domingo, 31 de janeiro de 2016

SANTA CATARINA : NOTÍCIA NEGATIVA TAMBÉM NO HORA1.


Reportagem mostra a relação perigosa entre álcool e direção em SC

Cenário é de falta de fiscalização, penas brandas e inconsequência.
Jornal do Almoço reuniu flagrantes e especialistas para discutir o caso.

Do G1 SC
Jornal do Almoço mostrou nesta quarta-feira (27) a perigosa relação entre álcool e direção nas estradas de Santa Catarina. A reportagem mostrou flagrantes de pessoas que admitem estar dirigindo sob o efeito do álcool, a sensação de impunidade para quem mata no trânsito, além da falta de fiscalização e de conscientização dos motoristas (veja vídeo acima).
Em um dos casos mostrados pela reportagem, o condutor de uma van dirigia alcoolizado quando colidiu contra um carro, matando um homem de 27 anos. Na época, em 2014, ele ficou preso durante um mês e foi solto para responder o processo em liberdade. Nesta terça (26), ele foi julgado e novamente detido.
SC é estado onde motoristas mais assumem beber e dirigir (Foto: Reprodução/RBSTV)SC é estado onde motoristas mais assumem
beber e dirigir (Foto: Reprodução/RBSTV)
Penas
Na maioria dos casos, segundo a Justiça, o motorista responde por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, com penas que variam de 2 a 4 anos. Há um projeto em tramitação para aumentar a pena para quem mata no trânsito para 4 a 10 anos, mas ainda não foi votado pelo Congresso.
“Seria imprescindível que a legislação fosse alterada para impôr mais temor por parte dos condutores”, diz a juíza Denise Schild de Oliveira.
A Polícia Civil usa um recurso para tentar aumentar a punição nestes casos. Conforme o delegado Jorge Giraldi, é possível enquadrar casos como homicídio com dolo eventual, que podem levar a até 20 anos de prisão e julgamento em júri popular.
Conscientização e represão
Entidades também admitem blitze insuficientes na cidades. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que um terço da frota de um município seja fiscalizado com bafômetro no período de um ano. Em Santa Catarina, não há dados oficiais sobre veículos fiscalizados. O Detran diz que é preciso uma política pública de segurança viária.
Tentamos mobilizar recursos e vontade política para que a gente reverta esse quadro, que hoje é uma epidemia"
Leandro Pereira Garcia,
da Rede Vidas de Trânsito
Em busca de soluções, 30 entidades públicas e privadas catarinenses se uniram para mapear os riscos e cobrar do governo e da sociedade os riscos. “Tentamos mobilizar recursos e vontade política para que a gente reverta esse quadro, que hoje é uma epidemia", diz Leandro Pereira Garcia, da Rede Vidas de Trânsito.
'Duas cervejinhas'
Nas imagens flagradas pela reportagem, um motorista parado em uma blitz diz ter tomado "duas cervejinhas". Questionada se ele "só" havia tomado as duas cervejas, a mulher dele nega.
Segundo a neurologista Gladys Lentz Martins, não é possível estabelecer uma quantidade de bebida que seria viável para a pessoa beber. "Depende do tipo de bebida, da velocidade, da quantidade que ela bebe e de uma condição individual do próprio metabolismo".
Dor das famílias
Para as famílias de vítimas de desastres provocados pela combinação de álcool e direção, não existe nada pior do que receber a notícia de uma morte. "É triste a noticia, a pior da vida", dia Itamar Senhorinha, pai de André, o jovem de 27 anos que morreu a caminho do trabalho.
"Estou guardando as botas do meu pai para usar quando eu crescer, porque eu gostava dele. A gente jogava bola, pescava", diz Gabriel, filho de André.

BRASIL : FESTEJANDO À BEIRA DO PRECIPÍCIO. TUDO É CARNAVAL.

Brasil está ‘festejando à beira do precipício’, diz ‘The Economist’

Fri, Jan 29, 2016

Revista aponta confluência de problemas de saúde, político e econômico às vésperas do carnaval.

 
RIO - O Brasil voltou a ser assunto de uma reportagem da edição da revista britânica “The Economist” para as Américas. Intitulado “Festejando à beira do precipício”, o texto fala da pausa que a população costuma fazer durante o carnaval. E lembra que os políticos voltarão do recesso de fim de ano poucos dias antes do feriado começar, ou seja, os trabalhos só devem ser de fato retomados após o fim da folia.
 
Para a publicação, nem a presidente Dilma Rousseff nem os congressistas vão conseguir relaxar, já que o país enfrenta dois sérios problemas: o vírus zika e a piora das crises econômica e política. “Quando os políticos retornarem ao trabalhos eles podem se arrepender do tempo que passaram sem tentar resolvê-los”, afirma a reportagem.
 
A publicação cita a queda das vagas no mercado formal de trabalho em 2015, a projeção de mais perdas para este ano e a forte retração das vendas de automóveis como parte dos indícios do agravamento do cenário econômico brasileiro. E ressalta que para as gerações mais novas, o desemprego é uma novidade. E que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que é sociólogo, alerta que não se sabe como esses jovens vão reagir a esse revés.
 
De acordo com a “Economist”, a capacidade do governo de lidar com as causas da miséria diminui, enquanto esse mal cresce. A reportagem fala ainda das investigações sobre a corrupção na Petrobras, afirmando que espera-se que mais membros do PT sejam acusados.
A revista lembra a ameaça de impeachment e alega que a falta de força de Dilma a torna “mais dependente da boa vontade do PT e de sindicatos aninhados a ele, que se opõem visceralmente às reformas necessárias para firmar a economia”.
 
A reportagem termina dizendo que há pouca perspectiva de que, ao voltar do recesso, os legisladores tomarão medidas que possam ajudar a melhorar o cenário atual. Segundo a publicação, os interessados no impeachment da presidente admitem que dificilmente conseguirão os votos necessários para levar o caso ao Senado, mas planejam esticar o processo por tanto tempo quanto os “(vagos) prazos legais permitam”. “Isso vai atingir o objetivo deles de minar a presidente. Isso não vai fazer nada para melhorar o Brasil”, conclui.
 
Fonte: www.globo.com

SOMÁLIA : APROVA 30% DE REPRESENTAÇÃO FEMININA NO PARLAMENTO.

ONU: acordo eleitoral adotado na Somália para 2016 aprova 30% de representação feminina no parlamento

O secretário-geral das Nações Unidas elogiou o compromisso e destacou a necessidade de um roteiro para chegar ao sufrágio universal até 2020. Acordo estabelece representação de minorias no parlamento.

Mulheres somalis com a bandeira de seu país no dia da independência, 1 de julho de 2013. Foto: Flickr/ AMISOM Public Information
Mulheres somalis com a bandeira de seu país no dia da independência, 1 de julho de 2013. Foto: Flickr/ AMISOM Public Information
“Me dá um prazer particular em compartilhar grandes novidades com vocês”, disse o chefe da Missão de Assistência Especial da ONU na Somália (UNSOM), Michael Keating, ao Conselho de Segurança, nesta quinta-feira (28), a respeito do acordo feito pelo Gabinete somali sobre as eleições de 2016.
Entre os pontos mais relevantes do acordo está o compromisso de representar as mulheres e grupos minoritários no governo, com as mulheres ocupando 30% do próximo parlamento.
“Nesta manhã, uma decisão foi feita pelo Gabinete somali sobre o modelo eleitoral usado posteriormente neste ano. Isso é a culminação de quase seis meses de intensas consultas. Esse pode ser um divisor de águas, marcando o aumento da maturidade política da Somália federal”, afirmou Keating.
Ele acrescentou, no entanto, que o sucesso do país dependerá da gestão de ameaças, especialmente as representadas por grupos terroristas, como o Al-Shabaab.
As duas semanas desde que assumiu a função de representante especial no país do Chifre da África, “não foram as mais fáceis”, segundo Keating, sendo marcadas por intensa negociação política e por dois ataques terroristas.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, no entanto, parabenizou a liderança somali pela decisão tomada, e destacou a urgência de estabelecer um roteiro político em direção a um sufrágio universal na Somália até 2020, para garantir um momento contínuo de transição do país para a democracia.
Keating também informou que a situação humanitária no país é “preocupante”. Milhões de crianças, mulheres e idosos estão vulneráveis, e 4,9 milhões – ou 40% da população – precisam de ajuda humanitária. Mais de 1,1 milhão de civis são deslocados internos e 300 mil crianças abaixo dos cinco anos sofrem de desnutrição.
Milhões também não têm acesso a cuidados na área da saúde, a água e saneamento básico. O chefe da UNSOM pediu que o plano de resposta humanitária recentemente lançado seja “generosamente” apoiado.
Fonte : ONUBrasil

BRASIL É FOCO DA PROPAGAÇÃO DO VÍRUS ZIKA.



Brasil é foco da propagação do vírus zika nas Américas, alerta OMS; agência anuncia comitê de emergência


Chegada do vírus em alguns países das Américas, principalmente no Brasil, tem sido associada com o aumento expressivo de nascimentos de bebês com microcefalia e, em alguns casos, síndrome de Guillain-Barré. Foto: Fiocruz
Chegada do vírus em alguns países das Américas, principalmente no Brasil, tem sido associada com o aumento expressivo de nascimentos de bebês com microcefalia e, em alguns casos, síndrome de Guillain-Barré. Foto: Fiocruz
Chan, anunciou nesta quinta-feira (28) que convocará um Comitê Internacional de Emergência de Regulamento de Saúde sobre o vírus zika e o aumento observado de distúrbios neurológicos e malformações congênitas.
O Comitê se encontrará na segunda-feira, dia 1o de fevereiro, em Genebra para determinar se o surto constitui uma “Emergência de Saúde Pública de Preocupação Internacional”.
As decisões referentes aos membros do Comitê e conselhos serão publicadas no site da OMS (who.int).
A diretora-geral da OMS fez um breve histórico sobre o vírus zika, informando que a preocupação relacionada à doença era considerada baixa, com poucos casos reportados e, por isso, difíceis de serem interpretados clinicamente.
“A situação hoje é muito diferente. No ano passado [2015], o vírus foi detectado nas Américas, onde ele está agora se disseminando explosivamente. Até hoje, há casos relatados em 23 países e territórios da região. O nível de alarme é extremamente elevado”, disse Chan.
Em maio de 2015, o Brasil registrou o primeiro caso do vírus zika. Desde então, a doença se espalhou no Brasil e em outros 23 países e territórios da região.
A chegada do vírus em alguns países das Américas, principalmente no Brasil, tem sido associada com o aumento expressivo de nascimentos de bebês com cabeças anormalmente pequenas (microcefalia) e, em alguns casos, síndrome de Guillain-Barré, uma condição pouco compreendida na qual o sistema imunológico ataca o sistema nervoso, às vezes provocando paralisia.



Uma relação casual entre a infeção do vírus zika e a malformação congênita e síndromes neurológicas não foi estabelecida, mas há uma forte suspeita.
Além da possível associação da infecção com as malformações congênitas e síndromes neurológicas, Margaret Chan disse estar preocupada com o potencial em termos de propagação internacional – dada a ampla distribuição geográfica do mosquito vetor –, a falta de imunidade da população em áreas recém-afetadas e a ausência de vacinas, tratamentos específicos e testes de diagnóstico rápidos.
Ações de resposta da OMS
A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) vem trabalhando estreitamento com os países afetados desde maio de 2015. A OPAS mobilizou esquipes e membros da Rede Mundial de Alerta e Resposta a Surtos Epidêmicos (GOARN) para dar assistência a ministros da Saúde no fortalecimento de suas habilidades para detectar a chegada e circulação do vírus zika por meio de testagem laboratorial e comunicação rápida.
O objetivo, disse a agência por meio de um comunicado, é garantir diagnóstico clínico preciso e tratamento para pacientes, rastrear a propagação do vírus e o mosquito que o transmite (o Aedes aegypti), bem como promover a prevenção, especialmente através do controle do mosquito.
A agência da ONU está apoiando o aprimoramento e fortalecimento de sistemas de vigilância em países que registraram casos de zika e de microcefalia e outras condições neurológicas que podem estar associadas ao vírus.
O monitoramento também está se intensificando em países para onde o vírus possa se propagar. Nas próximas semanas, a OPAS/OMS convocará especialistas para dar conta dos gargalos críticos no conhecimento científico sobre o vírus e seus efeitos potenciais nos fetos, crianças e adultos.
A OMS informou que vai priorizar o desenvolvimento de vacinas e novos instrumentos para o controle das populações de mosquitos, bem como a melhoria de testes de diagnóstico.
O Ministério da Saúde brasileira orienta as gestantes a adotar medidas que possam reduzir a presença de mosquitos transmissores de doença, com a eliminação de criadouros, e proteger-se da exposição de mosquitos, como manter portas e janelas fechadas ou teladas, usar calça e camisa de manga comprida e utilizar repelentes permitidos para gestantes.
Testagem no Brasil
Atualmente, a circulação do zika é confirmada no Brasil por meio de teste PCR, com a tecnologia de biologia molecular. A partir da confirmação em uma determinada localidade, os outros diagnósticos são feitos clinicamente, por avaliação médica dos sintomas. O Ministério da Saúde distribuirá 500 mil testes para realizar o diagnóstico de PCR (biologia molecular) para o vírus zika.
Com isso, os laboratórios públicos ampliarão em 20 vezes a capacidade dos exames, passando de mil para 20 mil diagnósticos mensais, anunciou o Ministério na quarta-feira (27).
As primeiras 250 mil unidades têm entrega prevista para fevereiro, inicialmente aos 27 laboratórios, sendo quatro de referência e 23 Laboratórios Centrais de Saúde Pública (LACEN). A previsão é que os outros 250 mil testes estejam disponíveis a partir do segundo semestre. No total, o Ministério da Saúde investiu 6 milhões de reais para a aquisição dos produtos.
A recomendação do Ministério, conforme Protocolo de Vigilância e Resposta à Ocorrência de Microcefalia, é que sejam priorizadas, para a realização do teste, mulheres grávidas com sintomas do vírus zika, gestantes com bebê microcefálico, além de recém-nascidos com suspeita de microcefalia.
Acesse a página da OPAS/OMS (http://www.paho.org/bra) e do Ministério da Saúde (http://combateaedes.saude.gov.br) para saber mais.
Fonte ONUBrasil.


PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS DA SEMANA : RESUMO DA ONU.

A situação de insegurança alimentar na República Centro-Africana; o aumento do desemprego no mundo; e o pedido de assistência às crianças migrantes e refugiadas – estes são os destaques do resumo semanal da ONU em imagens. Confira neste vídeo.



Fonte ONUBrasil

DETIDOS NA ITÁLIA : A MISÉRIA DOS MIGRANTES E REFUGIADOS.

Na Europa, trata-se do maior movimento de pessoas desde a Segunda Guerra Mundial. Fugindo da guerra, do sofrimento e da perseguição, muitos acabam em centros de detenção italianos. Confira neste mini documentário especial.



Fonte : UNU Brasil.

sábado, 30 de janeiro de 2016

UMA GERAÇÃO DE SEMIANALFABETOS.

Uma geração de semianalfabetos, artigo de Anderson Fernandes

Publicado em janeiro 29, 2016
opiniao

[EcoDebate] Nesta semana uma amiga comentou que precisava buscar tratamento porque estava totalmente dependente da Internet. Porém, o que mais assustava a moça não era o vício por ficar 24 horas ligada em redes sociais e outros aplicativos, e sim o fato dela estar em um estado de “semianalfabetismo”. Isso mesmo senhores: “semianalfabetismo”!
E a explicação é simples: segundo a pesquisa “Futuro Digital em Foco Brasil 2015”, divulgada pela consultoria comScore, os brasileiros são líderes no tempo gasto nas redes sociais e registram 650 horas por mês nesta atividade. É muita gente interagindo e principalmente escrevendo. E a parte negativa disto é que algumas pessoas estão “assassinando a língua portuguesa”.
São textos que não primam pela boa ortografia; são expressões que têm a informalidade e a coloquialidade como “regra”. E este fenômeno, associado à permanência constante das pessoas nas redes sociais, tem criado uma geração de semianalfabetos. No entanto, seria desleal culpar a Internet por essa situação. A coisa é muito mais grave que parece.
O problema está no nosso sistema educacional, que é fraco. Não é preciso ser um especialista para afirmar que a baixa qualidade do ensino compromete a leitura, uma habilidade que antecede a escrita. E quem não lê, principalmente textos interpretativos, dificilmente consegue associar ideias e gerar raciocínio lógico.
A análise das notas das redações do Enem 2015 comprova a situação preocupante registrada hoje no nosso Ensino Médio. Afinal, aproximadamente dois milhões de candidatos atingiram uma nota considerada fraca por qualquer estudante ou escola que se preze. São jovens que não conseguem ordenar palavras e dar sentido às ideias, utilizando nos textos sem lógica e coerência, gírias, repetições, erros de ortografia e abreviaturas, refletindo nas provas o que estão acostumados a fazer nas redes sociais.
O consultor de treinamentos Marcos Gross foi muito feliz ao afirmar em um artigo que até hoje as famílias brasileiras não criaram o hábito da leitura e o poeta brasileiro Mário Quintana foi categórico ao assegurar que: “Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem”. Portanto, em um cenário em que livros, jornais, revistas e sites informativos são deixados de lado e algumas redes sociais passaram a ser a base de consulta de algumas pessoas, realmente tenho que concordar com a minha amiga. Ela está em um estado de “semianalfabetismo”. E o mais grave é que ela não é uma exceção, já faz parte de uma triste realidade nacional.
*O jornalista Anderson Fernandes tem 31 anos. É graduado em Comunicação Social – Jornalismo e tem especialização em Comunicação Estratégica pela Universidade Braz Cubas (UBC).
in EcoDebate, 29/01/2016

PRÉ SAL: ONDE ESTÃO OS FANTÁSTICOS RECURSOS DO "OURO NEGRO" ?

Pré-sal, Petrobras, Rio de Janeiro e a maldição do petróleo, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Publicado em janeiro 29, 2016 
preço das ações da Petrobras, de 2008 a 2016

[EcoDebate] Onde estão os fantásticos recursos do “ouro negro” que jorrariam do fundo do oceano?
Onde estão as promessas da redenção nacional do pré-sal?
Dez anos depois da descoberta das jazidas de petróleo nas profundezas abissais do oceano Atlântico o Brasil está em pior condição econômica do que estava no triênio 2006 a 2008. A esperança do Eldorado do pré-sal virou desesperança e pesadelo. O mito do “bilhete premiado” e do “passaporte para o futuro” virou a realidade da “maldição do petróleo”. Nem sempre achar petróleo é uma boa notícia. Depende dos custos de extração e da forma como a produção e o consumo deste recurso mineral é administrado. Depois de vislumbrar o paraíso, o Brasil agora vive a abominação de seu inferno astral.
As descobertas das jazidas de petróleo do pré-sal foram apresentadas, ainda no governo Lula, como a salvação nacional e como meio para reativar o crescimento econômico, alavancar a educação e incrementar a saúde pública no país. O que o ano de 2015 mostrou exatamente o contrário de tudo que foi prometido, com uma grande estagflação, empobrecimento da população, crise geral da educação brasileira. No primeiro ano da “Pátria Educadora” o MEC perdeu 10% do orçamento. Segundo a última PNAD, do IBGE, há 2,8 milhões de crianças e adolescentes, ou 6,2% dos brasileiros entre 4 e 17 anos, fora da escola e um a cada cinco jovens brasileiros (20,3%) de 15 a 29 anos não trabalhava nem estudava (geração nem-nem). A escola não atrai os jovens e o Brasil fica na lanterninha dos principais índices globais de qualidade da educação.
A despeito das promessas do programa “Mais médicos”, o SUS está em frangalhos e o país assiste a volta de epidemias como a febre amarela, o agravamento dos casos de dengue (que bateram recorde em 2015), além do espalhamento do vírus zika e a multiplicação dos casos de microcefalia. E o pior de tudo é que este desastre nacional deve continuar em 2016 e não tem horizonte próximo para melhorar.
Evidentemente, muitas das dificuldades atuais do pré-sal se devem ao preço internacional do petróleo que caiu de mais de US$ 100 o barril, em 2014, para cerca de US$ 45 na média de 2015 e para algo em torno de US$ 30, em janeiro de 2016. A conjuntura tem sido extremamente adversa para a produção nacional de hidrocarbonetos. Mas a despeito das variações da conjuntura, o problema é estrutural, já que os encargos econômicos da produção de petróleo das profundezas do oceano Atlântico são muito elevados. Artigo de Fred Pearce, de 13/01/2015, mostra que o preço de equilíbrio (break-even) do barril do petróleo para o retorno dos investimentos no pré-sal é de US$ 120,00. Este número é muito superior ao que os “especialistas” divulgam e mostra as dificuldades para viabilizar o mito do petróleo como salvação nacional. A Agência Internacional de Energia alerta que vários projetos petrolíferos “offshore” ao redor do mundo tornaram-se economicamente inviáveis.
Os erros de avaliação da diretoria da Petrobras e a corrupção sem precedentes – conforme denunciado pelo Ministério Público e a Polícia Federal – tornou a maior empresa nacional na empresa mais endividada do mundo e com as maiores perdas acionárias. A Petrobras, hoje em dia, vale menos que a Alibaba ou o Uber, empresas do setor de serviços que possuem maior valor no mercado de capitais. A dívida bruta da Petrobras atingiu no 3º trimestre de 2015 o nível recorde de R$ 506 bilhões. Em janeiro de 2016 as ações preferenciais (que dão ao acionista preferência na distribuição de dividendos) chegou perto de R$ 4, o menor valor desde 1999 e valendo menos que um litro de gasolina. Ou seja, as ações valem o mesmo do que no século passado, antes das descobertas do pré-sal, mas a dívida é muitas vezes maior. Em dólar, as ações chegaram a mais de US$ 25 e agora estão praticamente a US$ 1. Infelizmente, é um tombo espetacular e nunca visto na história desse país e que prejudica os interesses nacionais e a capacidade de investimento do país.
A crise da Petrobras tem afetado toda a cadeia produtiva da indústria nacional. A politica de favorecer os “campeões nacionais” não deu certo, como demonstra o fracasso de Eike Batista e de várias empreiteiras de grande porte. A política de “conteúdo nacional” também tem fracassado na medida que toda a cadeia de produção de petróleo está em crise. A empresa Sete Brasil, criada para construir sondas e plataformas no Brasil e incentivar a indústria naval e siderúrgica, está em crise, com um rombo de mais de R$ 30 bilhões. Os estaleiros contratados, que foram ampliados no Brasil, com empresas nacionais e internacionais, para dar impulso à política de conteúdo nacional nos equipamentos comprados pela Petrobras, estão demitindo a mão de obra e correm o risco de fechar ou reduzir muito o porte. A situação de paralisia é geral. Cálculos financeiros mostram que os custos da refinaria Abreu e Lima (que passaram de US$ 2,5 para US$ 18 bilhões) tornam a refinaria impagável. Nestes casos, em última instância, a população brasileira pagará a conta. Toda a indústria nacional que dependia dos investimentos da Petrobras está em crise.
Como resultado, a Petrobras informou, em janeiro de 2016, que o Conselho de Administração da estatal reduziu o plano de investimentos da companhia para o período 2015-2019 para US$ 98,4 bilhões, queda de US$ 32 bilhões ante a projeção inicial, principalmente devido à otimização do portfólio de projetos e do efeito cambial. De acordo com a Petrobras, esses ajustes na carteira de investimentos resultaram em uma redução da projeção de produção de petróleo no Brasil de 2,185 milhões de barris por dia (bpd) em 2016 para 2,145 milhões de bpd e de 2,8 milhões de bpd em 2020 para 2,7 milhões. O sonho de um Brasil exportador de petróleo está cada vez mais distante e o Brasil continuar um importador líquido de petróleo e derivados, o que prejudica o balanço de pagamentos do país.
Sem dinheiro para os investimentos requeridos no pré-sal e para pagar a monstruosa dívida, a Estatal está colocando à venda diversos ativos, como a fatia de 36% que detém da Braskem, estimada em cerca de R$ 5,8 bilhões. Outros ativos estão sendo vendidos, em um claro processo de privatização aos pedaços. Com o baixo preço do petróleo no mercado internacional, tirar petróleo do pré-sal está dando prejuízo. No curto prazo não vale a pena investir na extração do pré-sal. Assim, a lista de ativos à venda cresceu significativamente diante da crise. Segundo o jornal Folha de São Paulo, a intenção da estatal é se desfazer de termelétricas, usinas de biodiesel e etanol, fábricas de fertilizantes, sua transportadora de gás natural (TAG) e a fatia na petroquímica Braskem, além de operações na África, na Argentina, no Japão e nos EUA. A queda dos investimentos da Petrobras contribui para piorar o quadro recessivo do PIB brasileiro e a desnacionalização da economia.
Mas é exatamente o Rio de Janeiro – o estado que mais se beneficiou da exploração do petróleo até recentemente – que tem sofrido mais com toda esta situação. A crise na indústria naval e no complexo petroquímico do Comperj tem provocado muito desemprego, reforçando a queda na arrecadação do Estado e dos municípios. Um terço da riqueza fluminense vem da exploração de petróleo. Quase 70% de toda a produção nacional saem do Rio. Porém, isso não impediu que o estado chegasse no fundo do poço, em uma grave crise financeira que causou caos na saúde e na educação públicas. O Rio sofre da doença chamada “óleo dependência”.
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) e outras entidades do setor de saúde denunciaram o que chamaram de a pior crise na saúde pública já vivida no estado. A crise financeira do governo estadual deixou os hospitais sem luvas, esparadrapo, algodão e remédios. As UPAs enfrentam problemas em atender casos de emergência mais complexos por falta de recursos. A segurança das UPAs está comprometida e há greves de vigilantes. A dívida do governo com fornecedores no setor da saúde era de R$ 231 milhões no final de 2015.
A situação não é diferente na educação. Com o acúmulo de R$ 285 milhões em dívida e sem salários e 13° pagos, os professores ameaçaram não iniciar o ano letivo, pois as escolas estaduais tiveram um péssimo fim de ano, com falta de matérias de ensino e de merenda escolar. Sem a limpeza adequada, as escolas acabam por ficarem sujas. A dívida total com as empresas de alimentação chega a R$ 11,6 milhões. A crise também atinge a UERJ, pois a universidade estadual está em petição de miséria.
A crise também afeta programas como o Disque-Denúncia e o Minha Casa, Minha Vida. No setor de Assistência Social, as dívidas chegam a R$ 24,8 milhões em alimentação, e R$ 10,7 milhões em programas de proteção a crianças e adolescentes. O Ibama embargou dia 14/01 o acesso de visitantes ao Zoológico do Rio de Janeiro e aplicou multa diária de R$ 1 mil contra a secretaria Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro (SMAC), a qual a Fundação RioZoo está subordinada. A má aparência dos animais é visível. Muitos parecem estar magros e cansados; a água onde deverias se refrescar está suja. Em algumas áreas o mato está alto. Muitos animais estão sofrendo, muito além do próprio fato de estarem confinados e sujeitos à escravidão animal. Segundo comunicado do Ibama, de acordo com a norma que regulamenta o setor, os zoológicos têm que cumprir funções sociais que justifiquem sua existência, entre elas, educacionais, científicas e de conservação das espécies animais.
A crise atinge a maioria dos municípios do Estado. Neste sentido, o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, anunciou, no final de 2015, um processo de reequilíbrio financeiro. Ele indicou alguns dos fatores que contribuem para a crise econômica: a queda do preço do petróleo que tem impacto relevante nas contas do estado e também uma queda de R$ 2 bilhões na arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), além de uma previsão de menos R$ 2,2 bilhões em royalties de petróleo. Porém, o quadro só piorou neste início de 2016, ano das Olimpíadas do Rio. Entre as medidas que pretende adotar em 2016, Pezão estuda uma reforma da Previdência estadual porque, segundo ele: “o petróleo sumiu”.
O fato é que foi um erro atrelar o desenvolvimento nacional, estadual e municipal sobre as bases da exploração de uma riqueza mineral cara para extrair e que agrava o aquecimento global. O Brasil e o Rio de Janeiro precisam abandonar a “maldição do petróleo”. O século XXI tem que ser a Era da sociedade da informação e do conhecimento e não da produção de commodities e da regressão produtiva provocada pela reprimarização das exportações. Tem que ser também a Era das energias renováveis e da descarbonização da economia. A Petrobras para sobreviver precisa fazer uma reprogramação geral e ir além do petróleo e dos combustíveis fósseis.
Referências:
ALVES, JED. Uma dúvida sobre o pré-sal e o sonho da (in)segurança. Ecodebate, RJ, 12/03/2010
ALVES, JED. Vamos nos preparar para o fim do mundo (do petróleo). Ecodebate, RJ, 27/07/2010
ALVES, JED. Petróleo do pré-sal: “ouro em pó” ou “ouro de tolo”? . Ecodebate, RJ, 11/04/2014
ALVES, JED. Petrobras no fundo do poço profundo do pré-sal. Ecodebate, RJ, 19/11/2014
ALVES, JED. A mistificação do pré-sal está afundando o Brasil. Ecodebate, RJ, 08/04/2015
ALVES, JED. O mito do pré-sal como redenção nacional. Ibase, Rio de Janeiro, Revista Trincheiras, agosto 2015
ALVES, JED. A roça e a mina: O mito do pré sal está afundando o Brasil. Entrevista ao IHU, 14/04/2015
PEARCE, Fred. Could Global Tide Be Starting To Turn Against Fossil Fuels. E360, Yale, 13/01/2015

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

in EcoDebate, 29/01/2016

AMAZÔNIA : SECAS EXTREMAS SERÃO MAIS FREQUENTES.

Especialista aponta que secas na Amazônia poderão ser mais longas e frequentes no futuro

Publicado em janeiro 29, 2016  
Seca no rio Solimões. Foto: EBC

Peruano Jahn Carlo Espinoza palestrou em workshop promovido pelo Inpa. Evento discute as áreas de hidrologia, climatologia, dendrocronologia e análises de isótopos na bacia amazônica.
Recentemente, a Amazônia passou por longos períodos de seca, especialmente entre os anos de 2005 e 2010. Para discutir este tema, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) organizou um workshop com especialistas de várias partes do mundo nas áreas de hidrologia, climatologia, dendrocronologia e análises de isótopos na bacia amazônica.
As previsões indicam que eventos como as secas extremas serão mais frequentes e longas no futuro. Além disso, os modelos climáticos, que permitem avaliar as mudanças no clima, apontam que, por volta de 2050, pode ocorrer uma transição na vegetação na Amazônia de bosque tropical para savana.
Para o pesquisador do Instituto Geofísico do Peru, Jhan Carlo Espinoza, esses eventos são resultados da temperatura da região do Atlântico Norte, próximo à costa do Brasil até a África. “Quando esta região está mais quente do que o normal, produz mais precipitações no Atlântico e reduz as chuvas na Amazônia, causando secas extremas com os níveis dos rios mais baixos”, explicou.
Segundo ele, as secas têm sido mais intensas nas últimas décadas, porém, as inundações passaram a ser mais frequentes, especialmente a partir da década de 1970. O pesquisador destacou que, até aquele período, havia apenas cinco registros de grandes inundações. Após, os estudiosos observaram 18 acontecimentos deste porte – causados, principalmente, pelo evento La Niña, mas também pelas condições de temperatura do Atlântico Tropical Sul.
“Quando ocorre o fenômeno, existe mais fluxo de umidade que ingressa na Amazônia, permanecendo nesta região, ocorrendo precipitações de chuvas. Isto incrementa o nível dos rios, causando inundações”, assinalou Espinoza. “O clima da Amazônia está controlado em grande medida com o que ocorre nos oceanos. Cercada pelo Pacífico, por um lado com o El Niño, mas também com condições de temperatura no Atlântico”, completou.
Outras participações
O pesquisador da Universidade de Leeds (Reino unido), Manuel Gloor, falou sobre as recentes mudanças no clima da bacia amazônica e o impacto na floresta. Já o pesquisador do Laboratório de Ciência do Clima e Meio Ambiente da França, Jonathan Barichivich, falou sobre as perspectivas de longo prazo no ciclo hidrológico da Amazônia. O especialista do Inpa, Jochen Schongart, abordou sobre os anéis das árvores das regiões alagada e central da Amazônia: o que eles nos falam sobre o crescimento do clima e a relação das condições climáticas do passado.
Fonte: INPA/MCTI
in EcoDebate, 29/01/2016

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

SEGUNDO CRISTOVAM BUARQUE, O GOVERNO ESTÁ EM FASE TERMINAL.

PT se 'autoassassinou' e governo está em fase terminal, diz ex-ministro de Lula

Há pouco mais de dez anos, o senador Cristovam Buarque deixou o PT após uma série de desgastes que levaram à sua demissão, por telefone, do cargo de ministro da Educação e no embalo da eclosão do escândalo do mensalão - ele foi um dos integrantes que não concordaram com a resposta dada pelo partido e pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva às irregularidades reveladas à época.
A entrevista é de Adriano Brito, publicada por BBC Brasil, 22-01-2016.
Hoje, ensaia um novo desembarque, desta vez do PDT, que, nas palavras de Cristovam, "não existe" como partido, pois virou um "puxadinho do PT" controlado pelo ex-ministro Carlos Lupi que já colocou como candidato à próxima corrida presidencial um nome escolhido por Lula - Ciro Gomes - para "preencher o vazio" caso o petismo não se recupere a tempo de 2018.
Segundo o senador, "o PT se autoassassinou" ao desconsiderar a meritocracia na nomeação de cargos e não pensar um projeto de longo prazo para o país.
Diz ainda que o "fracasso" da gestão Dilma Rousseff se deve principalmente a erros cometidos pela presidente em seu governo, que está em "fase terminal".
Aos 71 anos, o ex-governador do Distrito Federal e ex-reitor da UnB (Universidade de Brasília) defende, porém, que se pense menos no resultado do pedido de impeachment da presidente, e mais em que governo o país terá após o processo - com ou sem Dilma.
Eis a entrevista.
A ex-senadora Marina Silva defendeu ao jornal "Folha de S.Paulo" que se agilize o processo contra a presidente Dilma Rousseff no TSE (Dilma e seu vice, Michel Temer, podem ter o mandato cassado se o Tribunal Superior Eleitoral entender que a chapa cometeu irregularidades na campanha), em detrimento ao pedido de impeachment em curso no Congresso. Como vê isso?
Para mim, o importante não é saber como isso termina, mas como começa o próximo momento. O chamado day after(dia seguinte). Acho que lamentavelmente a Marina não trabalha com o day after. Estou menos preocupado com se isso vai terminar com a continuação da Dilma, o impeachment ou a cassação.
Teremos o dia seguinte com o Temer em um governo de unidade nacional? Ou com a Dilma, com um governo de coalizão nacional? Se houver a cassação, a eleição em 90 dias vai permitir a construção dessa coalizão com um projeto alternativo? Essa é a minha preocupação.
Qual seria o cenário ideal?
Hoje, e nós dissemos isso a ela em agosto, a melhor alternativa seria a Dilma, mas com um governo que não fosse da Dilma. Ela sendo a "Itamar" dela própria. No que consiste isso: ela dizer que não é mais do PT, nem de qualquer outro partido, a não ser do "Partido do Brasil".
Dizer que precisa da oposição e de todos para governar, compor um ministério de unidade e com um programa de unidade, no qual a estabilidade monetária seja objetivo imediato, desde que não sacrifique conquistas sociais nem investimentos em infraestrutura. Definindo quem vai se sacrificar para que o Brasil seja reorientado e como vamos atravessar os três anos até a próxima eleição.
Seria a continuidade do governo Dilma sem Dilma, uma espécie de presidente sem ser chefe de governo, com um "primeiro-ministro" - entre aspas, não precisa de parlamentarismo para isso. O Itamar (Franco, ex-presidente) conseguiu: o Fernando Henrique (Cardoso) foi o primeiro-ministro. Isso seria o ideal.
Mas não vejo na Dilma condições para isso. Tanto que nós, um grupo de senadores, fomos até ela em agosto, levamos um documento, propusemos isso, dissemos que estávamos dispostos a apoiá-la. Ela ouviu com seriedade, carinho, nos dedicou muito tempo, mas não aconteceu nada. Perdeu a chance.
Na sua visão, por que o governo chegou a esse ponto? Quem tem mais culpa, Dilma ou o PT?
Acho que a grande culpa é do PT. O PT se autoassassinou. Há uma diferença entre autoassassinato e suicídio: suicídio é um gesto consciente, em que existe até uma dignidade; o autoassassinato nem é consciente nem carrega dignidade.
PT se autoassassinou por recusar o mérito nos seus dirigentes: nomeava ministro, vice-ministro, subministro, diretores apenas por interesses imediatistas, corporativos. Se autoassassinou por não pensar o médio e longo prazo do Brasil, por ficar prisioneiro da próxima eleição, por abrir mão das reformas necessárias que poderia ter feito, sobretudo com a grande liderança que era Lula.
Agora, a Dilma colaborou. Ela poderia ter se "independizado" do PT, mas continuou dependente dele, e com isso destruiu seu governo.
Como vê o papel do seu partido, o PDT, na base aliada?
PDT, como partido, não existe: é uma associação, um clube de militantes sob o comando absoluto do Carlos Lupi.
Em 2007, ele assumiu o Ministério do Trabalho. De lá para cá, continua sempre junto ao governo em troca de ministério e isso destruiu o PDT como partido, fez dele o que o Pedro Taques (ex-senador e atual governador do Mato Grosso) chamava de "puxadinho do PT".
E a situação é essa, ao ponto de hoje ele ter colocado um candidato a presidente escolhido pelo Lula, o Ciro Gomes, cujo papel é preencher o vazio que haverá se o PT e o Lula não se recuperarem do impacto.
Do impacto da Operação Lava Jato?
Da Lava Jato e do fracasso do governo Dilma. E é um erro achar que esse fracasso decorre da Lava Jato. Do ponto de vista ético, sim, mas também dos erros que ela cometeu na condução do governo.
Se fosse a Lava Jato sem inflação, com a economia crescendo, seria diferente: apenas o PT carregaria o problema. Mas temos recessão, inflação, infraestrutura desorganizada, crise de gestão. O problema é a soma com a crise socioeconômica.
E o PDT optou equivocadamente, e digo isso desde 2007, em vez de ser uma alternativa para o Brasil, por ser coadjuvante de um partido e de um governo em fase terminal.
O que o manteve no PDT até hoje, então?
Primeiro porque sair de um partido é algo muito dolorido, complicado. E você sempre fica acreditando que ele pode mudar.
E segundo, porque essa é uma crise geral dos partidos.
É como se não houvesse para onde ir?
É isso. Não é só o PDT. O PDT perdeu a vergonha, mas os outros não demonstram ainda o vigor transformador.
Creio que um partido precisa de duas coisas: vergonha, do ponto de vista ético, e vigor transformador, do ponto de vista político. A gente sente que muitos têm vergonha na cara, mas fica se perguntando se têm esse vigor.
Além disso, é importante dizer com clareza: há três anos o Carlos Lupi diz que vai sair do governo no mês seguinte. Reunia a nós senadores e dizia: "no próximo mês nós estamos fora do governo". Passava o mês, a gente esperava, ele nos reunia e dizia a mesma coisa. Não vou negar que cometi o erro de ficar esperando por esse mês seguinte.
A imprensa dá como certo que o senhor vai para o PPS, que o convite já foi feito.
O convite foi realizado pelo meu velho amigo Roberto Freire, que é meu companheiro desde a política estudantil em Pernambuco, ainda nos anos 60. Mas não vou tomar essa decisão em um período de recesso, antes de conversar com meus colegas do PDT do Distrito Federal e ouvir diferentes forças ligadas a mim.
Mas houve o convite, e eu não disse não.
O senhor foi procurado por outros partidos?
Outros partidos me procuraram, mas a sintonia com o PPS é maior.
Está em seus planos se candidatar à Presidência em 2018?
Quando conversei com o Roberto Freire, ele falou nisso. Mas deixei claro: não vou para o PPS exigindo ser candidato à Presidência, e nem com o compromisso de ser candidato se o PPS quiser. Não será por essa razão (a eventual mudança).
Até porque... Eu disse a ele que, na idade da gente, antes de tomar uma decisão tão ousada como ser candidato a presidente, precisamos pensar se já não é hora de começar a pensar mais na memória do que já fez do que na aventura do que vai fazer.
O senhor tem um histórico ligado aos chamados partidos de esquerda. Indo para o PPS, migraria para uma sigla que, para muitos, está mais à direita e é criticada como uma espécie de satélite do PSDB. Seus eleitores não estranhariam esse movimento?
Diferencio a palavra partido da palavra sigla. Não mudo de partido. Já mudei de sigla: era PT, virei PDT, mas sem mudar de partido. Se sair do PDT, e for para outra sigla, não mudarei de partido. Meu partido é de que a gente precisa transformar a sociedade brasileira, e isso exige uma revolução. E o elemento fundamental dessa revolução é garantir escola de qualidade para todos, por o filho do trabalhador na mesma escola do filho do patrão, entre outros aspectos.
Agora, a sigla PPS vem do Partido Comunista. Você pode dizer que o Roberto Freire esteve ao lado de gente do PSDB, mas você não pode dizer que ele e os militantes do PPS são conservadores e de direita.
Continuo dividindo a política entre direita e esquerda. Mas não divido por sigla, e sim por compromissos. Para mim, compactuar com corrupção é coisa de direitista. Mesmo que seja do PT, do PC do B.
O PT vai sobreviver a essa crise?
Veja bem, sobreviver, vai. Mas vai sobreviver cambaleante. E a pergunta para a qual eu gostaria de ter uma resposta é sobre o que virá depois desse período em que o PT vai cambalear.
Vai cambalear para o lado dos corruptos, dos acomodados socialmente? Ou vai cambalear para o lado dos éticos e dos revolucionários? Isso não dá para saber.
A Câmara e o Senado são comandadas por parlamentares implicados na Lava Jato. Como isso influencia o funcionamento do Congresso neste ano?
Se continuar nesse ritmo, o impeachment será um tema para todos, não só para a Dilma. E poderá vir, sim, o povo na rua pedindo eleição geral, para todos os cargos. Porque não é só a Dilma que está sob suspeição. Todos nós, que temos mandato, estamos.
Há os "Cunhas" da vida, os outros, mas também os que não aparecem. Somos hoje um Parlamento sob suspeição, e nenhum de nós, portanto estou no meio, está fora da suspeição, da dúvida, do questionamento da população.
Temo que, se não formos capazes de cassar logo os corruptos conhecidos, vamos cair num processo de reação tão forte da população que teremos de fazer uma eleição geral para todos.
Fonte : Instituto Humanitas Unisinos.