sexta-feira, 25 de março de 2016

DESEMPREGO ENTRE OS JOVENS E A GERAÇÃO PERDIDA.

Ocupação e desocupação entre os jovens e a geração perdida, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Publicado em março 24, 2016 
[EcoDebate] No Brasil, a Geração Y, ou geração do milênio, ou geração da Internet está vivendo momentos difíceis. A esperança de uma geração jovem com bom nível educacional e com boas perspectivas de emprego está se desfazendo diante da crise que começou em 2013 e se aprofundou em 2015 e 2016.
O desemprego de jovens vinha caindo desde 2003 e atingiu o ponto mais baixo em dezembro de 2012, segundo dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE. A PME produz indicadores mensais sobre a força de trabalho que permitem avaliar as flutuações e a tendência, a médio e a longo prazo, do mercado de trabalho. A nova série da PME começa em março de 2002 e terá finalização em fevereiro de 2016. A periodicidade é mensal e a abrangência geográfica cobre as regiões metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Ela é uma excelente pesquisa para se avaliar o desempenho do mercado de trabalho nas regiões metropolitanas mais dinâmicas do país entre 2002 e 2016.
A taxa de desemprego, em dezembro de 2012, atingiu o nível mais baixo, sendo 19,1% entre os jovens de 15 a 17 anos e de 10,6% entre os jovens de 18 a 24 anos. Mas estas taxas começaram a subir a partir de janeiro de 2013. As jornadas dos jovens em junho de 2013 já foram reflexo da piora no mercado de trabalho e da falta de esperança de uma boa educação e um bom emprego.

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O que estava ruim piorou. Em fevereiro de 2016, a taxa de desemprego dos jovens de 15 a 17 anos atingiu a cifra astronômica de 39,1% e dos jovens de 18 a 24 anos ficou em 20,8%. Isto se refere ao desemprego aberto. Mas há também o desemprego oculto e o desalento. O problema, portanto, é muito mais grave. Além do mais, a situação vai piorar nos próximos meses devido à estagflação de 2016.
Na verdade o número de jovens vem caindo no Brasil devido à transição demográfica. Segundo o demógrafo americano Richard Easterlin, “os jovens de coortes menores tendem a ter melhores oportunidades no mercado de trabalho e na educação”. Portanto, o Brasil, que vive a fase do bônus demográfico, teria uma chance única de avançar com a inclusão social de seus adolescentes e jovens.
Todavia, não é isto que vem ocorrendo desde dezembro de 2012, pois o número e o percentual de jovens ocupados vem diminuindo. O gráfico abaixo mostra que o número de adolescentes de 15 a 17 anos vem caindo, mas o número de adolescentes ocupados ficou estável até 2012 e começou a cair rapidamente em 2013. A taxa de ocupação (PO/PIA) caiu durante a recessão de 2009, voltou a subir em seguida e despencou a partir de 2013, com um grande colapso em 2015 e início de 2016. Em junho de 2002 havia 378 mil adolescentes de 15-17 anos na PO, representando uma taxa de ocupação (PO/PIA) de 15,8%. Em dezembro de 2012, havia 372 mil adolescentes na PO, com taxa de ocupação de 15,7%. Porém, em dezembro de 2014 o número de adolescentes na PO tinha caído para 265 mil e a taxa de ocupação abaixou para 11,7%. Mas tudo piorou com a estagflação de 2015, sendo que o número de adolescentes na PO caiu para 170 mil em fevereiro de 2016, representando uma taxa de ocupação de 7,9%. Nunca, na série da PME em questão, a taxa de ocupação de jovens de 15-17 anos foi tão baixa.

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O gráfico abaixo mostra que o número de jovens de 18 a 24 anos ocupado subiu de 3 milhões em março de 2002 (taxa de 52,4%) para 3,3 milhões (taxa de 62,5%) em dezembro de 2012, embora a PIA de 18 a 24 anos estivesse diminuindo. Porém, em dezembro de 2014 o número de jovens na PO tinha caído para 2,9 milhões e a taxa de ocupação abaixou para 58,5%. Mas a situação piorou muito com a estagflação de 2015, sendo que o número de jovens na PO caiu para 2,4 milhões em fevereiro de 2016, representando uma taxa de ocupação de 49,6%. Nunca, na série da PME, a taxa de ocupação de jovens de 18-24 anos foi tão baixa e nunca tinha ficado abaixo de 50%

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Ou seja, o número e o percentual de adolescentes e jovens no mercado de trabalho neste início de 2016 está abaixo do que ocorria no início de 2002. Todos os ganhos obtidos na primeira década do século XXI estão sendo perdidos na segunda década. O bônus demográfico dos jovens está sendo jogado fora.
Além do desemprego aberto existe o problema da “geração nem-nem-nem” (nem estuda, nem trabalha e nem procura emprego). O gráfico abaixo, com base no último censo demográfico, mostra que o percentual de jovens que nem estudam e nem trabalham e nem procuram emprego – de 15 a 29 anos – é muito elevado, em especial, nas Unidades da Federação com menores níveis de desenvolvimento e IDH. Santa Catarina foi a única UF com percentual da geração nem-nem-nem abaixo de 10%. A maioria das UFs do Nordeste e Norte tinha taxas acima de 20%. Ou seja, não se trata de criminalizar os jovens por serem nem-nem-nem, mas avaliar como as políticas públicas não estão dando conta de incorporar a juventude no mercado de trabalho e na escola de qualidade, especialmente os jovens das camadas mais pobres da população. Além disto, muitas mulheres jovens das camadas pobres não possuem acesso aos serviços de saúde reprodutiva e ficam grávidas em um momento não planejado e não possuem apoio de creches para conciliar as tarefas dos cuidados familiares com a inserção produtiva.
Percentagem de jovens de 15 a 29 anos que nem estudam e nem trabalham
(geração nem-nem). Unidades da República Federativa do Brasil, 2010
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Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010
Assim, evidencia-se que a maior parte dos jovens nem-nem-nem são de mulheres. Muitas delas engravidaram e saem da escola e não entram no mercado de trabalho. Isto acontece por não terem alternativas de progresso social e por não terem acesso aos métodos de regulação da fecundidade. Estas mulheres sofrem com o círculo cumulativo da falta de direitos: no trabalho, na educação e na falta de acesso aos direitos sexuais e reprodutivos.
O crescimento do número de jovens que não estudam , nem trabalham e nem procuram emprego é preocupante, pois além de ser um desperdício do potencial humano, em termos macroeconômico, reflete a falta de oportunidade de trabalho decente, que é um direito humano básico.
O grande número de jovens “nem-nem-nem” é um fato não previsto, especialmente considerando que o ano 2010 foi de crescimento econômico e deveria ter aberto oportunidades para os jovens na escola e no mercado de trabalho.
O número absoluto de jovens está diminuindo no Brasil. Este seria o momento para se investir nos direitos da juventude, permitindo que façam a transição para a vida adulta de maneira tranquila, saudável e produtiva. O futuro do país depende da inserção social e da boa qualidade de vida das novas gerações. O progresso de qualquer nação depende da mobilidade intergeracional ascendente. Todavia, a crise brasileira atual está parindo uma geração perdida!
O colapso do mercado de trabalho formal no Brasil
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – CAGED (LEI 4.923/65), que apresenta uma síntese do comportamento do mercado de trabalho formal no Brasil, apontam para um colapso do emprego com carteira assinada no Brasil. Depois das eleições de 2014, o saldo entre admitidos e desligados foi negativo em 2,4 milhões de empregos formais entre dezembro de 2014 e fevereiro de 2016. Na média mensal foram fechados 159 mil empregos por mês no período, o que dá uma peda de 5.300 empregos com carteira de trabalho assinada por dia. Somente nos últimos 3 meses a perda de vagas foi superior a 800 mil postos.

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Em fevereiro de 2016 houve no Brasil 1,27 milhão de pessoas admitidas e 1,38 pessoas desligadas. Alguns estados tiveram saldo positivo, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso, Goias, Mato Grosso do Sul e Tocantins. Os demais tiveram saldo negativo, sendo que o Rio de Janeiro foi a Unidade da Federação que apresentou o maior déficit entre admitidos e desligados, com um saldo negativo de 22.287 empregos formais perdidos.

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O emprego formal cresceu bastante entre 2002 e 2014, reduzindo o grau de informalidade. Havia 22,8 milhões de empregos com carteira assinada em 2002 e aumentou para 41,2 milhões em 2014. Mas houve uma queda de 1,5 milhão em 2015 e talvez haja uma queda de no mínimo 2 milhões em 2016. Isto quer dizer que o Brasil está longe da meta da OIT de pleno emprego e trabalho decente. Se não houver uma reversão desta queda, toda a população brasileira vai sofrer como nunca.

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Esta é a realidade brasileira: uma crise geral no mercado de trabalho e uma crescente juventude com elevados níveis educacionais mas sem perspectiva de emprego, enquanto se aprofunda a estagflação e a utopia vira distopia.
Referências:
IBGE, Pesquisa Mensal de Emprego

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

in EcoDebate, 24/03/2016

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