Notas Tóxicas dos agrotóxicos no Brasil, artigo de Carlos Augusto de Medeiros Filho
A cada dois dias, uma pessoa morre por intoxicação de agrotóxicos no Brasil – cerca de 20% dessas vítimas são crianças e adolescentes de até 19 anos.
A aplicação de pesticidas na agricultura aumentou significativamente a quantidade de produção de alimentos. No entanto, Rao et al. (1993) notaram que o uso excessivo desses pesticidas tem atingido outros seres vivos (por exemplo, peixes, pássaros e humanos), além de pragas/insetos. A vegetação adjacente também foi afetada por esses pesticidas (Abhilash e Singh, 2009).
Efeitos agudos e crônicos na saúde humana foram observados devido à presença de agrotóxicos nos sistemas ambientais. Os distúrbios de saúde humana comumente relatados são problemas do sistema imunológico, problemas hormonais, delírios, problemas reprodutivos e até mesmo câncer (Abhilash e Singh, 2009).
Problemas semelhantes de saúde humana também foram relatados por alguns outros pesquisadores, como câncer, problemas nos rins e no sistema imunológico, infertilidade masculina e feminina, distúrbios hormonais e distúrbios dos neurônios. Além disso, distúrbios comportamentais também são relatados em crianças devido ao envenenamento prolongado por resíduos de agrotóxicos (Agnihotri, 1999).
A cada dois dias, uma pessoa morre por intoxicação de agrotóxicos no Brasil – cerca de 20% dessas vítimas são crianças e adolescentes de até 19 anos. O dado consta num relatório publicado nesta quinta-feira (28/04) pela rede ambientalista Friends of the Earth Europe. O relatório afirma que empresas agroquímicas europeias já gastaram cerca de 2 milhões de euros em apoio ao lobby do agronegócio no Brasil. Aliança deu frutos: uso de agrotóxicos no país se multiplicou por seis em 20 anos (1).
Somente em 2021, foram aprovados 499 novos pesticidas no país, um número recorde. Além disso, a Bayer e a Basf tiveram, juntas, 45 novos agrotóxicos aprovados no Brasil durante o governo de Jair Bolsonaro, sendo que 19 deles contêm substâncias proibidas na EU (1).
Agricultoras que se expõem a pesticidas sem equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados tendem a desenvolver subtipos mais agressivos de câncer de mama, com piores prognósticos de tratamento. No sudoeste paranaense, região produtora de alimentos, a incidência e letalidade desse câncer são maiores que a média nacional. Pesquisadores da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), em Francisco Beltrão (PR), observaram essa tendência ao longo dos últimos seis anos (2).
Referências Bibliográficas
Abhilash, P.C., Singh, N., 2009. Pesticide use and application: an Indian scenario. J. Hazard. Mater. 165, 1-12.
Agnihotri, N.P., 1999. Pesticide Safety and Monitoring, All India Coordinated Research Project on Pesticides Residues. Indian Council of Agricultural Research, New Delhi.
Rao, P.S.C., Bellin, C.A., Brusseau, M.L., 1993. In Sorption and Degradation of Pesticides and Organic Chemicals in Soil. SSSA Special Publication, Wisconsin, USA, pp. 1-26, Number 32.
Carlos Augusto de Medeiros Filho, geoquímico, graduado na faculdade de geologia da UFRN e com mestrado na UFPA. Trabalha há mais de 35 anos em Geoquímica em Pesquisa Mineral e Ambiental.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 06/05/2022
Nenhum comentário:
Postar um comentário