Referendo na Escócia pode ser estopim para movimentos separatistas na Europa
Campanha pelo referendo na Escócia
REUTERS/Paul Hackett
O governo da Catalunha, com um referendo a favor da independência programado para o próximo mês de novembro, aproveitou o suspense escocês para pôr um milhão de pessoas nas ruas. Uma recente sondagem de opinião mostrou que uma maioria da população deseja a independência do País Basco. Na Itália, as províncias do Tirol do Sul e do Vêneto estão cada vez mais namorando a ideia de separação, enquanto na Bélgica a província de Flandres continua querendo formar o próprio estado soberano.
Fragmentação da União Europeia
A possibilidade de ver vários Estados europeus se fragmentarem está se transformando em realidade. E essa fragmentação não é provocada só pelos separatismos regionais. Em vários países os partidos da direita xenófoba ou as forças nacionalistas à antiga estão todos de vento em popa gritando por fronteiras soberanas e por abandonar a União Europeia.
Nas recentes eleições suecas, um partido com bases nazistas tornou-se a terceira força política nacional. Na França, a Frente Nacional é hoje o partido com maiores intenções de voto e sua líder, Marine Le Pen, cujo único programa é sair do euro e expulsar os imigrantes, tem chances de chegar à presidência da República. A Inglaterra está num “fica não fica” na Europa e até na ordenada Alemanha, um novo partido antieuropeu está ultrapassando o velho Partido Liberal.
Parafraseando Mark Twain, o anúncio da morte da União Europeia é um pouco exagerada. Desmanchar a integração europeia e a moeda única seria uma catástrofe geral. E ninguém até hoje, inclusive os mais críticos, está disposto a pagar para ver.
Crise de representação política
Os próprios escoceses e os catalães querem soberania, mas também querem ser aceitos imediatamente nas instituições europeias supranacionais. Entenda quem puder. Só que esse renascer dos nacionalismos pequenos ou grandes não é nada trivial. A administração da tradicional tensão entre os estados nacionais europeus e as instituições supranacionais em Bruxelas está cada vez mais cabeluda. Pela simples razão que a crise econômica nos últimos seis anos vem destruindo a confiança dos cidadãos nos seus dirigentes, nacionais ou europeus.
Essa crise da representação política tem mais a ver com a economia do que com os nacionalismos propriamente ditos. Tanto as províncias quanto os estados mais prósperos não estão mais a fim de continuar pagando pelos outros e acham que podem se virar melhor sozinhos. Esse rechaço da solidariedade nacional ou dentro da própria União é reflexo da globalização econômica.
Nenhum governo nacional tem condições de controlar e ainda menos influenciar de maneira decisiva sua economia doméstica ou as decisões dos grandes atores industriais ou financeiros. E Bruxelas também está paralisada. Os fluxos financeiros e as cadeias de produção transnacionais escapam às decisões dos poderes políticos.
O sucesso econômico e a luta contra o desemprego dependem da capacidade de encontrar “nichos” inovadores dentro dessas grandes cadeias de valor globais. E esses nichos dependem da promoção de pequenos pólos de produção regionais, utilizando as melhores tecnologias possíveis, por autoridades locais com muitos meios e autonomia necessária para isto.
Não é por nada que as províncias mais ricas e bem situadas acham que podem se virar melhor sem o peso de seus governos nacionais. Faz sentido, só que a fragmentação política egoísta também favorece os conflitos. E não podemos esquecer que terríveis e sangrentas guerras civis e entre estados são sempre possíveis e até prováveis na Europa. E que no último meio século foi a integração europeia que impediu essas tragédias. Será que a Escócia tem vocação para estopim?
Fonte : www.portugues.rfi.fr/geral/20140916-mundo-agora
Fragmentação da União Europeia
A possibilidade de ver vários Estados europeus se fragmentarem está se transformando em realidade. E essa fragmentação não é provocada só pelos separatismos regionais. Em vários países os partidos da direita xenófoba ou as forças nacionalistas à antiga estão todos de vento em popa gritando por fronteiras soberanas e por abandonar a União Europeia.
Nas recentes eleições suecas, um partido com bases nazistas tornou-se a terceira força política nacional. Na França, a Frente Nacional é hoje o partido com maiores intenções de voto e sua líder, Marine Le Pen, cujo único programa é sair do euro e expulsar os imigrantes, tem chances de chegar à presidência da República. A Inglaterra está num “fica não fica” na Europa e até na ordenada Alemanha, um novo partido antieuropeu está ultrapassando o velho Partido Liberal.
Parafraseando Mark Twain, o anúncio da morte da União Europeia é um pouco exagerada. Desmanchar a integração europeia e a moeda única seria uma catástrofe geral. E ninguém até hoje, inclusive os mais críticos, está disposto a pagar para ver.
Crise de representação política
Os próprios escoceses e os catalães querem soberania, mas também querem ser aceitos imediatamente nas instituições europeias supranacionais. Entenda quem puder. Só que esse renascer dos nacionalismos pequenos ou grandes não é nada trivial. A administração da tradicional tensão entre os estados nacionais europeus e as instituições supranacionais em Bruxelas está cada vez mais cabeluda. Pela simples razão que a crise econômica nos últimos seis anos vem destruindo a confiança dos cidadãos nos seus dirigentes, nacionais ou europeus.
Essa crise da representação política tem mais a ver com a economia do que com os nacionalismos propriamente ditos. Tanto as províncias quanto os estados mais prósperos não estão mais a fim de continuar pagando pelos outros e acham que podem se virar melhor sozinhos. Esse rechaço da solidariedade nacional ou dentro da própria União é reflexo da globalização econômica.
Nenhum governo nacional tem condições de controlar e ainda menos influenciar de maneira decisiva sua economia doméstica ou as decisões dos grandes atores industriais ou financeiros. E Bruxelas também está paralisada. Os fluxos financeiros e as cadeias de produção transnacionais escapam às decisões dos poderes políticos.
O sucesso econômico e a luta contra o desemprego dependem da capacidade de encontrar “nichos” inovadores dentro dessas grandes cadeias de valor globais. E esses nichos dependem da promoção de pequenos pólos de produção regionais, utilizando as melhores tecnologias possíveis, por autoridades locais com muitos meios e autonomia necessária para isto.
Não é por nada que as províncias mais ricas e bem situadas acham que podem se virar melhor sem o peso de seus governos nacionais. Faz sentido, só que a fragmentação política egoísta também favorece os conflitos. E não podemos esquecer que terríveis e sangrentas guerras civis e entre estados são sempre possíveis e até prováveis na Europa. E que no último meio século foi a integração europeia que impediu essas tragédias. Será que a Escócia tem vocação para estopim?
Fonte : www.portugues.rfi.fr/geral/20140916-mundo-agora
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