sábado, 16 de setembro de 2017

FURACÃO IRMA E O AUMENTO DE TEMPERATURA GLOBAL

Cientistas relacionam a incidência de furacões mais destrutivos, como o Irma, ao aumento da temperatura global


ABr
Furacão Irma sobre o Caribe, o mais forte registrado no Oceano Atlântico
Furacão Irma sobre o Caribe, o mais forte registrado no Oceano Atlântico. Foto: Divulgação/Nasa
 
A ocorrência este mês de dois furacões em um prazo de uma semana – o Harvey, no  Texas, e o Irma, em países do Caribe e da Flórida – reacendeu o debate sobre as mudanças climáticas e trouxe novas críticas ao posicionamento da gestão Trump. A maior parte da comunidade científica americana relaciona a incidência de furacões mais destrutivos ao aumento da temperutura global.
Um estudo chamado Relatório Especial Ciência e Clima, do Programa de Investigação da Mudança Global dos Estados Unidos (CSSR, a sigla em Inglês), que reune cientistas da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica  (NOAA), da Nasa e de mais 11 agências federais do país, afirma que a atividade humana contribui para o aumento da temperatura global e, consequentemente, a incidência de furacões.
No estudo, a incidência de furacões mais destrutivos é usada como evidência de que é “muito provável que mais da metade do aumento das temperaturas, ao longo das últimas quatro décadas, foram causadas pela atividade humana.
Miami - Árvore caída na pista devido aos fortes ventos das primeiras chuvas ligadas ao Furacão Irma em Miami
Miami – Árvore caída na pista devido aos fortes ventos das primeiras chuvas ligadas ao Furacão Irma em Miami. Foto: Latif Kassidi/EFE
 
O relatório é parte da Avaliação Nacional do Clima e começou a ser feito durante o mandato de Bill Clinton, em 1990.  Em junho, o estudo foi publicado pela comunidade científica, que encaminhou o relatório para avaliação da Casa Branca. Até então, a administração Trump não se pronunciou.
As conclusões batem de frente com a ideologia defendida por Donald Trump – de que não é possível comprovar que o aquecimento global é consequência da interferência humana.
Union of Concerned Scientist (UCS, a sigla em inglês para a União dos Cientistas preocupados com o clima), uma entidade que reúne especialistas norte-americanos, também publicou em sua página um artigo em que afirma haver probabilidade de ocorrerem mais furacões destrutivos, como o Irma, que afetaram milhões de comunidades e colocaram estruturas em risco.
Estudos sobre os furacões e o aquecimento global já foram desenvolvidos várias vezes pela comunidade científica americana. A UCS trouxe o assunto à tona novamente por ocasião da passagem do Irma – já são mais de 60 mortes confirmadas e algumas ilhas destruídas no Caribe – Antigua e Barbuda, San Martin, Ilhas Virgens Americanas, e Turks e Caikus (território britânico).
Além das ilhas devastadas, são registrados enormes prejuízos financeiros – ainda não totalmente contabilizados – para praticamente todos os países e territórios caribenhos: Porto Rico (EUA), República Dominicana, Haiti, Cuba e Bahamas.
No continente, os Estados Unidos tiveram nove estados afetados, entre eles a Flórida, que teve todo o seu território atingido.
A UCS lembra que “para as comunidades costeiras, as cicatrizes sociais, econômicas e físicas deixadas por grandes furacões, como o Irma, são devastadoras”.
Os cientistas reafirmaram que os furacões são parte natural do sistema climático. Lembraram, no entanto, que as pesquisas recentes sugerem  o aumento de seu poder destrutivo, ou intensidade, desde a década de 1970, em particular na região do Atlântico Norte.
Medidas do potencial de destruição de furacões, calculadas a partir de sua força ao longo da vida útil, também mostram uma duplicação desse potencial nas últimas décadas. Um exemplo é o de um furacão que se mantém em níveis 4  e 5 (mais destrutivos) na escala Saffir-Simpson (que vai de 1 a 5) por mais tempo, causando mais danos.
Não só os furacões no Atlântico estão se intensificando, os tufões do Oceano Pacífico também estão atingindo a Ásia de maneira mais feroz.
Impacto oceânico
Cientistas ligados a UCS afirmam que os oceanos absorveram  93% do excesso de energia gerada pelo aquecimento global entre 1970 e 2010. Dessa maneira, foi possível observar a intensificação da atividade de furações em algumas regiões.
água do mar invade a cidade após passagem do furacão Irma
Passagem do furacão Irma pela província holandesa de Philipsburg, na ilha de San Martín – Foto: EFE/Gerben Van Es/Min. Defesa Holanda
 
O furacão é um fenômeno formado pelo aquecimento das águas oceânicas. Temperaturas marítimas superiores a 27º graus causam a evaporação da água que sobe aquecida em forma de vapor até as nuvens. O contato do vapor quente e do ar frio da atmosfera provoca correntes de ar que se descolam em movimento circular e formato de cone.
Os níveis do mar também estão subindo,  porque com os oceanos mais quentes,  água do mar se expande. Essa expansão segundo a UCS, combinada ao derretimento do gelo na Terra, causou um aumento médio global de aproximadamente 8 polegadas (20 cm)  do nível do mar, desde 1880.
A tendência esperada é de aceleração desse processo nas próximas décadas. Níveis do mar mais elevados na região costeira e a água mais aquecida poderão proporcionar furacões destrutivos, como o Katrina (2005), o Harvey ou Irma.
Impacto econômico
O impacto econômico será sentido massivamente, como vem ocorrendo nos últimos anos. afetando milhares de pessoas. Só nos Estados Unidos, 100 milhões de pessoas vivem em municípios litorâneos – cerca de um terço da população total.
Furacões mais potentes causaram perdas humanas, perdas econômicas para o Estado, a iniciativa privada e a população em geral.
Houston cidade do Texas foi fortemente afetada pela tempestade tropical Harvey
Houston – Cidade do Texas foi fortemente afetada pela tempestade tropical Harvey. Foto: divulgação do Dpt Militar do Texas/Tim Puitt/EPA/EFE
 
Nos Estados Unidos, o impacto do Harvey foi bastante sentido pelas indústrias petrolíferas da costa do Texas. O abastecimento comprometido deixou os preços da gasolina mais altos e e a falta do produto foi sentida durante a passagem do furacão pela Flórida.
Foi preciso que o governo do estado garantisse abastecimento nas estradas para a população que tentava deixar as áreas atingidas e que não conseguia abastecer os carros nos postos das rodovias.
Por Leandra Felipe, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 15/09/2017

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