A comunidade científica está para enfrentar um dos maiores impasses da climatologia na Era Moderna. A Terra está nas portas de uma nova glaciação, mesmo em tempos que apontam cada vez mais para o aquecimento global e seus efeitos. O fenômeno chamado de “Paradoxo da Hibernação Solar” mudará o eixo dos estudos científicos sobre o clima planetário. A descoberta recém-revelada vem de pesquisas entre o Laboratório de Jato Propulsão (JPL), pertencente a Administração Nacional de Atmosfera e Espaço (NASA), dos Estados Unidos, e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), do Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil.
O pai da descoberta é um peruano naturalizado brasileiro, com traços fortes de homem andino e sotaque ainda carregado na pronúncia do português. Walter González, cientista do INPE, é uma das maiores autoridades em física espacial e consultor da NASA sobre meio interplanetário e clima do espaço extraterrestre. Ainda participaram dos estudos sobre essa anomalia solar, que demorou dois anos para ser concluído, o pesquisador brasileiro Ezequiel Echer e Bruce Tsurutani, do JPL.
Não há mais dúvidas, a Terra entrará em uma nova miniglaciação, como as ocorridas na Idade Média e no Século 17. Em ambos os casos as atividades solares cessaram, ficaram tão fracas que não houve ejeção de matéria da coronal do Sol em direção ao espaço. Ou conhecidas também como tempestades solares, algo comum quando se tem na superfície da estrela imensas manchas escuras. Porém isto sumiu, o Sol ficou em calmaria, em um vermelho sólido, uniforme, e isto levou ao resfriamento do planeta por várias décadas.
“Atualmente a atividade solar máxima, que começou no ano passado, está mais fraca e o período de mínimo solar está se estendendo. Isto é um indicador que alguma anomalia está ocorrendo no Sol”, observou González depois de perceber que o ciclo solar sofre com alterações desde 2007, quando registrou uma atividade já bem reduzida mesmo dentro do período denominado no meio científico como “Mínimo Solar”. Essa edição durou três anos – um ano a mais que a média habitual.
Os ciclos solares, hoje no 24º deles, são estudados e registrados há mais de 2 mil anos. Eles têm períodos médios de 11 anos, sendo duas atividades mínimas e uma máxima. O auge do fenômeno é quando a estrela está literalmente cuspindo gigantescas massas de material energizado para o espaço, sua superfície fica com diversas manchas escuras. Essas tempestades solares, provindas da corona – parte mais externa própria a superfície do Sol- chegam à Terra provocando diversos problemas em sistemas elétricos e eletrônicos e as fantásticas auroras boreal e austral.
Segundo González, a previsão de seu grupo de estudos é que haverá uma fase de pouca atividade solar, como a ocorrida em 1645, conhecida como o Efeito de Maunder (nome do cientista que a observou) e que durou 70 anos. Neste intervalo inexistiu qualquer atividade no Sol, sua estabilidade trouxe uma miniglaciação a Terra e pode ser retratada num famoso quadro inglês, que mostra as pessoas patinando sobre o Rio Tamisa, totalmente congelado.
Outro fenômeno semelhante aconteceu por volta de 1400, o Efeito Spörer, e persistiu por 60 anos com efeitos dramáticos sobre o clima terrestre. “Nestes dois eventos a temperatura do Planeta diminuiu num valor médio de 0,5 grau”, observou o pesquisador do INPE. Basta lembrar que nos últimos 100 anos, período que alarma os cientistas adeptos do aquecimento global, o aquecimento foi de 0.6 graus. O que levará as temperaturas ao mesmo padrão de 1900, quando findou a última grande glaciação planetária.
Maximum Solar
O máximo solar iniciado em 2010 terá seu ápice em 2013, mas dá sinais evidentes que suas atividades estão decaindo e novamente entrará em uma fase de declínio que afetará sua fase mínima. O cerne da questão se encontra neste ponto. Ninguém pode prever quanto será mais fraca e sua duração. A cada 250 a 300 anos existe a tendência de ocorrer essas atividades mínimas estendidas, como se o Sol tivesse se acalmado depois de uma explosão de fúria. E esse próximo período é exatamente a mesma época do mínimo de Maunder.
Os estudiosos que escreveram o artigo publicado em Julho na publicação científica “Annales Geophysicae” afirmam que se houver uma menor atividade do Sol e uma fase de mínimo solar ampliada ocorrerá uma nova glaciação. A Terra gelará, o que hoje é subtropical se tornará clima frio e quanto mais próximo aos Polos, maiores o avanço do frio. Um transtorno sem precedentes, já que em 1900 o Planeta contava com 1,5 bilhão de habitantes e hoje são 7 bilhões com grandes concentrações em áreas que serão drasticamente afetadas por uma nova Era Glacial.
O Paradoxo da Hibernação Solar é o caminho contrário ao aquecimento global. O Sol que é a principal fonte de energia em forma de calor agora estaria colaborando para o esfriamento. A estrutura magnetizada tanto do Planeta com da estrela vivem numa disputa equilibrada. Quando há mais atividade solar, menor é a penetração de raios cósmicos na atmosfera terrestre. As partículas solares impedem esse ingresso da radiação espacial, que chegam até a 10 quilômetros na troposfera e ionizam essa parte da atmosfera da Terra.
Esse material cósmico favorece a formação de nuvens, que formam um escudo que dissipa o calor que chega do Sol. Quanto menor a atividade solar mais facilmente se formarão espessas nuvens e a superfície sem receber a energia em forma de calor, oriunda do Sol esfriará bruscamente. O estudo mostrou que entre 2007 a 2010 o fluxo de raios cósmicos aumentou em 30% sobre a atmosfera planetária devido à falta de bloqueio das partículas solares energizadas. “É como o inverno nuclear e isto não quer dizer que teremos mais chuvas, serão nuvens mais altas que servirão como refletores da radiação solar em forma de calor” explicou González. Ele comentou ainda que o campo magnético solar atingiu o menor valor dos últimos 60 anos.
Basta agora saber se o que vem desta estagnação estrelar será próxima ao que o pesquisador Dalton observou em 1900, quando o Sol ficou em sua fase mínima por 8 anos, ou se enfrentará o que Maunder observou por 70 anos. São épocas sem auroras polares, das calotas de gelo aumentando, de nevascas e de profunda alteração do clima da Terra e na vida do homem.
O assunto será tratado em Outubro, na Argentina, na reunião internacional da União Internacional de Astronomia e, em Dezembro, nos Estados Unidos, no Congresso da American Geophysical Union.
IPCC
Até o momento os estudos sobre o aquecimento global, que gerou o Painel intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, não levou em consideração fatores extraterrestres, do clima interplanetário, como a influência do Sol e da radiação cósmica na atmosfera do planeta. Essa é uma das críticas dos autores do artigo sobre a variação da atividade solar e a influência no meio ambiente terrestre.
Entretanto, o Sol é estudado desde 1750 quando os cientistas aperfeiçoaram o telescópio e as pesquisas passaram a ter maior sistematização. E suas influências sobre a Terra são, muitas vezes, terríveis. Na Era Espacial, com inicio em 1957, a maior tempestade geomagnética ocorreu em 1989, no dia 13 de Março, quando uma Aurora Austral chegou até Buenos Aires e o sistema elétrico do Canadá entrou em colapso por sobrecarga eletromagnética induzida, deixando o país no escuro e sob o frio polar.
Contudo, a tempestade gigantesca ocorreu mais um de século antes. Em 1859 uma onda de partículas solares altamente energizadas atingiu a Terra e queimou todos os telégrafos existentes na Europa e América do Norte. Ela foi três vezes mais intensa que a de 1989. Algo que atualmente levaria o Planeta ao caos total, principalmente pela dependência das redes de energia e comunicação, além de equipamentos eletrônicos. Praticamente tudo seria destruído, inclusive os satélites.
Fonte : Revista ECO-21
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