sábado, 2 de novembro de 2024
População das capitais brasileiras em 2010, 2022 e 2024 .
Conhecer o tamanho correto da população dos municípios é fundamental para o planejamento das políticas públicas municipais e para a programação dos novos prefeitos e prefeitas
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
Houve muita controvérsia com a divulgação dos dados do censo demográfico 2022 sobre os municípios brasileiros. Pelas informações do IBGE, divulgadas em julho do ano passado, o resultado do recenseamento brasileiro indicou que foram contabilizados 203,1 milhões de habitantes no país, considerando a data de referência de 31 de julho de 2022. Este número causou surpresa, pois as projeções populacionais do IBGE (revisão 2018) estimou uma população de cerca de 2014 milhões de pessoas na mesma data.
Mas, como mostrei no artigo: “As novidades e as surpresas do censo demográfico 2022”, publicado aqui no Portal Ecodebate (Alves, 03/07/2023), o número apresentado pelo censo 2022 do IBGE veio abaixo do esperado, indicando que houve um erro de cobertura em torno de 6 a 8 milhões de pessoas. Este erro foi ainda maior para algumas capitais das Unidades da Federação. Nove capitais apresentaram decrescimento populacional entre 2010 e 2022, o que foi considerado muito pouco provável.
Felizmente, o IBGE realiza de forma independente, mas concomitantemente ao censo, uma enquete de avaliação, chamada de Pesquisa de pós enumeração (PPE) que tem o objetivo de avaliar a qualidade das informações do censo demográfico e identificar as possíveis omissões na cobertura.
Desta forma, no dia 22 de agosto de 2024, o IBGE divulgou os resultados da PPE e as novas projeções populacionais de 2000 a 2070. A metodologia utilizada – chamada de conciliação demográfica – analisou as informações de três censos consecutivos, os de 2000, 2010 e 2022, além de considerar os dados de óbitos, nascimentos e migrações.
O resultado nacional foi uma revisão da população total para 210.862.983 em 01 de julho de 2022. Um ajuste de 3,9% em relação ao resultado subestimado apresentado pelo censo demográfico 2022. Ou seja, apareceram os quase 8 milhões de habitantes que estavam faltando.
Para o estado do Rio de Janeiro, o censo 2010 indicou uma população de 16 milhões de habitantes, enquanto o censo 2022 indicou 16,1 milhões de habitantes. Quase uma estabilidade. Porém, os dados das projeções populacionais (revisão 2024) indicaram uma subenumeração de 7,2% no estado e, consequentemente, uma população fluminense de 17,2 milhões de habitantes em 2022.
A tabela abaixo mostra a população do Brasil e das capitais brasileiras. A primeira observação que chama a atenção é que os números das estimativas populacionais para 2024 é bem acima dos números apresentados pelo censo 2022. Pelos dados do recenseamento, o Brasil teve 9 capitais com decrescimento populacional, mas pelos dados das estimativas populacionais de 2024, após as devidas correções, apenas 3 capitais apresentaram decrescimento populacional e um decrescimento mais brando.
Segundo o censo 2022, três capitais do Sudeste apresentaram decrescimento populacional entre 2010 e 2022: Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Vitória. Contudo, a análise demográfica indicava que este decrescimento era improvável, pois os dados do Datasus indicavam que havia crescimento vegetativo nestas capitais, uma vez que a natalidade era maior do que a mortalidade. Mas o estranhamento foi corrigido com as novas estimativas que apresentaram crescimento da população destas capitais até 2024.
O caso da capital da Bahia é o mais intrincado. Como mostrei no artigo “O que aconteceu com Salvador?” (Alves, 10/07/2023) o número apresentado pelo censo 2022 para a população soteropolitana foi muito abaixo da expectativa. Nas estimativas de 2024, a cidade de Salvador ainda apresenta decrescimento, mas a queda foi bem menor. Algo parecido aconteceu em Natal.
A capital do Rio Grande do Sul também apresentou decrescimento tanto nos dados do censo 2022, quanto nas estimativas de 2024. O estranhamento destes números é menor, pois Porto Alegre é uma cidade com uma estrutura etária mais envelhecida e não tem conseguido evitar uma emigração de parte da população.
O fato é que as estimativas municipais do IBGE, feitas a partir das projeções populacionais, apresentam números muito mais factíveis para os municípios fluminenses e para as capitais das Unidades da Federação. Para saber como ficam as tendências de crescimento ou decrescimento populacional na atual década (antes da realização do próximo censo demográfico em 2030) é aconselhável verificar os dados de natalidade e mortalidade dos municípios a partir dos dados do Ministério da Saúde (Datasus).
Conhecer o tamanho correto da população dos municípios é fundamental para o planejamento das políticas públicas municipais e para a programação dos novos prefeitos e prefeitas que serão eleitos em outubro de 2024.
O conjunto das capitais brasileiras tinha um montante de 45,5 milhões de habitantes em 2010, representando 23,8% do total da população brasileira. Pelo censo 2022, o conjunto das capitais ficou em 46,5 milhões de habitantes, representando 22,9% do total nacional. Mas nas estimativas de 2024, o conjunto ficou em 49,2 milhões de habitantes, representando 23,1% do total nacional.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. Brasil 2042: Enfrentando a Nova Revolução Demográfica, Ecodebate, 23/08/2024
https://www.ecodebate.com.br/2024/08/23/brasil-2042-enfrentando-a-nova-revolucao-demografica/
ALVES, JED. As novidades e as surpresas do censo demográfico 2022, Ecodebate, 03/07/2023
https://www.ecodebate.com.br/2023/07/03/as-novidades-e-as-surpresas-do-censo-demografico-2022/
ALVES, JED. O que aconteceu com Salvador? Ecodebate, 10/07/2023
https://www.ecodebate.com.br/2023/07/10/o-que-aconteceu-com-salvador/
ALVES, JED. As capitais brasileiras com decrescimento populacional no censo 2022, Ecodebate, 10/01/2024 https://www.ecodebate.com.br/2024/01/10/as-capitais-brasileiras-com-decrescimento-populacional-no-censo-2022/
IBGE. Projeções da População, 22/08/2024 https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9109-projecao-da-populacao.html?edicao=41053&t=resultados
Entrevista à Globonews sobre as novas projeções do IBGE, 24/08/2024
https://www.linkedin.com/feed/update/urn:li:activity:7233119347450290177/
Entrevista à Globonews sobre as novas projeções do IBGE, 31/08/2024
https://www.linkedin.com/feed/update/urn:li:activity:7235626642553925632/
ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI (com a colaboração de GALIZA, F), ENS, maio de 2022
https://prdapi.ens.edu.br/media/downloads/Livro_Demografia_e_Economia_digital_2.pdf
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
Mudança climática acelera o declínio da biodiversidade .
Os impactos das mudanças no uso da terra e das mudanças climáticas combinados resultam em perda de biodiversidade em todas as regiões do mundo
A biodiversidade global diminuiu entre 2% e 11% durante o século 20 devido à mudança do uso da terra, de acordo com um grande estudo multimodelo publicado na Science.
As projeções mostram que a mudança climática pode se tornar o principal motor do declínio da biodiversidade em meados do século XXI.
A análise foi conduzida pelo Centro Alemão de Pesquisa Integrativa em Biodiversidade (iDiv) e pela Martin Luther University Halle-Wittenberg (MLU) e é o maior estudo de modelagem de seu tipo até hoje. Os pesquisadores compararam treze modelos para avaliar o impacto da mudança no uso da terra e das mudanças climáticas em quatro métricas distintas de biodiversidade, bem como em nove serviços ecossistêmicos.
A mudança no uso do solo é considerada o maior motor da mudança de biodiversidade, de acordo com a Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES). No entanto, os cientistas estão divididos sobre o quanto a biodiversidade mudou nas últimas décadas. Para melhor responder a essa pergunta, os pesquisadores modelaram os impactos da mudança no uso da terra na biodiversidade ao longo do século 20. Eles descobriram que a biodiversidade global pode ter diminuído de 2% a 11% devido apenas à mudança no uso da terra. Este vão abrange uma gama de quatro métricas de biodiversidade (1) calculadas por sete modelos diferentes.
Usando outro conjunto de cinco modelos, os pesquisadores também calcularam o impacto simultâneo da mudança do uso da terra nos chamados serviços ecossistêmicos, ou seja, os benefícios que a natureza proporciona aos seres humanos. No século passado, eles encontraram um aumento maciço no provisionamento de serviços ecossistêmicos, como alimentos e produção de madeira. Por outro lado, a regulação dos serviços ecossistêmicos, como polinização, retenção de nitrogênio ou sequestro de carbono, diminuiu moderadamente.
Os pesquisadores também examinaram como a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos podem evoluir no futuro. Para essas projeções, eles adicionaram a mudança climática como um motor crescente da mudança da biodiversidade aos seus cálculos.
As mudanças climáticas devem colocar pressão adicional sobre a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos, de acordo com as descobertas. Embora a mudança no uso da terra permaneça relevante, a mudança climática pode se tornar o fator mais importante da perda de biodiversidade até meados do século.
Os pesquisadores avaliaram três cenários amplamente utilizados – de um desenvolvimento sustentável a um cenário de altas emissões. Para todos os cenários, os impactos das mudanças no uso da terra e das mudanças climáticas combinados resultam em perda de biodiversidade em todas as regiões do mundo. Embora a tendência geral de queda seja consistente, existem variações consideráveis em todas as regiões, modelos e cenários do mundo.
Os autores também observam que mesmo o cenário mais sustentável avaliado não emprega todas as políticas que poderiam ser implementadas para proteger a biodiversidade nas próximas décadas. Por exemplo, a implantação da bioenergia, um componente-chave do cenário de sustentabilidade, pode contribuir para mitigar as mudanças climáticas, mas pode simultaneamente reduzir os habitats das espécies. Em contraste, medidas para aumentar a eficácia e cobertura de áreas protegidas ou renaturalizar em larga escala não foram exploradas em nenhum dos cenários.
(1) riqueza global de espécies, riqueza de espécies locais, extensão média do habitat das espécies, integridade da biodiversidade
Referência:
Henrique M. Pereira et al, Global trends and scenarios for terrestrial biodiversity and ecosystem services from 1900 to 2050, Science (2024). DOI: 10.1126/science.adn3441
Fonte: German Centre for Integrative Biodiversity Research (iDiv) Halle-Jena-Leipzig
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
Mudança climática causou 56% das mortes por calor na Europa .
Estudo revela que 56% das mortes por calor na Europa em 2022 foram causadas pela mudança climática, com maior impacto em mulheres e idosos
Os resultados do estudo Mortality burden attributed to anthropogenic warming during Europe’s 2022 record-breaking summer mostram um maior número de mortes relacionadas ao calor são atribuídas às mudanças climáticas entre mulheres e pessoas com 80 anos ou mais.
As temperaturas sem precedentes no verão de 2022 causaram mais de 68 mil mortes no continente, de acordo com um estudo do Barcelona Institute for Global Health (ISGlobal).
Um novo estudo descobriu que mais da metade – 56% – das mortes relacionadas ao calor no verão de 2022 estavam relacionadas à mudança climática induzida pelo homem. De acordo com a pesquisa, 38.154 das 68.593 mortes relacionadas ao calor no verão de 2022 não teriam ocorrido sem o aquecimento antropogênico.
O ponto de partida foi uma pesquisa anterior em que, usando registros de temperatura e mortalidade de 35 países europeus, modelos epidemiológicos foram instalados para estimar a mortalidade relacionada ao calor no verão de 2022.
Usando um conjunto de dados de anomalias globais de temperatura média da superfície entre 1880 e 2022, eles estimaram o aumento das temperaturas devido ao aquecimento antropogênico para cada região. Eles então subtraíram esses aumentos das temperaturas registradas para obter uma estimativa de quais temperaturas teriam sido na ausência de aquecimento antropogênico. Por fim, utilizando o modelo desenvolvido no primeiro estudo, estimaram a mortalidade para um cenário hipotético em que essas temperaturas teriam ocorrido.
Os resultados, publicados na Climate and Atmospheric Science, mostraram que o número de mortes relacionadas ao calor, por milhão de habitantes, atribuído ao aquecimento antropogênico, foi duas vezes maior nas regiões do Sul em comparação com o resto da Europa.
Em consonância com estudos anteriores, a equipe encontrou um número maior de mortes relacionadas ao calor, atribuídas à mudança climática, entre mulheres (22.501 de 37.983 mortes) e pessoas com 80 anos ou mais (23.881 de 38.971 mortes) em oposição aos homens (14.026 das 25.385 mortes) e pessoas com 64 anos ou menos (2.702 das 5.565 mortes).
Necessidade urgente de medidas ambiciosas de adaptação e mitigação
As temperaturas na Europa estão subindo duas vezes mais rápido que a média global, exacerbando os impactos na saúde.
Mas a mudança climática não apenas aumentou a mortalidade relacionada ao calor em verões excepcionalmente quentes, como em 2022.
De acordo com os resultados do estudo, entre 44% e 54% da mortalidade no verão relacionada ao calor entre 2015 e 2021 pode ser atribuída ao aquecimento global.
Em termos absolutos, isso corresponde a um fardo anual de entre 19.000 e 28.000 mortes. Em comparação, os números de 2022 mostram um aumento alarmante de 40% na mortalidade relacionada ao calor e um aumento de dois terços na mortalidade atribuída ao aquecimento antropogênico.
Referência:
Beck, T.M., Schumacher, D.L., Achebak, H. et al. Mortality burden attributed to anthropogenic warming during Europe’s 2022 record-breaking summer. npj Clim Atmos Sci 7, 245 (2024). https://doi.org/10.1038/s41612-024-00783-2
in EcoDebate, ISSN 2446-9394