A Índia deve ultrapassar a população da China até 2024, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] A China e a Índia são os dois países mais populosos do mundo, mas vão alternar a posição e experimentar mudanças significativas nas próximas décadas. Em 1950, a China tinha uma população de 554,4 milhões de habitantes, cerca de 50% superior aos 376,3 milhões de habitantes da Índia. Em 1981 a China atingiu 1 bilhão de habitantes e tinha uma população cerca de 40% superior aos 713 milhões da Índia. Em 1998, a Índia atingiu 1 bilhão de habitantes e a China chegou a 1,27 bilhão (25% a mais). Em 2017, a China ultrapassou os 1,40 bilhão de pessoas e tinha uma população 5% superior aos 1,34 bilhão da Índia, conforme mostra o gráfico abaixo com dados da Divisão de População da ONU.
Portanto, os dois países apresentaram grande crescimento populacional, mas com a China crescendo em ritmo mais lento do que a Índia, sendo que a ultrapassagem vai ocorrer em 2024, quando a China terá 1,436 bilhão de habitantes e a Índia terá 1,438 bilhão de pessoas. O pico populacional da China vai ocorrer em 2029, com um volume de 1,44 bilhão de habitantes. O pico populacional da Índia deve ocorrer em 2061, com um volume de 1,68 bilhão de habitantes. A estimativa da Divisão de População da ONU para 2100 é de 1 bilhão de pessoas na China e de 1,52 bilhão de pessoas na Índia.
Embora a queda da taxa de fecundidade tenha começado no início da década de 1970 nos dois países, o ritmo da redução do número de filhos por mulher foi bem mais rápido na China, que apresentou TFT abaixo do nível de reposição no quinquênio 1990-95, enquanto a Índia só deve atingir níveis de fecundidade abaixo do nível de reposição no quinquênio 2030-35. A rápida queda da taxa de fecundidade na China se reflete no formato da pirâmide populacional, que já tinha uma base muito estreita em 2017 e vai apresentar uma redução ainda maior em 2050 e um grande envelhecimento populacional.
Na Índia, como mostram as pirâmides abaixo, a redução da base se deu de forma mais lenta e, consequentemente, o processo de envelhecimento populacional o ocorre de forma mais branda. Em ambos os países se nota um superávit de homens na população até o grupo etário 60-65 anos. O excedente de homens na China e na Índia é tão grande que faz o mundo possuir mais homens do que mulheres, embora a maioria dos países do globo tenham um excedente feminino.
Uma forma mais detalhada de avaliar as mudanças demográficas é observar o comportamento dos três grandes grupos etários: crianças (0-14 anos), adultos em idade de trabalhar (15-64 anos) e idosos (65 anos e mais). Nota-se que na China a população em idade ativa (PIA) chegou no pico de 1 bilhão de pessoas em 2015 e já apresenta uma tendência de redução, devendo cair aproximadamente pela metade até 2100. A redução da oferta de força de trabalho vai forçar a China a investir em tecnologias poupadoras de trabalho, para manter a produção e a renda per capita em crescimento, num cenário de elevado envelhecimento populacional.
Já no caso da Índia, o pico da PIA deve ocorrer em torno de 2050, quando haverá 1,1 bilhão de pessoas em idade ativa. Portanto, o desafio da Índia é aumentar a geração de emprego para absorver o incremento demográfico das próximas décadas. A população indiana de 0-14 anos já está diminuindo e o envelhecimento populacional vai ocorrer de forma mais lenta do que na China. A Índia é um país de renda baixa e terá um grande desafio de expandir quantitativamente e qualitativamente o nível de emprego e a produtividade geral dos fatores de produção.
Mas o maior desafio dos dois países ocorre pelo lado ambiental. Segundo a Global Footprint Network, a China tem o maior déficit ecológico do mundo e a Índia tem o terceiro maior (os EUA apresentam o 2º maior déficit). Os dois gigantes asiáticos já enfrentam problemas como a falta de água potável para o consumo humano direto e para a produção de alimentos, a poluição generalizada das águas e do solo, a poluição do ar, etc. Também são grandes emissores de gases de efeito estufa que aceleram o aquecimento global e ameaçam desestabilizar o clima planetário.
De certa forma, os desafios da China e da Índia são desafios compartilhados com a comunidade internacional e é impossível que o resto do mundo possa ignorar o que acontece nestas duas nações, que deram grandes contribuições para o mundo, mas também que contribuem enormemente para a possibilidade de um colapso ambiental global.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 25/01/2019
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