quinta-feira, 26 de junho de 2014

EL NIÑO E LA NIÑA

Observações sobre os Fenômenos El Niño e La Niña, artigo de Roberto Naime

El Niño 1

El Niño 2

[EcoDebate] Os efeitos do fenômeno El Niño no Brasil produzem prejuízos em algumas regiões e benefícios em outras. Embora os danos para a agricultura sejam maiores. A região sul é a mais afetada. Em cada episódio, ocorre na região sul, um aumento da pluviosidade, principalmente na primavera, fim de outono e começo de inverno. O acréscimo de quase 150% de chuvas em relação aos índices normais atrapalha a colheita. As temperaturas também mudam na região sul e sudeste, com o inverno sendo amenizado e elevação das temperaturas.
As consequências do Fenômeno El Niño sobre as temperaturas é benéfico para evitar a ocorrência de geadas com intensidade suficiente para gerar danos para as culturas. Em compensação, ocorrem diminuições dos índices pluviométricos na Amazônia e no Nordeste, aumentando as dificuldades com as secas que duram até 2 anos em períodos de El Niño. As secas não se limitam apenas ao sertão, ocorrendo déficits de chuvas inclusive no litoral.
O fenômeno La Niña é o oposto, caracterizando-se pelo resfriamento anômalo da superfície do mar, na região equatorial do centro e leste do Pacífico. Isso eleva a pressão da região, com a geração de ventos alísios mais intensos. A duração do fenômeno também é de 12 a 18 meses.
Este fenômeno meteorológico produz menos danos que o El Niño. Como consequência de La Niña as frentes-frias que atingem o sul do Brasil tem sua passagem acelerada e se tornam mais intensas. Como sofrem menor dissipação no sul e sudeste, muitas vezes atingem o Nordeste.
Quando isto ocorre, o sertão e o litoral baiano e alagoano são afetados por aumentos das chuvas, com aumento da pluviosidade também no norte e leste da Amazônia.
Na região centro-sul pode ocorrer estiagens, com queda dos índices pluviométricos entre setembro e fevereiro, com a chegada mais intensa de massas de ar polar, gerando antecipação do inverno e grandes quedas de temperatura já no outono. No último episódio de La Niña, fortes massas de ar polar, atingiram a região sul, causando neves nas áreas serranas e geadas já no mês de abril. Neves geralmente ocorrem após o mês de maio, e as geadas mais ao norte, costumam ocorrer só a partir de junho.
O efeito estufa apresenta uma situação mais complexa. Em longo prazo, o planeta deve irradiar energia para o espaço na mesma proporção em que ocorre a absorção da energia solar na forma de Radiações Eletromagnéticas (REM). A energia solar chega no intervalo das ondas curtas do espectro de radiações eletromagnéticas. Parte desta radiação é refletida e repelida pela superfície terrestre e pela atmosfera. Uma parte da radiação passa pela atmosfera, para aquecer a superfície terrestre. O planeta se livra desta energia, mandando de volta para o espaço na forma de irradiação infravermelha de ondas largas.
A maior parte desta irradiação no intervalo do espectro eletromagnético do infravermelho que a terra emite é absorvida pelo vapor de água, dióxido de carbono e outros gases, de efeito estufa, existentes na atmosfera.
Desta maneira, estes gases impedem que a energia da terra seja dissipada no espaço. Ao contrário, processos interativos, envolvendo a radiação eletromagnética, as correntes de ar, a evaporação, a formação de nuvens e as chuvas, transportam essa energia para altas esferas do interior da atmosfera, onde a energia se irradia para o espaço. Este processo lento e indireto permite a manutenção do aquecimento do planeta terra, que sem este fenômeno, seria um lugar frio e sem vida, desolado e estéril como Marte.
Elevando de forma exagerada a emissão de gases, aumenta-se a capacidade da atmosfera de absorver a radiação no espectro do infravermelho. Esta emissão exagerada de gases produz o chamado efeito estufa, que está perturbando a forma que o clima mantém este delicado equilíbrio entre a energia que entra e que sai do planeta.
A duplicação da quantidade de gases de efeito estufa, que se projeta para este século, reduziria a emissão de irradiações para o espaço em até 2%. Isto exigiria um efeito de tamponamento do clima, que poderia ser muito auxiliado pela redução do consumo de hidrocarbonetos, por exemplo.
Os efeitos das emissões de gases estão alterando o equilíbrio do sistema, e algo necessita ser realizado para atenuar este impacto. O protocolo de Kyoto é uma medida nesta direção.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
EcoDebate, 24/06/2014

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