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Posted: 01 May 2014 08:11 AM PDT
No
último final de semana, o atleta brasileiro Daniel Alves, jogador do
clube espanhol de futebol Barcelona, em um jogo, foi alvo de racismo; um
torcedor do time rival jogou no campo, enquanto Daniel estava na sua
borda, uma banana e este, por sua vez, a pegou e a comeu e, em seguida,
voltou a jogar. No início deste ano, o atleta Tinga, do clube mineiro
Cruzeiro, também foi alvo de racismo em um jogo fora do país, no qual
vários torcedores do time rival, toda a vez que ele “pegava” na bola,
simulavam sons de macacos. Estes são apenas dois exemplos de racismo no
futebol pelo mundo, mas o preconceito não está presente apenas neste
esporte.
Em 2011, um atleta do time de vôlei Futuro, o jogador Michael, em uma partida da Superliga de Vôlei, foi alvo de homofobia. Homossexual assumido, toda vez em que Michael tocava na bola, parte da torcida do outro time gritava xingamentos. O preconceito e a discriminação possuem diversos alvos: negros, homossexuais, transexuais, travestis, mulheres, pessoas de classes sociais menos favorecidas, nordestinos, integrantes de religiões de raízes africanas (candomblé, por exemplo) dentre outros e, infelizmente, ainda estamos longe de ser uma sociedade igualitária, justa e pacífica, livre de qualquer preconceito. O número de homossexuais assassinados no Brasil é alarmante: no ano de 2013, a cada 28 horas, um homossexual foi morto em crimes de ódio, isto é, em crimes motivados por homofobia; somou-se 312 mortes deste tipo e, com este dado, o país lidera o ranking mundial de violência contra os homossexuais, segundo o Grupo Gay da Bahia (GGB). A população carcerária brasileira é, em sua grande maioria, constituída por homens jovens, negros e oriundos das camadas mais pobres da sociedade, sendo a 4ª maior população em cárcere do mundo. Nordestinos recém chegados na região sudeste e até aqueles que residem fora de seu estado de origem há muito tempo sofrem xenofobia, ou seja, a discriminação e o preconceito de pessoas que não aceitam migrantes. Praticantes de religiões de raízes africanas, como o candomblé, por exemplo, são discriminadas por pessoas que não conhecem, nem um pouco, a história, as tradições e o dia a dia destas crenças. A escola, juntamente com a comunidade na qual está inserida (e isto inclui as famílias dos alunos), tem papel fundamental no combate aos diversos tipos de preconceitos a fim de conscientizar os estudantes por meio de campanhas, projetos, trabalhos etc. Como formadora de cidadãos críticos e protagonistas, a escola tem o dever de lutar contra a discriminação, inclusive em seu interior, combatendo o bullying. O Enem tem, bem claro, em suas cinco competências e em seu propósito a luta contra o preconceito: qualquer traço de discriminação e ódio acarretará na anulação da redação e não apenas em relação à proposta de intervenção social, mas também em todo o texto. Qualquer violação aos direitos humanos será punida não por ser politicamente incorreta, mas por ser errada. Deste modo, o Enem, em seu contexto, está a par deste combate e cumpre seu papel no sentido de conscientizar os seus candidatos que, por sua vez, jamais devem ser preconceituosos, mas não porque correm o risco de terem sua redação anulada, mas sim porque é o correto. Às vezes, por desconhecimento, ao escrevermos e/ou ao falarmos, utilizamos termos pejorativos ou já em desuso e, assim, na redação do Enem ou de qualquer outro exame e no nosso dia a dia devemos usar termos mais adequados para não sermos preconceituosos e para combatermos este mal. Por exemplo, não é mais apropriado usar a palavra “homossexualismo” e sim “homossexualidade” e “homoafetividade”. O sufixo “-ismo”, na Língua Portuguesa, refere-se a doenças e já foi provado, cientificamente, que ser homossexual não é ser ou estar doente; não se adquire homossexualidade e, portanto, não se deve falar em “homossexualismo”, pois não trata-se de uma doença. O termo “raça” é outro que está deixando a cena. De acordo com publicações científicas e jornalísticas, biologicamente, raças são “subespécies e definidas como grupos de pessoas – ou animais – que são fisiológica e geneticamente distintos de outros grupos. São da mesma raça os indivíduos que podem cruzar entre si e produzir descendentes férteis” (1), mas, recentemente, esta definição foi aprimorada. Pode haver mais variação genética entre pessoas de uma mesma raça do que entre indivíduos de raças diferentes. Isso significa que um sueco loiro pode ser, no íntimo de seus cromossomos, mais distinto de outro sueco loiro do que de um negro africano. Em resumo, a genética descobriu que raça não existe abaixo da superfície cosmética que define a cor da pele, a textura do cabelo, o formato do crânio, do nariz e dos olhos.(2)
Ao invés de falarmos em “raças”, devemos falar em etnias que, segundo
o dicionário Houaiss, significa “coletividade de indivíduos que se
diferencia por sua especificidade sociocultural, refletida
principalmente na língua, religião e maneiras de agir; grupo étnico”.
Este termo, na verdade, ainda está em discussão, principalmente na
Antropologia, mas é o que está em voga atualmente.
Já as religiões de raízes africanas sofrem uma injusta e grande
generalização por parte de quem é preconceituoso e/ou desinformado:
todas são macumbas. “Macumba” é uma palavra de origem africana que
possui, como primeira acepção, “antigo instrumento de percussão de
origem africana, espécie de canzá que consistia num tubo de taquara com
cortes transversais onde se friccionavam duas varetas, e que era outrora
usada em terreiros de cultos afro-brasileiros”, ou seja, macumba é um
instrumento utilizado em rituais de religiões de origem africana, mas,
como a Língua Portuguesa é viva como todas as línguas, passou a ser
utilizada para referir-se a todos os cultos de raiz africana e,
especialmente, aos “trabalhos” realizados nestes cultos.O problema desta generalização é a ignorância que a cerca, pois há várias religiões afro-brasileiras e cada uma possui sua cultura, suas tradições e costumes, suas crenças e muitas pessoas pensam que elas são do mal, mas não. Assim, nunca devemos generalizar, pois sempre junto a uma generalização está a ignorância e a falta de ponderação e de bom senso, além de este ato demonstrar uma imensa falta de vontade de aprender e de conhecer o que é diferente. Portanto, no Enem, em outros vestibulares e no nosso dia a dia, devemos mostrar respeito, não tolerância (pois esta é ligada ao ato de aguentar, o que não é a mesma coisa que respeitar) e devemos combater os nossos preconceitos com conhecimento e sem medo de conhecer o que é diferente do nosso contexto social, político e religioso. (1). Extraído de http://veja.abril.com.br/060607/p_082.shtml. Acesso em 29/04/2014. (2). Idem.
*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é
graduada e mestranda em Letras/Português pela Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação exercendo
funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e
Redação. Foi corretora de redação em em importantes universidades
públicas. Além disso, também participou de avaliações e produções de
vários materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da
Educação (MEC).
**Camila também é colunista semanal sobre redação do
infoEnem. Um orgulho para nosso portal e um presente para nossos
milhares de leitores! Seus artigos serão publicados todas às
quintas-feiras, não percam!Veja a melhor maneira de estudar para o Enem 2014Artigo Original: Redação no Enem: Termos Adequados Baixe gratuitamente o e-Book: Manual do Enem 2014 |
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