As diferentes velocidades do envelhecimento populacional
[EcoDebate] Todos os países do mundo que passaram pela transição demográfica (redução das taxas brutas de mortalidade e natalidade) estão passando pela transição da estrutura etária, que tem dois momentos fundamentais: o primeiro é a redução da base e o alargamento do meio da pirâmide (o que possibilita o surgimento do bônus demográfico) e, o segundo, é o rápido envelhecimento populacional.
Existem várias maneiras para se medir o fenômeno do envelhecimento populacional. O gráfico abaixo (Credit Suisse, 2017), mostra o tempo gasto em cada país para a população idosa (de 65 anos e mais) dobrar a sua participação proporcional de 7% para 14% na população total.
Nota-se que a base de 7% foi atingida em datas muito diferentes entre os países e a velocidade da passagem de 7% para 14% também ocorre de forma diferenciada. Em geral, quanto mais antiga é a marca de 7% mais lenta é velocidade para os idosos dobrarem sua participação proporcional no conjunto da população nacional.
Por exemplo, a França foi o primeiro país onde os idosos atingiram 7% da população, o que ocorreu em 1870, mas só atingiu 14% em 1980 (gastando 110 anos para os idosos dobrarem sua participação relativa). Já a Coreia do Sul apresentou uma proporção de idosos de 7% em 1999 e de 14% em 2017. A Coreia do Sul foi o país que apresentou a maior velocidade de mudança da estrutura etária nesta primeira fase do envelhecimento (de 7% para 14%), gastando somente 18 anos para dobrar.
O Brasil também é destaque, pois atingiu 7% em 2012 e deve atingir 14% de idosos em 2031, gastando somente 19 anos para dobrar o peso relativo dos idosos na população. Tailândia e China tiveram um envelhecimento parecido com o Brasil e a Coreia do Sul. Todos estes países tinham taxas de fecundidade total (TFT) muito altas até a década de 1960 e apresentaram uma redução muito rápida do número médio de filhos por mulher a partir de 1970. Quanto mais rápido é a queda da TFT, mais rápido é o processo de envelhecimento populacional.
Os primeiros países em que os idosos atingiram 14% da população total foram Suécia (1972), Reino Unido (1975) e França (1980). Mas foi o Japão o país que atingiu de maneira mais rápida a proporção de 14% de idosos na população (7% em 1971 para 14% em 1994), pois a queda das taxas de fecundidade japonesas ocorreu logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. Como a TFT caiu muito abaixo do nível de reposição e o Japão é o país que possui a maior esperança de vida ao nascer, a velocidade do envelhecimento japonês é a mais rápida do mundo.
O gráfico abaixo (elaborado pelo autor com base nas projeções da Divisão de População da ONU) mostra que o Japão será o primeiro país onde os idosos terão uma proporção de 28% da população total. A terra do sol nascente atingiu 14% de idosos na população em 1994 e vai atingir 28% em 2019. Ou seja, a proporção de idosos vai dobrar de tamanho, na segunda fase do envelhecimento, em apenas 25 anos.
O segundo país onde os idosos devem alcançar 28% da população é na Coreia do Sul que tinha um envelhecimento de 14% em 1999 e deve dobrar de tamanho em 2036. O terceiro país é a Tailândia que atingiu 14% de idosos em 2002 e vai duplicar este percentual em 2046.
O Brasil também é um dos países onde a velocidade do envelhecimento populacional é destaque no cenário internacional. Os idosos brasileiros (65 anos e mais) atingiram a proporção de 7% em 2012, deve dobrar a proporção para 14% em 2031 e dobar novamente para 28% em 2062.
França, Reino Unido (UK) e Suécia que foram líderes do processo de envelhecimento na sua primeira fase (quando dobrou de 7% para 14%) só vão atingir a proporção de 28% de idosos no último quartel do século XXI. Os Estados Unidos (EUA) atingiram 7% de idosos em 1945, 14% em 2012 e só devem atingir 28% em 2100.
A tabela abaixo apresenta uma síntese de todo o processo de envelhecimento nesses países selecionados. Considerando o tempo para quadruplicar o percentual de idosos de 7% para 28%, o Japão lidera, pois vai completar este processo em somente 48 anos e deve alcançar o elevado percentual de 28%, em 2019.
O Brasil terá o segundo tempo mais rápido para quadruplicar o envelhecimento. O país tinha um pequeno percentual de idosos (3%) em 1950, representando um total de 2,6 milhões de pessoas de 65 anos e mais e deverá ter 64 milhões de idosos em 2062, quando o percentual de pessoas na terceira idade for de 28%.
A China será o terceiro país que fará a mais rápida transição da estrutura etária de 7% para 28% (gastando 52 anos). A China que tinha apenas 4,4% de idosos em 1950, representando um volume de 24,6 milhões de pessoas de 65 anos, passará para 28% em 2053, o que representará um volume de 380 milhões de pessoas com 65 anos e mais. Um aumento de mais de 15 vezes na população da terceira idade. A Coreia do Sul, virá em quarto lugar entre os países selecionados, vai quadruplicar a percentagem de idosos em 55 anos e atingir a marca de 28% em 2054.
Os Estados Unidos serão o último país (destes selecionados na tabela) a atingir o percentual de 28% de idosos na população, o que ocorrerá no ano de 2102. Isto ocorre devido ao alto percentual de imigrantes, que contribuem para atenuar o processo de envelhecimento populacional.
O país que vai gastar mais tempo para completar a transição da estrutura etária e quadruplicar o percentual de idosos será a França, que atingiu a proporção de 7% em 1870 e vai atingir 28% em 2074. Isto ocorre porque a França foi o primeiro país a experimentar a transição da fecundidade e, portanto, o primeiro a atingir o percentual de 7% de idosos. Mas a França manteve as taxas de fecundidade próximas do nível de reposição por muito tempo e, dessa forma, o envelhecimento não foi tão acelerado quanto nos países com baixíssima fecundidade.
Todos esses dados mostram que os países que iniciaram mais tarde a transição da fecundidade e apresentaram TFT muito abaixo do nível de reposição (como Japão, China, Coreia do Sul, Tailândia e Brasil) vão ter um processo de envelhecimento populacional mais veloz. Terão, portanto, menos tempo para se adaptar à nova realidade demográfica. O Japão e a Coreia do Sul já conseguiram enriquecer antes de envelhecer. A China e a Tailândia já estão a caminho de uma renda per capita alta e devem entrar no clube das economias mais avançadas até 2030.
Já o Brasil, depois de quatro anos de recessão, está com a renda estagnada e a caminho de envelhecer antes de enriquecer. Ou seja, o Brasil ainda não resolveu os problemas típicos de uma sociedade jovem (como saneamento básico, educação básica, etc.) e vai ter que lidar com os problemas de uma sociedade superenvelhecida até os meados do século XXI. Para vencer tais desafios será necessária muita criatividade.
Referência:
Credit Suisse. Supertrends. 2017
https://www.credit-suisse.com/media/assets/microsite/docs/investment-outlook/booklet-supertrends-en.pdf
Credit Suisse. Supertrends. 2017
https://www.credit-suisse.com/media/assets/microsite/docs/investment-outlook/booklet-supertrends-en.pdf
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 01/12/2017
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