[EcoDebate] A China era a maior economia do mundo até o início do século XIX. Foi superada pelo Reino Unido e depois pelos Estados Unidos. A China sofreu mais de um “século de humilhações”, como os chineses costumam se referir ao período de invasões, guerras e declínio contínuo de sua economia e de perda de influência política regional e internacional.
Mas a retomada do peso econômico da China e sua influência no cenário internacional começou a mudar depois dos acordos Mao-Nixon, de 1972, e, especialmente, depois da abertura econômica e comercial de 1978, liderada por Deng Xiaoping. O PIB chinês cresceu cerca de 10% ao ano nas últimas 3 décadas.
Mas a inserção da China no processo de globalização não se deu de maneira subalterna. Ao contrário, a China soube tirar proveito da conjuntura internacional para fortalecer um projeto de desenvolvimento nacional soberano que fez do país a “fábrica do mundo”, ao mesmo tempo que investia fortemente na educação dos jovens e na retirada de centenas de milhões de pessoas da pobreza.
Os dados do comércio internacional são bastante ilustrativos. No início da década de 1950 os Estados Unidos eram responsáveis por quase 20% das exportações globais. Estes números caíram rapidamente para cerca de 12% no início da década de 1970 e oscilaram neste patamar até a virada do milênio. Porém, na primeira década do século XXI a queda foi mais intensa e chegou ao baixo patamar de 8%.
O Brasil tinha uma participação de 2% no comércio internacional em 1950, mas veio perdendo posição e ficou longo período em torno de 1%. Na última década recuperou um pouco, mas não chegou nem em 1,5% do comércio global de mercadorias. Até 1985, o Brasil exportava mais do que a China, mas hoje em dia fica apenas aos pés do gigante asiático.
O Brasil tinha uma participação de 2% no comércio internacional em 1950, mas veio perdendo posição e ficou longo período em torno de 1%. Na última década recuperou um pouco, mas não chegou nem em 1,5% do comércio global de mercadorias. Até 1985, o Brasil exportava mais do que a China, mas hoje em dia fica apenas aos pés do gigante asiático.
(apuração: Lilian Sobral; design: Juliana Pimenta | Exame)
A China tinha apenas 1% das exportações mundiais quando Deng Xiaoping chegou ao comando do país. De lá para cá, a China se tornou a máquina mais eficiente de exportação do mundo, ultrapassando os EUA em 2009 e a Alemanha no ano seguinte, chegando a cerca de 11% do comércio internacional em 2012. Enquanto a balança comercial chinesa foi superavitária em 231,1 bilhões de dólares, a norte-americana foi deficitária em 727,9 bilhões de dólares, em 2012. Mas, em termos de importação, os EUA ainda superam a China, pois o nível de consumo dos norteamericanos é muito maior.
Contudo, quando se considera o volume de comércio – a soma de importações e exportações – a China ultrapassou os EUA no ano passado. Segundo reportagem do site da agência Bloomberg, o volume de comércio dos EUA foi de US$ 3,82 trilhões, enquanto o da China foi de US$ 3,87 trilhões, em 2012. A China está se tornando o principal parceiro bilateral para a maioria dos países do mundo.
PIB da China cresce 7,6% no segundo trimestre e 2012 Fonte: www.dci.com.br
Reportagem crítica do site Outras Palavras mostra que a América Latina está se convertendo em uma plataforma de exportação de produtos primários e commodities para a China, cuja função seria permitir a esta última assegurar e ampliar suas exportações – notadamente nos setores de eletrônica, indústria automobilística, têxtil, etc. As economias latino-americanas recebem agora 13% do total dos investimentos diretos externos (IDE) da China no mundo. Isso representa um montante estimado em 31 bilhões de dólares. A Cepal indica que 24 bilhões de dólares teriam sido diretamente investidos pelas empresas chinesas nos setores de recursos naturais, da indústria e dos serviços na América Latina. A reportagem conclui: “Embora participe desse importante movimento global, a América Latina continua largamente prisioneira de uma integração à economia internacional pelo aumento da ‘primarização’ de sua economia. Sua relação com a China confirma essa tendência”.
O sucesso econômico e comercial da China é inegável. Mas ao contrário dos períodos das grandes dinastias do passado, que tinham uma economia rural, de baixo consumo e sustentada na energia física dos músculos dos trabalhadores chineses, o atual poderio chinês é baseado em uma economia urbana, de elevado consumo de bens duráveis e altamente dependente de combustíveis fósseis (especialmente o carvão mineral, que é altamente poluente). O caminho atual escolhido pela China é insustentável, mesmo considerando que seus dirigentes façam investimentos corretos em energias renováveis e de baixo carbono, pois o sucesso econômico pode terminar em um grande desastre ambiental.
Portanto, a China não superou os EUA apenas no comércio global, mas também como principal agente da degradação do meio ambiente. Além da poluição da águas, das terras e do ar, a China se tornou o principal emissor de gases de efeito estufa e tem provocado diversos outros danos à natureza. Sem dúvida, a China caminha para se tornar a maior economia do mundo e, também, de forma preocupante, a “inimiga” número um dos ecossistemas e da biodiversidade da Terra.
Referências:
China Passes U.S. to Become World’s Biggest Trading Nation
http://www.bloomberg.com/news/2013-02-09/china-passes-u-s-to-become-the-world-s-biggest-trading-nation.html
China e América Latina: as relações perigosas
http://www.outraspalavras.net/2013/02/09/china-e-america-latina-as-relacoes-perigosas/
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 25/02/2013
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