Conheça os perigos das enchentes para a saúde
As chuvas devem aumentar em diversas regiões do Brasil e os riscos de enchentes e alagamentos podem se intensificar.
De acordo como Ministério da Saúde (MS), a contaminação da água pode levar a propagação de males como diarreia, cólera, febre tifoide, hepatite A, giardíase, amebíase, verminoses e leptospirose.
A recomendação é que a população não consuma nenhum alimento que teve contato com água ou lama de inundações ou enchentes.
Frutas, legumes e verduras costumam ser o principal foco de atenção, mas a medida vale também para alimentos industrializados, embalados ou enlatados. Nem mesmo a higienização com água sanitária ou outros produtos para esse fim anula o risco de contaminações. Em situações de emergência, a pasta indica o consumo apenas de água liberada pelas autoridades, se possível, fervida ou filtrada.
Doença mais comum em situações de enchentes e alagamentos, a leptospirose atinge, em média, 3 mil pessoas por ano no Brasil. Em 2020 e 2021, período em que parte da população entrou em isolamento por causa da covid-19, esse resultado decaiu e ficou abaixo de 2 mil casos. Mas, a partir de 2022, os registros voltaram a crescer. No ano passado, 188 pessoas morreram por causa da doença em território nacional.
Lesões causadas por objetos de metal, mesmo que não estejam enferrujados, madeira, vidro e até galhos e espinhos de plantas também oferecem grande risco em episódios de chuva forte. Elas podem evoluir para o tétano, causado por uma bactéria presente em itens contaminados. As autoridades recomendam o máximo de cuidado com entulhos e destroços de enchentes e alagamentos.
Esses episódios também aumentam os perigos do contato com animais peçonhentos. Nessa lista estão escorpiões, aranhas e cobras, por exemplo. Quando há chuva forte, essas espécies costumam buscar abrigo em locais secos, o que aumenta a necessidade de atenção por parte das famílias. Ao avistar esses animais, a recomendação é de que a população entre em contato com autoridades como bombeiros, polícia ambiental ou vigilância de zoonoses.
A especialista em saúde pública e saúde coletiva, Juliana Valentim, professora-pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fundação Oswaldo Cruz (EPSJV/Fiocruz), afirma que as consequências para a saúde podem se apresentar em curto, médio e longo prazo, inclusive com sequelas.
“Os desastres em decorrência das enchentes podem ocasionar muitas doenças, além de agravos e até mortes. Os impactos negativos têm distintas temporalidades. Em curto prazo, no momento da enchente, as lesões, envenenamento, intoxicação, traumatismos, choques elétricos, acidentes por picada de insetos, animais peçonhentos, afogamentos, são alguns exemplos. Em médio prazo, doenças transmitidas por vetores, gastroenterite, diarreia, gripe, desidratação, doenças de pele, hepatite A e infecções respiratórias como pneumonia, bronquite e asmas.”
Segundo a pesquisadora, em longo prazo, os impactos podem aparecer na saúde mental e no desenvolvimento de condições crônicas.
“Em longo prazo podem se desenvolver alguns transtornos psicossociais e comportamentais como estresse pós-traumático, insônia, ansiedade, pânico e depressão, assim como algumas doenças também não transmissíveis, como desnutrição e hipertensão. Além de tudo, pode haver sequelas sobre alguns agravos do curto prazo. Por exemplo, uma lesão grave em uma pessoa atingida por uma enchente, ela pode ter uma sequela para o resto da vida por conta dessa lesão.”
Ela ressalta que aspectos sociais também impactam no desenvolvimento de algumas dessas doenças. Populações que mais sofrem com as desigualdades estão mais expostas.
A especialista pontua que a missão de combater os males causados pelas enchentes e alagamentos exige atuação do governo federal em parceria com estados e municípios. Segundo Valentim, a gestão territorial direta é essencial.
“São serviços básicos e fundamentais que o município precisa oferecer para a população. É uma forma de prevenir também as enchentes. O esgotamento sanitário adequado, o manejo de resíduos sólidos e limpeza pública – até porque uma localidade que tem muito resíduo acumulado tem potencial de atração de vetores, além de potencializar o entupimento de canaletas, que ocasionam as enchentes. Além do sistema de manejo de águas pluviais, a própria drenagem urbana. O poder público municipal precisa realizar desde a coleta das águas da chuva, escoá-las em galerias de águas pluviais até o seu curso hídrico que é capaz de recebê-la.”
Entre 2013 e 2022, 93% dos municípios brasileiros foram atingidos por algum tipo de desastre entre tempestades, inundações, enxurradas e alagamentos. Mais de 4 milhões de pessoas foram afetadas, segundo dados da Confederação Nacional de Municípios (CNM). A destruição total atingiu mais de 107 mil casas e danificou 2 milhões de residências.
O Repórter SUS é uma parceria entre o Brasil de Fato e a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fundação Oswaldo Cruz (EPSJV/Fiocruz)
Foto: Divulgação/Prefeitura de Lajeado
Edição: Nicolau Soares
Por: Juliana Passos e Nara Lacerda
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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