Os novos dados do IDH confirmam que a economia brasileira está presa na armadilha do baixo crescimento, a Venezuela está em retração economia e a Tailândia continua avançando
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP na sigla em inglês) divulgou recentemente o ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que é um indicador sintético usado para estimar o grau de desenvolvimento humano de uma determinada sociedade com base na avaliação de três áreas fundamentais: saúde, educação e renda. O IDH é um indicador numérico que varia entre 0 e 1.
Quanto mais próximo de zero, menor é o nível de bem-estar e quanto mais próximo de 1, maior é o nível de bem-estar e progresso nacional. O ranking global de 2022 apresenta o nível do IDH por ordem decrescente de 193 países do mundo.
O gráfico abaixo mostra o IDH do Brasil, Venezuela e Tailândia de 1990 a 2022. Nota-se que, em 1990, a Venezuela tinha o maior IDH (0,657), seguido pelo Brasil (0,620) e pela Tailândia (0,581) em terceiro lugar. Nos 25 anos seguintes, em 2015, a Venezuela (0,766) continuava à frente do Brasil (0,752), mas a Tailândia (0,789) já havia passado os dois países sul-americanos. Entre 2015 e 2019, a Venezuela caiu para um IDH de 0,720 e a Tailândia (com 0,801) entrou na categoria de muito alto IDH.
Entre 2019 e 2022 a Venezuela teve uma grande queda do IDH, que caiu para a categoria média, com valor de 0,699. O Brasil também teve queda durante a pandemia da covid-19, recuperou um pouco em 2022, quando registrou um IDH de 0,760, mas não ultrapassou o valor pré-pandêmico. Já a Tailândia também apresentou queda em 2021, mas teve um IDH de 0,803 e conseguiu ultrapassar o nível anterior à pandemia. Entre 1990 e 2022 o IDH da Venezuela cresceu apenas 6%, do Brasil cresceu 23% e o IDH da Tailândia cresceu 38%.
Os novos dados do IDH confirmam que a economia brasileira está presa na armadilha do baixo crescimento, a Venezuela está em retração economia e a Tailândia continua avançando. A Tailândia era muito mais pobre do que a Venezuela e o Brasil, mas já atingiu a categoria de cima do ranking global do IDH.
O gráfico abaixo, com base nos dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), mostra a evolução da renda per capita, em preços constantes em poder de paridade de compra (ppp), para os 3 países entre 1980 e 2024. Nota-se que, em 1980, a Venezuela tinha uma renda per capita de US$ 20,3 mil, quase o dobro dos US$ 11,4 mil do Brasil e 5 vezes maior do que os US$ 3,9 mil da Tailândia. Mas nas duas últimas décadas o ritmo de avanço foi desigual. Em 2024, o FMI estima uma renda per capita de US$ 19,2 mil na Tailândia, de US$ 15,4 mil no Brasil e de somente US$ 6,9 mil na Venezuela. O país de Simon Bolívar tem hoje em dia uma renda per capita 3 vezes menor do que a da Tailândia, que, inclusive, está deixando também o Brasil para trás.
O avanço da renda per capita e do IDH da Tailândia ocorreu paralelamente ao avanço da transição demográfica. O gráfico abaixo, com dados da Divisão de População da ONU, mostra que a Tailândia tinha a maior taxa de fecundidade total (TFT) no início dos anos de 1970, mas promoveu uma transição da fecundidade muito rápida. Em 1950, a TFT era de 6,64 filhos por mulher na Venezuela, de 6,34 filhos na Tailândia e de 6,12 filhos por mulher no Brasil. Mas em 224, a TFT ficou em 1,31 filho por mulher na Tailândia, 1,62 no Brasil e 2,15 filhos por mulher na Venezuela.
A queda mais rápida da fecundidade na Tailândia possibilitou uma mudança na estrutura etária e o país asiático conseguiu aproveitar o 1º bônus demográfico para alavancar o seu desenvolvimento econômico e social. Concomitantemente houve avanços na longevidade. Em 2024, a expectativa de vida ao nascer está estimada em 73,1 anos na Venezuela, 76,4 anos no Brasil e 80,1 anos na Tailândia. Portanto, o país asiático possui melhores indicadores demográficos.
Mas somente a demografia não explica o melhor desempenho da Tailândia. O gráfico abaixo, também com dados do FMI, mostra que a Tailândia tem taxas de investimento, consistentemente, superiores ao apresentado pelos 2 países latino-americanos. Na média do período, a Tailândia teve uma taxa de investimento próxima a 30% do PIB e o Brasil e a Venezuela abaixo de 20% do PIB. O investimento é o motor da geração de emprego, renda e avanços tecnológicos.
Sem dúvida, para vencer a pobreza e avançar no IDH é preciso aproveitar o 1º bônus demográfico, como mostrei no artigo “Os países com menor fecundidade possuem maior IDH” (Alves, 11/03/2022), publicado aqui no Ecodebate. Todos os países com IDH muito alto ou alto avançaram na transição da fecundidade e passaram por uma mudança na estrutura etária com redução da razão de dependência demográfica.
Mas não basta a mudança na estrutura etária, para haver desenvolvimento é necessário que os países mantenham taxas de investimento acima de 25% do PIB, para garantir empregos de qualidade e maior produtividade da força de trabalho. A Tailândia conseguiu manter taxas de investimento além daquela necessária para a simples reposição da depreciação produtiva.
A combinação da transição demográfica com a maior complexidade do modelo de produção tem garantido que a Tailândia ofereça melhor qualidade de vida para a sua população do que o Brasil e a Venezuela.
Referências:
ALVES, JED. As lições que o Brasil pode aprender com a Tailândia, Ecodebate, 29/05/2023
https://www.ecodebate.com.br/2023/05/29/as-licoes-que-o-brasil-pode-aprender-com-a-tailandia/
ALVES, JED. Os países com menor fecundidade possuem maior IDH, Ecodebate, 11/03/2022
https://www.ecodebate.com.br/2022/11/03/os-paises-com-menor-fecundidade-possuem-maior-idh/
The 2023/24 Human Development Report. Breaking the gridlock: Reimagining cooperation in a polarized world, UNDP, MARCH 14, 2024
https://www.undp.org/sites/g/files/zskgke326/files/2024-03/hdr2023-24reporten_2.pdf
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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