Países em desenvolvimento crescem mais do que os países desenvolvidos, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
A governança global tem muito o que fazer na área econômica, social e ambiental para construir um mundo mais justo e sustentável no século XXI
Os países em desenvolvimento (liderados pela China e pela Índia) têm, nas últimas décadas, apresentado maior crescimento econômico dos que os países desenvolvidos. Em consequência, o PIB dos países emergentes superou o PIB dos países avançados e existe um processo de convergência da renda per capita, pois a diferença da renda média entre os dois grupos de países está diminuindo.
O gráfico abaixo, com dados do FMI, mostra que em 1980 os países desenvolvidos tinham um PIB de US$ 8,4 trilhões e os países em desenvolvimento um PIB de US$ 4,98 trilhões. A estimativa para 2027 é de um PIB de US$ 82,5 trilhões nas economias avançadas e de US$ 128,9 trilhões nas economias emergentes.
Segundo o professor e prêmio Nobel de economia, Michael Spence (2012), antes de 1750, por milhares de anos, o crescimento econômico era insignificante em todo o mundo. A maioria da população mundial era pobre (havia algumas elites ricas) e em alguns lugares havia uma pequena classe média orientada para o comércio. Mas por volta de 1750, a Inglaterra começou uma nova trajetória, a da Revolução Industrial. Os níveis de renda per capita começaram a melhorar. O crescimento acelerou e, pela primeira vez na história recente, o desenvolvimento se tornou duradouro.
Durante o século XIX, o padrão se espalhou rapidamente para a Europa continental e depois para os Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. A Revolução Industrial se expandiu por dois séculos, até a Segunda Guerra Mundial, e provocou um processo de divergência da renda, isto é, alguns países ficaram muito mais ricos do que o resto do mundo. A mudança drástica no modelo de crescimento, entre 1750 e 1950, limitou-se ao que hoje entendemos como países avançados ou industrializados (ou, às vezes, maduros). Isso afetou a vida de quase 15% da população do planeta.
Após a Segunda Guerra Mundial, o modelo começou a mudar novamente, embora no início fosse difícil perceber que era realmente uma megatendência. Os países em desenvolvimento começaram a crescer. No início muito lentamente e apenas em algumas áreas isoladas. Então o avanço começou a se espalhar e acelerar. Quando, a partir da década de 1980, a China e a Índia (os dois países mais populosos do mundo) iniciaram uma fase de rápido crescimento econômico, a convergência da renda, em nível internacional, passou a ficar clara. É o que Michael Spence chama de nova convergência.
Considerando o gráfico abaixo, nota-se que houve, de fato, um processo de convergência entre a renda per capita (em poder de paridade de compra – ppp) dos países desenvolvidos (economias avançadas) e dos países em desenvolvimento (economias emergentes) nas últimas 4 décadas. A renda per capita dos primeiros era de US$ 26,6 mil em 1980, passou para US$ 53,5 mil em 2022 e deve chegar a US$ 57,6 mil em 2027, segundo as estimativas do FMI. Já a renda per capita dos segundos era de US$ 3,6 mil em 1980, passou para US$ 11,9 mil em 2022 e deve chegar a US$ 14,1 mil em 2027. A renda per capita das economias avançadas era 7 vezes maior do que a das economias emergentes em 1980 e deve cair para 4,1 vezes em 2027. Portanto, a despeito das desigualdades, a diferença de renda diminuiu entre 1980 e 2027, o que mostra um processo de convergência.
O fato é que houve avanço do comércio internacional, especialmente depois do fim da Guerra Fria e a Ásia emergente conseguiu ganhos significativos na medida em que construiu uma inserção soberana no processo de globalização e conquistou um ritmo de aumento da renda per capita que converge para o nível das economias mais ricas e avançadas do mundo. Já a América Latina e a África são continentes em que a renda diverge dos países desenvolvidos e são regiões, com baixo grau de complexidade da estrutura produtiva, que estão em um processo submergente.
Isto quer dizer que o mundo não é totalmente convergente. Existem regiões que estão ficando mais pobres em termos relativos. A ALC pode, no longo prazo, ficar presa na “armadilha da renda média” e pode ficar cada vez mais distante da Ásia emergente.
O caso mais grave é da África Subsaariana que deve chegar em 2100 com cerca de 4 bilhões de habitantes (quase 40% da população mundial) e uma renda per capita cada vez mais distante daquela da América do Norte, da Europa, da Oceania e da Ásia emergente. Um contingente tão grande de pessoas presas na “armadilha da pobreza” pode ser uma bomba relógio que sinalize para uma erupção de uma grande crise social.
Por conseguinte, a governança global tem muito o que fazer na área econômica, social e ambiental para construir um mundo mais justo e sustentável no século XXI.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. O centro da economia global está voltando para a Ásia, Ecodebate, 18/03/2019
https://www.ecodebate.com.br/2019/03/18/o-centro-da-economia-global-esta-voltando-para-a-asia-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
Spence, Michael. The Next Convergence: The Future of Economic Growth in a Multispeed World, Farrar, Straus and Giroux, 2012
https://www.amazon.com/Next-Convergence-Future-Economic-Multispeed/dp/1250007704
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/05/2022
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