domingo, 13 de outubro de 2024

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quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Entenda o que são cidades-esponja

 cidade-esponja

China. Projeto de cidade-esponja do paisagista e arquiteto chinês Kongjian Yu. Jinhua Harbin Qunli Stormwater Park.- Foto Divulgação escritório Turenscape

 

Artigo de Enzo Reis Aceti1

“Cidades-esponja” são um conceito de desenvolvimento urbano que busca melhorar a eficiência da absorção da água, transformando as cidades em uma “esponja”.

Essa ideia contemporânea surgiu no Japão com o foco em minimizar inundações, recarregar lençóis freáticos, melhorar a qualidade da água e criar ambientes urbanos mais agradáveis de se viver.

Hoje, o país líder nesse assunto é a China, que depois das grandes inundações que sofreu no ano de 2010, começou a investir fortemente na implementação nas cidades desse recurso urbanístico, e já possui mais de 10 que estão totalmente capacitadas à possíveis grandes chuvas.

O conceito de “cidades-esponja” vem do que já se utiliza há muito tempo na agricultura conhecida como “curvas de nível2” e “cacimbas3

A implantação de uma infraestrutura de “cidade-esponja” de forma acertada para a recepção da umidade não é tarefa simples, e depende de muito investimento para a criação de parques, praças, “calçadas verdes”, jardins de chuva4, “telhados verdes”, hortas urbanas e “wetlands”5 e a manutenção das margens dos rios, com a retirada de concreto e a implementação de mata ciliar ou espaços verdes.

Outra forma de implementação das “cidades-esponja” é o aumento do uso de materiais permeáveis, como o concreto permeável ou concreto poroso6.

Algumas cidades que são exemplos de como as “cidades-esponja” podem ser implementadas com sucesso para criar ambientes urbanos mais sustentáveis e resilientes são Jinhua e Xangai, na China; Nova York, nos Estados Unidos da América; Berlim, na Alemanha; e Curitiba, no Estado do Paraná.

Segundo um estudo feito pela equipe de gestão de biodiversidade e parques municipais7, a cidade de São Paulo possui uma porcentagem de 54% (cinquenta e quatro por cento) de área verde, distribuída principalmente na zona sul da cidade. Essas áreas desempenham um papel crucial na regulação do clima da metrópole, mas se deve lembrar que a cidade possui uma disposição desigual dessas áreas verdes, tornando certos bairros mais suscetíveis a possíveis enchentes.

A legislação brasileira, na questão ambiental, é uma das mais rigorosas do mundo e já na Constituição Federal de 1988, no artigo 225, ela deixa muito bem escrito que: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.” E, deixa claro em seus incisos que é dever do Poder Público e à coletividade a preservação do meio-ambiente para as presentes e futuras gerações.

Outras leis que trazem vantagens e recursos para a implementação das “cidades-esponja” são:

  1. Política Nacional de Defesa Civil8;

  2. Política Nacional de Recursos Hídricos9; e

  3. Marco Legal do Saneamento Básico10.

A Política Nacional de Recursos Hídricos traz recursos muito importantes para a facilitação da implementação de métodos que promovem a gestão integrada dos recursos hídricos, como os Planos de Recursos Hídricos, o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos, a Compensação a municípios e outras.

Também oferece uma estrutura robusta que pode auxiliar os municípios na implementação das “cidades-esponja”.

Ao promover a gestão integrada, a participação social, a elaboração de planos específicos, o financiamento de projetos e a educação ambiental, a “PNRH” cria um ambiente favorável para o desenvolvimento de soluções sustentáveis que beneficiam tanto a população quanto o meio ambiente, e com o auxílio dos mecanismos da Política Nacional de Defesa Civil, torna-se mais atingível a criação de ambientes urbanos mais resistentes às mudanças climáticas, reduzindo o risco de inundações e promovendo a sustentabilidade.

Embora não existam tratados internacionais específicos para “cidades-esponja”, várias convenções e acordos abordam a gestão sustentável da água e a resiliência urbana:

Convenção de Ramsar11: Focada na conservação e uso sustentável das zonas úmidas, que são essenciais para a gestão da água.

Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável12: Inclui objetivos relacionados à água limpa e saneamento (ODS 6) e cidades e comunidades sustentáveis (ODS 11). Vide ODS 13 ações contra as mudanças globais do clima.

Acordo de Paris13: Embora focado nas mudanças climáticas, incentiva práticas que aumentam a sustentabilidade das cidades, incluindo a gestão da água.

Essas iniciativas internacionais estabelecem diretrizes que permitem aos Estados desenvolverem políticas públicas e projetos que integrem os princípios das “cidades-esponja”, fomentando um urbanismo pautado na sustentabilidade e na resiliência.

Para que um município possa exigir alterações nos imóveis para aumentar a permeabilidade do solo, ele deverá inserir no plano diretor da cidade o conceito de “cidade-esponja”. O Plano Diretor Municipal é uma lei que orienta o desenvolvimento urbano de uma cidade, estabelecendo regras e diretrizes para o uso do solo, organização das atividades e crescimento do município. O Plano Diretor Municipal tem como objetivo: (i) Melhorar a qualidade de vida da população; (ii) Reduzir desigualdades socioeconômicas; (iii) Tornar a cidade mais inclusiva, justa e ambientalmente equilibrada; (iv) Organizar as atividades urbanas e rurais; e (v) Considerar o meio ambiente, habitação, transporte e infraestrutura urbana.

O Código de Posturas Municipal, também conhecido como Posturas Municipais, é uma legislação que estabelece as normas de conduta para o convívio e para a realização de atividades no espaço urbano. O Código de Posturas Municipal aborda temas como: Higiene, Ordem pública, Funcionamento de estabelecimentos comerciais e industriais, Relações entre o poder público e os munícipes.

Acima de tudo, deve-se ressaltar que as “cidades-esponja” não são apenas uma ideia de desenvolvimento urbano “sem pé nem cabeça” que busca apenas o conforto ocular, mas sim, uma melhora em diversos aspectos do convívio urbano, trazendo benefícios sociais como a redução das enchentes, a redução do calor urbano e a melhora da água e ar, resultando numa melhora na saúde pública, e também existem benefícios econômicos que devem ser considerados, como uma melhora na economia de recursos, diminuindo a necessidade de infraestrutura cara para controle de enchentes e tratamento de água, a valorização imobiliária, atraindo investimentos e melhorando a economia local.

1 Graduando em direito pela UNIFEOB. Estagiário da Aceti Advocacia www.aceti.com.br

2 As curvas de nível são uma ferramenta importante para o planejamento de projetos de irrigação, pois ajudam a controlar a quantidade de água utilizada e a evitar desperdícios.

3 As cacimbas são bacias de captação de enxurradas que permitem a infiltração da água acumulada, sendo uma forma natural de recarregar os lençóis d’água e manter nascentes.

4 Tipo de jardim que, normalmente, possui um composto de areia em seu subsolo com o objetivo de aumentar a infiltração de água.

5 Termo derivado do inglês que significa “áreas molhadas”, que são sistemas projetados para formarem lagoas ou canais rasos que abrigam plantas aquáticas, más também existem as “wetlands” naturais, como pântanos e manguezais.

6 Concreto que possui em sua proporção um aumento de pedra e pouca ou nenhuma areia.

8 Lei nº 12.608, de 10 de abril de 2012, alterada pela lei nº 14.750, de 12 de dezembro de 2023.

9 Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997.

10 LEI Nº 14.026, DE 15 DE JULHO DE 2020. Atualiza o marco legal do saneamento básico e altera a Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, para atribuir à Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) competência para editar normas de referência sobre o serviço de saneamento, a Lei nº 10.768, de 19 de novembro de 2003, para alterar o nome e as atribuições do cargo de Especialista em Recursos Hídricos, a Lei nº 11.107, de 6 de abril de 2005, para vedar a prestação por contrato de programa dos serviços públicos de que trata o art. 175 da Constituição Federal, a Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007, para aprimorar as condições estruturais do saneamento básico no País, a Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, para tratar dos prazos para a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, a Lei nº 13.089, de 12 de janeiro de 2015 (Estatuto da Metrópole), para estender seu âmbito de aplicação às microrregiões, e a Lei nº 13.529, de 4 de dezembro de 2017, para autorizar a União a participar de fundo com a finalidade exclusiva de financiar serviços técnicos especializados.

13 O Acordo de Paris é um tratado global, adotado em dezembro de 2015 pelos países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, acrônimo em inglês), durante a 21ª Conferência das Partes (COP21). Vide: https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/sirene/publicacoes/acordo-de-paris-e-ndc/arquivos/pdf/acordo_paris.pdf

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

Por que a União está assumindo o abacaxi de Angra 3?

artigo de opinião

A Eletrobras fez péssimo negócio ao ficar com parte da Eletronuclear, mas por que gente do governo tenta empurrar o custo da usina para a União?

Os jornais vêm publicando reportagens sobre conflitos internos no governo Lula quanto à compra pela União das dívidas e custos da Eletronuclear, responsável pela usina Angra 3, em troca de mais assentos nos conselhos de administração e fiscal da Eletrobras.

Finalizar a obra, contudo, cria tantos problemas que até o presidente da Eletronuclear os reconhece em artigo publicado nesta Folha (“Quem vai pagar a conta de Angra 3?”, 11/9). De fato, a Eletrobras foi privatizada por Jair Bolsonaro de forma bastante desvantajosa para o país: a União continuou como acionista majoritária, com 43%, mas ficou com menos de 10% dos votos nos conselhos da empresa.

Agora, a Eletrobras propõe o aumento do número de conselheiros para que a União alcance os 30% dos votos. Em troca, a União pagaria R$ 6 bilhões pela parte da Eletronuclear na companhia, mais R$ 6 bilhões de dívidas da própria Eletronuclear. E se quiser concluir Angra 3, tecnicamente defasada, ainda despenderá no mínimo mais R$ 26 bilhões. O mais estranho desse negócio da China (para a Eletrobras, que fique claro!) é que a União abriu mão de um valor maior na venda da Eletrobras em troca de dividir com ela a Eletronuclear.

Não sabemos ao certo quem constitui o lobby no governo Lula pela compra desse abacaxi atômico pela União. Mas sabemos que o setor econômico do governo é contra, pois não vê sentido em adquirir a Eletronuclear, uma empresa com dívidas e passivos ambientais presentes e futuros. O que já dá para saber, pelos jornais, é que esse abacaxi está sendo empurrado para a União —ou seja, para todos nós.

Pouca gente sabe, mas o preço da eletricidade, para nós, hoje já é mais caro também devido à energia nuclear. Embora Angra 1 e 2 forneçam bem pouca energia, seus custos de geração são muito maiores do que os da energia hidrelétrica, da eólica, da solar e das térmicas, o que faz subir o preço médio do quilowatt-hora. Também quase ninguém sabe que usinas nucleares não têm seguro contra acidentes e, quando acontecem, ainda que raros, são impagáveis.

Fusão nuclear pode ser transformadora, mas ainda tem obstáculos técnicos a serem superados.

A Eletronuclear tem ainda outras grandes despesas no futuro próximo, mas sua contabilidade não é mencionada. O custo da desmontagem de usinas nucleares, no término da sua vida útil, é altíssimo. As piscinas de Angra 1 e 2, por sua vez, já estão praticamente cheias de rejeitos nucleares, o que levou à construção de depósitos a seco, provisórios. Como essas usinas e depósitos estão à beira-mar, em região sujeita a deslizamentos de terra, enchentes e elevação do nível do mar, torna-se urgente fazer um depósito definitivo. Mas qual região aceita ser vizinha de um depósito de urânio irradiado, que pode contaminar águas, plantas, pessoas e animais por mais de um século? E quanto custará a construção desse depósito? É preciso pelo menos uma estimativa, antes de concluir o abacaxi. Há dinheiro sobrando em Brasília?

Por outro lado, essas usinas, em áreas com condições de evacuação muito precárias, exigiria a duplicação da rodovia Rio-Santos —ainda mais se a decisão for pela conclusão de Angra 3— para que se atendam às normas internacionais de segurança nuclear num acidente mais grave.

Os funcionários das Angras reclamam dos baixos salários e de postos vagos, o que compromete a segurança das centrais. E a toda hora anda sumindo material radioativo de instalações da empresa e veículos de transporte de radiofármacos. Têm acontecido também vazamentos radioativos nas usinas, de que só ficamos sabendo muito tempo depois.

Enfim, o que está se revelando é que a Eletrobras fez um péssimo negócio ao ficar com parte da Eletronuclear e está tentando empurrar o abacaxi para nós, cidadãs e cidadãos. Quem, dentro do governo, defende isso? Por que razões misteriosas? É o que a Articulação Antinuclear Brasileira (AAB), movimento que reúne oponentes às usinas nucleares e ao uso do urânio nas várias etapas do seu ciclo, gostaria de saber.

Célio Bermann – professor do Instituto de Energia e Ambiente da USP
Chico Whitaker – Prêmio Nobel Alternativo de 2006
Heitor Scalambrini Costa – Professor da Universidade Federal de Pernambuco,
Marijane Vieira Lisboa – Professora da PUC-SP

* Os autores são membros da AAB (Articulação Antinuclear Brasileira)

 

Este artigo foi enviado pelos Autores e também publicado no jornal Folha de São Paulo, na seção TENDÊNCIAS / DEBATES https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2024/09/angra-3-o-abacaxi-atomico.shtml

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Publicação da Campanha Nacional da Articulação Antinuclear
Brasileira pela não conclusão de Angra 3 e
não extensão da vida útil de Angra 1!

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394