sábado, 19 de maio de 2018

GORDURAS TRANS : MORTES E DOENÇAS

Organização Mundial da Saúde (OMS) divulga plano para eliminar gorduras trans produzidas industrialmente


ONU
A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou na segunda-feira (14) um guia para eliminar os ácidos graxos trans produzidos industrialmente do suprimento global de alimentos.
A eliminação das gorduras trans é fundamental para proteger a saúde e salvar vidas. A OMS estima que, a cada ano, a ingestão de gordura trans leve a mais de 500 mil mortes de pessoas com doenças cardiovasculares.
A eliminação das gorduras trans é fundamental para proteger a saúde e salvar vidas. Foto: ONU/Domínio Público
A eliminação das gorduras trans é fundamental para proteger a saúde e salvar vidas. Foto: ONU/Domínio Público
Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou na segunda-feira (14) o REPLACE, guia com um passo-a-passo para eliminar os ácidos graxos trans produzidos industrialmente do suprimento global de alimentos. A eliminação das gorduras trans é fundamental para proteger a saúde e salvar vidas. A OMS estima que, a cada ano, a ingestão de gordura trans leve a mais de 500 mil mortes de pessoas com doenças cardiovasculares.
Gorduras trans produzidas industrialmente estão presentes nas gorduras vegetais hidrogenadas, como margarina e ghee, e em salgadinhos, alimentos assados e frituras. Os fabricantes costumam utilizá-las por terem uma vida útil mais longa do que outras gorduras. No entanto, alternativas mais saudáveis podem ser usadas, não afetando o sabor ou o custo dos alimentos.
“A OMS pede aos governos que usem o pacote de ação REPLACE para eliminar os ácidos graxos trans produzidos industrialmente do suprimento de alimentos”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. “A implementação das seis ações estratégicas do REPLACE ajudará a alcançar a eliminação da gordura trans e representará uma importante vitória na luta global contra as doenças cardiovasculares.
O pacote de ações REPLACE fornece seis ações estratégicas para assegurar a eliminação rápida, completa e sustentada das gorduras trans produzidas industrialmente a partir do suprimento de alimentos. O guia sugere revisar fontes alimentares com gordura trans produzidos industrialmente e o panorama para as mudanças políticas necessárias; promover a substituição de gorduras trans produzidas industrialmente por gorduras e óleos mais saudáveis; e legislar ou promulgar ações regulatórias para eliminar gorduras trans produzidas industrialmente.
Outras recomendações envolvem avaliar e monitorar o teor de gorduras trans no suprimento de alimentos e mudanças no consumo de gordura trans entre a população; conscientizar sobre o impacto negativo na saúde das gorduras trans entre formuladores de políticas, produtores, fornecedores e o público; e estimular a conformidade de políticas e regulamentos.
Vários países de alta renda praticamente eliminaram as gorduras trans produzidas industrialmente por meio de limites legalmente impostos sobre a quantidade que pode estar contida nos alimentos embalados. Alguns governos implementaram proibições de óleos parcialmente hidrogenados, a principal fonte de gorduras trans produzidas industrialmente.
Na Dinamarca, primeiro país a impor restrições às gorduras trans produzidas industrialmente, o teor de gordura trans dos produtos alimentares diminuiu drasticamente e as mortes por doenças cardiovasculares diminuíram mais rapidamente do que em países comparáveis da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
“A cidade de Nova Iorque eliminou a gordura trans produzida industrialmente há uma década, seguindo a liderança da Dinamarca”, disse Tom Frieden, presidente e CEO da “Resolve to Save Lives”, uma iniciativa da “Vital Strategies”. “A gordura trans é um químico tóxico desnecessário, que mata, e não há razão para as pessoas no mundo todo continuarem expostas a ela”.
“Em países de baixa e média renda, onde o controle do uso de gorduras trans produzidas industrialmente é frequentemente mais fraco, são necessárias ações para garantir que os benefícios sejam vividos igualmente em todo o mundo.
O embaixador global da OMS para doenças crônicas não transmissíveis, Michael Bloomberg, ex-prefeito de cidade de Nova Iorque e fundador da Bloomberg Philanthropies, argumentou que “proibir gorduras trans na cidade de Nova Iorque ajudou a reduzir o número de ataques cardíacos sem mudar o sabor ou o custo dos alimentos”. Segundo ele, a eliminação de seu uso em todo o mundo poderia salvar milhões de vidas.
“Uma abordagem abrangente do controle do tabaco nos permitiu fazer mais progresso globalmente na última década do que quase todos pensavam ser possível. Agora, uma abordagem semelhante à gordura trans pode nos ajudar a fazer esse tipo de progresso contra as doenças cardiovasculares, outra das principais causas mundiais de morte evitável.”
A eliminação do suprimento global de alimentos com gorduras trans produzidas industrialmente foi identificada como uma das metas prioritárias do plano estratégico da OMS, que orientará o trabalho da organização entre 2019 e 2023.
O plano está na pauta da 71ª Assembleia Mundial da Saúde, a ser realizada em Genebra entre os dias 21 e 26 de maio. Como parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, a comunidade global se comprometeu a reduzir em um terço até 2030 as mortes prematuras por doenças crônicas não transmissíveis. A eliminação global de gorduras trans produzidas industrialmente pode ajudar a atingir esse objetivo.
“Por que nossos filhos deveriam ter um ingrediente tão inseguro em seus alimentos?”, questionou Tedros. “O mundo está agora embarcando na Década de Ação da ONU sobre Nutrição, usando-a como uma bússola para melhorar o acesso à alimentação e à nutrição saudáveis. A OMS também está usando esse marco para trabalhar com governos, indústria alimentícia, academia e sociedade civil para garantir sistemas alimentares mais saudáveis para as gerações futuras, inclusive eliminando as gorduras trans produzidas industrialmente.”

Nota

Existem duas fontes principais de gorduras trans: fontes naturais (nos produtos lácteos e carne de ruminantes, como vacas e ovelhas) e fontes produzidas industrialmente (óleos parcialmente hidrogenados).
Os óleos parcialmente hidrogenados foram inicialmente introduzidos no suprimento de alimentos no início do século 20 como um substituto da manteiga, e se tornaram mais populares nos anos 1950 e 1970, com a descoberta dos impactos negativos na saúde dos ácidos graxos saturados. Óleos parcialmente hidrogenados são usados principalmente para frituras e como ingrediente em produtos assados; eles podem ser substituídos em ambos os casos.
A OMS recomenda que o consumo total de gordura trans seja limitado a menos de 1% do consumo total de energia, o que se traduz em menos de 2,2 g/dia em uma dieta de 2 mil calorias. As gorduras trans aumentam os níveis de colesterol LDL, um biomarcador bem aceito para o risco de doenças cardiovasculares, e diminui os níveis de colesterol HDL, que levam o colesterol das artérias e o transportam para o fígado, que o secreta para a bile.
Dietas ricas em gorduras trans aumentam o risco de doença cardíaca em 21% e de mortes em 28%. Substituir as gorduras trans por ácidos graxos insaturados diminui o risco de doença cardíaca, em parte, melhorando os efeitos negativos das gorduras trans nos lipídeos do sangue. Além disso, existem indicações de que a gordura trans pode aumentar a inflamação e a disfunção endotelial.
A OMS realiza até 1º de junho uma consulta pública on-line para revisar as orientações atualizadas sobre o consumo de ácidos graxos saturados para adultos e crianças.
Da ONU Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 16/05/2018

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