Em vez do ódio… #LoveWins
A Suprema Corte dos EUA reconheceu hoje o direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo em âmbito federal, derrubando leis em 13 Estados que proibiam pessoas gays de se casar.
No mundo corporativo americano, onde 379 empresas haviam exortado a Suprema Corte a tomar esta decisão, ninguém ficou no armário para comemorar a vitória. A bandeira de cartões Visa tuitou: “Love. Accepted Everywhere,” e a Coca-Cola: “It’s now official. Love is love is love.”
A Goldman Sachs publicou nota à imprensa aplaudindo a decisão, enquanto no JP Morgan, Jamie Dimon disse que “essa era a coisa certa.”
A hashtag #LoveWins (‘o amor vence’) explodiu no Twitter, e Mark Zuckerberg disponibilizou no Facebook uma ferramenta permitindo que os usuários apliquem uma bandeira do arco-íris (símbolo do movimento gay) sobre suas fotos de perfil para comemorar a decisão. Zuckerberg foi o primeiro a usá-la.
Houve também espaço para muito humor. Vários internautas lembraram a frase do Barão de Itararé: “O casamento é uma tragédia em dois atos: civil e religioso.” E complementaram: “Agora, os gays vão descobrir isso.”
Foi mais uma instância em que um grande avanço nos direitos civis veio pelo Judiciário. No Brasil, em 2011 o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu por unanimidade a união estável entre casais do mesmo sexo e, em 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou uma resolução obrigando os cartórios de todo o país a registrar o casamento gay.
No Poder Legislativo, onde o populismo conservador com base religiosa tem feito barulho, há avanços pontuais.
Nesta quinta-feira, um dia antes da decisão da Suprema Corte, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro aprovou uma lei que punirá a discriminação por orientação sexual em estabelecimentos públicos e privados. O projeto havia sido apresentado em 2013 e recebeu 117 emendas desde então. Tentativas de aprovar uma lei federal que criminalize a homofobia no Brasil não saíram do lugar até agora, mas há dois dias, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou parecer ao STF no qual recomenda que a Corte dê ao Congresso prazo ‘razoável’para concluir a votação de projeto que criminaliza a homofobia e a transfobia.
A lei aprovada no Rio é ainda mais surpreendente porque o Estado é a base eleitoral de boa parte da chamada ‘bancada evangélica’ da Câmara dos Deputados, incluindo seu presidente, Eduardo Cunha.
No debate público brasileiro, o termo ‘evangélico’ tem sido usado como uma generalização, abarcando inúmeras denominações religiosas cristãs.
Trata-se de um equívoco.
Os protestantes tradicionais — batistas, metodistas e presbiterianos, por exemplo — possuem uma postura mais tolerante aos direitos civis, ao contrário de algumas igrejas de origem mais recente, chamadas de ‘neopentecostais’, que citam seletivamente o Velho Testamento para repudiar um grupo por sua orientação sexual.
Além de pregar o Evangelho, várias igrejas neopentecostais fazem um trabalho admirável de resgate social, que inclui a recuperação de dependentes químicos, hospitais e obras sociais. Apesar disto, alguns de seus portavozes — os que mais têm tido palanque — são os que usam os gays como bodes expiatórios da desconstrução dos valores tradicionais e das mudanças na sociedade e nos costumes.
Este ‘nós contra eles’, no entanto, não é unanimidade nem mesmo entre os neopentecostais. Em aparente resposta à crescente estridência do ‘pastor’ Silas Malafaia, o Senador Marcelo Crivella, bispo da Igreja Universal, postou recentemente em seu Facebook: “Em vez de odiar, ame. Em vez de perseguir, perdoe. Em vez de reclamar, ore. Em vez de desistir, lute.”
Na própria Igreja Católica, os progressos são visíveis. Em consonância com o Vaticano, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) continua não aprovando o casamento gay e se mantém fiel ao conceito tradicional de família, mas não embarca na paranóia de alguns pastores de que existe uma ‘agenda gay’ sendo imposta à sociedade.
No recente sínodo sobre a família, os cardeais da Igreja Católica se debruçaram sobre a questão da família e da homossexualidade. Recomendaram que as paróquias do mundo todo acolhessem os fiéis gays e suas famílias com respeito e dignidade, e exortaram a criação de pastorais específicas para estes fieis.
Dias depois do sínodo, uma paróquia em Itaquera, na zona leste de São Paulo, incluiu em seu folheto litúrgico uma oração para que “a ofensiva homofóbica e histérica presente no Congresso Nacional” seja enfrentada “com ousadia e serenidade.”
A lenta abertura da Igreja Católica em relação ao tema começou com o Papa Francisco perguntando a repórteres, “Quem sou eu pra julgar?” e culminará no mês que vem, quando Francisco se reunirá com o movimento gay do Paraguai, um país com histórico de violência contra gays. Será a primeira vez que um Papa se encontrará publicamente com o que alguns conservadores chamam de ‘gayzistas’.
Na decisão desta sexta-feira (trecho abaixo), a Suprema Corte disse que os cidadãos gays “esperam não ser condenados a viver em solidão, excluídos de uma das mais antigas instituições da civilização. Eles pedem dignidade igual aos olhos da lei. A Constituição lhes dá este direito.”
Fonte : Revista Veja.
Nenhum comentário:
Postar um comentário