A crise vira um ciclo! Veja como ela atinge você, artigo de Adrimauro Gemaque
Publicado em janeiro 4, 2016
[EcoDebate] Como não falar da crise? É crise demais para um só país. Tem crise econômica, financeira, política, de credibilidade, de cultura, de educação, de saúde, de segurança e outras. É só escolher.
É certo que você tem escutado comentários nos últimos meses sobre a crise econômica e financeira que ronda o Brasil. É a conversa de toda roda, seja no bar, nas casas dos amigos ou no trabalho. Ela está sempre em destaque nos telejornais, jornais, revistas especializadas, rádio e nas mídias sociais.
“Tempos de vacas magras virão por aí. Apertem os cintos”. Esta frase temos ouvido com frequência por aí atualmente, porém, as pessoas enxergam a nossa atual situação de maneira diferente. Para muitos, é um bicho de sete cabeças, pronto para roubar a últimas moedinhas do seu cofrinho, para outras pessoas, como diria o ditado, “tiram leite de pedra”, fazem da crise uma fonte de oportunidades.
O principal fator que alimenta a crise econômica é a completa falta de credibilidade do governo e sua equipe econômica. Por que as medidas de ajuste fiscal não passaram? Simples, ninguém vai colocar dinheiro na mão de um governo que não sabe como aplicá-lo em prol do desenvolvimento da nação e que não tem a credibilidade dos investidores. É só observamos a última pesquisa feita pelo Ibope, sobre a avaliação do governo da presidente Dilma Rousseff (PT), divulgada no último dia 15 dezembro. Vejamos o gráfico.
Fonte: Portal G1 (15/12)2015)
Agora combine os números do gráfico com a notícia divulgada no último dia 16 de dezembro dando conta do rebaixamento da nota dada pela agência de classificação de risco Fitch, retirando do Brasil o selo de “bom pagador”, gerando maiores incertezas e uma queda no grau de investimento externo no país. Em nota, a Fitch aponta que essas constantes mudanças na meta de superávit primário (a economia do governo para pagar os juros da dívida) minaram a credibilidade da política fiscal, sugerindo um enfraquecimento ainda maior da posição do ministro Joaquim Levy, que não resistiu e teve que deixar o governo sem nenhum resultado positivo com sua proposta de ajuste fiscal.
Diante destes cenários o desemprego vai continuar subindo. Quanto mais a economia encolhe mais pessoas são demitidas. As que continuam empregadas não conseguem aumento de salário suficiente para repor a inflação, ou até ter o salário reduzido. Com isso a renda global cai, cai o consumo das famílias, diminuem os impostos, reduzem os investimentos. Este é o ciclo da economia, comentado mais detalhadamente adiante.
O governo entra em cena e corta gastos. Continua perseguindo as metas do ajuste fiscal tentar reequilibrar as contas públicas que estão desarrumadas. O governo corta investimentos e por conseguinte passa a comprar menos produtos e serviços das empresas.
Como no Brasil, muitos preços que são controlados pelo governo estão contidos no IPCA (IBGE). Para os economistas são eles os vilões para o aumento da inflação. Veja o gráfico a seguir (Folha de São Paulo, 23/11/2015).
Como podemos ver, o governo sobe impostos e tarifas sobre alimentos e bebidas, habitação, energia elétrica, transportes, combustíveis domésticos e despesas pessoais. Estes aumentos de preços feito pelo governo pressionam para cima a inflação. Para os economistas, quando um país está em recessão, a inflação costuma cair porque cai também o consumo. O Brasil, porém, vive um quadro de recessão acompanhado de inflação em alta, acima do teto da meta. Os preços mais altos desestimulam o consumo. Caindo o consumo, o desempregado com a renda menor, ou com medo de perder o emprego, passa a gastar menos.
Com as famílias comprando menos a indústria produz menos. A produção diminui e parte da mão de obra é demitida e com o consumo menor os serviços e comércios são afetados e começam a demitir.
Está realidade é possível constatarmos aqui no Amapá. Em outubro, as vendas no varejo variaram -0,2% no volume de vendas e 0,5% na receita nominal, ambas com relação a setembro, ajustadas sazonalmente. Nas demais comparações, obtidas das séries originais (sem ajuste), o varejo amapaense obteve, em termos de volume de vendas, decréscimo da ordem de 20,9% sobre outubro de 2014.
Vendas no varejo: outubro de 2015 atingiu o menor volume em 15 anos, no Amapá
- PeríodoVarejoVarejo AmpliadoVolume de vendasReceita nominalVolume de vendasReceita nominalOutubro 2015/Setembro 2015 (com ajuste sazonal)-0,20,5––Outubro 2015/ Outubro 2014-20,9-14,2-20,8-15,4Acumulado 2015-9,0-2,4-9,8-4,5Acumulado 12 meses-5,30,9-7,0-1,8
Fonte: PMC/outubro-2015 (IBGE)
Este foi o pior mês da série iniciada em janeiro de 2000. O volume de vendas do Amapá foi o pior entre todas as Unidades da Federação. Em termos acumulados, as variações foram de -9,0% no ano e de -5,3% nos últimos 12 meses. A receita nominal de vendas apresentou taxas de variação de -14,2% na comparação outubro 2015/outubro/2014, de -2,4% no acumulado do ano e de 0,9% nos últimos 12 meses.
Depois de anos de consumo fácil, custo de vida relativamente estável e expansão econômica, o Brasil entrou em um período de inflação acima do limite de tolerância, queda do Produto Interno Bruto (PIB), soma de todas as riquezas geradas em um ano, e aumento do desemprego. Guardadas as devidas proporções, esse cenário lembra as crises dos anos 1980 e 1990, antes da implementação do Plano Real. O cenário atual, porém, não tem um único vilão. Observando esta cadeia da economia que nos envolve, passamos a ter clareza das dificuldades que cada trabalhador enfrenta para gerenciar a sua vida, mantendo os bens de consumo e a sua qualidade de bem-estar que já estavam acostumados.
O certo é que vamos iniciar 2016 como começamos 2015, sem nenhuma perspectiva de melhora na nossa economia. Tudo indica que será mais uma década perdida.
Adrimauro Gemaque, é articulista e Analista do IBGE, que apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal (adrimaurosg@gmail.com).
Referências:
in EcoDebate, 04/01/2016
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