A Ásia emergente e a América Latina submergente, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
Os países da Ásia emergente e, em especial, do Leste Asiático possuem maiores taxas de poupança e de investimento e maior competitividade nas exportações
“Eu sou apenas um rapaz latino-americano
Sem dinheiro no banco, sem parentes importantes
E vindo do interior” – Belchior (1976)
A Ásia já foi palco de grandes civilizações, como a Mesopotâmia, a Babilônia, os Persas, a China, a Índia, a Rússia, os Mongóis, etc. Mas, nos últimos séculos, a Ásia ficou para trás em relação ao mundo Ocidental, especialmente depois da colonização das Américas e da Revolução Industrial e Energética. A Ásia sempre foi o continente mais populoso do Planeta. Mas com o retrocesso econômico, a região ficou pobre e com muitos problemas sociais.
Contudo, essa situação começou a mudar depois da Segunda Guerra Mundial e do processo de descolonização do continente. Por exemplo, a Índia fez a independência em 1947 e a China fez sua revolução em 1949. Singapura conseguiu a independência em 1959, o Irã fez a revolução islâmica em 1979, assim como diversas repúblicas soviéticas da Ásia conseguiram a independência a partir de 1991. Ao longo da segunda metade do século XX, as taxas de crescimento econômico se aceleraram na Ásia.
O contraste com a América Latina é gritante. O gráfico abaixo mostra a participação da economia latino-americana e da Ásia emergente no PIB global entre 1980 e 2028. Em 1980, a economia da América Latina e Caribe (ALC) era maior do que a economia da Ásia emergente, tendo uma participação no PIB global de 12%, contra 8,9% da Ásia emergente. Em 2022, a participação da economia da Ásia emergente no PIB global já tinha passado para 32,8%, contra 7,2% da ALC. Para 2028, o FMI estima 36,3% contra 6,9%. Isto é, a economia da Ásia emergente já é cerca de 5 vezes maior do que a economia da ALC. Portanto, a Ásia emergente avança e a ALC submerge e se apequena em termos relativos.
Os dados do FMI mostram que os asiáticos têm um desempenho econômico muito acima dos latino-americanos. O gráfico abaixo mostra as taxas anuais de crescimento do PIB em quase 5 décadas. Apenas em 1980 houve empate entre as duas taxas, em todos os demais anos a Ásia emergente cresceu muito mais do que a ALC. A única variação negativa da Ásia emergente ocorreu em 2020, em função da pandemia da covid-19 e foi uma recessão pequena. Já a ALC teve 5 recessões no período.
Em 1980, a ALC tinha uma renda per capita de US$ 11,3 mil e a Ásia emergente uma renda de US$ 1,3 mil (uma diferença de 9 vezes), conforme mostra o gráfico abaixo com dados do FMI de 1980 a 2028, em preços constantes em poder de paridade de compra (ppp). No início da década de 1990, a diferença tinha caído para 5 vezes. Em 2023, a renda latino-americana foi estimada em US$ 15,8 mil e a asiática em US$ 12,7 mil. A previsão é que a Ásia emergente ultrapasse a renda per capita da ALC em 2030.
O aumento da renda per capita da Ásia viabilizou o processo de redução da pobreza extrema. O gráfico abaixo, do site Our World in Data, mostra que em 1990 a percentagem da população vivendo em condição de miséria era de 65,8% no Leste Asiático e Pacífico (região que inclui a China), de 49,8% no Sul da Ásia (região que inclui a Índia) e de 16,7% na América Latina e Caribe. Porém, em 2019, enquanto a pobreza extrema caiu para 4,3% na ALC, o Leste Asiático e Pacífico conseguiu reduzir para 1,1% e o Sul da Ásia reduziu para 8,5%. Proporcionalmente, a redução da pobreza foi muito maior e mais rápida na Ásia.
Os países da Ásia emergente e, em especial, do Leste Asiático possuem maiores taxas de poupança e de investimento e maior competitividade nas exportações. Portanto, estão mais capacitados para aproveitar o 1º e o 2º bônus demográfico. Manter uma política macroeconômica sustentada e equilibrada é fundamental para garantir a geração de emprego e um futuro de bem-estar e de maior qualidade de vida.
Os países da Ásia emergente estão conseguindo sucesso na redução da pobreza e no aumento da renda, enquanto a ALC está presa nas armadilhas da renda média e do baixo crescimento.
Referências:
ALVES, JED. O aumento da pobreza na América Latina submergente, Ecodebate, 06/12/2019
https://www.ecodebate.com.br/2019/12/06/o-aumento-da-pobreza-na-america-latina-submergente-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. O avanço da Ásia emergente e a estagnação da América Latina, Ecodebate, 27/07/2022
https://www.ecodebate.com.br/2022/07/27/o-avanco-da-asia-emergente-e-a-estagnacao-da-america-latina/
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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