Que legado ambiental deixaremos? artigo de Bruno Versiani dos Anjos
Estamos incinerando literalmente bibliotecas genéticas. Metaforicamente: “queimando a biblioteca antes de ler os livros”
Estimativas indicam que , em uma ordem de grandeza beirando 1000 (mil) espécies (não indivíduos !) desaparecem por ano. Esse fato deveria ser motivo de comoção pública planetária, sendo elencado entre as maiores tragédias planetárias. O termo técnico seria Ecocídio. Com a exceção de militantes da causa ambiental e profissionais que trabalham nesse ramo, quase ninguém sabe ou conhece esse fato. A grande mídia nunca, ou talvez rarissimamente tocou no assunto. Como sempre, a ecolalia de “crimes e escândalos” pulula na TV e jornais.
Estamos incinerando literalmente bibliotecas genéticas. Metaforicamente: “queimando a biblioteca antes de ler os livros”. Um paliativo que tem sido feito é o recolhimento a velocidade acelerada, por cientistas, do material genético de milhares de espécies. A intenção é excelente, mas há o ditado : “o inferno está cheio de boas intenções”. Controverso se seria possível a “ressurreição”. A título de exemplo cito um fato verídico : foi encontrado um mamute congelado há alguns anos atrás, e até hoje há controvérsias ideológicas e técnicas se irão “ressuscitar” o animal.
Inegavelmente, o mais sensato seria preservar o que ainda há. Como exemplo, das várias espécies ou sub espécies de tigre, grande parte literalmente desapareceu, e há outras em que, o número de indivíduos é tão pequeno, que devido (termo técnico) à chamada “erosão e/ou deriva genética” (cruzamentos são raros e entre indivíduos parentes, gerando descendência fraca ou degenerada), o desaparecimento será um fato próximo.
Lamentavelmente, o mecanismo mais eficaz para conservação das espécies, as chamadas Unidades de Conservação, cobrem uma proporção pequena do planeta (aumentou, mas ainda é pequena). Em países do chamado “terceiro” mundo, além da área pequena , ainda há o problema crônico da falta de controle e fiscalização , criando as chamadas “Unidades de Conservação no papel” : são criadas por Atos Legislativos, mas na prática são invadidas, desmatadas, etc… (como se não existissem na Realidade).
Há uma teoria matemática que relaciona a quantidade remanescente (que “sobrou”) do bioma que a espécie vive com o risco de extinção. Tecnicamente, é uma chamada Curva Logarítmica. Explicando : à medida que a área do bioma diminui, o risco de extinção não é linearmente proporcional (proporção direta inversa), mas uma curva tipo “platô seguido de descida seguido de precipício”.
Exemplificando (exemplo totalmente aleatório) : suponhamos que determinado bioma em havia 11 mil hectares foi reduzido para 10 mil (mil hectares de redução) hectares, e suponhamos que havia 100 (novamente, reitero que é um exemplo e número aleatório) espécies, e foram perdidas 10. Suponhamos agora uma segunda situação em que o mesmo bioma possui 3 mil hectares, possuindo 4 mil espécies, sendo reduzido para 2 mil hectares (a mesma redução, em hectares, do que a citada no exemplo anterior, ou seja, mil). No exemplo anterior foram perdidas 10 espécies. O raciocínio “direto” nos levaria a concluir que ser perderiam, como no exemplo anterior, 10 espécies.
NEGATIVO. A PERDA SERÁ MUITO MAIOR (exemplifiquei o que seria a curva logarítmica), por exemplo, serão perdidas 30 ou, talvez mesmo, as 100 espécies ! Outro exemplo concreto : existe , seja em termos percentuais, seja em termos absolutos (hectares), uma área remanescente muito maior de floresta amazônica do que de floresta atlântica. Sendo assim, diríamos, um desmatamento de 50 hectares seria “muito mais grave”, em termos de espécies, na floresta atlântica (não que não seja grave na Amazônia…).
Gostaria de concluir que a humanidade necessita, agora a nível emergencial, repensar o futuro. Que planeta gostaríamos de deixar para nossos descendentes ? Um “mar de desertos” ou algo equilibrado … Vamos lembrar que há quase oito bilhões de habitantes e poucas centenas de tigres siberianos. Isso seria justo e equilibrado ?
Por Bruno Versiani dos Anjos
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 17/12/2021
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