quarta-feira, 6 de junho de 2018

DEPENDÊNCIA DE CAMINHÕES E CARROS.

Dependência de caminhões e carros: Lição para o futuro, artigo de Montserrat Martins


artigo de opinião
[EcoDebate] Sofrer pela dependência dos caminhões e carros poderia servir para mudar desse modelo rodoviário, que negligencia outras alternativas, para investir em ferrovias. Nos países desenvolvidos, trens e metrôs são fundamentais no transporte de cargas e passageiros.
Não precisa ser especialista no assunto para ver que apenas 30 mil km de ferrovias é uma quantidade insignificante, em contraste com cerca de 1,8 milhão de km da malha rodoviária, embora apenas 12% asfaltados e só 10 mil km de autoestradas.
Os caminhões transportam entre 60 a 80% das cargas, segundo diferentes estatísticas. Há 2,2 milhões de motoristas sendo mais de um milhão empregados e menos de um milhão de autônomos. Os altos custos diminuem o número de autônomos e atualmente haveria cerca de 58% empregados, 27% autônomos e 15% classificados como tendo “outros tipos de contratos”.
Brasileiro é apaixonado por carro, como já dizia uma propaganda de uma rede de postos. Se tem uma paixão nacional é essa de pegar o seu carro e sair por aí. O mesmo com os caminhões, ou com as motos, são parte da nossa cultura, jeito de ser, preferência nacional.
Um projeto de país, porém, tem de ser racional e um país para se desenvolver precisa de ferrovias e metrovias estratégicas, para cargas e passageiros. Nada impede de desenvolvermos uma paixão por trens, também, como em alguns poucos locais que tem “rotas românticas” para passeios turísticos.
Imaginem São Paulo e Rio se não tivessem ao menos linhas básicas de metrôs e trens? Nas outras capitais há poucas linhas, mas deveria ser uma prioridade nacional. Lembro de músicos que se apresentavam no metrô de Recife, por exemplo, por iniciativa própria. Nada impede de tornar nossos metrôs mais atrativos, mas em primeiro lugar é preciso que eles existam.
No transportes de cargas, nossas poucas ferrovias estão mais ligadas a transportar minérios ou soja até portos para o exterior, do que para o abastecimento interno. Um episódio diferente dessa crise foi o de Bauru, no interior paulista, onde não faltou gasolina, porque o abastecimento é feito de trem.
Uma crise é uma oportunidade de repensar prioridades e estratégias e essa escancarou um modelo atrasado, que é a dependência absoluta de transporte rodoviário. Muitas questões merecem debates, desde a estratégia econômica da Petrobrás, até a dependência de petróleo e as energias alternativas, além dos impostos abusivos. Mas, mais que isso, é preciso pensar num projeto de país.
Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é médico psiquiatra, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e ex-presidente do IGS – Instituto Gaúcho da Sustentabilidade
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 04/06/2018

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