terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

2023 COMEÇOU COM RECORDE DE DEGELO NA ANTÁRTIDA.

2023 começou com recorde de degelo na Antártida, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Uma das consequências inexoráveis do aquecimento global é o degelo dos polos, da Groenlândia e dos glaciares que tem o potencial, no longo prazo, de elevar o nível dos oceanos

“Já estamos profundamente envoltos na trajetória rumo ao colapso”
Will Steffen (25/06/1947 – 29/01/2023)

Os últimos 9 anos foram os mais quentes já registrados e a década passada 2011-20 foi a mais quente da série histórica da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA). O Planeta está com febre e não só está esquentando, com aquece a taxas crescentes. Por isso, o aquecimento global não é um problema como outro qualquer, mas sim o evento que engloba e potencializa os demais e obriga a humanidade a repensar suas prioridades diante da possibilidade de um armagedon ecológico. Indubitavelmente, uma catástrofe ambiental será o prenúncio de uma catástrofe social.

Se as temperaturas continuarem subindo de forma acelerada, diversas áreas do Planeta se tornariam inóspitas e inabitáveis e o mundo pode chegar à situação denominada “Terra Estufa”, como mostrou o grande cientista do clima Will Steffen, que morreu no último 29 de janeiro.

Seguindo as tendências das últimas décadas, a Terra caminha para um “ponto de inflexão global” (alguns dizem que já ultrapassou o ponto de não retorno) que pode ser o início de um efeito dominó – capaz de gerar uma série de acontecimentos desagradáveis em cascata. A catástrofe climática está no horizonte e só será evitada se forem adotadas ações concretas para reduzir e zerar as emissões de gases de efeito estufa.

Uma das consequências inexoráveis do aquecimento global é o degelo dos polos, da Groenlândia e dos glaciares que tem o potencial, no longo prazo, de elevar o nível dos oceanos em mais de 70 metros. Mesmo algo como 5% de degelo já seria suficiente para os oceanos subirem 3,5 metros, o que seria devastador para as áreas costeiras e para as cidades litorâneas.

Os gráficos abaixo, da National Snow & Ice Data Center (NSIDC), mostram a concentração de gelo marinho ao redor da Antártida em 31 de janeiro de 2015 e de 2023. Em 2015 havia 4,7 milhões de km2 de gelo, valor superior à média do período 1981 a 2010 que foi de 3,7 milhões km2. No dia 31/01/2023 a concentração de gelo foi de apenas 2,299 km2, o menor valor já registrado na série histórica. Ou seja, em 2023 há menos 2,4 milhões km2 de gelo ao redor da Antártida do que em 2015.

concentração de gelo marinho ao redor da antártida

 

O gráfico abaixo, também do NSIDC, mostra que a extensão de gelo marinho na Antártida para diversos anos e a média do período 1981-2010. Nota-se que o ano de 2015 estava acima da média das últimas décadas e 2022 bateu o nível mínimo de gelo ao redor do continente durante todo o ano. Porém, o mês de janeiro de 2023 apresenta menor nível de degelo marinho. Desta forma, o mês de janeiro de 2023 bateu todos os recordes de degelo marinho do continente, confirmando as mudanças das tendências climáticas da Antártida.

janeiro de 2023 bateu todos os recordes de degelo marinho

 

Os gráficos abaixo mostram os dados relativos ao mês de janeiro. Nota-se que entre 1979 e 2017 a inclinação da reta era de 3,5 + ou – 4,2% por década, mesmo considerando que em 2016 e 2017 a anomalia ficou abaixo da média do período. Mas considerando o período 1979 e 2023 a inclinação da reta ficou negativa, marcando -1,3 + ou – 3,4%. Ou seja, houve uma mudança na tendência e a Antártida passou a apresenta variação negativa para o mês de janeiro.

evolução da anomalia da extensão de gelo marinho antártida

 

Em 2022, os glaciologistas alertaram que algo ainda mais alarmante estava acontecendo na camada de gelo da Antártida Ocidental – grandes rachaduras e fissuras se abriram tanto no topo quanto embaixo da geleira Thwaites, uma das maiores do mundo. A plataforma Thwaites faz a Larsen B parecer um pingente de gelo, pois é cerca de 100 vezes maior e contém água suficiente para elevar o nível do mar em todo o mundo em mais de meio metro.

Em 2023, um vasto iceberg, equivalente ao tamanho da Grande Londres, se desprendeu da plataforma de gelo da Antártica. O enorme iceberg – que mede mais de 1.550 quilômetros quadrados – se separou da plataforma de gelo Brunt de 150 metros de espessura.

Na continuidade deste quadro, o nível do mar pode subir vários metros até o século XXI, dependendo dos níveis das emissões futuras e da aceleração do aquecimento global. As gerações que ainda nascerão vão herdar um mundo mais complicado e mais inóspito, podendo haver uma mobilidade social descendente em um mundo com muitas injustiças ambientais, apartheid climático e conflitos de diversas ordens. O fato é que o degelo dos polos, da Groenlândia e dos glaciares já começou e tende a se acelerar nas próximas décadas.

Muitas áreas litorâneas vão ficar debaixo d’água e os danos sociais e econômicos serão incalculáveis. A cidade de Santos (SP), será uma das mais afetadas no país. Mas o Rio de Janeiro, a segunda maior cidade do Brasil, também será muito afetada e bairros com a Barra da Tijuca podem ficar completamente debaixo d’água.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

ALVES, JED. A dinâmica demográfica global em uma “Terra inabitável”. RELAP, Vol. 14 – Número 26, janeiro de 2020: https://revistarelap.org/index.php/relap/article/view/239/350

ALVES, JED. Crescimento demoeconômico no Antropoceno e negacionismo demográfico, Liinc em Revista, RJ, v. 18, n. 1, 2022 https://revista.ibict.br/liinc/article/view/5942/5595

 

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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