A América Latina submergente, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] O Fundo Monetário Internacional divulgou no dia 23 de julho de 2019 as atualizações para o desemprenho da economia global, das regiões e dos países. O crescimento do PIB mundial que estava estimado para 3,3% em 2019 (WEO de abril) caiu para 3,2%. A maior redução ocorreu na América Latina e Caribe (ALC) cujo crescimento estava previsto para 1,4% e caiu para O,6% em 2019. Portanto, a região (com 33 países) deve apresentar redução da renda per capita em 2019, pois o crescimento populacional está previsto em 1% neste mesmo ano.
O Brasil – o maior PIB da ALC – teve um corte de 2,1% (WEO de abril) para 0,8% (WEO de julho) na previsão de crescimento econômico em 2019. O México – o segundo maior PIB da ALC – teve um corte de 1,9% para 0,9%, muito abaixo das promessas do presidente Andrés Manuel López Obrador (AMLO), que assegurou na campanha eleitoral um crescimento de 4% nos seis anos do seu mandato. A Argentina – o terceiro maior PIB da ALC – está em recessão pelo segundo ano consecutivo. Contudo, notícias piores acontecem na Venezuela que teve uma queda do PIB de 25% em 2018 e deve ter outra queda consecutiva, agora de 35% em 2019.
Na verdade, o baixo desempenho econômico da ALC vem desde o início da chamada década perdida. Em 1980 a ALC representa 12,2% do PIB mundial, enquanto os 5 países fundadores da ASEAN (Indonésia, Filipinas, Malásia, Singapura e Tailândia) tinham 3,2% do PIB mundial, a Índia 2,9% e a China apenas 2,3% do PIB mundial. Mas nos últimos 40 anos a ALC apresentou um mergulho e diminuiu sua participação no PIB mundial, caindo para 7,5% em 2018, devendo atingir 7% em 2024, conforme mostra o gráfico abaixo.
No mesmo período a China deu um salto e ultrapassou a ALC em 2003, chegou a uma participação de 18,7% em 2018 e deve alcançar 21,4% do PIB mundial em 2024. A Índia também apresentou uma ascensão (embora menor do que a China) e atingiu 7,8% do PIB mundial em 2018, ultrapassando a ALC. Os 5 países da ASEAN atingiram 5,5% do PIB mundial em 2018 e devem ficar com 6,1% em 2024, muito perto da ALC (com 33 países).
O fato é que os países asiáticos do gráfico acima estão em uma tendência emergente, enquanto a ALC está numa tendência submergente. A ALC tinha um tamanho 5,3 vezes maior do que a China em 1980 e em 2018 a China era 2,5 vezes maior. A ALC tinha um tamanho 4,3 vezes maior do que a Índia em 1980 e agora empataram de tamanho e a Índia será maior na próxima década. A ALC era 3,8 vezes maior do que os 5 países fundadores da ASEAN e pode ser ultrapassada em meados da próxima década.
A ALC, em 1980, tinha uma renda per capita (preços constantes em poder de paridade de compra – ppp) de US$ 10,8 mil, sendo 15 vezes superior à renda per capita da China de apenas US$ 721, sendo 8,3 vezes superior à renda per capita da Índia de US$ 1,3 mil e sendo 3,4 vezes superior à renda per capita da ASEAN+5 que era de US$ 3,1 mil, conforme mostra o gráfico abaixo.
Mas em 2017, a China com renda per capita de US$ 15,2 mil já havia ultrapassado a renda per capita da ALC e deve deixar os latino-americanos bem para trás na próxima década. Os 5 países da ASEAN reduziram bastante a diferença e podem ultrapassar a renda per capita da ALC antes de 2030. Já a Índia deve ultrapassar a ALC após 2030.
Os países da Ásia parecem que estão decolando como um avião, enquanto a ALC, ao contrário, está mergulhando como um submarino descontrolado e sem rumo definido. A renda per capita de 2013 da ALC só será alcançada novamente em 2021 ou 2022. Portanto, a região está passando pela segunda década perdida e pode ficar eternamente presa à armadilha da renda média e à estagnação secular.
Uma das explicações para a trajetória emergente da Ásia e a trajetória submergente da ALC é o nível das taxas de investimento (formação bruta de capital fixo). A taxa de investimento na ALC está em torno de 20% do PIB e da Ásia emergente em torno de 40% do PIB.
Enquanto os países asiáticos investem em infraestrutura, ciência e tecnologia e capital humano (gerando emprego e aumento da produtividade) os países latino-americanos apenas repõe a depreciação econômica e não conseguem acompanhar o ritmo da Ásia emergente.
Colunista do EcoDebate.
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 01/08/2019
Nenhum comentário:
Postar um comentário