Dia da Árvore e o Clima Extremo! artigo de Eduardo Figueiredo Abreu
Diversos estudos científicos têm revelado a interdependência existente entre a floresta em pé e o regime de chuvas, demonstrando o quão tênue é o equilíbrio ambiental
O “Dia da Árvore” é comemorado no dia 21 de setembro, trata-se de uma data importante para refletirmos sobre o que estamos fazendo pela preservação e o uso sustentável de nossas florestas, e como consequência, pelo próprio equilíbrio climático do planeta, pois diversos estudos nestes últimos anos apontam relação direta entre desmatamento e aquecimento global.
É inegável que vivemos atualmente alterações significativas no clima, de temperaturas extremas e desastres ambientais como as que atualmente atingem o Estado do Rio Grande do Sul, e considera-se que parte disso se deve a fenômenos climáticos, como também a influência da ação humana, principalmente devido a conversão da cobertura vegetal original em outros usos.
Segundo a Organização Mundial Meteorológica (OMM) as temperaturas globais devem bater taxas recordes nos próximos cinco anos por causa dos gases que causam o efeito estufa (principalmente o gás carbônico) e do fenômeno El Niño. Várias fontes antropogênicas contribuem para as emissões de gases de efeito estufa, e as duas principais são a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento de regiões tropicais como a Amazônia.
No caso específico das florestas, as quais representam um importante estoque natural de carbono, o desmatamento e as queimadas contribuem diretamente para o efeito estufa, uma vez que liberam o carbono armazenado na biomassa florestal para a atmosfera na forma de CO².
Senão vejamos, entre 1985 e 2021, a Amazônia perdeu mais vegetação nativa do que nos últimos 500 anos, ou seja, desde a colonização europeia, aponta relatório da plataforma MapBiomas. Cientistas alertam também que 83% da vegetação nativa da Floresta Amazônica está próximo do ponto de não-retorno.
Diversos estudos científicos têm revelado a interdependência existente entre a floresta em pé e o regime de chuvas, assim como, demonstrando o quão tênue é o equilíbrio ambiental, fator essencial para a sobrevivência de diversas atividades econômicas, inclusive a agricultura. Sempre é bom lembrar que sem floresta não há chuva, e sem chuva não há produção agrícola.
Mas, mesmo diante dessa verdade irrefutável da dependência das atividades humanas do equilíbrio do ambiente natural, mesmo com acesso a tecnologias modernas de produção e a geração constante do conhecimento científico para melhoria das técnicas da produção ainda prevalece o sistema predatório e irracional no uso dos recursos naturais, sobretudo, no olhar sobre o papel fundamental das florestas, e consequentemente, das árvores, no ciclo da vida e da sobrevivência do ser humano e de suas atividades econômicas.
Os índices crescentes de desmatamento e de focos de queimadas ao longo das últimas décadas preocupa a todos e demonstra que precisamos avançar na direção da sustentabilidade, revendo alguns paradigmas do atual modelo de desenvolvimento baseado na maximização do uso do solo e na conversão das florestas em ambientes de monoculturas. O desmatamento e as queimadas ameaçam a resiliência da floresta às mudanças climáticas, bem como seu papel como um dos mais importantes sumidouros de carbono do mundo.
Para se ter uma ideia do cenário preocupante e quase irreversível que estamos vivenciando, a perda de vegetação nativa foi de 84,7 milhões de hectares nos últimos 35 anos, essa área significa um pouco maior do que os estados de Minas Gerais e São Paulo juntos. Se não bastasse isso, houve uma redução da área úmida, com a perda de 17,1% da superfície da água no país.
Neste “Dia da Árvore” não basta que façamos nossa parte de plantar uma muda de árvore na calçada ou no quintal de nossas casas, é preciso alertar sobre estes dados preocupantes prevendo um cenário crítico do que vem nos próximos anos se nada for feito, e coloca como o grande desafio da presente geração a promoção de ações para deter o avanço desses índices alarmantes do desmatamento destas últimas décadas, e que já gerou perdas irreparáveis na biodiversidade, com milhões de hectares desmatados de forma predatória e ilegal, fruto da insanidade e ganância irresponsável de alguns.
Que neste “dia da árvore” possamos dar uma redefinição mais ampla da função delas no processo de desenvolvimento e no estímulo a bioeconomia, recompondo áreas desflorestadas no passado num patamar maior do que as áreas que são suprimidas, invertendo a curva da degradação ambiental, e valorizar os benefícios e serviços da floresta, fazendo o uso sustentável dos produtos da floresta e de sua rica biodiversidade, promovendo planos de revitalização das bacias hidrográficas e suas matas ciliares, incentivando politicas de descarbonização, com mais investimentos em tecnologias limpas na indústria, intensificação da transição energética com fontes renováveis como o hidrogênio verde e promoção de agricultura de baixo carbono em larga escala.
Parece sintomático que neste dia da árvore estejamos vivendo tempos de clima extremo sem precedentes, o que deve ser encarado como mais um recado do planeta de que é hora de agir, de organizar e preparar os entes federativos para essa missão, de os municípios, estados e o país se mobilizarem e colocarem em prática planos de enfrentamentos e de adaptação a mudanças climáticas, é tempo de estruturar políticas públicas concretas para viabilizar estratégias de desenvolvimento com responsabilidade ambiental, e que realmente saia do papel as metas estabelecidas nas últimas conferências internacionais de meio ambiente, e assim evitar que ações humanas continuem contribuindo para o crescimento da curva do aquecimento da terra e do clima extremo que representa um risco a própria vida humana e demais formas de vida.
Eduardo Figueiredo Abreu
Engenheiro Florestal, Assessor Parlamentar
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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