O número de centenários aumenta no Brasil e no mundo, mas a longevidade tem limites biológicos. Entenda as implicações do envelhecimento populacional.
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
O século XXI já tem mais idosos (60 anos e mais de idade) do que crianças de 0-4 anos e terá mais idosos do que jovens de 0 a 14 anos. Esta fato é uma novidade na história da população mundial.
O envelhecimento populacional é um fenômeno global, mas será mais profundo e mais rápido no Brasil do que na média mundial. O topo da pirâmide populacional vai crescer de forma inexorável no mundo e, em especial, no Brasil.
O número absoluto de centenários no mundo já tem crescido de forma exponencial, mas a despeito deste enorme crescimento, os números em termos percentuais continuam e vão continuar bastante reduzidos. Em 1950, havia 15 mil pessoas com 100 anos ou mais de idade no mundo, o que representava apenas 0,001% de uma população global de 2,5 bilhões de habitantes. O número de centenários passou para 587 mil em 2024, representando 0,01% de uma pulação de 8,2 bilhões de habitantes.
Para 2100, a Divisão de População da ONU estima o número de centenários em 18 milhões de pessoas de 100 anos e mais de idade, representando 0,18% do total de 10,2 bilhões de habitantes do planeta.
Existem muitas dificuldades para se registrar o número de centenários, pois faltam registros confiáveis diante de possíveis erros e fraudes na declaração de idade. De qualquer forma, no final do século XXI haverá cerca de 1 pessoa centenária para cada 570 habitantes no mundo.
O número de centenários no Brasil também tem crescido de forma exponencial, mas a despeito deste enorme crescimento, os números em termos percentuais continuam e vão continuar bastante reduzidos. Em 1950, havia 257 pessoas com 100 anos ou mais de idade no Brasil, o que representava apenas 0,0005% de uma população global de 53 milhões de habitantes. O número de centenários passou para 7.615 em 2024, representando 0,004% de uma população de 212 milhões de habitantes.
Para 2100, a Divisão de População da ONU estima o número de centenários em 619 mil pessoas de 100 anos e mais de idade, representando 0,379% do total de 163 milhões de habitantes do Brasil. Existem muitas dificuldades para se registrar o número de centenários, pois faltam registros confiáveis diante de possíveis erros e fraudes na declaração de idade. De qualquer forma, no final do século XXI haverá cerca 1 pessoa centenária para cada 265 habitantes do Brasil.
Sem dúvida, cada vez mais pessoas vão viver além dos 100 anos, mas isto não significa que uma grande proporção da população conseguirá superar esta marca. Nem significa que a longevidade humana vai crescer indefinidamente. Claramente existem limites físicos e biológicos ao aumento da longevidade, como mostrei no artigo (Alves, 2018) e como publicou a prestigiosa revista Nature em 2016.
No dia 07 de outubro de 2024 a revista Nature Aging publicou um novo artigo “Implausibility of radical life extension in humans in the twenty-first century” (Olshansky et al. 2024) mostrando que a tendência mundial de aumento da expectativa de vida desacelerou e que será quase impossível que a maioria das pessoas passe a viver até os cem anos.
De fato, os avanços no aumento da longevidade sofreram uma desaceleração considerável dos anos 1990 até 2019. (Evidentemente, a pandemia da covid-19 reduziu a expectativa de vida global em 2020 e 2021, mas já houve recuperação do nível pré-pandêmico em 2024).
De acordo com o artigo da Nature Aging, os dados indicam que, ao menos nos países com a expectativa de vida mais elevada do mundo hoje, uma espécie de “teto” biológico foi alcançado.
A ideia de uma expectativa de vida sem limites não tem fundamento na prática, mas independentemente do tempo de vida, o mais importante é viver bem e ter a longevidade possível, saudável, ativa e colaborativa.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. ‘A imortalidade é matematicamente impossível’, Ecodebate, 05/02/2018
https://www.ecodebate.com.br/2018/02/05/imortalidade-e-matematicamente-impossivel-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
Xiao Dong, Brandon Milholland & Jan Vijg. Evidence for a limit to human lifespan, Nature, 05 October 2016 https://www.nature.com/articles/nature19793
Editorial. The limits to human lifespan must be respected Nature volume 538, 05/10/2016
https://www.nature.com/articles/538006a
Olshansky et al. Implausibility of radical life extension in humans in the twenty-first century, Nature, 07/10/2024 https://www.nature.com/articles/s43587-024-00702-3
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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