Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
A Divisão de População da ONU divulgou, no Dia Mundial de População, 11 de julho de 2024, as novas projeções demográficas para todos os países e regiões do mundo, já incorporando os efeitos da pandemia da covid-19 sobre a dinâmica populacional. Os novos números são fundamentais para se conhecer os cenários demográficos essenciais para o planejamento das políticas públicas de longo prazo e também para comparar a dinâmica populacional dos diversos países do mundo.
Os novos números da ONU confirmam que a população da Índia ultrapassou a população da China, mas apontou uma tendência de queda ainda maior do número de habitantes chineses. De tal forma, que a população da China representará apenas 42% da população da Índia em 2100.
O gráfico abaixo, com base na projeção média da ONU, mostra que a China tinha uma população de 539,2 milhões de habitantes (56% maior do que a população da Índia), chegou a 655 milhões em 1960 e teve uma pequena queda em 1961, em função da crise provocada pela política do “Grande salto para a frente”. A população continuou crescendo nas décadas seguintes e alcançou 1 bilhão de habitantes em 1982. O pico populacional ocorreu em 2021, com 1,427 bilhão. A partir de 2022 a população total da China iniciou uma trajetória de queda que deve decrescer até atingir 639 milhões de habitantes em 2100.
A população da Índia era de 346,3 milhões de habitantes em 1950, chegou a 1 bilhão em1998, ultrapassou a China em 2023 com 1,438 bilhão de habitantes, deve atingir o pico populacional em 2061, com 1,701 bilhão de habitantes, para em seguida iniciar uma trajetória de decrescimento até atingir 1,505 bilhão de habitantes em 2100. Em relação à população de 2021, a Índia terá mais 100 milhões de habitantes em 2100 e a China terá quase 800 milhões de habitantes a menos.
Além de ter um maior decrescimento populacional, a China vai ter um envelhecimento mais forte da estrutura etária e uma elevada razão de dependência.
O gráfico abaixo mostra a razão de dependência entre a população em idade ativa (15-59 anos) e os grupos considerados dependentes 0-14 anos e 60 anos e mais de idade. O melhor momento demográfico da China foi no período 1990 a 2020, quando a razão de dependência estava em torno de 50%, ou seja, havia 50 pessoas dependentes para cada 100 pessoas em idade de trabalhar.
Porém, no último quartel do século XXI, a razão de dependência vai passar para 150%. Ou seja, haverá 150 pessoas dependentes para cada 100 pessoas em idade ativa. Evidentemente, o aumento da razão de dependência colocará enorme peso sobre a economia chinesa e o país terá que se adaptar a esta nova realidade demográfica.
O gráfico abaixo mostra a razão de dependência entre a população em idade ativa (15-59 anos) e os grupos considerados dependentes 0-14 anos e 60 anos e mais de idade. A Índia vive o melhor momento demográfico e terá mais duas décadas para aproveitar o 1º bônus demográfico. Na maior parte do século a Índia terá uma razão de dependência abaixo de 100%, ou seja, menos de 100 pessoas dependentes para cada 100 pessoas em idade de trabalhar. Portanto, uma situação muito melhor do que a da China.
Indubitavelmente, a situação demográfica da China é mais desafiadora do que a situação da Índia, embora seja preciso registrar que ambos os países terão um forte processo de envelhecimento populacional em relação ao que ocorreu na maior parte da história.
Se a estrutura etária é menos favorável na China, a capacidade produtiva é muito melhor do que na Índia. A China possui uma maior renda per capita, uma população com maiores níveis de escolaridade e uma estrutura produtiva muito mais avançada. Isto quer dizer que a China pode aproveitar o 2º bônus demográfico (bônus da produtividade) e pode também aproveitar o 3º bônus demográfico (bônus da longevidade).
A China terá uma proporção de idosos de 60 anos e mais de idade acima de 50% no final do atual século e a Índia uma proporção pouco acima de 30%. O desafio será maior para o “Império do Meio”. Mas ambos os países terão um “tsunami prateado” e podem aproveitar o potencial produtivo e criativo dos idosos que terão um peso cada vez maior na sociedade.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. A China deve perder 654 milhões de habitantes entre 2022 e 2100, Ecodebate, 03/08/22
https://www.ecodebate.com.br/2022/08/03/a-china-deve-perder-654-milhoes-de-habitantes-entre-2022-e-2100/
ALVES, JED. A Índia como o país mais populoso do mundo e com enormes desafios ecossociais, Ecodebate, 10/08/2022
https://www.ecodebate.com.br/2022/08/10/a-india-como-o-pais-mais-populoso-do-mundo-e-com-enormes-desafios-ecossociais/
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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