quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

MORTALIDADE INFANTIL PODE SER ATÉ 23 VEZES MAIOR NA PERIFERIA DE SÃO PAULO.

Mortalidade infantil pode ser até 23 vezes maior na periferia de São Paulo



desigualdade
ABr
O bairro de Perdizes, na zona oeste da capital paulista, registra 1,1 morte a cada mil nascidos vivos. Em Marsilac, distrito rural no extremo sul da cidade, o índice é cerca de 23 vezes maior: 24,6 crianças morrem antes de completar 1 ano em cada grupo de mil nascimentos. A comparação faz parte do Mapa da Desigualdade da Primeira Infância, divulgado ontem (12) pela Rede Nossa São Paulo.
“Essa questão da mortalidade demonstra como a nossa desigualdade é sistêmica, porque tem muito a ver com a questão de saúde, mas tem a ver com educação, com tipo de habitação, com mobilidade, com uma série de outros temas que a sociedade e a gestão pública têm que estar preocupadas”, afirma o coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo, Jorge Abraão.
O secretário executivo de Gestão de Projetos Estratégicos, Alexis Vargas, que representou a prefeitura durante a apresentação dos dados, disse que a vulnerabilidade é crítica em algumas partes da cidade. “Mortalidade infantil é um trabalho em que você vai por cada distrito”, disse Vargas, ao explicar a dificuldade em reduzir os índices. “Tem distritos que estão acima de 20 e que são uma vergonha. Um índice absurdo”, acrescentou o secretário, ao dimensionar o problema.
A média da mortalidade infantil na cidade ficou em 11 para cada mil nascidos vivos, sendo superior a 20 em dois distritos e a 15, em 10 regiões. Em 10 dos 96 distritos paulistanos, o índice era de até 5 mortes de crianças em menos de 1 ano para cada mil.
Antes de nascer
A pesquisa mostra que as desigualdades estão presentes antes mesmo do nascimento das crianças. O percentual de filhos de mães adolescentes varia mais de 53 vezes, entre Moema (0,35%), bairro nobre da zona sul, e Marsilac (18,85%). Também têm índices expressivos Parelheiros (16,53%), na zona sul, Cidade Tiradentes (16,42%), no extremo leste, e Brasilândia (14,29%), na zona norte. Em bairros nobres das zonas oeste e sul, os índices ficam abaixo de 1%: Perdizes (0,54%), Itaim Bibi (0,70%) e Jardim Paulista (0,74%).
Outros problemas são sequer registrados em algumas partes da cidade, como a violência sexual contra crianças de até 5 anos. Em 28 distritos, incluindo Alto de Pinheiros, Jardim Paulista, Butantã e Campo Belo, o índice desse tipo de agressão é zero, mas no Capão Redondo, bairro periférico da zona sul, o percentual fica em 0,30%, seguido por Brasilândia, na zona norte, com 0,21%, e pelo Itaim Paulista, na zona leste, com 0,14%.
Em alguns itens avaliados, os bairros mais centrais aparecem com índices piores, como na quantidade de equipamentos públicos para a prática de esportes.
Em 10 distritos, incluindo o Alto de Pinheiros, a Vila Leopoldina, a República, a Bela Vista e o Jardim Paulista, não há registro desse tipo de espaço. No Pari, na zona norte, há 1,6 desses equipamentos para cada 10 mil habitantes, e no Jaguara, também na parte norte da cidade, 1,24.
Serviços públicos
O secretário Alexis Vargas informou que, para enfrentar os problemas, a prefeitura traçou um plano estratégico com foco nos distritos que têm os piores indicadores para a infância na cidade. “Temos que garantir vaga na creche, vacinação, atenção básica de saúde e visitação domiciliar para 80% das crianças em situação de vulnerabilidade nesses 10 distritos”, ressaltou Vargas.
Jorge Abraão, da Nossa São Paulo, destacou que garantir a qualidade dos serviços públicos é uma forma de reduzir as desigualdades na cidade. “Uma desigualdade você pode resolver efetivamente através de uma distribuição de renda, mas também com o acesso a serviços de qualidade. Então, vai ser uma combinação dessas questões que vai reduzir uma desigualdade vergonhosa como a gente em uma cidade como a nossa.”

Por Daniel Mello, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 13/02/2020

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