Extração mundial de matérias-primas triplicou em quatro décadas, diz PNUMA
Publicado em julho 22, 2016
A quantidade de matérias-primas extraídas da Terra passou de 22 bilhões de toneladas em 1970 para 70 bilhões de toneladas em 2010, segundo relatório apoiado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Os países mais ricos consomem em média dez vezes mais recursos que os mais pobres e duas vezes mais que a média mundial. Se a tendência se mantiver, em 2050 o planeta precisará de 180 bilhões de toneladas de matérias-primas anualmente
O aumento do consumo, impulsionado por uma classe média em crescimento, triplicou a quantidade de matérias-primas extraídas da Terra nas últimas quatro décadas, segundo um novo relatório do Painel Internacional de Recursos (IRP, na sigla em inglês), apoiado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
O drástico aumento do uso de combustíveis fósseis, metais e outros materiais aprofundará as mudanças climáticas, aumentará a contaminação atmosférica, reduzirá a biodiversidade e finalmente levará ao esgotamento dos recursos naturais. O relatório adverte que o resultado será a escassez de materiais essenciais e a intensificação do risco de conflitos locais.
“A taxa alarmante na qual os materiais estão sendo extraídos atualmente já está tendo um importante impacto na saúde humana e na qualidade de vida das pessoas”, disse Alicia Bárcena, copresidente do painel. “Isso mostra que os padrões governantes de produção e consumo são insustentáveis”.
“Devemos enfrentar urgentemente este problema, antes de esgotarmos de forma irreversível os recursos que impulsionam nossas economias e tiram as pessoas da pobreza. Este problema, profundamente complexo e um dos principais desafios que até agora a humanidade teve que enfrentar, exige retomar a governança da extração de recursos naturais com o objetivo de maximizar sua contribuição no desenvolvimento sustentável em todos os níveis.”
As informações sobre os fluxos de matérias-primas do novo documento complementam as estatísticas econômicas, identificam a escala e a urgência dos problemas ambientais globais e apoiam o acompanhamento dos avanços que estão sendo feitos pelos países na busca pelos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).
A quantidade de matérias-primas extraídas passou de 22 bilhões de toneladas em 1970 para 70 bilhões de toneladas em 2010, de acordo com o relatório. Os países mais ricos consomem em média dez vezes mais commodities que os mais pobres e duas vezes mais que a média mundial.
Se as condições permanecerem as mesmas, em 2050 as 9 bilhões de pessoas do planeta precisarão de 180 bilhões de toneladas de matérias-primas anualmente para satisfazer sua demanda. Esse número equivale a quase três vezes a quantidade atual e provavelmente elevará a acidificação e eutrofização dos solos e das águas no mundo todo, aumentará a erosão do solo e produzirá maiores quantidades de resíduos e contaminação.
Quantidade consumida por cada país
O relatório também classifica os países pelo tamanho de sua taxa de consumo de commodities per capita, ou seja, a quantidade de matérias-primas necessária para satisfazer a demanda final de um país. Trata-se de um indicador que mostra o verdadeiro impacto de uma nação na base global de recursos naturais. Também é um bom indicador indireto de seu padrão de vida.
Europa e América do Norte, que em 2010 tinham uma taxa de consumo de matérias-primas per capita de 20 e 25 toneladas por ano, respectivamente, lideram o ranking. Em comparação, a China tinha uma taxa de consumo de 14 toneladas per capita e o Brasil, de 13 toneladas.
A taxa anual per capita de Ásia-Pacífico, América Latina e Caribe, Ásia Ocidental, varia entre 9 e 10 toneladas. A taxa da África é inferior a 3 toneladas per capita.
Globalmente, desde o ano 2000 o uso de matérias-primas acelerou-se rapidamente à medida que as economias emergentes como a China passaram por transformações industriais e urbanas que demandaram quantidades sem precedentes de ferro, aço, cimento, energia e materiais de construção.
O relatório “Fluxos de matérias-primas e produtividade dos recursos em escala mundial” apresenta também recomendações com as quais o mundo pode manter o crescimento econômico e aumentar o desenvolvimento humano enquanto reduz a quantidade de matérias-primas que utiliza para consegui-lo.
Desvincular o uso cada vez maior de matérias-primas do crescimento econômico é o “imperativo da política ambiental moderna e é essencial para a prosperidade da sociedade humana e um meio natural saudável”, afirma o painel, formado por 34 cientistas de renome internacional, mais de 30 governos nacionais e outros grupos.
Essa desvinculação, que será necessária para que os países alcancem os ODS, requer políticas bem desenhadas. Serão essenciais os investimentos em pesquisa e desenvolvimento, junto com melhores políticas públicas e melhor financiamento, disseram os especialistas. Isso criará importantes oportunidades econômicas para um crescimento inclusivo e sustentado e para a criação de emprego.
No entanto, o documento aponta que não basta a eficiência no uso das matérias-primas. Ao reduzir os custos, a maior eficiência permitirá um maior crescimento econômico, mas poderá criar obstáculos para os esforços de reduzir a demanda global.
O painel recomenda colocar um preço nas matérias-primas no momento da extração, com o objetivo de refletirem os custos sociais e ambientais da extração e do uso de recursos e, ao mesmo tempo, reduzir o consumo desses materiais. Os fundos adicionais gerados poderiam ser investidos em pesquisa e desenvolvimento nos setores da economia que utilizam esses recursos de forma intensiva.
O painel adverte também que os países de baixa renda irão requerer quantidades cada vez maiores de materiais para alcançar o mesmo nível de desenvolvimento dos países ricos. Essa demanda crescente possivelmente contribuirá para gerar conflitos locais como os observados em áreas onde a mineração compete com a agricultura e o desenvolvimento urbano, de acordo com os especialistas.
Leia aqui o relatório completo (em inglês).
Da ONU Brasil, in EcoDebate, 22/07/2016
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