Projeções indicam que, a partir de 2042, o crescimento populacional dos EUA dependerá da migração, com um saldo imigratório crucial para evitar o decréscimo populacional.
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
A Divisão de População da ONU divulgou, no Dia Mundial de População, 11 de julho de 2024, as novas projeções demográficas para todos os países e regiões do mundo, já incorporando os efeitos da pandemia da covid-19 sobre a dinâmica populacional. Os novos números são fundamentais para se conhecer os cenários demográficos essenciais para o planejamento das políticas públicas de longo prazo e também para comparar a dinâmica populacional dos diversos países do mundo.
Os Estados Unidos da América (EUA) são o terceiro país mais populoso do mundo e, ao contrário da China e da Índia, não vão apresentar decrescimento da população em nenhum momento do século XXI, de acordo com a projeção média da Divisão de População da ONU. Mas o contínuo crescimento demográfico dos EUA só ocorrerá se forem mantidas elevadas taxas de imigração.
O gráfico abaixo mostra que, na projeção média, a população dos EUA era de 153 milhões de habitantes em 1950, chegou a 345,4 milhões em 2024 e deve atingir 421,3 milhões em 2100. As demais linhas do gráfico são cenários que podem ocorrer, mas com menor probabilidade.
O gráfico abaixo mostra o número de nascimentos e óbitos dos EUA entre 1950 e 2100. O número de nascimentos foi de 3,7 milhões de bebês em 1950 e atingiu o pico com pouco menos de 4,5 milhões de bebês no final da década de 1950. Na década de 1970, o número de nascimentos ficou abaixo de 3,5 milhões, mas voltou a subir para o patamar de 4,3 milhões na primeira década do século XXI. A partir da crise financeira de 2008 e 2009, o número de nascimentos caiu para menos de 4 milhões de bebês, devendo se manter neste patamar para o restante do século e atingindo 3,9 milhões em 2100.
O número de óbitos era de 1,48 milhão em 1950, subiu para 2,4 milhões no ano 2000, chegou a 2,8 milhões em 2019, teve um grande salto durante a pandemia da covid-19 com 3,5 milhões de mortes em 2021, deve atingir 3,97 milhões em 2042 (quando superará o número de nascimentos) e chegar a 4,6 milhões de mortes em 2100. Ou seja, a partir de 2042 a curva de óbitos superará a curva de nascimentos e os EUA terão decrescimento populacional vegetativo (quando não se considera a migração).
O gráfico abaixo mostra o saldo migratório (imigração menos emigração) dos EUA entre 1950 e 2023 e cenários de projeções até 2100. Nota-se que o saldo migratório estava próximo de zero na década de 1950, subiu para cerca de 500 mil imigrantes entre 1960 e 1990, deu um salto para mais de 1 milhão de imigrantes nas décadas seguintes e atingiu o máximo de 1,9 milhão de imigrantes em 2016 e 2017, precipitando para 330 mil imigrantes em 2020 e 675 mil imigrantes em 2021, em função da pandemia da covid-19. Subiu para 1,3 milhão de imigrantes em 2022 e deve se manter aproximadamente neste nível no restante do século.
O gráfico a seguir mostra que nos primeiros anos do atual século o crescimento anual vegetativo (nascimentos – óbitos) estava na casa de 1,5 milhão de pessoas e saldo migratório também na casa de 1,5 milhão de pessoas. Consequentemente, o crescimento populacional estava na casa de 3 milhões de pessoas anualmente. Houve uma queda abrupta do crescimento populacional dos EUA durante a pandemia e uma retomada na casa de 2 milhões de habitantes em 2023 e 2024, mas com perspectiva de queda nas próximas décadas.
A partir de 2042, o crescimento vegetativo se tornará negativo, ou seja, haverá mais óbitos do que nascimentos nos EUA e o crescimento populacional passará a depender totalmente do saldo migratório.
Pela projeção média da Divisão de População da ONU o saldo imigratório deve ficar em torno de 1,3 milhão de imigrantes. Como a variação vegetativa deve ficar negativa em torno de 500 mil pessoas, o crescimento populacional dos EUA deve ficar em torno de 800 mil habitantes até o final do século.
Portanto, a migração terá um papel decisivo nas próximas décadas nos EUA. Se o saldo migratório anual ficar abaixo de 500 mil pessoas é quase certo que haverá decrescimento populacional do país e se a migração for zerada o decrescimento pode ser bastante profundo, como mostrei no artigo “A população dos Estados Unidos deve começar a decrescer em 2081” (Alves, 24/11/2023).
A questão migratória está no centro dos debates do processo eleitoral americano de 2024. Dependendo das políticas adotadas pelo governo eleito, pode ser que as rígidas restrições ao fluxo imigratório mude o cenário de crescimento populacional dos EUA no século XXI, apresentado no primeiro gráfico deste artigo. Mudanças na dinâmica demográfica exigiria alterações nas política públicas e na dinâmica econômica e social. O futuro é incerto e está em aberto.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. A população dos Estados Unidos deve começar a decrescer em 2081, Ecodebate, 24/11/2023
https://www.ecodebate.com.br/2023/11/24/a-populacao-dos-estados-unidos-deve-comecar-a-decrescer-em-2081/
ALVES, JED. Os EUA tiveram a menor taxa de crescimento demográfico de todos os tempos, Ecodebate, 16/02/2022 https://www.ecodebate.com.br/2022/02/16/os-eua-tiveram-a-menor-taxa-de-crescimento-demografico-de-todos-os-tempos/
ALVES, JED. População dos Estados Unidos de 1950 a 2100, Ecodebate, 17/08/2022
https://www.ecodebate.com.br/2022/08/17/populacao-dos-estados-unidos-de-1950-a-2100/
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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