas há dúvidas sobre se atingirá a meta.
Para Otto Nogami, do Insper, a expansão dos gastos e deterioração das contas públicas têm tido um impacto negativo na inflação, além de abalar a credibilidade do país frente a investidores.
Muitos economistas também vêm denunciando que, em uma tentativa de se aproximar da meta, o governo teria lançado mão de uma "contabilidade criativa" - manobras contábeis que fariam parecer que se estaria economizando recursos, quando isso não ocorreria.
"Para colocar as contas públicas em dia, o novo governo poderia adotar basicamente duas estratégias: aumento de impostos ou corte de gastos", explica Lourdes Sola, professora da USP especialista em economia política.
A primeira seria extremamente impopular. A segunda precisaria ser planejada com cautela - cortar em gastos sociais e investimentos, por exemplo, poderia ser um "tiro no pé".
"A questão das metas fiscais é uma discussão de curto prazo, mas não podemos perder de vista seu objetivo de longo prazo, que é tornar o Estado mais eficiente para investir no que interessa", diz Biancarelli.
4) Inclusão social
O aumento da renda dos trabalhadores, a formalização do trabalho e programas sociais ajudaram milhares de pessoas a cruzar a linha da pobreza nos últimos anos.
Mas se o país se mantiver com um nível de crescimento baixo, em algum momento o emprego pode ser afetado, colocando em risco esses ganhos.
A campanha do PT tem defendido que o partido seria o mais apto a impedir retrocessos - "protegendo o emprego" e investindo no social.
Já a campanha do PSDB acabou na defensiva, repetindo à exaustão que não pretende cortar gastos sociais ou fazer um ajuste drástico, ao custo de uma escalada do desemprego.
Nogami admite que de fato é possível que um ajuste, ainda que gradual, tenha algum efeito sobre o nível de emprego.
"A questão é que ele é inevitável e, ao adiar essas reformas, também podemos estar aumentando seus custos", opina.
"O grande desafio não é simplesmente crescer, mas sim crescer com estabilidade e emprego", resume Carlos Melo, cientista político do Insper.
5) Problemas estruturais
Há certo consenso de que, para garantir o crescimento da economia no médio e longo prazo, é preciso atacar os problemas estruturais que afetam a competitividade das empresas no país.
Entre eles estão a complexa burocracia e sistema tributário brasileiro e as deficiências de infraestrutura.
"Trata-se de uma agenda de médio e longo prazo, mas que precisa começar a ser colocada em prática o quanto antes", diz Canuto.
O objetivo seria ampliar o chamado PIB potencial do país, que leva em consideração a sua capacidade instalada para estimar quanto ele pode crescer sem que sejam criadas pressões inflacionárias (por falta de oferta).
"O próximo governo precisará fazer reformas estruturais para realmente mudar o ambiente de negócios no Brasil, porque só isso lançará as bases para um crescimento sustentado", diz Canuto.
Fonte : Instituto Humanitas Unisinos.
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