segunda-feira, 3 de setembro de 2018

O GRITO DOS ESCRAVOS NA LÍBIA. "SALVAI-NOS ".


Foto : Sputnik Brasil
Trabalhadores africanos presos ou vendidos por traficantes: "Queremos voltar para casa."
Eles pedem à ONU e aos seus próprios governos para poder retornar aos seus países de origem. As vozes chegam através do projeto online «Escravos de reserva». Testemunhos dos lugares de cativeiro na costa noroeste.
A reportagem é de Marina Pupella, publicada por Avvenire, 30-08-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Venham nos tirar daqui, queremos ir para casa, estamos aqui em Zawiya, estamos morrendo todos os dias. Hoje foram dois mortos, estamos trancados nesta prisão e usados como escravos para trabalhar". É um grito de dor, o apelo enviado através de um vídeo para o governo nigeriano, a ONU e a Europa, divulgado através do Whatsapp por um grupo de nigerianos, presos em um local de detenção na cidade na costa noroeste da Líbia. Um pedido de ajuda para sair do inferno líbio e voltar a seus países de origem, ao qual se somam centenas de mensagens e comentários dos jovens migrantespublicados nos últimos dois meses na página do Facebook do documentário Reserve Slaves (Escavos de reserva), criada por diretor italiano Michelangelo Severgnini.
Garotos e garotas, com idades entre 18 e 25 anos, que sobrevivem nos guetos de Tripoli,Khomis, Sorman, Zuwara, onde se reúnem os migrantes de cor, muitos dos quais tinham ido para a Líbia anos atrás para trabalhar, forçados agora a fugir das milícias locais que administram as prisões na área. Vidas à mercê do horror, histórias repetidamente documentadas por Avvenire em suas reportagens e em suas investigações.
"Os guetos, onde se encontraram os negros para se protegerem da violência dos líbios (e eu também estou me referindo a adolescentes armados que tiram tudo deles se os encontram na rua) - explica Severgnini – funcionam como reservas de escravos para as milícias irregulares que conforme a necessidade efetuam arrastões tirado à força a mão de obra de que precisam para trabalhar nos campos, na construção de edifícios e estradas”. A escravidão na Tripolitania não é o episódio "mas se tornou o sistema de produção, porque – ele explica - mesmo aqueles raros ganhos que os migrantesconseguem ter através do emprego em empresas locais, não podem ser enviados para casa porque na Líbia as poucas instituições de crédito locais não permitem o seu envio para o exterior. Ao mesmo tempo, há muitos casos de empregadores que se re-apropriaram do dinheiro com uma arma na mão, jogando na rua o migranteexplorado".
Quando conseguem, através da internet esses jovens estão oferecendo uma descrição de sua não-vida no país norte africano, certamente não um porto seguro, chegando até a fornecer os nomes de seus carrascos e suplicar seus governantes para trazê-los de volta para sua terra natal. A.A., um jovem nigeriano de que trazemos apenas as iniciais do nome a fim de proteger a segurança, em uma mensagem de voz enviada em 11 de agosto, relata: "Eu cruzei o Saara, com a esperança de chegar à Europa, mas quando cheguei aqui a história mudou de uma forma que eu não esperava. Meninas vendidas como escravas sexuais e meninos forçados a trabalhar sob a ameaça de armas em fazendas. Se você se recusar, eles atiram nas pernas ou te matam. Eventualmente, você consegue embarcar, mas, em seguida, é pego de volta e mandado para a prisão; só se você pagar mais Oussama (é o nome de um ganense, relatado por vários migrantes que afirmam pertencer a uma organização internacional, ndr) te promete colocar em um barco mais seguro que irá desviar dos controles da guarda costeira. Nossas famílias contraem dívidas, vendem casas e propriedades para nos resgatar das redes de traficantes, que recolhem o dinheiro buscando-o diretamente em nossas cidades através de seus cúmplices." No entanto, o forte desejo de voltar para casa se contrapõe à vergonha de ter arruinado a própria família e retornar de mãos vazias.
OIM (Organização Internacional para as Migrações) estima que nos primeiros seis meses do ano foram 8.938 repatriações de pessoas de 30 países da África e da Ásia, um extremamente pequeno em comparação com os 700 mil presentes na Líbia, estimados pela Organização em novembro de 2017.
Fonte : Instituto Humanitas Unisinos

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