quinta-feira, 18 de setembro de 2014

MOVIMENTOS SEPARATISTAS NA EUROPA. PODEM ACONTECER?

Referendo na Escócia pode ser estopim para movimentos separatistas na Europa


 
Campanha pelo referendo na Escócia
Campanha pelo referendo na Escócia
REUTERS/Paul Hackett
Alfredo Valladão

Esta semana saberemos se a Escócia decidiu se divorciar do Reino Unido depois de mais de três séculos de casamento. Se houver rompimento, haverá choro, ranger de dentes, mas uma coisa é certa: a separação será feita de maneira civilizada como manda o figurino britânico. O problema, na verdade, não é o casal, mas os amigos do resto da Europa. O voto independentista escocês, qualquer que seja o resultado final, já está dando asas a todos os movimentos separatistas do Velho Continente.
O governo da Catalunha, com um referendo a favor da independência programado para o próximo mês de novembro, aproveitou o suspense escocês para pôr um milhão de pessoas nas ruas. Uma recente sondagem de opinião mostrou que uma maioria da população deseja a independência do País Basco. Na Itália, as províncias do Tirol do Sul e do Vêneto estão cada vez mais namorando a ideia de separação, enquanto na Bélgica a província de Flandres continua querendo formar o próprio estado soberano.

Fragmentação da União Europeia

A possibilidade de ver vários Estados europeus se fragmentarem está se transformando em realidade. E essa fragmentação não é provocada só pelos separatismos regionais. Em vários países os partidos da direita xenófoba ou as forças nacionalistas à antiga estão todos de vento em popa gritando por fronteiras soberanas e por abandonar a União Europeia.
Nas recentes eleições suecas, um partido com bases nazistas tornou-se a terceira força política nacional. Na França, a Frente Nacional é hoje o partido com maiores intenções de voto e sua líder, Marine Le Pen, cujo único programa é sair do euro e expulsar os imigrantes, tem chances de chegar à presidência da República. A Inglaterra está num “fica não fica” na Europa e até na ordenada Alemanha, um novo partido antieuropeu está ultrapassando o velho Partido Liberal.
Parafraseando Mark Twain, o anúncio da morte da União Europeia é um pouco exagerada. Desmanchar a integração europeia e a moeda única seria uma catástrofe geral. E ninguém até hoje, inclusive os mais críticos, está disposto a pagar para ver.

Crise de representação política

Os próprios escoceses e os catalães querem soberania, mas também querem ser aceitos imediatamente nas instituições europeias supranacionais. Entenda quem puder. Só que esse renascer dos nacionalismos pequenos ou grandes não é nada trivial. A administração da tradicional tensão entre os estados nacionais europeus e as instituições supranacionais em Bruxelas está cada vez mais cabeluda. Pela simples razão que a crise econômica nos últimos seis anos vem destruindo a confiança dos cidadãos nos seus dirigentes, nacionais ou europeus.
Essa crise da representação política tem mais a ver com a economia do que com os nacionalismos propriamente ditos. Tanto as províncias quanto os estados mais prósperos não estão mais a fim de continuar pagando pelos outros e acham que podem se virar melhor sozinhos. Esse rechaço da solidariedade nacional ou dentro da própria União é reflexo da globalização econômica.
Nenhum governo nacional tem condições de controlar e ainda menos influenciar de maneira decisiva sua economia doméstica ou as decisões dos grandes atores industriais ou financeiros. E Bruxelas também está paralisada. Os fluxos financeiros e as cadeias de produção transnacionais escapam às decisões dos poderes políticos.
 O sucesso econômico e a luta contra o desemprego dependem da capacidade de encontrar “nichos” inovadores dentro dessas grandes cadeias de valor globais. E esses nichos dependem da promoção de pequenos pólos de produção regionais, utilizando as melhores tecnologias possíveis, por autoridades locais com muitos meios e autonomia necessária para isto.
Não é por nada que as províncias mais ricas e bem situadas acham que podem se virar melhor sem o peso de seus governos nacionais. Faz sentido, só que a fragmentação política egoísta também favorece os conflitos. E não podemos esquecer que terríveis e sangrentas guerras civis e entre estados são sempre possíveis e até prováveis na Europa. E que no último meio século foi a integração europeia que impediu essas tragédias. Será que a Escócia tem vocação para estopim?
Fonte : www.portugues.rfi.fr/geral/20140916-mundo-agora

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