Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
Depois de uma sequência de 13 meses consecutivos de recordes de temperatura entre junho de 2023 e junho de 2024, o mês de julho de 2024 ficou ligeiramente abaixo de julho de 2023, o mês mais quente já registrado. Mas julho de 2024 registrou os dois dias mais quentes dos últimos 125 mil anos.
Os dados são do Copernicus Climate Change Service (C3S, na sigla em inglês), Instituto implementado pelo Centro Europeu de Previsões Meteorológicas a Médio Prazo, que publica regularmente boletins climáticos mensais que informam sobre as alterações observadas nas temperaturas globais. A maioria das informações relatadas baseia-se no conjunto de dados de reanálise ERA5, fornecendo uma reconstrução detalhada e consistente das condições atmosféricas globais, utilizando bilhões de medições de satélites, navios, aeronaves e estações meteorológicas em todo o mundo.
O gráfico abaixo, mostra a anomalia da temperatura em relação ao período pré-industrial (1850-1900), para todos os meses desde 1940, com destaque para 2023 e 2024. Todos os 12 meses entre julho de 2023 e junho de 2024 ficou igual ou acima de 1,5°C e a temperatura média global destes 12 meses é a mais alta já registada, ficando 1,64°C acima da média pré-industrial de 1850-1900. Porém, a anomalia do mês de julho de 2024 ficou 1,48°C acima da média pré-industrial, pouco abaixo do limite mínimo do Acordo de Paris.
Embora julho de 2024 não tenha sido tão quente quanto julho de 2023 em média, a Terra experimentou seus dois dias mais quentes no registro de dados do ERA5. A temperatura média global diária atingiu 17,16°C e 17,15°C, no ERA5, em 22 e 23 de julho. Todavia, dada a pequena diferença e à semelhança com o nível de incerteza nos dados do ERA5, há que se ter cuidado com a análise diária.
A anomalia de 1,64°C registrada nos últimos 12 meses é preocupante, mas não significa que a temperatura global já tenha ultrapassado definitivamente o limite inferior do Acordo de Paris. A comunidade científica considera que os dados mensais e anuais são importantes, mas uma tendência estrutural deve ser analisada com base em um período mais longo, de preferência abarcando três décadas.
Neste sentido, o Instituto Copernicus fornece uma ferramenta que permite analisar a evolução da temperatura global considerando a média de 30 anos e projetando a data para se atingir definitivamente o limite de 1,5°C.
O gráfico abaixo mostra a média de 30 anos da temperatura global, entre junho de 1994 e junho de 2024. A anomalia em relação ao período pré-industrial (1850-1900) foi de 1,28°C em junho de 2024 e, mantendo a mesma tendência, a anomalia de 1,5°C seria atingida definitivamente em março de 2033.
Este aumento da temperatura planetária é resultado da queima de combustíveis fósseis e do desmatamento da cobertura vegetal da Terra. Antes da Revolução Industrial e Energética – que deu início ao uso generalizado e desregrado dos hidrocarbonetos – a concentração de CO2 na atmosfera, na média, permaneceu abaixo de 280 partes por milhão (ppm), por um largo período de tempo. Mas a queima de carvão, petróleo e gás turbinou o crescimento demoeconômico, ao mesmo tempo que jogava grandes quantidades de gases de efeito estufa na atmosfera.
O clima do Planeta ficou praticamente estável durante todo o Holoceno (últimos 12 mil anos). Mas começou a mudar rapidamente no Antropoceno – época em que os seres humanos se transformaram em um força geológica que está colocando em xeque as condições de habitabilidade da Terra. As emissões globais de CO2 que estavam em 2 bilhões de toneladas em 1900, passaram para 6 bilhões de toneladas em 1950, chegaram a 25 bilhões de toneladas no ano 2000 e atingiram cerca de 40 bilhões de toneladas em 2023.
Em consequência, a concentração de CO2 que manteve uma média entre 200 e 300 ppm durante mais de 800 mil anos, começou a subir no século XIX, atingiu 300 ppm em 1920, chegou a 310 ppm em 1950, alcançou 350 ppm em 1987, registrou 400 ppm no ano do Acordo de Paris, em 2015, e marcou o recorde de cerca de 427 ppm em maio de 2024.
A emergência climática é a principal ameaça à vida na Terra. Como disse o Secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres: “Estamos no caminho para o inferno climático”.
Se esta rota não for alterada, as consequências serão catastróficas para os ecossistemas, a economia e a população mundial.
Os desastres que ocorreram com as inundações no Rio Grande do Sul em maio de 2024 e na Alemanha e na China em junho de 2024 são graves, mas são apenas um aviso de eventos mais danosos que virão no futuro, em função do desequilíbrio climático.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referência:
ALVES, JED. Crescimento demoeconômico no Antropoceno e negacionismo demográfico, Liinc em Revista, RJ, v. 18, n. 1, e5942, maio 2022 https://revista.ibict.br/liinc/article/view/5942/5595
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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