O peso ecológico do Antropoceno, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
“Há 10.000 anos os seres humanos e seus animais representavam menos de um décimo de um por cento da biomassa dos vertebrados da terra. Agora, eles são 97 por cento”. Ron Patterson (2014)
O Homo sapiens surgiu na África há cerca de 200 mil anos e se espalhou por todo o território terrestre. As grandes migrações do passado e o processo de globalização têm tornado o mundo cada vez mais ecúmeno, com impactos crescentes das atividades antrópicas sobre o meio ambiente e a redução das áreas anecúmenas.
O termo anecúmeno designa uma área da superfície terrestre emersa que não seja habitada pelo ser humano de forma permanente, opondo-se ao termo ecúmeno que designa uma área onde os humanos permanecem no presente.
Como o Planeta é um só, todas as espécies estão em constante competição entre si, bem como com os membros de sua própria espécie. Todas as espécies evoluíram e fizeram adaptações voltadas para a sobrevivência. A Águia tem voo, garras, mira telescópica e assim por diante. Todas as outras espécies têm adaptações similares. O Homo sapiens desenvolveu várias adaptações, sendo que há uma que lhe dá uma enorme vantagem sobre todas as outras: sua capacidade intelectual e de aprendizagem. Esta habilidade favorece a competição com outras espécies para a alimentação e conquista de território. Assim, o ser humano não só venceu as demais espécies, como, na verdade, está em processo de acabar com elas, provocando uma grande extinção em massa, especialmente dos vertebrados da Terra (Patterson, 2014).
O artigo “Global human-made mass exceeds all living biomass”, publicado na revista Nature (ELHACHAM, et. al., 2020) estima que em 2020, com uma margem de erro de seis anos para mais ou para menos, a massa total dos objetos gerados pelos seres humanos – a chamada massa antropogênica, constituída de máquinas, edifícios, estradas, automóveis, eletrodomésticos e outros objetos – tenha alcançado 1,1 trilhão de toneladas, o mesmo valor que somam todos os seres vivos da Terra, de plantas e animais a organismos microscópicos. O resumo do artigo diz:
“A humanidade se tornou uma força dominante na formação da face da Terra. Uma questão emergente é como a produção total de material das atividades humanas se compara à biomassa natural geral. Aqui nós quantificamos a massa produzida pelo ser humano, referida como ”massa antropogênica”, e a comparamos com a biomassa viva total na Terra, que atualmente é igual a aproximadamente 1,1 teratonelada. Descobrimos que a Terra está exatamente no ponto de cruzamento, no ano de 2020 (± 6), a massa antropogênica, que recentemente dobrou aproximadamente a cada 20 anos, ultrapassará toda a biomassa viva global. Em média, para cada pessoa no globo, uma massa antropogênica igual a mais do que seu peso corporal é produzida a cada semana. Essa quantificação do empreendimento humano fornece uma caracterização quantitativa e simbólica baseada em massa da época do Antropoceno induzida pelo homem”.
Em consequência, o aumento das atividades antrópicas está aumentando os desastres climáticos e ambientais que afetam o ser humano. Um estudo publicado na revista Nature Climate Change (Callaghan, 11/10/2021) que analisou dados de mais de 100.000 eventos que poderiam estar ligados ao aquecimento global, incluindo inundações, ondas de calor e quebra de safra, bem como mudanças na temperatura e precipitação causados pelas emissões de carbono, concluiu que as mudanças climáticas já afetaram 80% da área terrestre da Terra, onde vive 85% da população mundial. Além disto, tem acelerado a 6ª extinção em massa das espécies.
A humanidade ocupa cada vez mais espaço no Planeta e tem prejudicado de forma danosa todas as formas de vida ecossistêmicas da Terra. O ser humano está reincidindo cotidianamente nos crimes do especismo e do ecocídio. Se a dinâmica demográfica e econômica continuar sufocando a dinâmica biológica e ecológica a civilização caminhará para o abismo e o suicídio. Porém, antes de o Antropoceno provocar uma extinção em massa da vida na Terra é preciso uma ação radical no sentido conter a pegada ecológica da humanidade e aumentar a biocapacidade do Planeta.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. Os 25 anos da CIPD: Terra inabitável e o grito da juventude, Rev. Bras. de Estudos Populacionais, REBEP, 2019 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-30982019000100450&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
ALVES, JED. Para evitar o holocausto biológico: aumentar as áreas anecúmenas e reselvagerizar metade do mundo, Ecodebate, 03/12/2014
http://www.ecodebate.com.br/2014/12/03/para-evitar-o-holocausto-biologico-aumentar-as-areas-anecumenas-e-reselvagerizar-metade-do-mundo-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
PATTERSON, Ron. Of Fossil Fuels and Human Destiny, May 7, 2014
http://peakoilbarrel.com/natural-resources-human-destiny/
ELHACHAM, Emily, et. al. Global human-made mass exceeds all living biomass, Nature volume 588, pages 442–444(2020) https://www.nature.com/articles/s41586-020-3010-5
Max Callaghan et. al. Machine-learning-based evidence and attribution mapping of 100,000 climate impact studies, Nature Climate Change, 11 October 2021
https://www.nature.com/articles/s41558-021-01168-6
ALVES, JED. Aula 11 AM088: Decrescimento demoeconômico e capacidade de carga do Planeta, IFGW, 11/04/21 https://www.youtube.com/watch?v=QVWun2bJry0&list=PL_1__0Jp-8rhsqxcfNUI8oTRO1wBr86fh&index=9
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/12/2021
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