HISTÓRIA DO HAITI É MARCADA POR CONFLITOS, DITADURAS E INSTABILIDADES.
Outro fator preocupante é o fato de o país estar localizado em região de terremotos, tempestades tropicais e até mesmo violentos furacões.
Nos dias de hoje, a falta de saneamento básico, a miséria, o lixo, a ausência de atendimento nas áreas de educação e saúde, e a completa falta de uma política social ou econômica pulsante são tópicos frequentes estampados nas principais notícias sobre o Haiti. Mas houve uma época em que o país era produtivo, tinha influência política no Caribe e nas Américas, e era uma referência para países que lutavam contra a escravidão.
Durante o período colonial, a então Ilha Hispaniola, conhecida como Pérola das Antilhas, pertencia à metrópole espanhola. Descoberta por Cristóvão Colombo em 1492, a ilha foi cedida à França, em 1697 e foi uma colônia próspera, produtora de 40% do açúcar consumido no mundo e 60% do café bebido na Europa, explica o professor de Relações Internacionais da PUC-Rio, Kai Kenkel, além de também plantar cacau. Uma economia baseada na escravidão, mas não por muito tempo.
Durante o período colonial, a então Ilha Hispaniola, conhecida como Pérola das Antilhas, pertencia à metrópole espanhola. Descoberta por Cristóvão Colombo em 1492, a ilha foi cedida à França, em 1697 e foi uma colônia próspera, produtora de 40% do açúcar consumido no mundo e 60% do café bebido na Europa, explica o professor de Relações Internacionais da PUC-Rio, Kai Kenkel, além de também plantar cacau. Uma economia baseada na escravidão, mas não por muito tempo.
Em 1794, o Haiti sofreu uma revolta de escravos e, nesse momento histórico, a escravidão foi abolida. O país foi o primeiro a ousar tal proeza. “A escravidão foi abolida na esteira da Revolução Francesa, mas foi restituída por Napoleão”, conta Kai Kenkel. O marco abriu precedente para outro fato importante para a história do país. Em 1801, o ex-escravo Toussaint Louverture se tornou governador-geral, mas, logo depois, foi deposto e morto pelos franceses. Em contrapartida, o líder Jean Jacques Dessalines organizou o exército e derrotou os franceses dois anos depois. Nesse período de efervescência política e de grandes transformações, o Haiti declarou sua independência, tornando-se o segundo país independente nas Américas. “O país tem valor histórico, cultural e simbólico muito grande para o Caribe. E eles sabem disso e se orgulham da história do país”, diz o professor da PUC-Rio. Para livrar-se da ex-metrópole e do bloqueio comercial imposto pelos países europeus, o Haiti precisou pagar pela independência cerca de 90 milhões de francos de indenização (o equivalente, hoje em dia, a cerca de 15 milhões de euros, ou 40 milhões de reais).
A influência não parou por aí. “O Haiti levou tropas para o norte dos Estados Unidos durante a Guerra Civil Americana e enviou tropas para ajudar Simon Bolívar a abolir a escravidão nas terras que libertasse”, conta Kai.
Depois de bancar sua independência, o país passou por uma série de instabilidades políticas que parece persistir até os dias de hoje. No início do Século 20, depois de vários governantes terem passado pelo poder – e muitos deles terem sido mortos ou depostos –, tropas estadunidenses invadiram o país com a justificativa de estarem protegendo os interesses norte-americanos. A ocupação durou de 1915 a 1934 – período da I Guerra Mundial e entre guerras –, e foi marcada por avanços estruturais importantes, como a construção de rodovias, mas, em contrapartida, houve também a imposição de leis de segregação racial.
Nos tempos da ditadura de Papa Doc
Em 1957, em plena Guerra Fria, o médico François Duvalier, famoso pelo apelido de Papa Doc, foi eleito presidente da República. O ditador, apoiado pelos Estados Unidos, instaurou o terror com a milícia armada e violenta conhecida como tontons macoutes, responsável pela morte de 30 mil pessoas e 15 mil desaparecidos. Duvalier se serviu do populismo e aliou a população negra contra a elite mulata. Ele morreu em 1971, e seu filho, Jean-Claude assumiu o governo do Haiti aos 19 anos. “Mas ele se casou com uma mulata rica e rompeu com a política do pai. Em 1986, fugiu para a França. E, anos depois, foi encontrado em um banco de praça, sem um tostão porque sua mulher roubou todo o dinheiro que ele levou do Haiti”, lembra o professor. Em 1990, depois de uma eleição livre, foi eleito o padre salesiano Jean-Bertrand Aristide. Mas, no ano seguinte, o golpe de estado liderado pelo general Raul Cedras tirou Aristide do poder.
As crises de instabilidade política voltaram com toda a força. Os Estados Unidos impuseram sansões econômicas, a ONU decretou bloqueio e autorizou intervenção militar no país. Em 1994, com a ajuda dos norte-americanos, Aristide voltou ao poder, mas com uma economia enfraquecida por conta dos bloqueios. Em 2004, com o país afundado na crise, houve mais um período de terror, com ex-integrantes do exército haitiano – os tonton mascoutes.
“O padrão, no Haiti, é assim: ditadura violenta, com ou sem intervenção, e instabilidade política”, resume o professor de relações internacionais. Com tantas crises – muitas vezes sangrentas – o país sobrevive hoje basicamente da ajuda internacional de países e de ONGs que se instalaram por lá. “O Haiti tem também uma indústria têxtil, além de mão de obra boa e muito trabalhadora”, conta Kai Kenkel. “Mas há quase duas décadas a ONU está presente e há 50 anos o Haiti depende de ajuda humanitária. É muito complicado. Quando as forças armadas fazem distribuição de alimentos, a mãe haitiana cozinha tudo na hora porque não sabe o dia de amanhã”, continua. “Acredito que o maior problema do país é que uma pequena elite controla a maioria que está completamente pobre”, resume.
Em 2011, o país teve eleições diretas vencidas pelo cantor Michel Martelly, que concorria com a ex-primeira dama e ex-senadora Mirlande Manigat. O presidente tem poder político soberano.
A geografia da região
A influência não parou por aí. “O Haiti levou tropas para o norte dos Estados Unidos durante a Guerra Civil Americana e enviou tropas para ajudar Simon Bolívar a abolir a escravidão nas terras que libertasse”, conta Kai.
Depois de bancar sua independência, o país passou por uma série de instabilidades políticas que parece persistir até os dias de hoje. No início do Século 20, depois de vários governantes terem passado pelo poder – e muitos deles terem sido mortos ou depostos –, tropas estadunidenses invadiram o país com a justificativa de estarem protegendo os interesses norte-americanos. A ocupação durou de 1915 a 1934 – período da I Guerra Mundial e entre guerras –, e foi marcada por avanços estruturais importantes, como a construção de rodovias, mas, em contrapartida, houve também a imposição de leis de segregação racial.
Nos tempos da ditadura de Papa Doc
Em 1957, em plena Guerra Fria, o médico François Duvalier, famoso pelo apelido de Papa Doc, foi eleito presidente da República. O ditador, apoiado pelos Estados Unidos, instaurou o terror com a milícia armada e violenta conhecida como tontons macoutes, responsável pela morte de 30 mil pessoas e 15 mil desaparecidos. Duvalier se serviu do populismo e aliou a população negra contra a elite mulata. Ele morreu em 1971, e seu filho, Jean-Claude assumiu o governo do Haiti aos 19 anos. “Mas ele se casou com uma mulata rica e rompeu com a política do pai. Em 1986, fugiu para a França. E, anos depois, foi encontrado em um banco de praça, sem um tostão porque sua mulher roubou todo o dinheiro que ele levou do Haiti”, lembra o professor. Em 1990, depois de uma eleição livre, foi eleito o padre salesiano Jean-Bertrand Aristide. Mas, no ano seguinte, o golpe de estado liderado pelo general Raul Cedras tirou Aristide do poder.
As crises de instabilidade política voltaram com toda a força. Os Estados Unidos impuseram sansões econômicas, a ONU decretou bloqueio e autorizou intervenção militar no país. Em 1994, com a ajuda dos norte-americanos, Aristide voltou ao poder, mas com uma economia enfraquecida por conta dos bloqueios. Em 2004, com o país afundado na crise, houve mais um período de terror, com ex-integrantes do exército haitiano – os tonton mascoutes.
“O padrão, no Haiti, é assim: ditadura violenta, com ou sem intervenção, e instabilidade política”, resume o professor de relações internacionais. Com tantas crises – muitas vezes sangrentas – o país sobrevive hoje basicamente da ajuda internacional de países e de ONGs que se instalaram por lá. “O Haiti tem também uma indústria têxtil, além de mão de obra boa e muito trabalhadora”, conta Kai Kenkel. “Mas há quase duas décadas a ONU está presente e há 50 anos o Haiti depende de ajuda humanitária. É muito complicado. Quando as forças armadas fazem distribuição de alimentos, a mãe haitiana cozinha tudo na hora porque não sabe o dia de amanhã”, continua. “Acredito que o maior problema do país é que uma pequena elite controla a maioria que está completamente pobre”, resume.
Em 2011, o país teve eleições diretas vencidas pelo cantor Michel Martelly, que concorria com a ex-primeira dama e ex-senadora Mirlande Manigat. O presidente tem poder político soberano.
A geografia da região
Para complicar a questão, a parte da ilha onde se encontra o Haiti está localizada em um encontro de placas tectônicas – a placa da América do Norte e a placa do Caribe – além de ser uma região de baixa pressão, deixando a área instável e favorável a terremotos e tempestades tropicais. “Existe um oceano empurrando uma placa e outro empurrando a outra placa. É inevitável que elas se encontrem. Nessa mesma região do Golfo do México a atmosfera dinâmica transforma a área propícia à geração de furacões”, diz o professor de Geografia Física da PUC-Rio Marcelo Motta. As placas se arrastam e, nesse momento, há os abalos sísmicos.
O terremoto do Haiti de 2010 que destruiu o país foi de 7.0 na escala Richter e deixou aproximadamente 200 mil pessoas mortas, cerca de 250 mil pessoas feridas e 1,5 milhão de habitantes desabrigados, vivendo em barracas nos arredores de Porto Príncipe. Pouco tempo depois, o Chile sofreu um abalo de 8.8 na mesma escala e teve cerca de 800 mortos. “As construções no Haiti são feitas com pedra moída. É um material pouco flexível e que não sede. Por isso, eles caem mais facilmente em um terremoto. Já as construções do Chile foram feitas com truques da engenharia para que o edifico tenha mais flexibilidade”, explica Kai Kenkel.
“Foi um grande terremoto, sem dúvida, mas a falta de estrutura do país fez a diferença“, diz Marcelo Motta.
O terremoto do Haiti de 2010 que destruiu o país foi de 7.0 na escala Richter e deixou aproximadamente 200 mil pessoas mortas, cerca de 250 mil pessoas feridas e 1,5 milhão de habitantes desabrigados, vivendo em barracas nos arredores de Porto Príncipe. Pouco tempo depois, o Chile sofreu um abalo de 8.8 na mesma escala e teve cerca de 800 mortos. “As construções no Haiti são feitas com pedra moída. É um material pouco flexível e que não sede. Por isso, eles caem mais facilmente em um terremoto. Já as construções do Chile foram feitas com truques da engenharia para que o edifico tenha mais flexibilidade”, explica Kai Kenkel.
“Foi um grande terremoto, sem dúvida, mas a falta de estrutura do país fez a diferença“, diz Marcelo Motta.
Fonte : Rede Globo
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